EXPRESSO: Vidas

30-08-2002
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TEVÊ

Retrato

Gabriel, o pensador

Águas passadas e folhas caídas, o homem que criou para o futebol um dicionário alternativo está de volta e está na mesma

Texto de Maria João de Almeida

JORGE SIMÃO

, assim se resume Gabriel Alves, o comentador desportivo mais badalado do país, embora os seus admiradores não o ouçam a fazer relatos há mais de três anos. Dono de uma voz inconfundível, continua a fazer do improviso e entusiasmo uma arma para conquistar o telespectador, de volta ao «Domingo Desportivo» e ao «Jornal 2». Das «calinadas», que já todos conhecem e repetem, ainda hoje, na brincadeira, Gabriel diz apenas

É por isso que, das críticas que já ouviu e mal se livra, só tem uma reacção: «Aceito críticas desde que sejam honestas, de pessoas que são capazes e percebem da função. Quando vêm de 'tribos' não aceito nem ligo.»

Gabriel nasceu em Moçambique e aí cresceu a ouvir as vozes de grandes nomes da rádio que o marcaram e, mais tarde, lhe serviram de referência. Aos 17 anos, dotado de espírito de iniciativa, decidiu dirigir-se ao Emissor Regional da Zambézia (Rádio Clube de Moçambique), para oferecer os seus préstimos: «Manifestei interesse, eles pediram-me para fazer testes de voz, gostaram de mim e acabei por ficar», explica. No entanto, não foi no desporto que começou a carreira. O seu primeiro programa foi um musical que apresentava semanalmente os «hit parades» da época: «Quando entrei para a rádio não peguei logo no microfone. Primeiro,eles mandaram-me aprender. Fui gravar, trabalhar com as máquinas, fazer de operador de som e só passado uns meses é que me sentei na cabina a fazer o programa.»

Apesar da vontade de seguir advocacia, o gosto pela comunicação e o apelo da rádio foram mais fortes. Continuou a dedicar-se à rádio, em programas musicais e culturais, áreas com que se sentia identificado. No entanto, a ida para a tropa, em Lisboa, interrompeu-lhe a carreira. Nessa altura foi colocado na DETA (Divisão de Exploração de Transportes Aéreos), como despachante de tráfego e, mais tarde, na FAP (Força Aérea Portuguesa), como operador de controlo aéreo.

Com o serviço militar cumprido, regressou a África e voltou a coordenar um programa de música, desta vez erudita, no Emissor Regional do Norte. No entanto, foi nas Produções Golo, uma empresa de conteúdos integrada na Rádio Clube de Moçambique, que iniciou o seu «histórico» desempenho de relator desportivo: «O meu primeiro relato foi de basquetebol e, depois, de hóquei em patins, porque estas duas modalidades tinham, em Moçambique, muito mais expressão.»

O trabalho catapultou-o para voos mais altos. Entre 1975 e 1995 passou pela RTP, RDP e Antena 1, onde chegou a ocupar, nas duas rádios, a chefia da área de Desporto. Hoje, a RTP continua a ser a sua casa, mesmo que durante anos a fio a sua cara tenha desaparecido do canal estatal aerial e ficado, em regime fixo, como referência na RTP África e RTP Internacional. Para os «portugueses de cá» foi como se Gabriel se tivesse evaporado.

Setembro viu-o de regresso ao protagonismo do comentarismo desportivo, ainda e sempre com um «dicionário» próprio do que se passa nas quatro linhas, dentro ou fora do relvado, o mesmo vocabulário que lhe granjeou admiração e insultos. Entre os que o admiram está quem nele reconhece um apoio inequívoco aos jornalistas mais novos. Sandra de Sousa, apresentadora do Jornal 2 na RTP, é exemplo disso: «Ele é de uma humildade e solidariedade tocantes. É a voz da experiência e está sempre disponível quando é preciso. Tem uma capacidade de improviso impressionante, um grande historial dos atletas e uma preocupação constante em manter-se actualizado.»

Não é a única e pensar assim: «Entrega-se ao trabalho como ninguém, de tal forma que, às vezes, nem consegue dormir e só fala no mesmo assunto», diz Mário Moura, subdirector de informação da TVI, que trabalhou com Gabriel na RTP nos anos 80. Ribeiro Cristóvão, director do desporto na Rádio Renascença, afina pelo mesmo diapasão: «A nível pessoal nem sempre é fácil lidar com ele, mas é uma pessoa que respeito e a quem atribuo um trabalho de grande rigor.»

TEVÊ

Retrato

Gabriel, o pensador

Águas passadas e folhas caídas, o homem que criou para o futebol um dicionário alternativo está de volta e está na mesma

Texto de Maria João de Almeida

JORGE SIMÃO

, assim se resume Gabriel Alves, o comentador desportivo mais badalado do país, embora os seus admiradores não o ouçam a fazer relatos há mais de três anos. Dono de uma voz inconfundível, continua a fazer do improviso e entusiasmo uma arma para conquistar o telespectador, de volta ao «Domingo Desportivo» e ao «Jornal 2». Das «calinadas», que já todos conhecem e repetem, ainda hoje, na brincadeira, Gabriel diz apenas

É por isso que, das críticas que já ouviu e mal se livra, só tem uma reacção: «Aceito críticas desde que sejam honestas, de pessoas que são capazes e percebem da função. Quando vêm de 'tribos' não aceito nem ligo.»

Gabriel nasceu em Moçambique e aí cresceu a ouvir as vozes de grandes nomes da rádio que o marcaram e, mais tarde, lhe serviram de referência. Aos 17 anos, dotado de espírito de iniciativa, decidiu dirigir-se ao Emissor Regional da Zambézia (Rádio Clube de Moçambique), para oferecer os seus préstimos: «Manifestei interesse, eles pediram-me para fazer testes de voz, gostaram de mim e acabei por ficar», explica. No entanto, não foi no desporto que começou a carreira. O seu primeiro programa foi um musical que apresentava semanalmente os «hit parades» da época: «Quando entrei para a rádio não peguei logo no microfone. Primeiro,eles mandaram-me aprender. Fui gravar, trabalhar com as máquinas, fazer de operador de som e só passado uns meses é que me sentei na cabina a fazer o programa.»

Apesar da vontade de seguir advocacia, o gosto pela comunicação e o apelo da rádio foram mais fortes. Continuou a dedicar-se à rádio, em programas musicais e culturais, áreas com que se sentia identificado. No entanto, a ida para a tropa, em Lisboa, interrompeu-lhe a carreira. Nessa altura foi colocado na DETA (Divisão de Exploração de Transportes Aéreos), como despachante de tráfego e, mais tarde, na FAP (Força Aérea Portuguesa), como operador de controlo aéreo.

Com o serviço militar cumprido, regressou a África e voltou a coordenar um programa de música, desta vez erudita, no Emissor Regional do Norte. No entanto, foi nas Produções Golo, uma empresa de conteúdos integrada na Rádio Clube de Moçambique, que iniciou o seu «histórico» desempenho de relator desportivo: «O meu primeiro relato foi de basquetebol e, depois, de hóquei em patins, porque estas duas modalidades tinham, em Moçambique, muito mais expressão.»

O trabalho catapultou-o para voos mais altos. Entre 1975 e 1995 passou pela RTP, RDP e Antena 1, onde chegou a ocupar, nas duas rádios, a chefia da área de Desporto. Hoje, a RTP continua a ser a sua casa, mesmo que durante anos a fio a sua cara tenha desaparecido do canal estatal aerial e ficado, em regime fixo, como referência na RTP África e RTP Internacional. Para os «portugueses de cá» foi como se Gabriel se tivesse evaporado.

Setembro viu-o de regresso ao protagonismo do comentarismo desportivo, ainda e sempre com um «dicionário» próprio do que se passa nas quatro linhas, dentro ou fora do relvado, o mesmo vocabulário que lhe granjeou admiração e insultos. Entre os que o admiram está quem nele reconhece um apoio inequívoco aos jornalistas mais novos. Sandra de Sousa, apresentadora do Jornal 2 na RTP, é exemplo disso: «Ele é de uma humildade e solidariedade tocantes. É a voz da experiência e está sempre disponível quando é preciso. Tem uma capacidade de improviso impressionante, um grande historial dos atletas e uma preocupação constante em manter-se actualizado.»

Não é a única e pensar assim: «Entrega-se ao trabalho como ninguém, de tal forma que, às vezes, nem consegue dormir e só fala no mesmo assunto», diz Mário Moura, subdirector de informação da TVI, que trabalhou com Gabriel na RTP nos anos 80. Ribeiro Cristóvão, director do desporto na Rádio Renascença, afina pelo mesmo diapasão: «A nível pessoal nem sempre é fácil lidar com ele, mas é uma pessoa que respeito e a quem atribuo um trabalho de grande rigor.»

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