Fado, música do mundo

03-08-2004
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Fado, Música do Mundo

Domingo, 25 de Julho de 2004 %Fernando Magalhães Não é por estar a morrer que o fado se candidata esta semana a património da humanidade. Pelo contrário, está vivo e de boa saúde. Uma vitalidade que, todavia, necessita de alguns cuidados, avisa Ruy Vieira Nery. Por isso a proposta de considerar mundial o fado tradicional de Lisboa. Não se trata, como muitos são tentados a considerar, "uma espécie de livro Guiness dos records" mas a escolha de um programa que melhor sirva os interesses de o fado. E que não exclui o outro lado: vontade política e investigação científica. O autor de "Para uma História do Fado", que faz parte do grupo que trabalhou na candidatura à UNESCO, considera salutar a troca entre os diferentes criadores do fado. Distingue duas frentes que se conjugam e completam. Uma popular, dos fadistas de bairro, outra a dos artistas que gravam para multinacionais e dão espectáculos no estrangeiro. "É utópico pensar que o fado pode voltar a ser exclusivo das colectividades populares dos bairros de Lisboa. Passou essa fronteira e, hoje em dia, é cantada por gente que nem do ponto vista social nem do ponto de vista geográfico, pertence a esse circuito. No entanto é muito importante que esse circuito continue a sentir que o fado é um património seu". Aponta um exemplo: "Na Grande Noite do Fado, vê-se as colectividades, as claques, a viverem intensamente esse processo". As duas coisas acabam naturalmente "por interagir". "Os grandes nomes de referência internacional, das multinacionais, vão continuar a gravar e vão ser inspirados, alimentados por essa tradição enraizada nos meios populares e, por sua vez, esses fadistas que estão mais próximos da base, por assim dizer, vão continuar a fazer o seu reportório". Há pois "uma influência mútua" e as fronteiras entre os dois "não são tão nítidas quanto isso". Mariza "é uma rapariga que nasce no meio fadista da Mouraria e que atingiu o estatuto de estrelato internacional mas claramente a partir de um percurso que passa pelas etapas tradicionais de legitimação". Seguindo um percurso inverso, há o caso da Cristina Branco, "que constrói a carreira de fora para dentro". Fado ou fadistas. Quem se sobrepõe a quem? "Não há fadistas sem fado nem fado sem fadistas. É um círculo vicioso. Os fadistas têm que cantar alguma coisa e o fado é aquilo que os fadistas fazem. Existe o fado, uma tradição musical ecléctica que é reconhecida, como existe uma tradição performativa, uma maneira de cantar, uma postura, uma maneira de dizer que são intrinsecamente fadistas. De tal maneira que quando um fadista canta uma canção que não é fado, apesar de tudo integra-a no seu reportório. Como aconteceu no caso da Amália. Mas há, de facto, reportórios tradicionais, dentro do fado, que continuam a ser um pilar da actividade dos fadistas, como o fado corrido, o fado menor, o fado Pedro Rodrigues, os fados do Alfredo Marceneiro, do Casimiro Ramos, do Joaquim Campos, todos esses fados que conhecemos com nomes variados conforme os poemas que lhes são adaptados, fazem parte de uma tradição viva do género e não há fadista que, num momento ou outro, não recorra a essa tradição, não se prenda a ela como uma espécie de amarra". Discutida por muitos e sem consenso à vista está a questão de como se deve renovar o fado. Para Vieira Nery "o fado esteve sempre em mudança" e "é ilusório tentar identificar-se um corpo fixo e imutável do fado, como se ele tivesse aparecido por milagre, caído de pára-quedas já amadurecido e ficasse imóvel ao longo das gerações. Pelo contrário, o fado esteve sempre em evolução e mesmo a maneira como um fadista canta hoje o fado corrido é diferente da maneira como se cantava há 50 ou há 100 anos. Da mesma maneira que não se faz hoje jazz como se fazia no início, por mais que se façam homenagens ou lembranças do período do Louis Armstrong e da Billie Holiday." Ponto assente: "Esta geração faz o mesmo que fizeram as anteriores e ao mesmo tempo mantém, com grande empenho, os laços ao passado e à tradição. Não se põe sequer a questão de ser uma ruptura radical que rejeita toda a tradição anterior. Poder-se-ia seguir por uma via mais inclinada e pensar que a correr qualquer risco de descaracterização ele viria da descaracterização dos próprios bairros populares, enleados num processo de afastamento progressivo das suas tradições mais antigas. À decadência do fado corresponderia a decadência do tecido urbano dos bairros. Porém, o perigo é mais subjectivo do que real. "O fado há-de ser aquilo que a sociedade de que o fado nasce, for. Se os bairros populares de Lisboa forem mudando o fado irá mudando com eles. Mas não acredito que haja rupturas. Essa mudança é feita de uma transformação constante mas não me parece que haja uma quebra tão cirúrgica, um corte tão radical como isso". Um exemplo interessante. "Agora temos uma presença africana significativa nos bairros populares de Lisboa e vê-se começarem a aparecer fadistas africanos. O que até tem a sua graça porque, de certa maneira, é como um regresso às origens do fado-dança afro-brasileiro". Ou seja, "uma mudança social, uma recomposição da própria população, naturalmente que renova o recrutamento de novos fadistas". E concluindo o raciocínio: "Da mesma maneira como cada vez mais temos, no outro extremo social, raparigas e rapazes de meios sociais que tradicionalmente não estariam afectados pela tradição do fado e que mergulham nessa tradição". Todos acabam por se juntar através de "uma sensação uniformizadora" em que "fadistas de todas as origens, se sentem irmanados pelo facto de cantarem fados lado a lado. Os fadistas de origem burguesa recebem influência dos fadistas de origem popular e vice-versa". Há continuidades imparáveis mesmo que essas continuidades incorporem um elemento de mudança". Nem todos cantam da mesma maneira. Há aqueles a quem o fado vem directamente do coração e do que a vida lhes oferece entre a alegria e a tristeza. E há os que simplesmente cantam, mais ou menos afinados, mais ou menos cultivando um apuro formal que jamais poderá ser tomado pelo fado genuíno. "Muitas vezes pessoas que cantam o fado com uma bonita voz, que cantam muito bem, não são fadistas. Ou então vemos alguém que tem problemas de voz, que manifestamente não tem dotes vocais como intérprete mas que é fadista. Há uma postura, uma maneira de dizer o texto, uma concentração emocional que são características da tradição do fado. Podemos perceber perfeitamente quando estamos perante um fadista, alguém que compartilha dessa maneira de estar e de se entregar e alguém que vem de outro tipo de experiência Amália naturalmente tem que vir à baila. Ela é o marco, a figura e a matriz pela qual as mais novas se regem. "É inegável que o peso da Amália é muito forte", diz Vieira Nery. "sobretudo internacionalmente. É muito mais fácil a uma fadista ter uma carreira internacional porque o público e o meio do espectáculo internacional têm esta memória da figura feminina de Amália, da mulher de preto que canta desgraças. Esse meio está muito mais pronto a receber alguém que encaixe nesse estereótipo do que um homem. O único homem que conseguiu fazer uma carreira internacional foi o Carlos do Carmo. O Carlos Zel também fez alguns grandes espectáculos aqui e acolá mas não chegou ao mesmo destaque. Esse estereótipo da mulher fadista domina completamente. No caso interno não me parece que seja tanto assim. Há muitos rapazes, o Camané, o Pedro Moutinho, o Henrique Moutinho, o António Zambujo, o Rodrigo Costa-Félix, o Miguel Capucho, o Gonçalo Salgueiro, apesar de tudo ainda são alguns. Além disso há hoje todo um impacte visual que se joga na produção e no marketing, uma vez que "o fado entrou no show business de uma forma total, o que faz com que agora", garante o musicólogo, "haja outras regras de legitimação, diferentes das que existiam antigamente". Nos anos 60, "a legitimação fazia-se antes de mais no circuito fadista, os garotos apareciam na Grande Noite do Fado ou nas Associações e depois acabavam por chegar a uma casa de fados. Era a partir da rede das casas de fado, dos fadistas mais velhos que certificavam, por assim dizer, os talentos emergentes, era assim que se fazia pouco a pouco a afirmação mesmo quando eles depois passavam para fora desse circuito". Fernando Farinha "foi o primeiro fadista a ganhar aqueles prémios todos, 'O Rei da Rádio', etc., que eram prémios que abrangiam já o conjunto da canção popular urbana, independentemente do género. Mas era-se lançado a partir de um processo de legitimação interior ao circuito do fado. Hoje em dia, não, são lançados no circuito do 'music-hall', do espectáculo profissional, têm logo um cuidado diferente com a imagem, com a produção. Por outro lado também é muito frequente estarmos perante fadistas que vêm de meios sociais privilegiados que tenham já um conjunto de instrumentos de auto-defesa que lhes são bastante úteis. Aí o caso da mulher fadista tem um peso grande e é cultivado o efeito da sedução". A nova geração sucede à diva. "O peso que ela teve como modelo para as jovens fadistas pode, por vezes, ser esmagador. Uma jovem fadista a primeira tendência que tem é colar-se à herança, ao reportório da Amália. Isso não é sistema para ninguém. Aguenta-se num primeiro disco mas a opção é libertar-se e seguir uma carreira própria ou então isso esgota-se como um fenómeno de simples imitação. É interessante ver fadistas como Mariza ou a Kátia Guerreiro que, num primeiro momento, estiveram muito próximas da herança da Amália terem vindo gradualmente a afirmar um reportório e uma via próprios, deixando para trás esse lastro". O que verdadeiramente irrita Rui Vieira Nery é que alguém se refira a "uma nova Amália". "É um disparate. Não existe uma nova Amália, como não existe uma nova Callas ou uma nova Ella Fitzgerald, são fenómenos únicos que transcendem até o género. É ridículo". O grande problema que há hoje em dia é "justamente a máquina trituradora da indústria discográfica que fabrica ídolos a um ritmo avassalador e destrói-os ao mesmo tempo. Precisa de se renovar e então inventa gente muito nova e muito pouco experiente com o estatuto de super estrela e depois precisa de a substituir sem dar tempo aos jovens artistas de amadurecerem, de construir o seu caminho, e esmaga-os numa lógica de construção constante de novidades do ano. E depois sente a necessidade de vender essas novidades como a 'nova Amália', a 'nova Maria Teresa', o "novo Marceneiro'...É vender gato por lebre e de uma injustiça enorme para com os jovens a quem se colam esses rótulos". Também não se sente inteiramente à vontade com os meninos-prodígio embora aceite que o fado possa eclodir em qualquer idade. Não é necessário o ritual de passagem pela dor. "O Fernando Farinha apareceu com oito ou nove anos, o 'garoto da Bica'. Os primeiros discos que ele gravou eram absolutamente extraordinários". Mas os meninos-prodígio são, por regra, "pequenos monstros instrumentalizados pelos pais e aquilo é uma caricatura de fado". Um fadista ganha com a experiência mas à partida tem que ter um capital próprio do fado. O que se encontra sempre em cada época é uma "coexistência entre o lado fatalista, negro, trágico do fado com um lado exuberante, festivo, de celebração da vida e da alegria". A haver crise ela vem do lado, não de quem canta, mas de quem escreve. "É talvez o aspecto neste momento mais problemático, sobretudo ao nível dos compositores. Estamos a viver muito do reportório tradicional, dos fados castiços, seja dos fados-canção seja dos fados do Oulmain, aos quais vamos mudando as letras. Mas, de facto, sente-se que há uma falta. Há é muita gente a fazer experiências de importação de músicas de outros géneros para o fado". Outro motivo de irritação: "Hoje em dia já não tolero o repisar daqueles velhos clichés da garra da guitarra, da tipóia, do Timpanas. Isso teve um tempo, teve grandes poetas que escreveram com base nesse universo temático mas que hoje já não tem ligação nenhuma com a realidade, nem sequer do quotidiano popular. Depois há o outro risco, exactamente contrário, que é a de uma intelectualização nova-rica da poesia do fado, em que de repente se quer ter uma erudição, se quer pegar em poesia de qualquer tipo e musicá-la à força. Não pode ser só um saudosismo primário das temáticas antigas nem este novo-riquismo intelectual de cantar à força poesia pós-moderna". Tudo porque "há especificidade do género que se têm que manter sob pena de se perder a identidade do próprio género". "Há grande poesia que não funciona no fado, garante Vieira Nery. "até porque no fado há uma coisa que é muito típica que é uma certa regularidade métrica. Na poesia há uma musicalidade intrínseca, mas se não tiver essa regularidade métrica mínima não funciona". A excepção que confirma a regra: "Houve quem ficasse muito chocado quando o Alain Oulmain começou a musicar Camões para a Amália e o certo é que há grandes poemas do Camões que funcionam muito bem nos fados dele. Para o musicólogo "o fado tem uma importância evidente no património cultural português. É um género que nasceu em Lisboa por alturas de 1840 mas que entretanto se espalhou, se divulgou e se tem assumido como elemento importante na imagem que os portugueses fazem de si próprios e na imagem pelo qual são reconhecidos internacionalmente do ponto de vista cultural". Portanto justifica-se que haja um esforço de investigação, de estudo e de preservação desse património cultural. O que é necessário fazer de concreto? "Para já promover uma grande campanha de levantamento de fontes. Em relação ao fado dizem-se muitos lugares-comuns, muitas verdades, entre aspas, transmitidas de forma acrítica, de texto para texto, de autor para autor quando na realidade há toda uma investigação que é preciso fazer na imprensa periódica, nos arquivos, judiciais e policiais, na literatura. É preciso levantar todas as publicações de versos para fado, de melodias de fado, desde meados do séc. XIX. É preciso levantar toda a discografia de fado desde 1904, quando se gravaram os primeiros discos, sobretudo aquela que está preservada na colecção do Bruce Mastin, que a Câmara Municipal anunciou ser seu propósito adquirir. Há todo um trabalho de casa de levantamento dessas fontes para fazer." Vieira Nery refere-se a um trabalho de investigação científica, o único capaz de apresentar resultados rigorosos, salvaguardando que o outro lado da questão, o da criação, está unicamente dependente da actividade dos artistas, não necessitando de qualquer tipo de intervenção. "O fado, como processo criativo não precisa de defesa nem da intervenção de ninguém a não ser dos próprios fadistas. Não vão ser a UNESCO nem o Estado a cantar, a escrever música, a escrever poemas, a tocar guitarra. Isso são os próprios fadistas, os próprios guitarristas, os próprios letristas que têm que fazer. Aquilo que os poderes públicos podem fazer é preservar a memória do que é esta continuidade de criadores fadistas que se foi sucedendo geração após geração desde há cerca de 150 anos." Do que é preciso cuidar se encarregará uma instituição particular: "Há uma entidade que já está, por definição, responsável, que é a Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa, que já por si tem um arquivo muito rico de materiais e será com certeza no seu quadro que essa investigação irá sendo conduzida, visto ser o depositário natural desse património. No entanto a fase em que se está é a de contactos entre o conselho consultivo da Casa do Fado e um conjunto de investigadores universitários, como a Salwa Castelo-Branco, eu próprio ou o Joaquim Pais de Brito, no sentido de haver equipas especializadas que possam trabalhar dentro desse projecto, possivelmente envolvendo até institutos de investigação universitários que possam associar-se à Casa do Fado nessa tarefa". Tudo somado, dá apenas o início do processo. "Ainda estamos na fase de britar pedra". A UNESCO "tem um programa, que vai terminar, que é a consagração do património imaterial, foi no quadro desse programa que se tinha tentado candidatar o fado de Lisboa". Mas não era por aí. "Ficou claro que esse não era o programa adequado, não só porque ia terminar, mas porque estava dirigido para tradições culturais em risco de desaparecimento, o que não era manifestamente o caso do fado de Lisboa, que está vivo e são e em grande desenvolvimento". Entretanto uma nova convenção foi já aprovada pela UNESCO e está neste momento em processo de ratificação pelos vários estados membros. Entra em cena um segundo programa, destinado não "à salvaguarda de tradições em risco mas apenas o registo, uma espécie de lista de tradições culturais que os próprios países consideram identitários, ou seja, importantes para a sua identidade cultural". "Um programa", diz Vieira Nery, "em que os próprios países estão dispostos a estudar, a investigar, a defender e a UNESCO se limita a ser parceiro desses mesmos países". Finalmente, o fado, como coisa viva, deve ser tratado e conservado. Um museu, sim, mas não unicamente de arqueologia. "Deve ser o repositório da documentação existente sobre o fado e um centro de estudos permanentemente aberto para receber documentação, mais informação, e para tratar essa informação. Mas por outro lado também tem que ter uma ligação ao meio vivo do fado". "Não podemos", diz o musicólogo, "é transformar a Casa do Fado e o Museu do Fado num centro de investigação universitário". "A Casa do fado tem seguido um caminho muito equilibrado. Tem aulas de guitarra, pequenas sessões de fado, conferências, sessões de homenagem, lançamento de livros e de discos, o que faz com que o próprio meio do fado se reconheça, que sinta que aquela é a sua casa. Este binómio entre estudo e vivência directa do género não se pode perder, sob pena de cairmos ou no academismo seco e, em última análise, ilegítimo, ou numa espécie de tradicionalismo sem substância". Muito importante para o estudo dos primórdios do fado é a aquisição, ainda por fazer, da colecção de exemplares do início do século passado ainda na posse do inglês Bruce Mastin."O Presidente da Câmara tinha dado garantia de aquisição. Mas ainda não está feita. A matéria está nas mãos da EGEAC que tem sempre vindo a dizer que haverá uma parte de fundos públicos e uma parte de privados. Mas não há novos dados e era boa altura para termos algumas garantias mais palpáveis. Por vezes fala-se deste senhor como se fosse uma espécie de pirata que roubou o património português. Pelo contrário, se não fosse este senhor ter recolhido, tratado e conservado esta memória, ela tinha desaparecido. Mas ele não é, naturalmente, nenhum benemérito. Em qualquer altura que uma universidade americana resolva que era engraçado ter uma colecção de fado, dá um milhão de euros com uma facilidade enorme e aquilo desaparece de circulação! Primeiro temos que agradecer ao senhor Bruce Mastin ter tido o trabalho de coligir esta colecção e, segundo, temos que perceber que o valor que ele pede é quase simbólico, face ao valor patrimonial que esta colecção tem". OUTROS TÍTULOS EM PÚBLICA

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Domingo, 25 de Julho de 2004 %Fernando Magalhães Não é por estar a morrer que o fado se candidata esta semana a património da humanidade. Pelo contrário, está vivo e de boa saúde. Uma vitalidade que, todavia, necessita de alguns cuidados, avisa Ruy Vieira Nery. Por isso a proposta de considerar mundial o fado tradicional de Lisboa. Não se trata, como muitos são tentados a considerar, "uma espécie de livro Guiness dos records" mas a escolha de um programa que melhor sirva os interesses de o fado. E que não exclui o outro lado: vontade política e investigação científica. O autor de "Para uma História do Fado", que faz parte do grupo que trabalhou na candidatura à UNESCO, considera salutar a troca entre os diferentes criadores do fado. Distingue duas frentes que se conjugam e completam. Uma popular, dos fadistas de bairro, outra a dos artistas que gravam para multinacionais e dão espectáculos no estrangeiro. "É utópico pensar que o fado pode voltar a ser exclusivo das colectividades populares dos bairros de Lisboa. Passou essa fronteira e, hoje em dia, é cantada por gente que nem do ponto vista social nem do ponto de vista geográfico, pertence a esse circuito. No entanto é muito importante que esse circuito continue a sentir que o fado é um património seu". Aponta um exemplo: "Na Grande Noite do Fado, vê-se as colectividades, as claques, a viverem intensamente esse processo". As duas coisas acabam naturalmente "por interagir". "Os grandes nomes de referência internacional, das multinacionais, vão continuar a gravar e vão ser inspirados, alimentados por essa tradição enraizada nos meios populares e, por sua vez, esses fadistas que estão mais próximos da base, por assim dizer, vão continuar a fazer o seu reportório". Há pois "uma influência mútua" e as fronteiras entre os dois "não são tão nítidas quanto isso". Mariza "é uma rapariga que nasce no meio fadista da Mouraria e que atingiu o estatuto de estrelato internacional mas claramente a partir de um percurso que passa pelas etapas tradicionais de legitimação". Seguindo um percurso inverso, há o caso da Cristina Branco, "que constrói a carreira de fora para dentro". Fado ou fadistas. Quem se sobrepõe a quem? "Não há fadistas sem fado nem fado sem fadistas. É um círculo vicioso. Os fadistas têm que cantar alguma coisa e o fado é aquilo que os fadistas fazem. Existe o fado, uma tradição musical ecléctica que é reconhecida, como existe uma tradição performativa, uma maneira de cantar, uma postura, uma maneira de dizer que são intrinsecamente fadistas. De tal maneira que quando um fadista canta uma canção que não é fado, apesar de tudo integra-a no seu reportório. Como aconteceu no caso da Amália. Mas há, de facto, reportórios tradicionais, dentro do fado, que continuam a ser um pilar da actividade dos fadistas, como o fado corrido, o fado menor, o fado Pedro Rodrigues, os fados do Alfredo Marceneiro, do Casimiro Ramos, do Joaquim Campos, todos esses fados que conhecemos com nomes variados conforme os poemas que lhes são adaptados, fazem parte de uma tradição viva do género e não há fadista que, num momento ou outro, não recorra a essa tradição, não se prenda a ela como uma espécie de amarra". Discutida por muitos e sem consenso à vista está a questão de como se deve renovar o fado. Para Vieira Nery "o fado esteve sempre em mudança" e "é ilusório tentar identificar-se um corpo fixo e imutável do fado, como se ele tivesse aparecido por milagre, caído de pára-quedas já amadurecido e ficasse imóvel ao longo das gerações. Pelo contrário, o fado esteve sempre em evolução e mesmo a maneira como um fadista canta hoje o fado corrido é diferente da maneira como se cantava há 50 ou há 100 anos. Da mesma maneira que não se faz hoje jazz como se fazia no início, por mais que se façam homenagens ou lembranças do período do Louis Armstrong e da Billie Holiday." Ponto assente: "Esta geração faz o mesmo que fizeram as anteriores e ao mesmo tempo mantém, com grande empenho, os laços ao passado e à tradição. Não se põe sequer a questão de ser uma ruptura radical que rejeita toda a tradição anterior. Poder-se-ia seguir por uma via mais inclinada e pensar que a correr qualquer risco de descaracterização ele viria da descaracterização dos próprios bairros populares, enleados num processo de afastamento progressivo das suas tradições mais antigas. À decadência do fado corresponderia a decadência do tecido urbano dos bairros. Porém, o perigo é mais subjectivo do que real. "O fado há-de ser aquilo que a sociedade de que o fado nasce, for. Se os bairros populares de Lisboa forem mudando o fado irá mudando com eles. Mas não acredito que haja rupturas. Essa mudança é feita de uma transformação constante mas não me parece que haja uma quebra tão cirúrgica, um corte tão radical como isso". Um exemplo interessante. "Agora temos uma presença africana significativa nos bairros populares de Lisboa e vê-se começarem a aparecer fadistas africanos. O que até tem a sua graça porque, de certa maneira, é como um regresso às origens do fado-dança afro-brasileiro". Ou seja, "uma mudança social, uma recomposição da própria população, naturalmente que renova o recrutamento de novos fadistas". E concluindo o raciocínio: "Da mesma maneira como cada vez mais temos, no outro extremo social, raparigas e rapazes de meios sociais que tradicionalmente não estariam afectados pela tradição do fado e que mergulham nessa tradição". Todos acabam por se juntar através de "uma sensação uniformizadora" em que "fadistas de todas as origens, se sentem irmanados pelo facto de cantarem fados lado a lado. Os fadistas de origem burguesa recebem influência dos fadistas de origem popular e vice-versa". Há continuidades imparáveis mesmo que essas continuidades incorporem um elemento de mudança". Nem todos cantam da mesma maneira. Há aqueles a quem o fado vem directamente do coração e do que a vida lhes oferece entre a alegria e a tristeza. E há os que simplesmente cantam, mais ou menos afinados, mais ou menos cultivando um apuro formal que jamais poderá ser tomado pelo fado genuíno. "Muitas vezes pessoas que cantam o fado com uma bonita voz, que cantam muito bem, não são fadistas. Ou então vemos alguém que tem problemas de voz, que manifestamente não tem dotes vocais como intérprete mas que é fadista. Há uma postura, uma maneira de dizer o texto, uma concentração emocional que são características da tradição do fado. Podemos perceber perfeitamente quando estamos perante um fadista, alguém que compartilha dessa maneira de estar e de se entregar e alguém que vem de outro tipo de experiência Amália naturalmente tem que vir à baila. Ela é o marco, a figura e a matriz pela qual as mais novas se regem. "É inegável que o peso da Amália é muito forte", diz Vieira Nery. "sobretudo internacionalmente. É muito mais fácil a uma fadista ter uma carreira internacional porque o público e o meio do espectáculo internacional têm esta memória da figura feminina de Amália, da mulher de preto que canta desgraças. Esse meio está muito mais pronto a receber alguém que encaixe nesse estereótipo do que um homem. O único homem que conseguiu fazer uma carreira internacional foi o Carlos do Carmo. O Carlos Zel também fez alguns grandes espectáculos aqui e acolá mas não chegou ao mesmo destaque. Esse estereótipo da mulher fadista domina completamente. No caso interno não me parece que seja tanto assim. Há muitos rapazes, o Camané, o Pedro Moutinho, o Henrique Moutinho, o António Zambujo, o Rodrigo Costa-Félix, o Miguel Capucho, o Gonçalo Salgueiro, apesar de tudo ainda são alguns. Além disso há hoje todo um impacte visual que se joga na produção e no marketing, uma vez que "o fado entrou no show business de uma forma total, o que faz com que agora", garante o musicólogo, "haja outras regras de legitimação, diferentes das que existiam antigamente". Nos anos 60, "a legitimação fazia-se antes de mais no circuito fadista, os garotos apareciam na Grande Noite do Fado ou nas Associações e depois acabavam por chegar a uma casa de fados. Era a partir da rede das casas de fado, dos fadistas mais velhos que certificavam, por assim dizer, os talentos emergentes, era assim que se fazia pouco a pouco a afirmação mesmo quando eles depois passavam para fora desse circuito". Fernando Farinha "foi o primeiro fadista a ganhar aqueles prémios todos, 'O Rei da Rádio', etc., que eram prémios que abrangiam já o conjunto da canção popular urbana, independentemente do género. Mas era-se lançado a partir de um processo de legitimação interior ao circuito do fado. Hoje em dia, não, são lançados no circuito do 'music-hall', do espectáculo profissional, têm logo um cuidado diferente com a imagem, com a produção. Por outro lado também é muito frequente estarmos perante fadistas que vêm de meios sociais privilegiados que tenham já um conjunto de instrumentos de auto-defesa que lhes são bastante úteis. Aí o caso da mulher fadista tem um peso grande e é cultivado o efeito da sedução". A nova geração sucede à diva. "O peso que ela teve como modelo para as jovens fadistas pode, por vezes, ser esmagador. Uma jovem fadista a primeira tendência que tem é colar-se à herança, ao reportório da Amália. Isso não é sistema para ninguém. Aguenta-se num primeiro disco mas a opção é libertar-se e seguir uma carreira própria ou então isso esgota-se como um fenómeno de simples imitação. É interessante ver fadistas como Mariza ou a Kátia Guerreiro que, num primeiro momento, estiveram muito próximas da herança da Amália terem vindo gradualmente a afirmar um reportório e uma via próprios, deixando para trás esse lastro". O que verdadeiramente irrita Rui Vieira Nery é que alguém se refira a "uma nova Amália". "É um disparate. Não existe uma nova Amália, como não existe uma nova Callas ou uma nova Ella Fitzgerald, são fenómenos únicos que transcendem até o género. É ridículo". O grande problema que há hoje em dia é "justamente a máquina trituradora da indústria discográfica que fabrica ídolos a um ritmo avassalador e destrói-os ao mesmo tempo. Precisa de se renovar e então inventa gente muito nova e muito pouco experiente com o estatuto de super estrela e depois precisa de a substituir sem dar tempo aos jovens artistas de amadurecerem, de construir o seu caminho, e esmaga-os numa lógica de construção constante de novidades do ano. E depois sente a necessidade de vender essas novidades como a 'nova Amália', a 'nova Maria Teresa', o "novo Marceneiro'...É vender gato por lebre e de uma injustiça enorme para com os jovens a quem se colam esses rótulos". Também não se sente inteiramente à vontade com os meninos-prodígio embora aceite que o fado possa eclodir em qualquer idade. Não é necessário o ritual de passagem pela dor. "O Fernando Farinha apareceu com oito ou nove anos, o 'garoto da Bica'. Os primeiros discos que ele gravou eram absolutamente extraordinários". Mas os meninos-prodígio são, por regra, "pequenos monstros instrumentalizados pelos pais e aquilo é uma caricatura de fado". Um fadista ganha com a experiência mas à partida tem que ter um capital próprio do fado. O que se encontra sempre em cada época é uma "coexistência entre o lado fatalista, negro, trágico do fado com um lado exuberante, festivo, de celebração da vida e da alegria". A haver crise ela vem do lado, não de quem canta, mas de quem escreve. "É talvez o aspecto neste momento mais problemático, sobretudo ao nível dos compositores. Estamos a viver muito do reportório tradicional, dos fados castiços, seja dos fados-canção seja dos fados do Oulmain, aos quais vamos mudando as letras. Mas, de facto, sente-se que há uma falta. Há é muita gente a fazer experiências de importação de músicas de outros géneros para o fado". Outro motivo de irritação: "Hoje em dia já não tolero o repisar daqueles velhos clichés da garra da guitarra, da tipóia, do Timpanas. Isso teve um tempo, teve grandes poetas que escreveram com base nesse universo temático mas que hoje já não tem ligação nenhuma com a realidade, nem sequer do quotidiano popular. Depois há o outro risco, exactamente contrário, que é a de uma intelectualização nova-rica da poesia do fado, em que de repente se quer ter uma erudição, se quer pegar em poesia de qualquer tipo e musicá-la à força. Não pode ser só um saudosismo primário das temáticas antigas nem este novo-riquismo intelectual de cantar à força poesia pós-moderna". Tudo porque "há especificidade do género que se têm que manter sob pena de se perder a identidade do próprio género". "Há grande poesia que não funciona no fado, garante Vieira Nery. "até porque no fado há uma coisa que é muito típica que é uma certa regularidade métrica. Na poesia há uma musicalidade intrínseca, mas se não tiver essa regularidade métrica mínima não funciona". A excepção que confirma a regra: "Houve quem ficasse muito chocado quando o Alain Oulmain começou a musicar Camões para a Amália e o certo é que há grandes poemas do Camões que funcionam muito bem nos fados dele. Para o musicólogo "o fado tem uma importância evidente no património cultural português. É um género que nasceu em Lisboa por alturas de 1840 mas que entretanto se espalhou, se divulgou e se tem assumido como elemento importante na imagem que os portugueses fazem de si próprios e na imagem pelo qual são reconhecidos internacionalmente do ponto de vista cultural". Portanto justifica-se que haja um esforço de investigação, de estudo e de preservação desse património cultural. O que é necessário fazer de concreto? "Para já promover uma grande campanha de levantamento de fontes. Em relação ao fado dizem-se muitos lugares-comuns, muitas verdades, entre aspas, transmitidas de forma acrítica, de texto para texto, de autor para autor quando na realidade há toda uma investigação que é preciso fazer na imprensa periódica, nos arquivos, judiciais e policiais, na literatura. É preciso levantar todas as publicações de versos para fado, de melodias de fado, desde meados do séc. XIX. É preciso levantar toda a discografia de fado desde 1904, quando se gravaram os primeiros discos, sobretudo aquela que está preservada na colecção do Bruce Mastin, que a Câmara Municipal anunciou ser seu propósito adquirir. Há todo um trabalho de casa de levantamento dessas fontes para fazer." Vieira Nery refere-se a um trabalho de investigação científica, o único capaz de apresentar resultados rigorosos, salvaguardando que o outro lado da questão, o da criação, está unicamente dependente da actividade dos artistas, não necessitando de qualquer tipo de intervenção. "O fado, como processo criativo não precisa de defesa nem da intervenção de ninguém a não ser dos próprios fadistas. Não vão ser a UNESCO nem o Estado a cantar, a escrever música, a escrever poemas, a tocar guitarra. Isso são os próprios fadistas, os próprios guitarristas, os próprios letristas que têm que fazer. Aquilo que os poderes públicos podem fazer é preservar a memória do que é esta continuidade de criadores fadistas que se foi sucedendo geração após geração desde há cerca de 150 anos." Do que é preciso cuidar se encarregará uma instituição particular: "Há uma entidade que já está, por definição, responsável, que é a Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa, que já por si tem um arquivo muito rico de materiais e será com certeza no seu quadro que essa investigação irá sendo conduzida, visto ser o depositário natural desse património. No entanto a fase em que se está é a de contactos entre o conselho consultivo da Casa do Fado e um conjunto de investigadores universitários, como a Salwa Castelo-Branco, eu próprio ou o Joaquim Pais de Brito, no sentido de haver equipas especializadas que possam trabalhar dentro desse projecto, possivelmente envolvendo até institutos de investigação universitários que possam associar-se à Casa do Fado nessa tarefa". Tudo somado, dá apenas o início do processo. "Ainda estamos na fase de britar pedra". A UNESCO "tem um programa, que vai terminar, que é a consagração do património imaterial, foi no quadro desse programa que se tinha tentado candidatar o fado de Lisboa". Mas não era por aí. "Ficou claro que esse não era o programa adequado, não só porque ia terminar, mas porque estava dirigido para tradições culturais em risco de desaparecimento, o que não era manifestamente o caso do fado de Lisboa, que está vivo e são e em grande desenvolvimento". Entretanto uma nova convenção foi já aprovada pela UNESCO e está neste momento em processo de ratificação pelos vários estados membros. Entra em cena um segundo programa, destinado não "à salvaguarda de tradições em risco mas apenas o registo, uma espécie de lista de tradições culturais que os próprios países consideram identitários, ou seja, importantes para a sua identidade cultural". "Um programa", diz Vieira Nery, "em que os próprios países estão dispostos a estudar, a investigar, a defender e a UNESCO se limita a ser parceiro desses mesmos países". Finalmente, o fado, como coisa viva, deve ser tratado e conservado. Um museu, sim, mas não unicamente de arqueologia. "Deve ser o repositório da documentação existente sobre o fado e um centro de estudos permanentemente aberto para receber documentação, mais informação, e para tratar essa informação. Mas por outro lado também tem que ter uma ligação ao meio vivo do fado". "Não podemos", diz o musicólogo, "é transformar a Casa do Fado e o Museu do Fado num centro de investigação universitário". "A Casa do fado tem seguido um caminho muito equilibrado. Tem aulas de guitarra, pequenas sessões de fado, conferências, sessões de homenagem, lançamento de livros e de discos, o que faz com que o próprio meio do fado se reconheça, que sinta que aquela é a sua casa. Este binómio entre estudo e vivência directa do género não se pode perder, sob pena de cairmos ou no academismo seco e, em última análise, ilegítimo, ou numa espécie de tradicionalismo sem substância". Muito importante para o estudo dos primórdios do fado é a aquisição, ainda por fazer, da colecção de exemplares do início do século passado ainda na posse do inglês Bruce Mastin."O Presidente da Câmara tinha dado garantia de aquisição. Mas ainda não está feita. A matéria está nas mãos da EGEAC que tem sempre vindo a dizer que haverá uma parte de fundos públicos e uma parte de privados. Mas não há novos dados e era boa altura para termos algumas garantias mais palpáveis. Por vezes fala-se deste senhor como se fosse uma espécie de pirata que roubou o património português. Pelo contrário, se não fosse este senhor ter recolhido, tratado e conservado esta memória, ela tinha desaparecido. Mas ele não é, naturalmente, nenhum benemérito. Em qualquer altura que uma universidade americana resolva que era engraçado ter uma colecção de fado, dá um milhão de euros com uma facilidade enorme e aquilo desaparece de circulação! Primeiro temos que agradecer ao senhor Bruce Mastin ter tido o trabalho de coligir esta colecção e, segundo, temos que perceber que o valor que ele pede é quase simbólico, face ao valor patrimonial que esta colecção tem". OUTROS TÍTULOS EM PÚBLICA

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