Co-incineração essencial para a imagem de José Sócrates

25-12-2004
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Co-incineração Essencial para a Imagem de José Sócrates

Terça-feira, 21 de Dezembro de 2004 O secretário-geral do PS bateu-se sempre pela co-incineração, inclusivé contra o seu próprio partido. Deixá-la cair agora seria uma mancha na imagem de "determinação" e "autoridade" que José Sócrates quer apresentar na campanha eleitoral. O PS-Coimbra não vai estragar a festa e promete manter-se em silêncio. Resta saber a reacção de Vital Moreira, que sempre se pronunciou contra a co-incineração e que o PS quer como cabeça-de-lista por Coimbra. Por Ana Sá Lopes A afirmação de avanço da co-incineração é essencial para José Sócrates descolar do "síndrome banana", expressão com que ontem caracterizou o Governo PSD-CDS, mas que foi a imagem de marca de quase todo o guterrismo - o que, de resto, é admitido mesmo nos círculos guterristas. O que é o "síndrome banana"? Foi o próprio José Sócrates quem o explicou ontem, durante um encontro com a JS numa discoteca de Lisboa. Segundo o secretário-geral do PS - que citava "um autor inglês" --houve três maneiras de se encarar o problema da co-incineração: a fórmula "NIMBY" ("Not in my back yard", que quer dizer "não no meu quintal"), que evoluiu para "NIMET" ("Not in my electoral term", que significa "não no meu círculo eleitoral") e, por fim, o síndrome "BANANA" --"Build absolutely nothing anywhere near anybody", ou seja, não se contrói nada em lado nenhum perto de ninguém. Em resumo, não se faz nada. José Sócrates, que acusa o Governo de ter optado, como estratégia relativamente ao tratamento de resíduos perigosos, pela solução "banana", decidiu reiterar que um futuro governo PS colocará em marcha a opção defendida por si próprio enquanto ministro do Ambiente do Governo liderando por Guterres. Ora, a co-incineração foi das propostas do guterrismo que mais ondas de choque provocou, nomeadamente com o PS-Coimbra e com os deputados socialistas eleitos por Coimbra - distrito onde se situa Souselas, local de uma das cimenteiras onde seria feita a co-incineração. Da importância de não ser "banana" Mas a importância da co-incineração é muito maior, para José Sócrates, do que uma simples opção de queima de resíduos industriais. Para o líder do PS, está em causa a sua imagem de "determinação" e "firmeza" que considera ter demonstrado à época e vai querer utilizar como mais-valia na campanha eleitoral. A batalha da co-incineração serve-lhe à medida para descolar do "síndrome banana" que caracterizou a maioria do guterrismo - a indecisão, o não querer desagradar a ninguém, o trauma do diálogo, características reconhecidas mesmo por alguns dos mais fervorosos apoiantes do guterrismo. E Sócrates, para o seu "bem", tem que se demarcar do "síndrome banana" do seu pai espiritual, António Guterres. A co-incineração - uma batalha onde as suas características "anti-banana", segundo vários socialistas, mais vieram ao de cima - joga nesta campanha eleitoral um papel de elevada "carga semiótica" que vai muito para além da mera política de resíduos industriais. Neste quadro, deixar cair a co-incineração seria sempre um risco político para José Sócrates. A incógnita Vital Moreira A co-incineração vai, assim, fazer parte do programa eleitoral do PS. Pedro Silva Pereira, porta-voz do partido, afirmou ao PÚBLICO que "um partido responsável deve dizer o que pensa fazer, expor o seu pensamento e não escondê-lo". "Uma questão de verdade", afirma. Pedro Silva Pereira garante que o PS está unido, pelo menos, contra as não-soluções encontradas por este Governo: "Ninguém se pode conformar com esta situação de facto. O Governo não implementou nenhuma alternativa à co-incineração." Mas Pedro Silva Pereira recusa-se a falar de listas e de como a questão da co-incineração virá a ser gerida com os socialistas de Coimbra, que combateram arduamente a ideia no tempo de António Guterres. No entanto, ao que o PÚBLICO sabe, o PS-Coimbra, pelo menos até ao dia das eleições, não vai abrir qualquer frente de guerra a José Sócrates. Silêncio, pelo menos até 20 de Fevereiro, é a ordem entre os socialistas daquele distrito. "Não se pode pedir ao PS-Coimbra para fazer uma reacção frontal à co-incineração. Não pode ser o PS-Coimbra a estragar a festa", disse ontem ao PÚBLICO um dirigente da federação socialista. A incógnita reside no protagonista desejado pelos socialistas para cabeça-de-lista por Coimbra: Vital Moreira, que chegou a ser deputado nos tempos do guterrismo, "rompendo" depois e abandonando o Parlamento. Vital foi contra a co-incineração e tomou várias posições públicas - nomeadamente em artigos do PÚBLICO - contra a ideia defendida pelo então ministro do Ambiente, José Sócrates. Entretanto, a Câmara de Coimbra, nas mãos da coligação PSD-CDS, já aprovou ontem uma proposta de rejeição da co-incineração, mas os vereadores socialistas votaram contra o documento apresentado pela maioria. "O município de Coimbra mantém a sua posição de rejeição ao processo de co-incineração pelos perigos que o mesmo representa", refere a proposta, formalizada pela vereadora do Ambiente, Teresa Violante, também apoiada pelo vereador da CDU, Gouveia Monteiro. Para a Câmara, "é um processo altamente nocivo para o ambiente e para a saúde das pessoas, para além de ser uma técnica de eficácia duvidosa". "Aquando da realização, em 2001, dos mini-testes da co-incineração (nas fábricas de Souselas e do Outão) houve aumento de poluentes para o exterior, o que demonstra a perigosidade do processo", refere o texto. Nobre Guedes fala em "capricho" Também o ministro do Ambiente acusou ontem o líder do PS de "capricho e menor responsabilidade" ao insistir na solução da co-incineração, depois de ter conduzido o processo com "inépcia política". "Pode haver aqui uma dose de capricho e de menor responsabilidade porque o engenheiro José Sócrates está completamente isolado no mundo científico e no ambiente ao defender a co-incineração como uma proposta ambientalmente válida", referiu Luís Nobre Guedes em Bruxelas, em declarações à Lusa. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Co-incineração essencial para a imagem de José Sócrates

Soluções do PS e do PSD não se excluem

Co-incineração Essencial para a Imagem de José Sócrates

Terça-feira, 21 de Dezembro de 2004 O secretário-geral do PS bateu-se sempre pela co-incineração, inclusivé contra o seu próprio partido. Deixá-la cair agora seria uma mancha na imagem de "determinação" e "autoridade" que José Sócrates quer apresentar na campanha eleitoral. O PS-Coimbra não vai estragar a festa e promete manter-se em silêncio. Resta saber a reacção de Vital Moreira, que sempre se pronunciou contra a co-incineração e que o PS quer como cabeça-de-lista por Coimbra. Por Ana Sá Lopes A afirmação de avanço da co-incineração é essencial para José Sócrates descolar do "síndrome banana", expressão com que ontem caracterizou o Governo PSD-CDS, mas que foi a imagem de marca de quase todo o guterrismo - o que, de resto, é admitido mesmo nos círculos guterristas. O que é o "síndrome banana"? Foi o próprio José Sócrates quem o explicou ontem, durante um encontro com a JS numa discoteca de Lisboa. Segundo o secretário-geral do PS - que citava "um autor inglês" --houve três maneiras de se encarar o problema da co-incineração: a fórmula "NIMBY" ("Not in my back yard", que quer dizer "não no meu quintal"), que evoluiu para "NIMET" ("Not in my electoral term", que significa "não no meu círculo eleitoral") e, por fim, o síndrome "BANANA" --"Build absolutely nothing anywhere near anybody", ou seja, não se contrói nada em lado nenhum perto de ninguém. Em resumo, não se faz nada. José Sócrates, que acusa o Governo de ter optado, como estratégia relativamente ao tratamento de resíduos perigosos, pela solução "banana", decidiu reiterar que um futuro governo PS colocará em marcha a opção defendida por si próprio enquanto ministro do Ambiente do Governo liderando por Guterres. Ora, a co-incineração foi das propostas do guterrismo que mais ondas de choque provocou, nomeadamente com o PS-Coimbra e com os deputados socialistas eleitos por Coimbra - distrito onde se situa Souselas, local de uma das cimenteiras onde seria feita a co-incineração. Da importância de não ser "banana" Mas a importância da co-incineração é muito maior, para José Sócrates, do que uma simples opção de queima de resíduos industriais. Para o líder do PS, está em causa a sua imagem de "determinação" e "firmeza" que considera ter demonstrado à época e vai querer utilizar como mais-valia na campanha eleitoral. A batalha da co-incineração serve-lhe à medida para descolar do "síndrome banana" que caracterizou a maioria do guterrismo - a indecisão, o não querer desagradar a ninguém, o trauma do diálogo, características reconhecidas mesmo por alguns dos mais fervorosos apoiantes do guterrismo. E Sócrates, para o seu "bem", tem que se demarcar do "síndrome banana" do seu pai espiritual, António Guterres. A co-incineração - uma batalha onde as suas características "anti-banana", segundo vários socialistas, mais vieram ao de cima - joga nesta campanha eleitoral um papel de elevada "carga semiótica" que vai muito para além da mera política de resíduos industriais. Neste quadro, deixar cair a co-incineração seria sempre um risco político para José Sócrates. A incógnita Vital Moreira A co-incineração vai, assim, fazer parte do programa eleitoral do PS. Pedro Silva Pereira, porta-voz do partido, afirmou ao PÚBLICO que "um partido responsável deve dizer o que pensa fazer, expor o seu pensamento e não escondê-lo". "Uma questão de verdade", afirma. Pedro Silva Pereira garante que o PS está unido, pelo menos, contra as não-soluções encontradas por este Governo: "Ninguém se pode conformar com esta situação de facto. O Governo não implementou nenhuma alternativa à co-incineração." Mas Pedro Silva Pereira recusa-se a falar de listas e de como a questão da co-incineração virá a ser gerida com os socialistas de Coimbra, que combateram arduamente a ideia no tempo de António Guterres. No entanto, ao que o PÚBLICO sabe, o PS-Coimbra, pelo menos até ao dia das eleições, não vai abrir qualquer frente de guerra a José Sócrates. Silêncio, pelo menos até 20 de Fevereiro, é a ordem entre os socialistas daquele distrito. "Não se pode pedir ao PS-Coimbra para fazer uma reacção frontal à co-incineração. Não pode ser o PS-Coimbra a estragar a festa", disse ontem ao PÚBLICO um dirigente da federação socialista. A incógnita reside no protagonista desejado pelos socialistas para cabeça-de-lista por Coimbra: Vital Moreira, que chegou a ser deputado nos tempos do guterrismo, "rompendo" depois e abandonando o Parlamento. Vital foi contra a co-incineração e tomou várias posições públicas - nomeadamente em artigos do PÚBLICO - contra a ideia defendida pelo então ministro do Ambiente, José Sócrates. Entretanto, a Câmara de Coimbra, nas mãos da coligação PSD-CDS, já aprovou ontem uma proposta de rejeição da co-incineração, mas os vereadores socialistas votaram contra o documento apresentado pela maioria. "O município de Coimbra mantém a sua posição de rejeição ao processo de co-incineração pelos perigos que o mesmo representa", refere a proposta, formalizada pela vereadora do Ambiente, Teresa Violante, também apoiada pelo vereador da CDU, Gouveia Monteiro. Para a Câmara, "é um processo altamente nocivo para o ambiente e para a saúde das pessoas, para além de ser uma técnica de eficácia duvidosa". "Aquando da realização, em 2001, dos mini-testes da co-incineração (nas fábricas de Souselas e do Outão) houve aumento de poluentes para o exterior, o que demonstra a perigosidade do processo", refere o texto. Nobre Guedes fala em "capricho" Também o ministro do Ambiente acusou ontem o líder do PS de "capricho e menor responsabilidade" ao insistir na solução da co-incineração, depois de ter conduzido o processo com "inépcia política". "Pode haver aqui uma dose de capricho e de menor responsabilidade porque o engenheiro José Sócrates está completamente isolado no mundo científico e no ambiente ao defender a co-incineração como uma proposta ambientalmente válida", referiu Luís Nobre Guedes em Bruxelas, em declarações à Lusa. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Co-incineração essencial para a imagem de José Sócrates

Soluções do PS e do PSD não se excluem

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