EXPRESSO: Cartaz

25-06-2002
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Solidariedade e pedagogia

Pedro Roseta admite reduzir o número de institutos da Cultura

Cristina Margato

JOÃO CARLOS SANTOS Roseta avança uma só medida concreta: a biblioteca do CCB

Não aceita que lhe atribuam rótulos. Ao assinar um programa de Governo que diz reflectir os dois partidos reunidos neste Executivo, Pedro Roseta insiste na necessidade de valorizar «o primado da Pessoa» (com letra grande), a diversidade cultural da oferta e logo o multiculturalismo. Mas isso, explicou ao Expresso, não significa que a cultura seja de esquerda ou de direita. Para o novo ministro, «atribuir rótulos é um absurdo, uma forma de dirigismo disfarçado que limita a criação plural da cultura». E essa é, na sua opinião, a principal diferença deste programa para a cultura em relação ao anterior.

Solidariedade e pedagogia são também palavras-chave no texto de Roseta, redigido em tom genérico e filosófico. Apenas uma medida instrumental aparece impressa: criar a Biblioteca das Artes do Espectáculo do Centro Cultural de Belém. Uma excepção num programa que não avança mais medidas concretas e que foge a algumas das mais polémicas propostas no texto apresentado antes das eleições pelo PSD. Uma forma «cautelosa», como reconhece, de se instalar no Ministério. As diferenças entre o PSD/PP e o Executivo do PS - avançou no primeiro dia de debate do programa do Governo no Parlamento - passam ainda por uma «maior preocupação em sintonizar escola e crianças com a cultura». Para Roseta, «o gosto pela cultura tem de ser estimulado desde a infância».

Apesar de defender o apoio à criação, introduz uma exigência: quer contrapartidas das instituições subsidiadas na área da pedagogia e da formação de públicos. Insiste na descentralização, na ideia de um património «vivo e integrado» e numa política a «longo prazo». Escusa-se, porém, a avançar quais as suas propostas concretas para colocar esta política em prática. Na área da orgânica do Ministério, admite reduzir o número de institutos e fundi-los, mas não se pronuncia sobre o IPPAR. Do programa do PSD mantém-se, porém, a vontade de redimensionar o projecto para o Museu do Côa (o do PS estava orçamentado em seis milhões de contos/30 milhões de euros).

Do lado da oposição, encontram-se na bancada parlamentar do PS dois ex-ministros da Cultura: Manuel Maria Carrilho e Augusto Santos Silva. Ambos criticam em primeiro plano a questão da RTP e a vontade deste Governo reduzir o serviço público de televisão a um canal. Uma matéria que já não faz parte do pelouro do MC mas que, na opinião dos dois ex-ministros, irá ter uma repercussão «desastrosa» na cultura. Foi aliás sobre esse tema que Manuel Maria Carrilho se pronunciou no debate parlamentar, levando Durão Barroso a avançar um rol de números sobre a situação económica da empresa, dirigindo-se a Carrilho como «o ministro» para, de seguida, corrigir para «o ex-ministro».

Se Carrilho prefere não tecer mais críticas a Roseta, Santos Silva começa por destacar «o lado positivo» do programa. Ou seja, por um lado regozija-se com o facto «de as propostas mais polémicas feitas no programa eleitoral e também algumas das defendidas publicamente por Vasco Graça Moura nos jornais terem sido abandonadas. Por outro destaca o facto de Roseta querer dar continuidade a alguns dos projectos iniciados pela Nova Maioria, como o das redes de leitura, o de Coimbra-Capital Nacional da Cultura 2003 e o de equipamentos como a Casa da Música. O último ministro PS sublinha ainda «o lado doutrinário de cariz conservador» do programa.

Apesar de as matérias ainda não estarem atribuídas no seio da bancada parlamentar, Carrilho e Santos Silva irão provavelmente acompanhar com atenção a política cultural deste Governo.

A maior incógnita tem agora a ver com o orçamento rectificativo, a apresentar na primeira semana de Maio, e com a parcela que será atribuída ao ministério agora liderado por Pedro Roseta. Embora as atribuições financeiras ainda não estejam definidas, a avaliar pelo lugar que (tal como os seus antecessores) Roseta ocupa na hierarquia do Governo (o último), a Cultura não será certamente uma das prioridades deste Executivo.

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Solidariedade e pedagogia

Pedro Roseta admite reduzir o número de institutos da Cultura

Cristina Margato

JOÃO CARLOS SANTOS Roseta avança uma só medida concreta: a biblioteca do CCB

Não aceita que lhe atribuam rótulos. Ao assinar um programa de Governo que diz reflectir os dois partidos reunidos neste Executivo, Pedro Roseta insiste na necessidade de valorizar «o primado da Pessoa» (com letra grande), a diversidade cultural da oferta e logo o multiculturalismo. Mas isso, explicou ao Expresso, não significa que a cultura seja de esquerda ou de direita. Para o novo ministro, «atribuir rótulos é um absurdo, uma forma de dirigismo disfarçado que limita a criação plural da cultura». E essa é, na sua opinião, a principal diferença deste programa para a cultura em relação ao anterior.

Solidariedade e pedagogia são também palavras-chave no texto de Roseta, redigido em tom genérico e filosófico. Apenas uma medida instrumental aparece impressa: criar a Biblioteca das Artes do Espectáculo do Centro Cultural de Belém. Uma excepção num programa que não avança mais medidas concretas e que foge a algumas das mais polémicas propostas no texto apresentado antes das eleições pelo PSD. Uma forma «cautelosa», como reconhece, de se instalar no Ministério. As diferenças entre o PSD/PP e o Executivo do PS - avançou no primeiro dia de debate do programa do Governo no Parlamento - passam ainda por uma «maior preocupação em sintonizar escola e crianças com a cultura». Para Roseta, «o gosto pela cultura tem de ser estimulado desde a infância».

Apesar de defender o apoio à criação, introduz uma exigência: quer contrapartidas das instituições subsidiadas na área da pedagogia e da formação de públicos. Insiste na descentralização, na ideia de um património «vivo e integrado» e numa política a «longo prazo». Escusa-se, porém, a avançar quais as suas propostas concretas para colocar esta política em prática. Na área da orgânica do Ministério, admite reduzir o número de institutos e fundi-los, mas não se pronuncia sobre o IPPAR. Do programa do PSD mantém-se, porém, a vontade de redimensionar o projecto para o Museu do Côa (o do PS estava orçamentado em seis milhões de contos/30 milhões de euros).

Do lado da oposição, encontram-se na bancada parlamentar do PS dois ex-ministros da Cultura: Manuel Maria Carrilho e Augusto Santos Silva. Ambos criticam em primeiro plano a questão da RTP e a vontade deste Governo reduzir o serviço público de televisão a um canal. Uma matéria que já não faz parte do pelouro do MC mas que, na opinião dos dois ex-ministros, irá ter uma repercussão «desastrosa» na cultura. Foi aliás sobre esse tema que Manuel Maria Carrilho se pronunciou no debate parlamentar, levando Durão Barroso a avançar um rol de números sobre a situação económica da empresa, dirigindo-se a Carrilho como «o ministro» para, de seguida, corrigir para «o ex-ministro».

Se Carrilho prefere não tecer mais críticas a Roseta, Santos Silva começa por destacar «o lado positivo» do programa. Ou seja, por um lado regozija-se com o facto «de as propostas mais polémicas feitas no programa eleitoral e também algumas das defendidas publicamente por Vasco Graça Moura nos jornais terem sido abandonadas. Por outro destaca o facto de Roseta querer dar continuidade a alguns dos projectos iniciados pela Nova Maioria, como o das redes de leitura, o de Coimbra-Capital Nacional da Cultura 2003 e o de equipamentos como a Casa da Música. O último ministro PS sublinha ainda «o lado doutrinário de cariz conservador» do programa.

Apesar de as matérias ainda não estarem atribuídas no seio da bancada parlamentar, Carrilho e Santos Silva irão provavelmente acompanhar com atenção a política cultural deste Governo.

A maior incógnita tem agora a ver com o orçamento rectificativo, a apresentar na primeira semana de Maio, e com a parcela que será atribuída ao ministério agora liderado por Pedro Roseta. Embora as atribuições financeiras ainda não estejam definidas, a avaliar pelo lugar que (tal como os seus antecessores) Roseta ocupa na hierarquia do Governo (o último), a Cultura não será certamente uma das prioridades deste Executivo.

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