EXPRESSO: País

25-05-2002
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Investimentos adiados

O Orçamento rectificativo não mexe nos grandes investimentos do Estado Mas, na apresentação do pacote de contenção da despesa pública, Pina Moura já adiantou que projectos como o TGV e o novo aeroporto terão de ser «reequacionados». Como a terceira travessia do Tejo. Só o Europeu de futebol é excepção

REPENSAR e redimensionar. Esta é a receita prescrita por Tavares Moreira, João Ferreira do Amaral, César das Neves e Augusto Mateus, unânimes quanto à reavaliação da oportunidade dos grandes projectos de obras públicas. De acordo este painel de economistas, o consenso em torno da contenção da despesa pública impede futuras fantasias. Para o Euro 2004, a proposta é uma «solução minimalista». Para o TGV, uma linha única. E para o novo aeroporto e para a terceira travessia do Tejo, o adiamento «sine die».

«Quem não tem dinheiro não tem vícios», diz César das Neves. O professor considera os projectos emblemáticos deste governo socialista verdadeiros «luxos», fruto do «clima de novo-riquismo» vivido nos últimos anos. Cortar é agora, «já que a maioria destas obras foi pensada na altura da euforia».

Para João Ferreira do Amaral, a conjuntura económica obriga a repensar todos os grandes projectos. «Primeiro, deve ponderar-se se a situação macroeconómica permite o avanço de cada uma destas obras. Depois, deve-se redimensioná-las». Segundo este professor do Instituto Superior de Economia e Gestão, uma coisa é certa: todos os projectos terão de ser menos gigantescos. «É altura de separar o acessório do essencial»,

Segundo Tavares Moreira, «não há condições mínimas» para a execução do TGV, do aeroporto da Ota, e muito menos da nova travessia do Tejo. Para o ex-governador do Banco de Portugal, «o único pecado dos portugueses foi o de terem acreditado quando os membros deste governo vieram publicitar estes projectos».

Travar dívidas

Na opinião de Tavares Moreira, Ota e terceira travessia do Tejo lideram a escala da fantasia. «Se o Estado está a contrair dívidas ao estrangeiro para pagar os milhões que tem em atraso, como é que pode, sequer, equacionar estes dois projectos?»

Augusto Mateus, um dos ex-ministros presentes na consulta que Pina Moura realizou na passada segunda-feira, partilha do espírito de contenção saído do encontro sobre a crise da despesa pública. «É uma questão de prioridades», diz, alertando para a urgência de travar «futuras megalomanias». Para o ex-ministro da Economia, é essencial perceber quais os investimentos que poderão ser alavancas da competitividade e promover «austeridade nas festas».

Unânimes quanto ao travão dos investimentos improdutivos, o painel de economistas não vê, porém, maneira de abortar o Euro 2004. «Os custos do abandono deste projecto seriam muito altos em termos de credibilidade internacional», considera Tavares Moreira. A realização do Campeonato Europeu em Portugal é, de acordo com o actual cenário macroeconómico, um «sacrifício» para o país, devendo-se optar por uma «solução minimalista».

Do número de estádios à sua dimensão, passando pela questão das acessibilidades, tudo deve ser revisto em baixa. «Sem quebra dos compromissos assumidos, há que fazer uma revisão da sumptuosidade», defende Augusto Mateus. Para travar o disparo dos encargos, João Ferreira do Amaral defende a responsabilização dos agentes envolvidos neste projecto: «Têm que ser encontrados mecanismos legais muito rigorosos para evitar previsíveis derrapagens».

Fim ao desperdício

A oportunidade do comboio de alta velocidade divide os economistas: irrealizável para Tavares Moreira, mas indispensável para Augusto Mateus.

Segundo o ex-governador do Banco de Portugal, o TGV «é o projecto mais fantasioso deles todos», alertando para a despesa que a simples presunção da obra já acarreta. «Quanto é que estão a custar todos os estudos e trabalhos preparatórios para esta obra irrealizável?»

Diversa é a opinião de Augusto Mateus, que considera o TGV um investimento reprodutivo. «Portugal não pode fugir à rede transeuropeia de transporte de pessoas e mercadorias», defende o economista, embora defenda um projecto pensado, não em termos de rede nacional, mas europeia.

O consenso em torno do repensar dos grandes projectos foi oficializado no fim da reunião dos economistas com Pina Moura, na última segunda-feira.

À saída do encontro, o governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, deu o mote à decisão política ontem anunciada por Pina Moura. «Alguns dos grandes projectos de obras públicas anunciados, como o TGV e o aeroporto da Ota, terão de ser repensados». Alertou para a necessidade de reanalisar os «ainda não decididos e não comprometidos». «A minha dúvida é se isso chega», declarou ao EXPRESSO César das Neves. Para o economista, o problema não são tanto as grandes obras públicas, mas o desperdício somado de todos os pequenas despesas correntes, da Saúde à Educação, passando pela proliferação de institutos.

«Mais do que uma reforma da despesa, precisamos de uma reforma global das Finanças Públicas», sintetiza Augusto Mateus. Fundir, concentrar, poupar, são as palavras de ordem.

Investimentos adiados

O Orçamento rectificativo não mexe nos grandes investimentos do Estado Mas, na apresentação do pacote de contenção da despesa pública, Pina Moura já adiantou que projectos como o TGV e o novo aeroporto terão de ser «reequacionados». Como a terceira travessia do Tejo. Só o Europeu de futebol é excepção

REPENSAR e redimensionar. Esta é a receita prescrita por Tavares Moreira, João Ferreira do Amaral, César das Neves e Augusto Mateus, unânimes quanto à reavaliação da oportunidade dos grandes projectos de obras públicas. De acordo este painel de economistas, o consenso em torno da contenção da despesa pública impede futuras fantasias. Para o Euro 2004, a proposta é uma «solução minimalista». Para o TGV, uma linha única. E para o novo aeroporto e para a terceira travessia do Tejo, o adiamento «sine die».

«Quem não tem dinheiro não tem vícios», diz César das Neves. O professor considera os projectos emblemáticos deste governo socialista verdadeiros «luxos», fruto do «clima de novo-riquismo» vivido nos últimos anos. Cortar é agora, «já que a maioria destas obras foi pensada na altura da euforia».

Para João Ferreira do Amaral, a conjuntura económica obriga a repensar todos os grandes projectos. «Primeiro, deve ponderar-se se a situação macroeconómica permite o avanço de cada uma destas obras. Depois, deve-se redimensioná-las». Segundo este professor do Instituto Superior de Economia e Gestão, uma coisa é certa: todos os projectos terão de ser menos gigantescos. «É altura de separar o acessório do essencial»,

Segundo Tavares Moreira, «não há condições mínimas» para a execução do TGV, do aeroporto da Ota, e muito menos da nova travessia do Tejo. Para o ex-governador do Banco de Portugal, «o único pecado dos portugueses foi o de terem acreditado quando os membros deste governo vieram publicitar estes projectos».

Travar dívidas

Na opinião de Tavares Moreira, Ota e terceira travessia do Tejo lideram a escala da fantasia. «Se o Estado está a contrair dívidas ao estrangeiro para pagar os milhões que tem em atraso, como é que pode, sequer, equacionar estes dois projectos?»

Augusto Mateus, um dos ex-ministros presentes na consulta que Pina Moura realizou na passada segunda-feira, partilha do espírito de contenção saído do encontro sobre a crise da despesa pública. «É uma questão de prioridades», diz, alertando para a urgência de travar «futuras megalomanias». Para o ex-ministro da Economia, é essencial perceber quais os investimentos que poderão ser alavancas da competitividade e promover «austeridade nas festas».

Unânimes quanto ao travão dos investimentos improdutivos, o painel de economistas não vê, porém, maneira de abortar o Euro 2004. «Os custos do abandono deste projecto seriam muito altos em termos de credibilidade internacional», considera Tavares Moreira. A realização do Campeonato Europeu em Portugal é, de acordo com o actual cenário macroeconómico, um «sacrifício» para o país, devendo-se optar por uma «solução minimalista».

Do número de estádios à sua dimensão, passando pela questão das acessibilidades, tudo deve ser revisto em baixa. «Sem quebra dos compromissos assumidos, há que fazer uma revisão da sumptuosidade», defende Augusto Mateus. Para travar o disparo dos encargos, João Ferreira do Amaral defende a responsabilização dos agentes envolvidos neste projecto: «Têm que ser encontrados mecanismos legais muito rigorosos para evitar previsíveis derrapagens».

Fim ao desperdício

A oportunidade do comboio de alta velocidade divide os economistas: irrealizável para Tavares Moreira, mas indispensável para Augusto Mateus.

Segundo o ex-governador do Banco de Portugal, o TGV «é o projecto mais fantasioso deles todos», alertando para a despesa que a simples presunção da obra já acarreta. «Quanto é que estão a custar todos os estudos e trabalhos preparatórios para esta obra irrealizável?»

Diversa é a opinião de Augusto Mateus, que considera o TGV um investimento reprodutivo. «Portugal não pode fugir à rede transeuropeia de transporte de pessoas e mercadorias», defende o economista, embora defenda um projecto pensado, não em termos de rede nacional, mas europeia.

O consenso em torno do repensar dos grandes projectos foi oficializado no fim da reunião dos economistas com Pina Moura, na última segunda-feira.

À saída do encontro, o governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, deu o mote à decisão política ontem anunciada por Pina Moura. «Alguns dos grandes projectos de obras públicas anunciados, como o TGV e o aeroporto da Ota, terão de ser repensados». Alertou para a necessidade de reanalisar os «ainda não decididos e não comprometidos». «A minha dúvida é se isso chega», declarou ao EXPRESSO César das Neves. Para o economista, o problema não são tanto as grandes obras públicas, mas o desperdício somado de todos os pequenas despesas correntes, da Saúde à Educação, passando pela proliferação de institutos.

«Mais do que uma reforma da despesa, precisamos de uma reforma global das Finanças Públicas», sintetiza Augusto Mateus. Fundir, concentrar, poupar, são as palavras de ordem.

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