O Comércio do Porto

29-07-2004
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Agregar insatisfações é um projecto sem futuro Renato Sampaio

(Deputado do PS

na AR eleito pelo Porto) SERVIÇOS Imprimir esta página Contactar Anterior Voltar Seguinte

Utilizar este espaço para avaliar a vida interna do Partido Socialista ou produzir críticas aos seus dirigentes nunca foi a nossa prática e rejeitamos mesmo essa conduta. Contudo, os acontecimentos dos últimos tempos leva-nos a tecer alguns comentários.

No último mês e meio muita coisa mudou na política portuguesa e a um ritmo alucinante tal, que muitos agentes políticos se mostraram incapazes de acompanhar as sucessivas mutações e por isso se foram perdendo nos cenários que iam construindo.

Do sucesso do Euro 2004 já ninguém se lembra, da expressiva vitória do PS nas eleições Europeias fica, para alguns, uma boa recordação e da deserção do dr. Durão Barroso para a Europa permanece apenas a sensação de alívio que sentimos com a sua partida, pese embora o pesadelo que nos deixa.

Todavia, as consequências destas mudanças permanecem entre nós, o desânimo e a descrença agravaram-se, e à crise económica e social em que Portugal estava mergulhado, soma-se a crise política.

O senhor Presidente da República tomou a decisão de nomear um novo primeiro-ministro da velha maioria e optou por dar posse a um governo para uma campanha eleitoral em vez de viabilizar uma campanha eleitoral para dar um novo governo a Portugal.

Esta decisão do senhor Presidente da República não correspondeu às nossas expectativas, ao nosso desejo e à leitura que fazíamos da situação política. Apesar disso, temos o dever de a compreender e respeitar. Não é, não pode ser uma divergência, por muito fracturante que esta seja, que possa colocar em causa a figura do Senhor Presidente da República e o percurso político do dr. Jorge Sampaio. A história das pessoas faz-se numa vida, na sucessão de comportamentos e atitudes e não numa decisão pontual, mesmo que dela discordemos, e discordamos.

Mas a decisão do senhor Presidente da Republica teve consequências profundas na vida interna do Partido Socialista com a demissão do seu secretário-geral, dr. Ferro Rodrigues, e a antecipação de um congresso nacional.

Ferro Rodrigues liderou o Partido Socialista numa das mais difíceis fases da sua vida, só comparável, e para pior, ao período da Revolução, e por isso merece de todos os socialistas e de todos os democratas portugueses o nosso apreço e profundo reconhecimento.

Ferro Rodrigues dirigiu o partido, que tinha passado do poder à oposição, o que por si só já constituiu uma tarefa árdua e difícil, e mais espinhoso se tornou esse período, pelos ataques soezes de que foi vítima. E nada mais problemático que travar uma batalha com um adversário (inimigo) invisível.

Pela sua coragem política, a sua firmeza na defesa das suas convicções e pela sua elevada estrutura moral, o Partido Socialista e o País muito ficam a dever a Ferro Rodrigues, a jovem democracia portuguesa tornou-se mais adulta.

Compreendemos a sua decisão e não pretendemos interpretar o seu estado de alma, mas agora é tempo de preparar o futuro, de ter uma atitude positiva e de caminhar em frente.

O PS tem a obrigação de apresentar ao País uma alternativa credível de esquerda, com prioridades bem definidas e centradas no desenvolvimento económico, na coesão territorial, no crescimento da economia e com elevada protecção social.

Os temas da modernidade, da sustentabilidade ambiental, da inovação e da formação, são vitais para aumentar a qualidade de vida das pessoas e por isso deverão constituir uma prioridade na agenda política.

O PS deve apresentar-se como um partido aberto à sociedade e valorizando os seus quadros, aberto às ideias de futuro e respeitando o seu passado, renovando métodos de funcionamento e de comunicabilidade e assumindo a sua tradição.

É pois necessário que o PS escolha um líder com vontade de inovar, com determinação para agir, com ponderação para agregar, que se apresente com obra feita e sobretudo tenha demonstrado ser capaz de vencer o populismo que se está a instalar.

O PS terá que se apresentar aos portugueses como uma oposição enérgica e responsável, combativa e determinada, com um líder, uma equipa e um projecto, que deve ser claro e mobilizador, porque só assim enfrentará o futuro com confiança e estará à altura do seu tempo.

Eu já escolhi, sei bem o caminho a trilhar e não estou entre aqueles que, como no poema de José Régio, dizem "não sei por onde vou, sei que não vou por aí", e mais, resisto seguramente aos apelos para engrossar o pelotão dos descontentes sem projecto.

Por isso apoio convictamente José Sócrates para secretário-Geral do Partido Socialista. Reconheço-lhe as qualidades políticas e pessoais para conduzir o PS a grandes vitórias e colocar Portugal na senda do progresso.

Na profundidade do seu olhar encontramos um líder determinado a cumprir os objectivos a que se propõe, a defender com convicção as causas que abraça e a executar com competência os projectos em que acredita. A sua grande generosidade conduzem-no a assumir as causas sociais como fonte primeira das suas preocupações, a sua relação de afectividade com as pessoas levam-no a construir espaços de amizade na vida política e a sua exigência origina um forte rigor nos comportamentos.

Assim, no PS não existe e não pode existir depois do adeus, porque um caminho de esperança e com futuro encontraremos com toda a certeza.

O que não poderemos é ficar agarrados ao passado anquilosado ou amarrados a clichés de retórica e muito menos a visões maniqueístas da política.

Federar frustrações ou agregar insatisfações é um projecto inconsistente e sem futuro.

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O Comércio do Porto é um produto da Editorial Prensa Ibérica.

Fica expressamente proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos oferecidos através deste meio, salvo autorização expressa de O Comércio do Porto

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No último mês e meio muita coisa mudou na política portuguesa e a um ritmo alucinante tal, que muitos agentes políticos se mostraram incapazes de acompanhar as sucessivas mutações e por isso se foram perdendo nos cenários que iam construindo.

Do sucesso do Euro 2004 já ninguém se lembra, da expressiva vitória do PS nas eleições Europeias fica, para alguns, uma boa recordação e da deserção do dr. Durão Barroso para a Europa permanece apenas a sensação de alívio que sentimos com a sua partida, pese embora o pesadelo que nos deixa.

Todavia, as consequências destas mudanças permanecem entre nós, o desânimo e a descrença agravaram-se, e à crise económica e social em que Portugal estava mergulhado, soma-se a crise política.

O senhor Presidente da República tomou a decisão de nomear um novo primeiro-ministro da velha maioria e optou por dar posse a um governo para uma campanha eleitoral em vez de viabilizar uma campanha eleitoral para dar um novo governo a Portugal.

Esta decisão do senhor Presidente da República não correspondeu às nossas expectativas, ao nosso desejo e à leitura que fazíamos da situação política. Apesar disso, temos o dever de a compreender e respeitar. Não é, não pode ser uma divergência, por muito fracturante que esta seja, que possa colocar em causa a figura do Senhor Presidente da República e o percurso político do dr. Jorge Sampaio. A história das pessoas faz-se numa vida, na sucessão de comportamentos e atitudes e não numa decisão pontual, mesmo que dela discordemos, e discordamos.

Mas a decisão do senhor Presidente da Republica teve consequências profundas na vida interna do Partido Socialista com a demissão do seu secretário-geral, dr. Ferro Rodrigues, e a antecipação de um congresso nacional.

Ferro Rodrigues liderou o Partido Socialista numa das mais difíceis fases da sua vida, só comparável, e para pior, ao período da Revolução, e por isso merece de todos os socialistas e de todos os democratas portugueses o nosso apreço e profundo reconhecimento.

Ferro Rodrigues dirigiu o partido, que tinha passado do poder à oposição, o que por si só já constituiu uma tarefa árdua e difícil, e mais espinhoso se tornou esse período, pelos ataques soezes de que foi vítima. E nada mais problemático que travar uma batalha com um adversário (inimigo) invisível.

Pela sua coragem política, a sua firmeza na defesa das suas convicções e pela sua elevada estrutura moral, o Partido Socialista e o País muito ficam a dever a Ferro Rodrigues, a jovem democracia portuguesa tornou-se mais adulta.

Compreendemos a sua decisão e não pretendemos interpretar o seu estado de alma, mas agora é tempo de preparar o futuro, de ter uma atitude positiva e de caminhar em frente.

O PS tem a obrigação de apresentar ao País uma alternativa credível de esquerda, com prioridades bem definidas e centradas no desenvolvimento económico, na coesão territorial, no crescimento da economia e com elevada protecção social.

Os temas da modernidade, da sustentabilidade ambiental, da inovação e da formação, são vitais para aumentar a qualidade de vida das pessoas e por isso deverão constituir uma prioridade na agenda política.

O PS deve apresentar-se como um partido aberto à sociedade e valorizando os seus quadros, aberto às ideias de futuro e respeitando o seu passado, renovando métodos de funcionamento e de comunicabilidade e assumindo a sua tradição.

É pois necessário que o PS escolha um líder com vontade de inovar, com determinação para agir, com ponderação para agregar, que se apresente com obra feita e sobretudo tenha demonstrado ser capaz de vencer o populismo que se está a instalar.

O PS terá que se apresentar aos portugueses como uma oposição enérgica e responsável, combativa e determinada, com um líder, uma equipa e um projecto, que deve ser claro e mobilizador, porque só assim enfrentará o futuro com confiança e estará à altura do seu tempo.

Eu já escolhi, sei bem o caminho a trilhar e não estou entre aqueles que, como no poema de José Régio, dizem "não sei por onde vou, sei que não vou por aí", e mais, resisto seguramente aos apelos para engrossar o pelotão dos descontentes sem projecto.

Por isso apoio convictamente José Sócrates para secretário-Geral do Partido Socialista. Reconheço-lhe as qualidades políticas e pessoais para conduzir o PS a grandes vitórias e colocar Portugal na senda do progresso.

Na profundidade do seu olhar encontramos um líder determinado a cumprir os objectivos a que se propõe, a defender com convicção as causas que abraça e a executar com competência os projectos em que acredita. A sua grande generosidade conduzem-no a assumir as causas sociais como fonte primeira das suas preocupações, a sua relação de afectividade com as pessoas levam-no a construir espaços de amizade na vida política e a sua exigência origina um forte rigor nos comportamentos.

Assim, no PS não existe e não pode existir depois do adeus, porque um caminho de esperança e com futuro encontraremos com toda a certeza.

O que não poderemos é ficar agarrados ao passado anquilosado ou amarrados a clichés de retórica e muito menos a visões maniqueístas da política.

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