BE e PCP trocam acusações de "oportunismo" e "intransigência" em artigos de opinião

15-02-2020
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Sabia-se que a relação já era fria, mas, se dúvidas houvesse, os líderes parlamentares do PCP e do Bloco de Esquerda encarregaram-se de as desfazer. Em artigos de opinião publicados em dois dias consecutivos no “Público”, e imediatamente no rescaldo da crise do IVA, João Oliveira e Pedro Filipe Soares deixaram por escrito as acusações que, nos corredores, os dois partidos já trocavam (mais ou menos) em surdina - descrevendo-se mutuamente como “muletas”... de partidos diferentes.

A nova frente de guerra à esquerda abriu-se com as longas, e mais do que atribuladas, votações sobre a descida (ou não) do IVA da energia, que dominou a reta final do Orçamento do Estado. Uma revisão rápida da matéria: o Bloco tinha apresentado - inclusivamente ao Governo, durante as negociações - uma medida faseada e com contrapartidas. Já o PCP defendia uma redução imediata para a taxa mínima (ou seja, de 23% para 6%). Durante as votações, o PSD acabou por se aproximar da esquerda e deixar cair diversas compensações - o Bloco de Esquerda aceitou a tentativa de aproximação mas o PCP não, tendo acabado por votar a favor do princípio de redução do IVA mas contra a única contrapartida de que o PSD não abdicava, o que inviabilizou a proposta social-democrata.

Aqui chegados, os dois partidos fazem leituras diametralmente opostas do que aconteceu. Com uma coincidência: se o PCP acusa o Bloco de ter servido de muleta ao PSD, o partido de Catarina Martins defende que os comunistas fizeram o papel de grandes aliados do Governo, evitando que o IVA descesse.

A "muralha de aço" e o "avalista"

Foi na sexta-feira que Pedro Filipe Soares publicou a sua coluna semanal no “Público”, desta feita titulada “Anatomia de um IVA da eletricidade”, em que explicava a sua perspetiva sobre a forma como todas as negociações (ou não) falharam e o imposto acabou por não descer. Com um parágrafo dedicado ao PCP, em que descreve o partido como uma possível “muralha de aço” para o Governo e questiona “como se vê” o partido de Jerónimo de Sousa neste papel, notando que o PCP, “intransigente”, “considerou que era melhor deixar tudo como está do que descer o IVA da luz no próximo outono”.

A tese não é nova: há muito que o PCP é apresentado como o parceiro preferido pelo Governo, a julgar pela postura de António Costa relativamente aos dois partidos. Segundo Pedro Filipe Soares, no “Público”, essa preferência e “relação privilegiada” com os comunistas tem vindo a ser noticiada; em entrevista ao Expresso, há meses, Costa considerava o Bloco um partido de “mass media” e o PCP “um partido de massas”.

Ora João Oliveira não deixou a opinião de Pedro Filipe Soares sem resposta. Logo no dia seguinte, este sábado, publicou um texto no mesmo jornal e o título já ia direto ao ponto: “IVA - encenação do PSD com o aval do BE”. O líder da bancada comunista passa então a explicar que viu o Bloco como “avalista” dos sociais-democratas neste processo.

Segundo João Oliveira, as contrapartidas do PSD foram escolhidas propositadamente para que a esquerda “não as aceitasse” - “tudo na atuação do PSD, desde o início, era encenação e o BE sabia-o perfeitamente”. “A recusa do BE em cumprir esse papel teria posto fim à encenação”, argumenta, considerando que os bloquistas “absolveram o PSD e as suas derivações mais reacionárias da fraude” do IVA.

Depois, uma passagem ainda mais dura: “Na verdade, o BE acabou por ser novamente vítima do seu próprio oportunismo e das suas tácticas de circunstância. E não perdoa ao PCP o facto de ter sido o único partido a defender coerentemente posições que até há pouco tempo o BE também dizia defender, por ter sido o PCP o único a ter a coragem para expor as contradições do PSD e não ter embarcado na encenação”. A frase final é feita em tom de aviso: “Faz mal o BE em atirar-se ao PCP”.

É um dos vários incómodos que sobram da crise do IVA. No final, o PCP votou contra a entrada em vigor do imposto a 1 de outubro - a única contrapartida de que os sociais-democratas não abdicavam - e o PSD retirou a sua proposta; a medida com mais hipóteses de passar acabou por ser a do Bloco, votada pelos três partidos, mas chumbada com os “contras” de CDS, PAN e Joacine Katar Moreira. No final das contas, todos se acusaram de taticismos vários e o clima à esquerda esfriou. Mas o IVA não baixou.

Sabia-se que a relação já era fria, mas, se dúvidas houvesse, os líderes parlamentares do PCP e do Bloco de Esquerda encarregaram-se de as desfazer. Em artigos de opinião publicados em dois dias consecutivos no “Público”, e imediatamente no rescaldo da crise do IVA, João Oliveira e Pedro Filipe Soares deixaram por escrito as acusações que, nos corredores, os dois partidos já trocavam (mais ou menos) em surdina - descrevendo-se mutuamente como “muletas”... de partidos diferentes.

A nova frente de guerra à esquerda abriu-se com as longas, e mais do que atribuladas, votações sobre a descida (ou não) do IVA da energia, que dominou a reta final do Orçamento do Estado. Uma revisão rápida da matéria: o Bloco tinha apresentado - inclusivamente ao Governo, durante as negociações - uma medida faseada e com contrapartidas. Já o PCP defendia uma redução imediata para a taxa mínima (ou seja, de 23% para 6%). Durante as votações, o PSD acabou por se aproximar da esquerda e deixar cair diversas compensações - o Bloco de Esquerda aceitou a tentativa de aproximação mas o PCP não, tendo acabado por votar a favor do princípio de redução do IVA mas contra a única contrapartida de que o PSD não abdicava, o que inviabilizou a proposta social-democrata.

Aqui chegados, os dois partidos fazem leituras diametralmente opostas do que aconteceu. Com uma coincidência: se o PCP acusa o Bloco de ter servido de muleta ao PSD, o partido de Catarina Martins defende que os comunistas fizeram o papel de grandes aliados do Governo, evitando que o IVA descesse.

A "muralha de aço" e o "avalista"

Foi na sexta-feira que Pedro Filipe Soares publicou a sua coluna semanal no “Público”, desta feita titulada “Anatomia de um IVA da eletricidade”, em que explicava a sua perspetiva sobre a forma como todas as negociações (ou não) falharam e o imposto acabou por não descer. Com um parágrafo dedicado ao PCP, em que descreve o partido como uma possível “muralha de aço” para o Governo e questiona “como se vê” o partido de Jerónimo de Sousa neste papel, notando que o PCP, “intransigente”, “considerou que era melhor deixar tudo como está do que descer o IVA da luz no próximo outono”.

A tese não é nova: há muito que o PCP é apresentado como o parceiro preferido pelo Governo, a julgar pela postura de António Costa relativamente aos dois partidos. Segundo Pedro Filipe Soares, no “Público”, essa preferência e “relação privilegiada” com os comunistas tem vindo a ser noticiada; em entrevista ao Expresso, há meses, Costa considerava o Bloco um partido de “mass media” e o PCP “um partido de massas”.

Ora João Oliveira não deixou a opinião de Pedro Filipe Soares sem resposta. Logo no dia seguinte, este sábado, publicou um texto no mesmo jornal e o título já ia direto ao ponto: “IVA - encenação do PSD com o aval do BE”. O líder da bancada comunista passa então a explicar que viu o Bloco como “avalista” dos sociais-democratas neste processo.

Segundo João Oliveira, as contrapartidas do PSD foram escolhidas propositadamente para que a esquerda “não as aceitasse” - “tudo na atuação do PSD, desde o início, era encenação e o BE sabia-o perfeitamente”. “A recusa do BE em cumprir esse papel teria posto fim à encenação”, argumenta, considerando que os bloquistas “absolveram o PSD e as suas derivações mais reacionárias da fraude” do IVA.

Depois, uma passagem ainda mais dura: “Na verdade, o BE acabou por ser novamente vítima do seu próprio oportunismo e das suas tácticas de circunstância. E não perdoa ao PCP o facto de ter sido o único partido a defender coerentemente posições que até há pouco tempo o BE também dizia defender, por ter sido o PCP o único a ter a coragem para expor as contradições do PSD e não ter embarcado na encenação”. A frase final é feita em tom de aviso: “Faz mal o BE em atirar-se ao PCP”.

É um dos vários incómodos que sobram da crise do IVA. No final, o PCP votou contra a entrada em vigor do imposto a 1 de outubro - a única contrapartida de que os sociais-democratas não abdicavam - e o PSD retirou a sua proposta; a medida com mais hipóteses de passar acabou por ser a do Bloco, votada pelos três partidos, mas chumbada com os “contras” de CDS, PAN e Joacine Katar Moreira. No final das contas, todos se acusaram de taticismos vários e o clima à esquerda esfriou. Mas o IVA não baixou.

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