Como o mundo mudou com Bush

14-12-2004
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Como o Mundo Mudou com Bush

Por PEDRO RIBEIRO, Nova Iorque

Segunda-feira, 01 de Novembro de 2004 George W. Bush chegou à Casa Branca determinado a fazer tudo ao contrário de Bill Clinton na sua política externa. Uma atitude mais agressiva para com a China, uma intervenção mais reduzida no conflito israelo-palestiniano; rasgar tratados internacionais assinados pelo antecessor, renegar a política "clintoniana" de "intervenções humanitárias". Depois veio o 11 de Setembro. Bush prometeu ao mundo uma perseguição implacável ao terrorismo, e disse que "todas as nações têm de escolher um lado" na nova guerra. O resto do mundo manifestou a sua solidariedade com os EUA - mas a união durou pouco. Bush derrotou os taliban, mas não capturou Osama bin Laden. Definiu o Iraque como o capítulo seguinte da guerra, mas encontrou enormes resistências: muitas nações europeias e árabes opuseram-se. A Casa Branca avançou para Bagdad, mesmo que isso implicasse hostilizar os aliados da "velha Europa" e grande parte da opinião pública mundial. Saddam foi derrotado, derrubado e capturado - mas a "missão" não estava "cumprida", e o Iraque continuou mergulhado em violência e incerteza. Mais: não foram encontradas armas de destruição maciça, e o prestígio dos EUA foi abalado pelos horrores de Abu Ghraib. Bush polarizou o resto do mundo tanto como a América, mas mantém-se confiante na capacidade da América para espalhar a democracia: "Acredito no poder transformador da liberdade. Acredito que um Iraque livre é no interesse do mundo." O PÚBLICO faz um balanço de como os quatro anos de Bush na Casa Branca transformaram o mundo. Antes só que mal acompanhado "A América é uma nação com uma missão, e essa missão vem das nossas crenças mais básicas. Não temos desejos de dominar, nenhumas ambições imperiais. A nossa meta é uma paz democrática, fundada na dignidade e nos direitos de todos os homens e mulheres." Bush chegou à Casa Branca prometendo uma América "humilde mas forte", aversa ao intervencionismo humanitário da era Clinton. O 11 de Setembro mudou tudo. Mas logo nos primeiros meses do seu mandato Bush deixou claras as linhas mestras da sua diplomacia: um realinhamento das prioridades internacionais dos EUA, um desdém por organizações multilaterais entendidas por Bush como burocracias ineficazes e limitações ao poder americano. Assim, a sua Administração abandonou o Protocolo de Quioto sobre aquecimento global; impôs alterações importantes a um tratado da ONU sobre vendas de armas ligeiras; retirou os EUA do tratado ABM (antimísseis balísticos) com a Rússia; renegou o compromisso de Bill Clinton com o Tribunal Penal Internacional, criando um impasse na ONU até que os outros membros acedessem a isentar cidadãos americanos da alçada do tribunal. Bush cortou também o financiamento americano a programas humanitários da ONU que incluíam ONG que ofereçam informação sobre o aborto; recusou-se a assinar um tratado banindo o uso de minas terrestres; e falou em recomeçar um programa limitado de testes nucleares, em contravenção do tratado internacional que o proíbe. Nas várias crises internacionais, Bush preferiu repetidamente criar coligações "ad hoc" em vez de recorrer a redes multilaterais como a NATO. O Presidente recusa a crítica de unilateralismo, mas subscreve a tese do "mais vale só que mal acompanhado"; as suas relações com a ONU foram particularmente tensas. O tigre e o dragão "As pessoas perguntam, estamos dispostos a falar com a Coreia do Norte? Claro que sim. Mas [os EUA não estão] dispostos a ser chantageados." No início, George W. Bush parecia querer mudar o foco da política externa americana do Atlântico para o Pacífico. Os "falcões" do seu governo pareciam encarar a China não como um parceiro mas como um adversário estratégico. As tensões com Pequim agravaram-se em 2001, quando um avião-espião americano se despenhou numa colisão com um caça chinês; a tripulação e o aparelho ficaram retidos em território da China, na primeira grande crise internacional de Bush. Essas tensões resolveram-se com o 11 de Setembro: Washington e Pequim descobriram interesses comuns na luta contra o terrorismo. O grande foco de preocupação na Ásia passou a ser a Coreia do Norte. Inicialmente, Bush rejeitou a política defendida por Bill Clinton, de negociações com o regime de Kim Jong-il. Pyongyang era um dos "membros fundadores" do "eixo do mal". As suspeitas - confirmadas - sobre a continuação dos programas nucleares norte-coreanos tornaram o hermético regime de Kim numa dor de cabeça para Bush. Mas o Presidente, focado nas guerras no Iraque e no Afeganistão enveredou pela via das negociações, num modelo "a seis" (envolvendo a participação crucial da China). Nos EUA tem havido um debate importante sobre como lidar com a Coreia do Norte; a oposição democrata critica Bush por permitir que Kim Jong-il continue a manter uma espécie de "chantagem", ao exigir contrapartidas pelo abandono dos programas atómicos. 11 de Setembro "Não vamos cansar-nos. Não vamos fraquejar. Não vamos falhar." A 11 de Setembro de 2001, a América foi atacada por terroristas. A Al-Qaeda de Osama bin Laden matou três mil pessoas em Nova Iorque, Washington e na Pensilvânia. A resposta inicial de Bush não foi imediata - mas na noite do dia 11, lançou um repto à nação e ao mundo; declarou uma "guerra contra o terrorismo", pediu o apoio de todas as nações do mundo, e advertiu: "Quem não está connosco está contra nós." Prometeu perseguir e destruir os terroristas e "os regimes que os alberguem". A 20 de Setembro, Bush falou perante o Congresso, explicando a sua visão pós-11 de Setembro. Uma América traumatizada reuniu-se à sua volta; no resto do mundo, a solidariedade foi quase unânime. A NATO activou pela primeira vez o seu artigo V, definindo o ataque contra a América como um ataque contra toda a Aliança. Bush não recorreu à NATO para montar o primeiro assalto contra a Al-Qaeda, mas recebeu apoios quase unânimes em todo o mundo para a intervenção no Afeganistão. Bush lidou pacientemente com o regime afegão, exigindo a extradição de Osama bin Laden. Os taliban recusaram, e a América lançou a invasão do Afeganistão. Bush iniciou uma relação complicada com Pervez Musharraf, Presidente do Paquistão, cuja cooperação era essencial. Contra as previsões de quase todos os peritos militares, a invasão foi rápida e bem sucedida; em poucas semanas, o regime taliban foi derrubado. Mas bin Laden não foi capturado. Os taliban foram derrotados, mas ainda dão sinais de resistência. Bush aponta para o Afeganistão como um caso de sucesso na sua guerra contra o terrorismo, orgulhando-se particularmente das recentes eleições: "Os terroristas fizeram tudo o que podiam para intimidar pessoas, mas mais de dez milhões de afegãos registaram-se para votar - um grande triunfo para a democracia." Olhando para a alma de Vladimir "Olhei para o homem [Putin] nos olhos; senti o que se passava na sua alma." O sentimento de solidariedade na comunidade internacional com a América começou a esfumar-se no início de 2002. Alguns dos aliados - sobretudo na Europa e no Médio Oriente - começaram a dar sinais de preocupação com a direcção da guerra contra o terrorismo. O Presidente encarou a guerra como uma oportunidade para fazer avançar os seus projectos diplomáticos mais ambiciosos. Entre eles, a construção do "filho da Guerra das Estrelas", o sistema de defesa antimísseis primeiro concebido por Ronald Reagan: um "guarda-chuva" para proteger a América de mísseis balísticos. Muitos críticos nos EUA, e a Administração de Bill Clinton, achavam este sistema demasiado caro, tecnicamente inviável e inútil na era do "mega-terrorismo". Mas Bush seguiu em frente, e obteve um triunfo importante: a cooperação da Rússia. Numa cimeira na Eslovénia, em Junho de 2001, Bush conheceu o seu homólogo russo e revelou afinidades com Vladimir Putin; no final do ano, os dois líderes reuniram-se de novo no Texas, e Putin concordou em abandonar o tratado ABM. Bush e Putin partilham a mesma visão sobre o combate ao terrorismo; a Administração americana reduziu as suas críticas sobre os abusos de direitos humanos na Tchetchénia, e Moscovo manteve discretas as suas críticas à intervenção americana no Iraque. A relação, tensa no início do mandato de Bush, entre a Rússia e os EUA, tornou-se cordial. Eixo do mal "Estados como estes, e os seus aliados terroristas, constituem uma ameaça à paz do mundo." Foi o funcionário da Casa Branca David Frum que escreveu a frase "eixo do mal", a mais sonante do discurso do Estado da União de George W. Bush em Janeiro de 2002. Mais tarde, Frum explicou que não era intenção da Administração fazer de "eixo do mal" uma expressão definitiva; Frum sugeriu mesmo que o terceiro elo do "eixo", a Coreia do Norte (os outros dois eram o Irão e o Iraque), foi acrescentada porque "não se pode ter um eixo de dois". O discurso marcou o início da segunda fase da guerra contra o terrorismo de Bush - uma marcha inexorável para uma guerra no Iraque. Alguns críticos sugerem que ainda antes do 11 de Setembro Saddam Hussein era um alvo da Casa Branca; o Presidente justificava a sua insistência pelo perigo de um regime "pária" como o de Bagdad servir de base ou fornecer armas de destruição maciça a terroristas. Este discurso marcou também o fim da unidade nacional na América, e entre os EUA e os seus aliados. Nos 15 meses seguintes, tornou-se óbvio que Bush considerava que no pós-11 de Setembro o regime de sanções e inspecções da ONU no Iraque era inaceitável. O secretário de Estado Colin Powell conseguiu convencer Bush a levar o assunto no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mas o debate foi azedo e improdutivo. A França e a Alemanha, com o apoio discreto da Rússia e da China, opunham-se terminantemente a uma intervenção armada e insistiam nas inspecções. Bush advertiu que a recusa da ONU em agir contra Saddam feria a organização de irrelevância. Powell testemunhou na ONU sobre os armamentos iraquianos, mas não houve consenso. As opiniões públicas europeia e árabe viraram-se contra Bush - grande parte dos EUA também, com as maiores manifestações pacifistas desde o Vietname. As relações entre aliados também se degradaram. Apesar dos esforços do britânico Tony Blair, a Europa ficou dividida - na frase do secretário da Defesa Donald Rumsfeld, entre "nova" e "velha" Europa. "Neocons" e a doutrina Bush "Os Estados Unidos não irão permitir que os regimes mais perigosos do mundo nos ameacem com as armas mais destrutivas do mundo." Em 2002, entraram no léxico mediático uma série de expressões além de "eixo do mal" - "mudança de regime", "armas de destruição maciça", "neocons". Esta última referia-se a um grupo de intelectuais, os "neo-conservadores" integrados na equipa de Bush ou próximos dela, que defendiam uma atitude agressiva dos EUA na guerra contra o terrorismo. A raíz da filosofia "neocon" foi descrita num documento dos anos 90 do "think tank" Project for a New American Century, que em traços largos propunha que os EUA usassem o seu poder - militar se necessário - para refazer o mapa e propagar a democracia no Médio Oriente. Este projecto começava pelo derrube de Saddam. Os "neocons" incluíam figuras como Paul Wolfowitz (secretário adjunto da Defesa) ou Richard Perle (conselheiro do Pentágono); próximos dos "neocons", o vice-presidente Dick Cheney e Donald Rumsfeld. Desenhou-se uma luta interna entre estes "falcões" e a solitária "pomba", Colin Powell. A vitória dos "neocons" resultou na "doutrina Bush" da guerra preventiva: na era do terrorismo, os EUA não podem esperar por um ataque para lidar com ameaças colocadas por "estados-párias". Onde estão as armas de Saddam? "A ascensão de um Iraque livre e independente irá negar aos terroristas uma base de operações, desacreditar a sua ideologia tacanha, e dar força aos reformistas em toda a região." A guerra começou a 19 de Março de 2003. Novamente, muitos peritos militares previam uma operação prolongada e difícil; tal como no Afeganistão, as Forças Armadas americanas triunfaram rapidamente na "fase militar". A estátua de Saddam foi derrubada em Bagdad. O seu Exército esboroou-se. Os seus filhos foram mortos. O "carniceiro de Bagdad" fugiu, e acabou por ser capturado. A 1 de Maio, Bush aterrou cinematograficamente num porta-aviões, com uma faixa a declarar "missão cumprida". Mas não havia armas de destruição maciça - que ainda não foram encontradas. E a missão não estava cumprida. A guerra transformou-se em guerrilha, com atentados, raptos, emboscadas. Os "neocons", que haviam previsto que os soldados americanos seriam recebidos com "pétalas de rosa", foram ridicularizados. Nos EUA e no estrangeiro, a contestação a Bush aumentou - pelos que se tinham oposto à guerra e denunciavam a ausência de armas de destruição maciça, mas também pelos que a apoiaram mas se sentiam traídos pela ausência de um plano para a reconstrução. Mais de 1000 soldados americanos morreram - a grande maioria depois de 1 de Maio. A revista médica britânica "Lancet", num estudo muito contestado nos EUA, calcula em cem mil o número de vítimas civis iraquianas. As imagens de caixões de soldados mortos em combate, inicialmente banidas pela Administração, tornaram-se símbolos das preocupações dos americanos, que as sondagens mostraram estar cada vez menos confiantes na guerra. O ataque contra a sede da ONU que matou Sérgio Vieira de Mello em Agosto de 2003 tornou ainda mais inviável a participação de uma comunidade internacional hesitante; as imagens de cadáveres mutilados de paramilitares americanos chocaram os EUA. Apesar da continuação da violência e da instabilidade, Bush não se arrepende, salientando a libertação do povo iraquiano, e mostra-se confiante na realização de eleições em Janeiro: "Para todos os que amam a paz e a liberdade, um mundo sem o regime de Saddam Hussein é melhor e mais seguro." Guantanamo e Abu Ghraib "Esta não é a América que eu conheço." A discórdia entre os EUA e os seus aliados europeus acentuou-se quando Bush anunciou planos de deter indeterminadamente suspeitos de terrorismo na base militar de Guantanamo (Cuba), e de os julgar em tribunais militares. Centenas de indivíduos com ligações aos taliban ou à Al-Qaeda foram presos no Afeganistão e enviados para Guantanamo. Organizações de direitos humanos americanas e internacionais protestaram pela definição destes indivíduos como "combatentes ilegais" e não como "prisioneiros de guerra" (ou seja, fora da alçada das convenções de Genebra). Mas foram as imagens da cadeia de Abu Ghraib, em Bagdad, que causaram um escândalo mundial. Soldados americanos foram filmados a humilhar e torturar prisioneiros iraquianos. A Administração condenou inequivocamente os abusos, e puniu os soldados. Houve contudo quem visse no caso de Abu Ghraib uma continuação lógica de políticas de combate ao terrorismo definidas pelo Pentágono. Outros críticos, acreditando que os abusos são resultado de comportamentos isolados e não de uma política expressa, viram no caso um exemplo grave de incompetência e mau planeamento da Administração no pós-guerra. O "roteiro" atribulado "Um dos nossos amigos mais importantes é o Estado de Israel. A minha Administração será inflexível no apoio a Israel contra o terrorismo e a violência, e em busca da paz por que todos os israelitas rezam." Bill Clinton envolveu-se pessoal e apaixonadamente no processo de paz israelo-palestiniano. George W. Bush decidiu de início evitar esse "pântano"; parecia determinado em reduzir a mediação americana no intratável conflito. Mas depois do 11 de Setembro a Palestina tornou-se incontornável. A política de Bush foi no entanto feita de avanços e recuos, de momentos em que parecia querer forçar os dois lados a encontrar uma solução e de momentos em que parecia desinteressado. Sob certos aspectos, Bush foi mais longe que qualquer outro Presidente americano no reconhecimento das pretensões palestinianas; foi o primeiro ocupante da Casa Branca a defender explicitamente a criação de um Estado palestiniano independente. Mas, por outro lado, a sua governação tendeu mais para o lado israelita. Bush tem uma boa relação com o primeiro-ministro Ariel Sharon, e faz um paralelo entre o combate israelita ao Hamas ou ao Hezbollah e a sua própria guerra contra o terrorismo. Apesar de várias vezes ter criticado acções de Sharon, Bush vê o papel dos EUA mais como aliado de Israel que como "árbitro". Já com Arafat, Bush nunca se quis reunir. Definiu o líder palestiniano como um "obstáculo à paz" e disse que não confiava nele; para Bush, que privilegia as relações pessoais na sua diplomacia, isso é um dado de grande importância. A principal iniciativa da sua Administração foi a criação de um "roteiro de paz", e o estabelecimento de um "quarteto" (EUA, Rússia, União Europeia, ONU) de acompanhamento do processo. O "roteiro", contudo, é longo, sinuoso e sem fim à vista. "Esqueceu-se da Polónia!" "John Kerry diz que não temos aliados nesta guerra. O que é que ele vai dizer a Tony Blair? A Alexandr Kwasniewski, da Polónia?" Bush recusa a ideia de que os EUA estejam isolados internacionalmente por causa das suas acções; num dos debates televisivos com Kerry, zangou-se por o democrata menosprezar a coligação no Iraque, e não listar todos os países com tropas no terreno: "Esqueceu-se da Polónia!" Com efeito, muitos países (incluindo Portugal) participaram na "coligação voluntária" de Bush. Mas alguns, perante a continuação da violência, fizeram as malas, como a Espanha ou as Filipinas. E em outros, apesar do apoio governamental, a opinião pública está maioritariamente contra Bush. Sondagens mostram que o sentimento anti-americano cresceu em muitas partes do mundo - especialmente em nações muçulmanas. Bush lamenta, mas diz que a sua prioridade é servir a segurança dos EUA. Com o ataque terrorista contra Madrid e a derrota nas urnas de José Maria Aznar, Bush perdeu um dos seus grandes aliados na Europa. Resta-lhe Tony Blair, e este investiu o seu prestígio pessoal na tentativa de sanar as divisões transatlânticas. Em alguns capítulos, os EUA mantêm a cooperação com a Europa, "nova" ou "velha": nas pressões para que o Irão abandone o seu programa nuclear, nas crises humanitárias em África (como Darfur, no Sudão), em outros "pontos quentes" (como o Haiti), na reconstrução do Afeganistão. Em outros ainda, a atenção da Administração foi desviada pelo terrorismo e pelo Iraque. Particularmente a América Latina; a relação próxima entre Bush e o Presidente Vicente Fox não produziu grandes resultados nos laços EUA-México; o bloqueio a Cuba manteve-se, apesar de sinais contraditórios no Congresso; o papel americano num golpe contra Hugo Chavez na Venezuela foi confuso e errático. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Bush e Kerry num esforço final

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Como o Mundo Mudou com Bush

Por PEDRO RIBEIRO, Nova Iorque

Segunda-feira, 01 de Novembro de 2004 George W. Bush chegou à Casa Branca determinado a fazer tudo ao contrário de Bill Clinton na sua política externa. Uma atitude mais agressiva para com a China, uma intervenção mais reduzida no conflito israelo-palestiniano; rasgar tratados internacionais assinados pelo antecessor, renegar a política "clintoniana" de "intervenções humanitárias". Depois veio o 11 de Setembro. Bush prometeu ao mundo uma perseguição implacável ao terrorismo, e disse que "todas as nações têm de escolher um lado" na nova guerra. O resto do mundo manifestou a sua solidariedade com os EUA - mas a união durou pouco. Bush derrotou os taliban, mas não capturou Osama bin Laden. Definiu o Iraque como o capítulo seguinte da guerra, mas encontrou enormes resistências: muitas nações europeias e árabes opuseram-se. A Casa Branca avançou para Bagdad, mesmo que isso implicasse hostilizar os aliados da "velha Europa" e grande parte da opinião pública mundial. Saddam foi derrotado, derrubado e capturado - mas a "missão" não estava "cumprida", e o Iraque continuou mergulhado em violência e incerteza. Mais: não foram encontradas armas de destruição maciça, e o prestígio dos EUA foi abalado pelos horrores de Abu Ghraib. Bush polarizou o resto do mundo tanto como a América, mas mantém-se confiante na capacidade da América para espalhar a democracia: "Acredito no poder transformador da liberdade. Acredito que um Iraque livre é no interesse do mundo." O PÚBLICO faz um balanço de como os quatro anos de Bush na Casa Branca transformaram o mundo. Antes só que mal acompanhado "A América é uma nação com uma missão, e essa missão vem das nossas crenças mais básicas. Não temos desejos de dominar, nenhumas ambições imperiais. A nossa meta é uma paz democrática, fundada na dignidade e nos direitos de todos os homens e mulheres." Bush chegou à Casa Branca prometendo uma América "humilde mas forte", aversa ao intervencionismo humanitário da era Clinton. O 11 de Setembro mudou tudo. Mas logo nos primeiros meses do seu mandato Bush deixou claras as linhas mestras da sua diplomacia: um realinhamento das prioridades internacionais dos EUA, um desdém por organizações multilaterais entendidas por Bush como burocracias ineficazes e limitações ao poder americano. Assim, a sua Administração abandonou o Protocolo de Quioto sobre aquecimento global; impôs alterações importantes a um tratado da ONU sobre vendas de armas ligeiras; retirou os EUA do tratado ABM (antimísseis balísticos) com a Rússia; renegou o compromisso de Bill Clinton com o Tribunal Penal Internacional, criando um impasse na ONU até que os outros membros acedessem a isentar cidadãos americanos da alçada do tribunal. Bush cortou também o financiamento americano a programas humanitários da ONU que incluíam ONG que ofereçam informação sobre o aborto; recusou-se a assinar um tratado banindo o uso de minas terrestres; e falou em recomeçar um programa limitado de testes nucleares, em contravenção do tratado internacional que o proíbe. Nas várias crises internacionais, Bush preferiu repetidamente criar coligações "ad hoc" em vez de recorrer a redes multilaterais como a NATO. O Presidente recusa a crítica de unilateralismo, mas subscreve a tese do "mais vale só que mal acompanhado"; as suas relações com a ONU foram particularmente tensas. O tigre e o dragão "As pessoas perguntam, estamos dispostos a falar com a Coreia do Norte? Claro que sim. Mas [os EUA não estão] dispostos a ser chantageados." No início, George W. Bush parecia querer mudar o foco da política externa americana do Atlântico para o Pacífico. Os "falcões" do seu governo pareciam encarar a China não como um parceiro mas como um adversário estratégico. As tensões com Pequim agravaram-se em 2001, quando um avião-espião americano se despenhou numa colisão com um caça chinês; a tripulação e o aparelho ficaram retidos em território da China, na primeira grande crise internacional de Bush. Essas tensões resolveram-se com o 11 de Setembro: Washington e Pequim descobriram interesses comuns na luta contra o terrorismo. O grande foco de preocupação na Ásia passou a ser a Coreia do Norte. Inicialmente, Bush rejeitou a política defendida por Bill Clinton, de negociações com o regime de Kim Jong-il. Pyongyang era um dos "membros fundadores" do "eixo do mal". As suspeitas - confirmadas - sobre a continuação dos programas nucleares norte-coreanos tornaram o hermético regime de Kim numa dor de cabeça para Bush. Mas o Presidente, focado nas guerras no Iraque e no Afeganistão enveredou pela via das negociações, num modelo "a seis" (envolvendo a participação crucial da China). Nos EUA tem havido um debate importante sobre como lidar com a Coreia do Norte; a oposição democrata critica Bush por permitir que Kim Jong-il continue a manter uma espécie de "chantagem", ao exigir contrapartidas pelo abandono dos programas atómicos. 11 de Setembro "Não vamos cansar-nos. Não vamos fraquejar. Não vamos falhar." A 11 de Setembro de 2001, a América foi atacada por terroristas. A Al-Qaeda de Osama bin Laden matou três mil pessoas em Nova Iorque, Washington e na Pensilvânia. A resposta inicial de Bush não foi imediata - mas na noite do dia 11, lançou um repto à nação e ao mundo; declarou uma "guerra contra o terrorismo", pediu o apoio de todas as nações do mundo, e advertiu: "Quem não está connosco está contra nós." Prometeu perseguir e destruir os terroristas e "os regimes que os alberguem". A 20 de Setembro, Bush falou perante o Congresso, explicando a sua visão pós-11 de Setembro. Uma América traumatizada reuniu-se à sua volta; no resto do mundo, a solidariedade foi quase unânime. A NATO activou pela primeira vez o seu artigo V, definindo o ataque contra a América como um ataque contra toda a Aliança. Bush não recorreu à NATO para montar o primeiro assalto contra a Al-Qaeda, mas recebeu apoios quase unânimes em todo o mundo para a intervenção no Afeganistão. Bush lidou pacientemente com o regime afegão, exigindo a extradição de Osama bin Laden. Os taliban recusaram, e a América lançou a invasão do Afeganistão. Bush iniciou uma relação complicada com Pervez Musharraf, Presidente do Paquistão, cuja cooperação era essencial. Contra as previsões de quase todos os peritos militares, a invasão foi rápida e bem sucedida; em poucas semanas, o regime taliban foi derrubado. Mas bin Laden não foi capturado. Os taliban foram derrotados, mas ainda dão sinais de resistência. Bush aponta para o Afeganistão como um caso de sucesso na sua guerra contra o terrorismo, orgulhando-se particularmente das recentes eleições: "Os terroristas fizeram tudo o que podiam para intimidar pessoas, mas mais de dez milhões de afegãos registaram-se para votar - um grande triunfo para a democracia." Olhando para a alma de Vladimir "Olhei para o homem [Putin] nos olhos; senti o que se passava na sua alma." O sentimento de solidariedade na comunidade internacional com a América começou a esfumar-se no início de 2002. Alguns dos aliados - sobretudo na Europa e no Médio Oriente - começaram a dar sinais de preocupação com a direcção da guerra contra o terrorismo. O Presidente encarou a guerra como uma oportunidade para fazer avançar os seus projectos diplomáticos mais ambiciosos. Entre eles, a construção do "filho da Guerra das Estrelas", o sistema de defesa antimísseis primeiro concebido por Ronald Reagan: um "guarda-chuva" para proteger a América de mísseis balísticos. Muitos críticos nos EUA, e a Administração de Bill Clinton, achavam este sistema demasiado caro, tecnicamente inviável e inútil na era do "mega-terrorismo". Mas Bush seguiu em frente, e obteve um triunfo importante: a cooperação da Rússia. Numa cimeira na Eslovénia, em Junho de 2001, Bush conheceu o seu homólogo russo e revelou afinidades com Vladimir Putin; no final do ano, os dois líderes reuniram-se de novo no Texas, e Putin concordou em abandonar o tratado ABM. Bush e Putin partilham a mesma visão sobre o combate ao terrorismo; a Administração americana reduziu as suas críticas sobre os abusos de direitos humanos na Tchetchénia, e Moscovo manteve discretas as suas críticas à intervenção americana no Iraque. A relação, tensa no início do mandato de Bush, entre a Rússia e os EUA, tornou-se cordial. Eixo do mal "Estados como estes, e os seus aliados terroristas, constituem uma ameaça à paz do mundo." Foi o funcionário da Casa Branca David Frum que escreveu a frase "eixo do mal", a mais sonante do discurso do Estado da União de George W. Bush em Janeiro de 2002. Mais tarde, Frum explicou que não era intenção da Administração fazer de "eixo do mal" uma expressão definitiva; Frum sugeriu mesmo que o terceiro elo do "eixo", a Coreia do Norte (os outros dois eram o Irão e o Iraque), foi acrescentada porque "não se pode ter um eixo de dois". O discurso marcou o início da segunda fase da guerra contra o terrorismo de Bush - uma marcha inexorável para uma guerra no Iraque. Alguns críticos sugerem que ainda antes do 11 de Setembro Saddam Hussein era um alvo da Casa Branca; o Presidente justificava a sua insistência pelo perigo de um regime "pária" como o de Bagdad servir de base ou fornecer armas de destruição maciça a terroristas. Este discurso marcou também o fim da unidade nacional na América, e entre os EUA e os seus aliados. Nos 15 meses seguintes, tornou-se óbvio que Bush considerava que no pós-11 de Setembro o regime de sanções e inspecções da ONU no Iraque era inaceitável. O secretário de Estado Colin Powell conseguiu convencer Bush a levar o assunto no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mas o debate foi azedo e improdutivo. A França e a Alemanha, com o apoio discreto da Rússia e da China, opunham-se terminantemente a uma intervenção armada e insistiam nas inspecções. Bush advertiu que a recusa da ONU em agir contra Saddam feria a organização de irrelevância. Powell testemunhou na ONU sobre os armamentos iraquianos, mas não houve consenso. As opiniões públicas europeia e árabe viraram-se contra Bush - grande parte dos EUA também, com as maiores manifestações pacifistas desde o Vietname. As relações entre aliados também se degradaram. Apesar dos esforços do britânico Tony Blair, a Europa ficou dividida - na frase do secretário da Defesa Donald Rumsfeld, entre "nova" e "velha" Europa. "Neocons" e a doutrina Bush "Os Estados Unidos não irão permitir que os regimes mais perigosos do mundo nos ameacem com as armas mais destrutivas do mundo." Em 2002, entraram no léxico mediático uma série de expressões além de "eixo do mal" - "mudança de regime", "armas de destruição maciça", "neocons". Esta última referia-se a um grupo de intelectuais, os "neo-conservadores" integrados na equipa de Bush ou próximos dela, que defendiam uma atitude agressiva dos EUA na guerra contra o terrorismo. A raíz da filosofia "neocon" foi descrita num documento dos anos 90 do "think tank" Project for a New American Century, que em traços largos propunha que os EUA usassem o seu poder - militar se necessário - para refazer o mapa e propagar a democracia no Médio Oriente. Este projecto começava pelo derrube de Saddam. Os "neocons" incluíam figuras como Paul Wolfowitz (secretário adjunto da Defesa) ou Richard Perle (conselheiro do Pentágono); próximos dos "neocons", o vice-presidente Dick Cheney e Donald Rumsfeld. Desenhou-se uma luta interna entre estes "falcões" e a solitária "pomba", Colin Powell. A vitória dos "neocons" resultou na "doutrina Bush" da guerra preventiva: na era do terrorismo, os EUA não podem esperar por um ataque para lidar com ameaças colocadas por "estados-párias". Onde estão as armas de Saddam? "A ascensão de um Iraque livre e independente irá negar aos terroristas uma base de operações, desacreditar a sua ideologia tacanha, e dar força aos reformistas em toda a região." A guerra começou a 19 de Março de 2003. Novamente, muitos peritos militares previam uma operação prolongada e difícil; tal como no Afeganistão, as Forças Armadas americanas triunfaram rapidamente na "fase militar". A estátua de Saddam foi derrubada em Bagdad. O seu Exército esboroou-se. Os seus filhos foram mortos. O "carniceiro de Bagdad" fugiu, e acabou por ser capturado. A 1 de Maio, Bush aterrou cinematograficamente num porta-aviões, com uma faixa a declarar "missão cumprida". Mas não havia armas de destruição maciça - que ainda não foram encontradas. E a missão não estava cumprida. A guerra transformou-se em guerrilha, com atentados, raptos, emboscadas. Os "neocons", que haviam previsto que os soldados americanos seriam recebidos com "pétalas de rosa", foram ridicularizados. Nos EUA e no estrangeiro, a contestação a Bush aumentou - pelos que se tinham oposto à guerra e denunciavam a ausência de armas de destruição maciça, mas também pelos que a apoiaram mas se sentiam traídos pela ausência de um plano para a reconstrução. Mais de 1000 soldados americanos morreram - a grande maioria depois de 1 de Maio. A revista médica britânica "Lancet", num estudo muito contestado nos EUA, calcula em cem mil o número de vítimas civis iraquianas. As imagens de caixões de soldados mortos em combate, inicialmente banidas pela Administração, tornaram-se símbolos das preocupações dos americanos, que as sondagens mostraram estar cada vez menos confiantes na guerra. O ataque contra a sede da ONU que matou Sérgio Vieira de Mello em Agosto de 2003 tornou ainda mais inviável a participação de uma comunidade internacional hesitante; as imagens de cadáveres mutilados de paramilitares americanos chocaram os EUA. Apesar da continuação da violência e da instabilidade, Bush não se arrepende, salientando a libertação do povo iraquiano, e mostra-se confiante na realização de eleições em Janeiro: "Para todos os que amam a paz e a liberdade, um mundo sem o regime de Saddam Hussein é melhor e mais seguro." Guantanamo e Abu Ghraib "Esta não é a América que eu conheço." A discórdia entre os EUA e os seus aliados europeus acentuou-se quando Bush anunciou planos de deter indeterminadamente suspeitos de terrorismo na base militar de Guantanamo (Cuba), e de os julgar em tribunais militares. Centenas de indivíduos com ligações aos taliban ou à Al-Qaeda foram presos no Afeganistão e enviados para Guantanamo. Organizações de direitos humanos americanas e internacionais protestaram pela definição destes indivíduos como "combatentes ilegais" e não como "prisioneiros de guerra" (ou seja, fora da alçada das convenções de Genebra). Mas foram as imagens da cadeia de Abu Ghraib, em Bagdad, que causaram um escândalo mundial. Soldados americanos foram filmados a humilhar e torturar prisioneiros iraquianos. A Administração condenou inequivocamente os abusos, e puniu os soldados. Houve contudo quem visse no caso de Abu Ghraib uma continuação lógica de políticas de combate ao terrorismo definidas pelo Pentágono. Outros críticos, acreditando que os abusos são resultado de comportamentos isolados e não de uma política expressa, viram no caso um exemplo grave de incompetência e mau planeamento da Administração no pós-guerra. O "roteiro" atribulado "Um dos nossos amigos mais importantes é o Estado de Israel. A minha Administração será inflexível no apoio a Israel contra o terrorismo e a violência, e em busca da paz por que todos os israelitas rezam." Bill Clinton envolveu-se pessoal e apaixonadamente no processo de paz israelo-palestiniano. George W. Bush decidiu de início evitar esse "pântano"; parecia determinado em reduzir a mediação americana no intratável conflito. Mas depois do 11 de Setembro a Palestina tornou-se incontornável. A política de Bush foi no entanto feita de avanços e recuos, de momentos em que parecia querer forçar os dois lados a encontrar uma solução e de momentos em que parecia desinteressado. Sob certos aspectos, Bush foi mais longe que qualquer outro Presidente americano no reconhecimento das pretensões palestinianas; foi o primeiro ocupante da Casa Branca a defender explicitamente a criação de um Estado palestiniano independente. Mas, por outro lado, a sua governação tendeu mais para o lado israelita. Bush tem uma boa relação com o primeiro-ministro Ariel Sharon, e faz um paralelo entre o combate israelita ao Hamas ou ao Hezbollah e a sua própria guerra contra o terrorismo. Apesar de várias vezes ter criticado acções de Sharon, Bush vê o papel dos EUA mais como aliado de Israel que como "árbitro". Já com Arafat, Bush nunca se quis reunir. Definiu o líder palestiniano como um "obstáculo à paz" e disse que não confiava nele; para Bush, que privilegia as relações pessoais na sua diplomacia, isso é um dado de grande importância. A principal iniciativa da sua Administração foi a criação de um "roteiro de paz", e o estabelecimento de um "quarteto" (EUA, Rússia, União Europeia, ONU) de acompanhamento do processo. O "roteiro", contudo, é longo, sinuoso e sem fim à vista. "Esqueceu-se da Polónia!" "John Kerry diz que não temos aliados nesta guerra. O que é que ele vai dizer a Tony Blair? A Alexandr Kwasniewski, da Polónia?" Bush recusa a ideia de que os EUA estejam isolados internacionalmente por causa das suas acções; num dos debates televisivos com Kerry, zangou-se por o democrata menosprezar a coligação no Iraque, e não listar todos os países com tropas no terreno: "Esqueceu-se da Polónia!" Com efeito, muitos países (incluindo Portugal) participaram na "coligação voluntária" de Bush. Mas alguns, perante a continuação da violência, fizeram as malas, como a Espanha ou as Filipinas. E em outros, apesar do apoio governamental, a opinião pública está maioritariamente contra Bush. Sondagens mostram que o sentimento anti-americano cresceu em muitas partes do mundo - especialmente em nações muçulmanas. Bush lamenta, mas diz que a sua prioridade é servir a segurança dos EUA. Com o ataque terrorista contra Madrid e a derrota nas urnas de José Maria Aznar, Bush perdeu um dos seus grandes aliados na Europa. Resta-lhe Tony Blair, e este investiu o seu prestígio pessoal na tentativa de sanar as divisões transatlânticas. Em alguns capítulos, os EUA mantêm a cooperação com a Europa, "nova" ou "velha": nas pressões para que o Irão abandone o seu programa nuclear, nas crises humanitárias em África (como Darfur, no Sudão), em outros "pontos quentes" (como o Haiti), na reconstrução do Afeganistão. Em outros ainda, a atenção da Administração foi desviada pelo terrorismo e pelo Iraque. Particularmente a América Latina; a relação próxima entre Bush e o Presidente Vicente Fox não produziu grandes resultados nos laços EUA-México; o bloqueio a Cuba manteve-se, apesar de sinais contraditórios no Congresso; o papel americano num golpe contra Hugo Chavez na Venezuela foi confuso e errático. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Bush e Kerry num esforço final

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