Governo Espanhol Contra "Telelixo" em Horário Infantil
Por NUNO RIBEIRO, Madrid
Terça-feira, 19 de Outubro de 2004 O Governo espanhol prepara medidas contra o denominado "telelixo" em horário infantil, quando a emissão pelas estações de programação é vista por um público maioritariamente juvenil. Trata-se de uma medida já requerida pelo provedor de Justiça e pelo defensor do Menor da Comunidade de Madrid, e há muito reivindicada pelas associações de telespectadores. "O Governo vai actuar porque não é admissível que as televisões emitam determinados programas em horários a que assistem milhares de crianças", anunciou Maria Teresa Fernández de La Vega, vice-presidente do executivo socialista espanhol. A revelação da "número dois" do gabinete de José Luís Rodriguez Zapatero sucedeu-se ao duro e revelador relatório do defensor del Pueblo, equivalente ao provedor da Justiça, em Portugal, sobre a programação das televisões. O documento, relativo a 2003, apresentado aos deputados e senadores espanhóis por Enrique Múgica, é devastador. "A programação [em horário infantil, ou seja, entre as 06h00 e as 22 horas] é pouco propícia à sedimentação dos valores ou da informação que os jovens recebem na escola", acusa o relatório da Provedoria. O texto apresentado por Múgica detém-se longamente no conteúdo típico dos programas consumidos pelas crianças e jovens espanhóis. "São programas alimentados por uma linguagem fácil e pobre, mais próxima do grito do que da palavra, com situações violentas e o mel de corpos atractivos e tentadores, tudo num ambiente de irresponsabilidade", critica o documento. A este coro somou-se o defensor do Menor da Comunidade de Madrid, dependente do governo regional madrileno. Para Pedro Nuñez Morgado, o alerta do provedor Enrique Múgica abre uma porta de esperança. "Espero que a sociedade em geral, o Governo, os grupos parlamentares, o 'grupo de sábios' [que estuda a reformulação do serviço público televisivo] escutem este apelo de são compromisso das televisões com o menor", comentou Nuñez Morgado. "O primeiro passo da longa caminhada para que as televisões sejam um instrumento de apoio à educação do menor é a constituição de um Conselho Audiovisual a nível nacional", precisou Morgado. Para já, Carmen Caffarel, directora geral da RTVE, que reúne a rádio e os dois canais de televisão pública de Espanha, criou um grupo de trabalho para adoptar medidas de auto-regulação das emissões no horário juvenil. Um passo só anteriormente dado, em Espanha, pelo Executivo regional da Catalunha na programação da estação de televisão daquela Comunidade Autónoma. Para as empresas privadas, não é necessária a constituição de um Conselho Audiovisual, alegando serem suficientes as medidas de autocontrolo. De acordo com uma sondagem da Confederação Espanhola de Donas de Casa, Consumidores e Utentes (Ceaccu) junto de 900 famílias, as crianças espanholas vêm por dia 218 minutos de televisão, quando passam 300 minutos diários na escola. Este valor leva a que os jovens espanhóis sejam, depois dos britânicos (com 228 minutos por dia), os que mais televisão vêm na Europa. Aliás, segundo o estudo da Ceaccu, quando regressam da escola, 86,3 por cento dos jovens dedicam o seu tempo livre, após os estudos, a ver televisão, ultrapassando mesmo a percentagem dos que lancham: 85 em cada 100. Actividades como o desporto, a leitura ou o descanso são minoritárias. E que vêem as crianças espanholas? Na programação diária das várias estações que emitem em aberto, só há um espaço (no segundo canal da TVE) especialmente destinado a crianças. Um espaço infantil mas não para público juvenil, que,ao regressar da escola tem como oferta magazines, telenovelas ou séries de ficção de produção nacional. No caso das séries, a única adequação da programação a este público passa pelo aparecimento de adolescentes como protagonistas, e nas mensagens publicitárias subliminares a leites, bolachas, cereais e comida rápida.uE06E OUTROS TÍTULOS EM MEDIA Governo espanhol contra "telelixo" em horário infantil
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