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28-02-2003
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ASDT garante maioria de dois terços à Fretilin

Por Luciano Alvarez, em Díli

Sexta-feira, 07 de Setembro de 2001

A Fretilin ficou a quatro deputados da maioria de dois terços que desejava para aprovar a futura Constituição de Timor-Leste sem ter de negociar com ninguém, mas já não há dúvidas de que tem a maioria qualificada da futura Assembleia Constituinte nas suas mãos. Ontem, Xavier do Amaral, líder da Associação Social Democrática de Timor, a quarta força política mais votada, assegurou que não votará "em nada" contra o seu anterior partido e também já o disse aos dirigentes da Fretilin. Assim como também já não há dúvidas sobre quem será o futuro primeiro-ministro do Governo de transição: Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin e grande estratega do partido. O anúncio dos resultados finais das eleições do dia 30 não motivaram festa nas ruas de Díli. A Fretilin pediu aos seus militantes e apoiantes para se conterem até ao dia seguinte ao da divulgação oficial dos resultados, e nessa altura será feita a festa. Mas a tranquilidade mais uma vez vivida em todo o território contrastou com a agitação no meio político. Conferências de imprensa, encontros entre os partidos e a Comissão Eleitoral Independente (CEI), declarações conjuntas e individuais e a divulgação dos resultados totais causaram um dos dias mais agitados de todo o processo eleitoral. Todas as declarações convergiram em três pontos: nos parabéns à Fretilin pela vitória, a todos os partidos pela sua participação serena no processo eleitoral e ao povo de Timor pela maturidade que revelou. "Há neste momento muitos países com muitos anos de democracia que devem estar com inveja deste povo extraordinário", sintetizou o administrador da ONU no território, Sérgio Vieira de Mello. Claro que os principais dirigentes da Fretilin sorriam mais que os de todos os outros partidos. E tinham razões de sobra para isso. Embora não tivessem assegurado a maioria de dois terços na Assembleia Constituinte, a sua vitória tinha sido esmagadora. E já sabiam também que essa maioria estava assegurada com os cinco deputados eleitos pela ASDT. Xavier do Amaral já dera a entender que apoiaria a maioria da Fretilin na Assembleia, e ontem deixou-o mais claro que nunca. "Convergimos em quase tudo, por isso não há razão para que vote contra a Fretilin em nada. Vamos estar sempre ao lado da Fretilin na elaboração da Constituição", afirmou ao PÚBLICO. Mari Alkatiri, que passou o dia dividido entre entrevistas e encontros formais e informais, tinha razões redobradas para estar mais feliz que todos os outros. Muitos dos que a ele se dirigiam, desde jornalistas a membros de outros partidos, já o tratavam por primeiro-ministro. E Alkatiri, enquanto dizia que ainda não era bem assim, sorria sem parar. Embora o negue, a verdade é que, segundo apurou o PÚBLICO, o secretário-geral já tem assegurada a chefia do Governo. O Comité Central da Fretilin, ainda que oficiosamente, já o decidiu e Sérgio Vieira de Mello também já lhe fez o convite. As conversas entre o administrador da ONU e a Alkatiri já ultrapassaram essa fase, e estão ao nível da composição do futuro Governo de transição, onde, segundo asseguram vários dirigentes do partido que ganhou as eleições, "também não há divergências". Governo anunciado depois de dia 10

Com todos os partidos satisfeitos, com excepção da UDT, que continua a contestar as eleições, todos se viravam para o povo. Para os elogios ao povo, à sua serenidade e maturidade. Foi isso que fizeram Sérgio Vieira de Mello e Xanana Gusmão numa conferência de imprensa conjunta ao início da tarde, onde divulgaram também um documento assinado pelos dois e por José Ramos-Horta, onde apelavam aos partidos a que continuem a respeitar o pacto de unidade nacional assinado pela maioria dos partidos antes das eleições. "Gostaria de agradecer a todos os timorenses que fizeram desta eleição um momento verdadeiramente histórico. Timor-Leste contrariou mais uma vez os cépticos e deu outra lição ao mundo sobre a sua maturidade e o seu sentido de responsabilidade democrática", disse Vieira de Mello. Xanana Gusmão, embora menos eloquente até porque se encontrava doente, saudou também de forma generosa os partidos e o povo. Vieira de Mello tinha também uma mensagem para deixar aos partidos que não elegeram deputados, ou que estão desapontados com os resultados. E para tal recorreu a Churchill: "A democracia é talvez o pior dos sistemas e das formas de governo, com excepção de todos os outros que foram testados anteriormente." E tinha ainda uma outra mensagem, desta vez para as mulheres timorenses: "Não alcançámos o nosso objectivo, que era eleger um terço de mulheres, mas todos temos que reconhecer que 27 por cento é um bom augúrio para a emancipação política e social da mulher timorense. Parabéns a todas as que foram eleitas." Xanana Gusmão, questionado pelos jornalistas, diz só ter visto um aspecto negativo em todo o processo eleitoral. "Tivemos pouco tempo para fazer as coisas como nós queríamos. Faltou tempo para ver mais coisas. Mas a perfeição é impossível quando se faz alguma coisa", afirmou, debilitado e incapaz de travar uma tosse constante. Vieira de Mello, já no final, revelou que no dia 10 serão revelados oficialmente os resultados, e que nos dias seguintes pretende anunciar os nomes dos homens e mulheres que vão formar o segundo Governo de transição. No dia 15, depois de uma deslocação à Indonésia, dará posse à assembleia que, de acordo com o que está agendado, deverá aprovar a Constituição no prazo de três meses. A independência, assegurou ontem novamente Sérgio Vieira de Mello, pode ser declarada a partir de Maio de 2002. A democracia timorense avança agora a grande velocidade e na mais perfeita tranquilidade.

ASDT garante maioria de dois terços à Fretilin

Por Luciano Alvarez, em Díli

Sexta-feira, 07 de Setembro de 2001

A Fretilin ficou a quatro deputados da maioria de dois terços que desejava para aprovar a futura Constituição de Timor-Leste sem ter de negociar com ninguém, mas já não há dúvidas de que tem a maioria qualificada da futura Assembleia Constituinte nas suas mãos. Ontem, Xavier do Amaral, líder da Associação Social Democrática de Timor, a quarta força política mais votada, assegurou que não votará "em nada" contra o seu anterior partido e também já o disse aos dirigentes da Fretilin. Assim como também já não há dúvidas sobre quem será o futuro primeiro-ministro do Governo de transição: Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin e grande estratega do partido. O anúncio dos resultados finais das eleições do dia 30 não motivaram festa nas ruas de Díli. A Fretilin pediu aos seus militantes e apoiantes para se conterem até ao dia seguinte ao da divulgação oficial dos resultados, e nessa altura será feita a festa. Mas a tranquilidade mais uma vez vivida em todo o território contrastou com a agitação no meio político. Conferências de imprensa, encontros entre os partidos e a Comissão Eleitoral Independente (CEI), declarações conjuntas e individuais e a divulgação dos resultados totais causaram um dos dias mais agitados de todo o processo eleitoral. Todas as declarações convergiram em três pontos: nos parabéns à Fretilin pela vitória, a todos os partidos pela sua participação serena no processo eleitoral e ao povo de Timor pela maturidade que revelou. "Há neste momento muitos países com muitos anos de democracia que devem estar com inveja deste povo extraordinário", sintetizou o administrador da ONU no território, Sérgio Vieira de Mello. Claro que os principais dirigentes da Fretilin sorriam mais que os de todos os outros partidos. E tinham razões de sobra para isso. Embora não tivessem assegurado a maioria de dois terços na Assembleia Constituinte, a sua vitória tinha sido esmagadora. E já sabiam também que essa maioria estava assegurada com os cinco deputados eleitos pela ASDT. Xavier do Amaral já dera a entender que apoiaria a maioria da Fretilin na Assembleia, e ontem deixou-o mais claro que nunca. "Convergimos em quase tudo, por isso não há razão para que vote contra a Fretilin em nada. Vamos estar sempre ao lado da Fretilin na elaboração da Constituição", afirmou ao PÚBLICO. Mari Alkatiri, que passou o dia dividido entre entrevistas e encontros formais e informais, tinha razões redobradas para estar mais feliz que todos os outros. Muitos dos que a ele se dirigiam, desde jornalistas a membros de outros partidos, já o tratavam por primeiro-ministro. E Alkatiri, enquanto dizia que ainda não era bem assim, sorria sem parar. Embora o negue, a verdade é que, segundo apurou o PÚBLICO, o secretário-geral já tem assegurada a chefia do Governo. O Comité Central da Fretilin, ainda que oficiosamente, já o decidiu e Sérgio Vieira de Mello também já lhe fez o convite. As conversas entre o administrador da ONU e a Alkatiri já ultrapassaram essa fase, e estão ao nível da composição do futuro Governo de transição, onde, segundo asseguram vários dirigentes do partido que ganhou as eleições, "também não há divergências". Governo anunciado depois de dia 10

Com todos os partidos satisfeitos, com excepção da UDT, que continua a contestar as eleições, todos se viravam para o povo. Para os elogios ao povo, à sua serenidade e maturidade. Foi isso que fizeram Sérgio Vieira de Mello e Xanana Gusmão numa conferência de imprensa conjunta ao início da tarde, onde divulgaram também um documento assinado pelos dois e por José Ramos-Horta, onde apelavam aos partidos a que continuem a respeitar o pacto de unidade nacional assinado pela maioria dos partidos antes das eleições. "Gostaria de agradecer a todos os timorenses que fizeram desta eleição um momento verdadeiramente histórico. Timor-Leste contrariou mais uma vez os cépticos e deu outra lição ao mundo sobre a sua maturidade e o seu sentido de responsabilidade democrática", disse Vieira de Mello. Xanana Gusmão, embora menos eloquente até porque se encontrava doente, saudou também de forma generosa os partidos e o povo. Vieira de Mello tinha também uma mensagem para deixar aos partidos que não elegeram deputados, ou que estão desapontados com os resultados. E para tal recorreu a Churchill: "A democracia é talvez o pior dos sistemas e das formas de governo, com excepção de todos os outros que foram testados anteriormente." E tinha ainda uma outra mensagem, desta vez para as mulheres timorenses: "Não alcançámos o nosso objectivo, que era eleger um terço de mulheres, mas todos temos que reconhecer que 27 por cento é um bom augúrio para a emancipação política e social da mulher timorense. Parabéns a todas as que foram eleitas." Xanana Gusmão, questionado pelos jornalistas, diz só ter visto um aspecto negativo em todo o processo eleitoral. "Tivemos pouco tempo para fazer as coisas como nós queríamos. Faltou tempo para ver mais coisas. Mas a perfeição é impossível quando se faz alguma coisa", afirmou, debilitado e incapaz de travar uma tosse constante. Vieira de Mello, já no final, revelou que no dia 10 serão revelados oficialmente os resultados, e que nos dias seguintes pretende anunciar os nomes dos homens e mulheres que vão formar o segundo Governo de transição. No dia 15, depois de uma deslocação à Indonésia, dará posse à assembleia que, de acordo com o que está agendado, deverá aprovar a Constituição no prazo de três meses. A independência, assegurou ontem novamente Sérgio Vieira de Mello, pode ser declarada a partir de Maio de 2002. A democracia timorense avança agora a grande velocidade e na mais perfeita tranquilidade.

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