Bloco de Esquerda requer honras de Estado para todos os desertores

21-08-2003
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Bloco de Esquerda Requer Honras de Estado para Todos Os Desertores

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA

Terça-feira, 19 de Agosto de 2003 Um requerimento do Bloco de Esquerda vai hoje ser enviado ao ministro da Defesa, Paulo Portas, questionando o Governo "sobre se está aberta a via para a reabilitação pública de todos os desertores que com a sua atitude colaboraram para o fim da guerra colonial e o derrube do fascismo", afirmou ontem ao PÚBLICO, Luís Fazenda. O dirigente do Bloco considerou ainda que "esses desertores mereciam uma homenagem que o Estado português ainda não lhes prestou". Já sobre a cerimónia de transladação dos restos mortais do ex-tenente coronel do Exército português, Maggiolo Gouveia, Fazenda considerou, em nome do BE, que "não havia direito a honras de Estado". "Apropriação sem escrúpulos, distorcendo a verdade histórica" Por sua vez, Ana Gomes, membro do Secretariado do PS, que fez questão de dizer que falava ao PÚBLICO sobre este assunto na qualidade de cidadã portuguesa e de ex-embaixadora de Portugal na Indonésia, ("Não preciso do chapéu do PS para falar sobre este assunto.") voltou a criticar a atitude do ministro Paulo Portas face à transladação de Maggiolo Gouveia. "É uma moderna amostra da sua gestão sem escrúpulos do Ministério da Defesa, criando factos lamentáveis e perigosos", afirmou Ana Gomes, advogando de seguida que "a família de Maggiolo Gouveia merecia respeito e não ser submetida a um show mediático, que ao causar a polémica é negativa para a memória do tenente-coronel, mas também para o reavivar de uma ferida antiga que há nas relações de Portugal e Timor". E defendeu que "o ministro não se coíbe de manipular a verdade histórica". Ana Gomes considera que " a família tinha todo o direito de ver os restos mortais transladados", assim como pensa que "os governos anteriores agiram bem em ajudar a família, nomeadamente os governos do PS" - adianta mesmo que pensa que foi o padre Melícias que se empenhou nesta questão. A ex-embaixadora admite mesmo como positivo que "o Ministério da Defesa tenha dado trato de honras militares como fez o ministro Rui Pena, para que a família receba a pensão", tendo em conta "a folha de serviços militares anteriores e o facto de haver relatos dos que viveram aqueles momentos de que Maggiolo Gouveia estaria psiquicamente perturbado e que isso justificaria certos actos". E reforça: "Uma coisa são as honras militares que permitem as pensões e outra coisa é a homenagem de Estado com o ministro a assistir ao funeral. Trata-se de uma apropriação sem escrúpulos, distorcendo a verdade histórica". "Maggiolo não foi um herói português, serviu a invasão indonésia" Explicando que conhece bem o caso porque se informou até junto das autoridades indonésias motivada pelos escritos de Nuno Rocha sobre Maggiolo Gouveia, Ana Gomes pergunta o que foi ou vai ser feito em relação a Vasco Lino da Silva que "desviou a coluna de Los Palos para Díli, apoiando a UDT". E prossegue frisando que o próprio general Lemos Pires diz no livro que havia já naquela época "relatórios que propunham a sua demissão" e relata que "foi o próprio Maggiolo Gouveia quem avisou Lemos Pires de que a UDT ia avançar para o golpe, que o mandou para o quartel de que era comandante, que ele recusou e permitiu que o golpe fosse feito com armas portuguesas". A antiga embaixadora sustenta que foram cometidas atrocidades de ambos os lados, da Fretilin e da UDT, que por exemplo Xanana Gusmão foi preso e maltratado pela UDT e lembra que "há 21 militares portugueses que foram presos pela UDT, que só passado mais de um ano os entregou à Indonésia, tendo este Estado depois feito a sua entrega a Morais e Silva". E remata: "Condeno sempre a prisão e tortura, mas Maggiolo Gouveia não foi um herói português, o que ele fez não serviu o interesse português, serviu a invasão indonésia. Transformá-lo num herói é indigno." "Exploração político-partidária e ideológica" Já o PCP é menos prolixo nas reacções à transladação. Assumindo uma clara desvalorização política do assunto, o gabinete de imprensa afirmou em nota escrita enviada ao PÚBLICO: "A propósito deste assunto, e de forma deliberadamente resumida, o PCP apenas deseja lamentar e condenar vigorosamente a exploração político-partidária e ideológica que, com especiais responsabilidades do ministro da Defesa Nacional, foi desencadeada a pretexto do funeral do militar em causa." E acrescenta concluindo: "Essa exploração não só não contribui para o prestígio das Forças Armadas e do Estado democrático como também, ao incorporar falsos argumentos que foram usados pela Indonésia para justificar a invasão de Timor, é susceptível de prejudicar o desejável fortalecimento das relações com a República de Timor-Leste." "Combater a instituição de uma ditadura comunista em Timor" Em defesa de Paulo Portas apresenta-se o partido de que é presidente, o CDS-PP. António Pires de Lima declarou ao PÚBLICO que "o CDS se associa totalmente a esta homenagem". O dirigente e porta-voz do CDS-PP afirmou ainda que "é da mais elementar justiça e é o mínimo que o Estado português pode fazer para honrar alguém que, depois do Exército português ter abandonado Timor, decidiu aí ficar para, em nome dos seus ideais, da sua consciência e da sua ideia de Portugal, poder combater a instituição de uma ditadura comunista em Timor." Quanto ao PSD, o porta-voz Pedro Duarte declarou ao PÚBLICO que o PSD "respeita uma homenagem que é das próprias Forças Armadas de prestarem honras militares a um oficial português que foi barbaramente torturado e assassinado". O dirigente do PSD acrescentou ainda: "Só lamentamos a falta de sentido de Estado que mais uma vez uma dirigente do PS demonstrou nesta situação. É inaceitável que o PS, não respeitando sequer a honra da pessoa falecida, queira suscitar questões que dividem os portugueses". OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Portas acusa Ana Gomes de "falta de humanidade"

Ramos-Horta contra a "tentação de manipular a história"

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Terça-feira, 19 de Agosto de 2003 Um requerimento do Bloco de Esquerda vai hoje ser enviado ao ministro da Defesa, Paulo Portas, questionando o Governo "sobre se está aberta a via para a reabilitação pública de todos os desertores que com a sua atitude colaboraram para o fim da guerra colonial e o derrube do fascismo", afirmou ontem ao PÚBLICO, Luís Fazenda. O dirigente do Bloco considerou ainda que "esses desertores mereciam uma homenagem que o Estado português ainda não lhes prestou". Já sobre a cerimónia de transladação dos restos mortais do ex-tenente coronel do Exército português, Maggiolo Gouveia, Fazenda considerou, em nome do BE, que "não havia direito a honras de Estado". "Apropriação sem escrúpulos, distorcendo a verdade histórica" Por sua vez, Ana Gomes, membro do Secretariado do PS, que fez questão de dizer que falava ao PÚBLICO sobre este assunto na qualidade de cidadã portuguesa e de ex-embaixadora de Portugal na Indonésia, ("Não preciso do chapéu do PS para falar sobre este assunto.") voltou a criticar a atitude do ministro Paulo Portas face à transladação de Maggiolo Gouveia. "É uma moderna amostra da sua gestão sem escrúpulos do Ministério da Defesa, criando factos lamentáveis e perigosos", afirmou Ana Gomes, advogando de seguida que "a família de Maggiolo Gouveia merecia respeito e não ser submetida a um show mediático, que ao causar a polémica é negativa para a memória do tenente-coronel, mas também para o reavivar de uma ferida antiga que há nas relações de Portugal e Timor". E defendeu que "o ministro não se coíbe de manipular a verdade histórica". Ana Gomes considera que " a família tinha todo o direito de ver os restos mortais transladados", assim como pensa que "os governos anteriores agiram bem em ajudar a família, nomeadamente os governos do PS" - adianta mesmo que pensa que foi o padre Melícias que se empenhou nesta questão. A ex-embaixadora admite mesmo como positivo que "o Ministério da Defesa tenha dado trato de honras militares como fez o ministro Rui Pena, para que a família receba a pensão", tendo em conta "a folha de serviços militares anteriores e o facto de haver relatos dos que viveram aqueles momentos de que Maggiolo Gouveia estaria psiquicamente perturbado e que isso justificaria certos actos". E reforça: "Uma coisa são as honras militares que permitem as pensões e outra coisa é a homenagem de Estado com o ministro a assistir ao funeral. Trata-se de uma apropriação sem escrúpulos, distorcendo a verdade histórica". "Maggiolo não foi um herói português, serviu a invasão indonésia" Explicando que conhece bem o caso porque se informou até junto das autoridades indonésias motivada pelos escritos de Nuno Rocha sobre Maggiolo Gouveia, Ana Gomes pergunta o que foi ou vai ser feito em relação a Vasco Lino da Silva que "desviou a coluna de Los Palos para Díli, apoiando a UDT". E prossegue frisando que o próprio general Lemos Pires diz no livro que havia já naquela época "relatórios que propunham a sua demissão" e relata que "foi o próprio Maggiolo Gouveia quem avisou Lemos Pires de que a UDT ia avançar para o golpe, que o mandou para o quartel de que era comandante, que ele recusou e permitiu que o golpe fosse feito com armas portuguesas". A antiga embaixadora sustenta que foram cometidas atrocidades de ambos os lados, da Fretilin e da UDT, que por exemplo Xanana Gusmão foi preso e maltratado pela UDT e lembra que "há 21 militares portugueses que foram presos pela UDT, que só passado mais de um ano os entregou à Indonésia, tendo este Estado depois feito a sua entrega a Morais e Silva". E remata: "Condeno sempre a prisão e tortura, mas Maggiolo Gouveia não foi um herói português, o que ele fez não serviu o interesse português, serviu a invasão indonésia. Transformá-lo num herói é indigno." "Exploração político-partidária e ideológica" Já o PCP é menos prolixo nas reacções à transladação. Assumindo uma clara desvalorização política do assunto, o gabinete de imprensa afirmou em nota escrita enviada ao PÚBLICO: "A propósito deste assunto, e de forma deliberadamente resumida, o PCP apenas deseja lamentar e condenar vigorosamente a exploração político-partidária e ideológica que, com especiais responsabilidades do ministro da Defesa Nacional, foi desencadeada a pretexto do funeral do militar em causa." E acrescenta concluindo: "Essa exploração não só não contribui para o prestígio das Forças Armadas e do Estado democrático como também, ao incorporar falsos argumentos que foram usados pela Indonésia para justificar a invasão de Timor, é susceptível de prejudicar o desejável fortalecimento das relações com a República de Timor-Leste." "Combater a instituição de uma ditadura comunista em Timor" Em defesa de Paulo Portas apresenta-se o partido de que é presidente, o CDS-PP. António Pires de Lima declarou ao PÚBLICO que "o CDS se associa totalmente a esta homenagem". O dirigente e porta-voz do CDS-PP afirmou ainda que "é da mais elementar justiça e é o mínimo que o Estado português pode fazer para honrar alguém que, depois do Exército português ter abandonado Timor, decidiu aí ficar para, em nome dos seus ideais, da sua consciência e da sua ideia de Portugal, poder combater a instituição de uma ditadura comunista em Timor." Quanto ao PSD, o porta-voz Pedro Duarte declarou ao PÚBLICO que o PSD "respeita uma homenagem que é das próprias Forças Armadas de prestarem honras militares a um oficial português que foi barbaramente torturado e assassinado". O dirigente do PSD acrescentou ainda: "Só lamentamos a falta de sentido de Estado que mais uma vez uma dirigente do PS demonstrou nesta situação. É inaceitável que o PS, não respeitando sequer a honra da pessoa falecida, queira suscitar questões que dividem os portugueses". OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Portas acusa Ana Gomes de "falta de humanidade"

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