Durão avisa que demissão de Ribeiro dos Santos não deve abrir um precedente

20-09-2003
marcar artigo

Durão Avisa Que Demissão de Ribeiro dos Santos Não Deve Abrir Um Precedente

Por HELENA PEREIRA

Domingo, 14 de Setembro de 2003

O primeiro-ministro tentou ontem remeter as responsabilidades da demissão do presidente do Instituto de Estradas de Portugal (IEP), Ribeiro dos Santos, apenas para o ministro das Obras Públicas. Questionado pelos jornalistas em Castelo de Vide, Durão negou que tivesse interferido na demissão daquele engenheiro - "não, de forma alguma" -, reafirmando a tese de que foi ele que pediu para ser afastado, quando o próprio já assumiu em declarações ao PÚBLICO que foi convidado pelo ministro das Obras Públicas, Carmona Rodrigues, a apresentar a demissão. Isto quando a decisão foi tomada com o apoio do primeiro-ministro.

"O senhor ministro aceitou demiti-lo porque considerou que havia responsabilidade objectiva do IEP e porque o inquérito não era completamente esclarecedor, se fosse não havia razão para tal e com certeza não havia demissão", afirmou Durão, no final da sessão de encerramento da universidade de verão do PSD, acrescentando que "não foi possível determinar a responsabilidade concreta, se falhou um fiscal, se foi um técnico, se foi a empresa".

O primeiro-ministro e o Governo estão a ser criticados no próprio PSD, que ficou revoltado com a demissão de Ribeiro dos Santos, considerando que este engenheiro não teve culpa objectiva no caso e que as responsabilidades devem ser apuradas a nível técnico. Autarcas e dirigentes alertaram para que, a agir-se como o Governo, "qualquer dia ninguém" quer assumir altos cargos políticos.

Ontem, sempre elogiando o trabalho de Ribeiro dos Santos à frente do IEP, o primeiro-ministro respondeu aparentemente a essas críticas, assumindo este caso como uma excepção.

"Não aceitamos o precedente de cada vez que haja um desastre se demitam os presidentes dos institutos mas a decisão do presidente do IEP foi nobre porque entendeu e bem que senão ficava numa posição extremamente fragilizada", explicou.

Ao justificar a opção do Governo, Durão Barroso afirmou que a responsabilidade de Ribeiro dos Santos "não foi directa", mas acabou por confirmar: "Ao nível institucional, pareceu-nos a solução mais acertada".

Cavalgando na tese do PSD de que as responsabilidades têm que ser assumidas a nível técnico, o primeiro-ministro acabou por dizer que "num país há milhares e milhares de acidentes e mal seria se cada vez que houvesse um acidente um ministro estivesse em risco, a não ser que houvesse responsabilidade directa do ministro".

"Este deve ser o princípio orientador, se não não há estabilidade que valha", frisou.

Ataque ao PS e a Soares

Na sessão de encerramento da universidade de verão, Durão Barroso deu uma aula sobre globalização em que explicou aos alunos que o que define, a seu ver, os partidos não são "os velhos termos do século XIX e XX" de esquerda/direita, mas a atitude face a essa globalização que deve ser de apostar na modernização e competitividade.

Quebrando o silêncio dos últimos tempos sobre o maior partido da oposição, atacou o PS e Mário Soares por falar do futuro como "um mundo inquietante" (título do último livro daquele ex-Presidente da República e eurodeputado socialista) quando, segundo Durão Barroso, devia ser "um mundo estimulante".

"Não se pode ver o mundo globalizado como uma ameaça, mas como uma oportunidade. O paradigma não pode ser o da luta de classes da esquerda arcaica, mas a abertura à globalização", afirmou, acrescentando ainda, a propósito das funções do Estado, que "o socialismo português não é mais do que uma versão de esquerda do paternalismo autoritário que tivemos na ditadura".

Sobre as questões financeiras, o primeiro-ministro alertou para que estas "contam nas relações entre Estados" e que Portugal não pode pedir a grandes países como a Alemanha que não violem o Pacto de Estabilidade porque a resposta dos alemães pode ser a de deixar de fazer transferências para os pequenos países da União Europeia.

Durão Avisa Que Demissão de Ribeiro dos Santos Não Deve Abrir Um Precedente

Por HELENA PEREIRA

Domingo, 14 de Setembro de 2003

O primeiro-ministro tentou ontem remeter as responsabilidades da demissão do presidente do Instituto de Estradas de Portugal (IEP), Ribeiro dos Santos, apenas para o ministro das Obras Públicas. Questionado pelos jornalistas em Castelo de Vide, Durão negou que tivesse interferido na demissão daquele engenheiro - "não, de forma alguma" -, reafirmando a tese de que foi ele que pediu para ser afastado, quando o próprio já assumiu em declarações ao PÚBLICO que foi convidado pelo ministro das Obras Públicas, Carmona Rodrigues, a apresentar a demissão. Isto quando a decisão foi tomada com o apoio do primeiro-ministro.

"O senhor ministro aceitou demiti-lo porque considerou que havia responsabilidade objectiva do IEP e porque o inquérito não era completamente esclarecedor, se fosse não havia razão para tal e com certeza não havia demissão", afirmou Durão, no final da sessão de encerramento da universidade de verão do PSD, acrescentando que "não foi possível determinar a responsabilidade concreta, se falhou um fiscal, se foi um técnico, se foi a empresa".

O primeiro-ministro e o Governo estão a ser criticados no próprio PSD, que ficou revoltado com a demissão de Ribeiro dos Santos, considerando que este engenheiro não teve culpa objectiva no caso e que as responsabilidades devem ser apuradas a nível técnico. Autarcas e dirigentes alertaram para que, a agir-se como o Governo, "qualquer dia ninguém" quer assumir altos cargos políticos.

Ontem, sempre elogiando o trabalho de Ribeiro dos Santos à frente do IEP, o primeiro-ministro respondeu aparentemente a essas críticas, assumindo este caso como uma excepção.

"Não aceitamos o precedente de cada vez que haja um desastre se demitam os presidentes dos institutos mas a decisão do presidente do IEP foi nobre porque entendeu e bem que senão ficava numa posição extremamente fragilizada", explicou.

Ao justificar a opção do Governo, Durão Barroso afirmou que a responsabilidade de Ribeiro dos Santos "não foi directa", mas acabou por confirmar: "Ao nível institucional, pareceu-nos a solução mais acertada".

Cavalgando na tese do PSD de que as responsabilidades têm que ser assumidas a nível técnico, o primeiro-ministro acabou por dizer que "num país há milhares e milhares de acidentes e mal seria se cada vez que houvesse um acidente um ministro estivesse em risco, a não ser que houvesse responsabilidade directa do ministro".

"Este deve ser o princípio orientador, se não não há estabilidade que valha", frisou.

Ataque ao PS e a Soares

Na sessão de encerramento da universidade de verão, Durão Barroso deu uma aula sobre globalização em que explicou aos alunos que o que define, a seu ver, os partidos não são "os velhos termos do século XIX e XX" de esquerda/direita, mas a atitude face a essa globalização que deve ser de apostar na modernização e competitividade.

Quebrando o silêncio dos últimos tempos sobre o maior partido da oposição, atacou o PS e Mário Soares por falar do futuro como "um mundo inquietante" (título do último livro daquele ex-Presidente da República e eurodeputado socialista) quando, segundo Durão Barroso, devia ser "um mundo estimulante".

"Não se pode ver o mundo globalizado como uma ameaça, mas como uma oportunidade. O paradigma não pode ser o da luta de classes da esquerda arcaica, mas a abertura à globalização", afirmou, acrescentando ainda, a propósito das funções do Estado, que "o socialismo português não é mais do que uma versão de esquerda do paternalismo autoritário que tivemos na ditadura".

Sobre as questões financeiras, o primeiro-ministro alertou para que estas "contam nas relações entre Estados" e que Portugal não pode pedir a grandes países como a Alemanha que não violem o Pacto de Estabilidade porque a resposta dos alemães pode ser a de deixar de fazer transferências para os pequenos países da União Europeia.

marcar artigo