"PortoSound" versão adolescente chama milhares ao Edifício Transparente

17-09-2004
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"PortoSound" Versão Adolescente Chama Milhares ao Edifício Transparente

Por NATÁLIA FARIA

Domingo, 12 de Setembro de 2004

Os adolescentes eram mais que as mães, mas também se viram trintões e quarentões na segunda edição do PortoSound, que levou, anteontem à noite, milhares de pessoas à praça do Edifício Transparente. Quem esteve na edição anterior garante que a média etária baixou drasticamente. Pudera: pelo palco passaram os Mesa, Mind da Gap e Da Weasel. Tudo bandas a piscar o olho à insurreição controlada dos adolescentes. A excepção à regra foi Sérgio Godinho (um repetente naquele palco), que fez coro com David Fonseca. Vitorino também tinha o nome inscrito nos cartazes mas não chegou a aparecer (devido à morte de um familiar, segundo fonte da organização).

À hora marcada para o arranque da maratona de concertos (20h00), a iniciativa, organizada pela Câmara do Porto com o apoio da Centralcer, ameaçava fracasso: na praça perambulavam pequenos grupos de adolescentes e a única coisa que prometia festa era mesmo a iluminação policromática que emanava do Edifício Transparente. Só perto das 20h30 é que os Mesa subiram ao palco. A banda portuense que integra o ex-Bandemónio João Pedro Coimbra e a vocalista Mónica Ferraz não falhou nenhum dos temas que lhe valeu no ano passado o galardão do Melhor Disco do Ano atribuído pela Antena 3 mas não chegou a conseguir mais do que alguns aplausos anémicos.

O "hip hop" dos Mind da Gap, a segunda banda a actuar, conseguiu, esse sim, aquecer a noite. "Os ?Mind' dão motivação e as letras fazem pensar", justificava Pedro Pinto, um estudante de 15 anos. E quanto ao resto das bandas? "Acho que deviam vir só grupos do Porto", defendeu, enquanto no palco a banda perguntava a uma plateia já claramente rendida ao ritmo: "Amor, como é que é? ?Tá tudo? ?Tás a curtir?".

Menos entusiasta parece ter sido a reacção que o "stand up comedian" Francisco Menezes (lembram-se do "Portugal FM"?), chamado ao palco para animar os intervalos entre as bandas, provocou na bancada VIP do Edifício Transparente. O recurso ao calão e algumas alusões veladas ao facto de aquele edifício construído pela Porto 2001 continuar de portas fechadas destoou do tom que o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, quis imprimir ao evento. O autarca terá passado por lá, acompanhado pelo Secretário de Estado da Juventude, Pedro Duarte, mas nenhum deles foi notado pelo espectadores.

À medida que se começou a cifrar nos milhares, o público tratou de se espalhar pelo areal. Os balcões onde se podia comprar um copo de cerveja a um euro eram vários e dali podia-se acompanhar os concertos, espreitando para os dois ecrãs laterais ao palco. E havia ainda tochas de fogo a garantir a luz necessária, sobretudo para os mais velhos que preferiram guardar distância enquanto não chegava a vez de Sérgio Godinho actuar. "Viemos cá só por causa dele e do Vitorino", justificava-se o casal António e Adelaide, "mais de 60 anos", conforme explica a mulher, antes de acrescentar: "O cenário é lindíssimo. É pena que não o aproveitem para coisas destas mais vezes".

Emigrante em Lisboa, Godinho não deixou de cumprir o apelo à celebração colectiva do orgulho tripeiro. Começou em registo intimista com "Horas Extraordinárias" e seguiu com "Visita Guiada", "Galo Dono dos Ovos" e Charlatão". Referindo-se a esta última, composta a meias com José Mário Branco nos tempos de exílio, Godinho ainda brincou, antes de soltar uma gargalhada céptica: "Ainda bem que agora não há nenhum charlatão em Portugal". "Mudemos de Assunto" foi, nem de propósito, a música seguinte do alinhamento. Pelo meio, houve um dueto com o ex-Silence 4 David Fonseca, que o acompanhou Sérgio Godinho na "Balada da Rita" e no "Tempo que Passou".

O relógio passava da uma da manhã quando os "Da Weasel" arrancaram com a pergunta "Como é Porto, estamos bem?". Os adolescentes estavam. A partir daí, os décibeis foram em crescendo e os braços começaram a mexer-se num ritual mimético. Quando chegou a vez do DJ "Dezperado" as gargantas já estavam roucas. E não era da brisa marítima nocturna.

"PortoSound" Versão Adolescente Chama Milhares ao Edifício Transparente

Por NATÁLIA FARIA

Domingo, 12 de Setembro de 2004

Os adolescentes eram mais que as mães, mas também se viram trintões e quarentões na segunda edição do PortoSound, que levou, anteontem à noite, milhares de pessoas à praça do Edifício Transparente. Quem esteve na edição anterior garante que a média etária baixou drasticamente. Pudera: pelo palco passaram os Mesa, Mind da Gap e Da Weasel. Tudo bandas a piscar o olho à insurreição controlada dos adolescentes. A excepção à regra foi Sérgio Godinho (um repetente naquele palco), que fez coro com David Fonseca. Vitorino também tinha o nome inscrito nos cartazes mas não chegou a aparecer (devido à morte de um familiar, segundo fonte da organização).

À hora marcada para o arranque da maratona de concertos (20h00), a iniciativa, organizada pela Câmara do Porto com o apoio da Centralcer, ameaçava fracasso: na praça perambulavam pequenos grupos de adolescentes e a única coisa que prometia festa era mesmo a iluminação policromática que emanava do Edifício Transparente. Só perto das 20h30 é que os Mesa subiram ao palco. A banda portuense que integra o ex-Bandemónio João Pedro Coimbra e a vocalista Mónica Ferraz não falhou nenhum dos temas que lhe valeu no ano passado o galardão do Melhor Disco do Ano atribuído pela Antena 3 mas não chegou a conseguir mais do que alguns aplausos anémicos.

O "hip hop" dos Mind da Gap, a segunda banda a actuar, conseguiu, esse sim, aquecer a noite. "Os ?Mind' dão motivação e as letras fazem pensar", justificava Pedro Pinto, um estudante de 15 anos. E quanto ao resto das bandas? "Acho que deviam vir só grupos do Porto", defendeu, enquanto no palco a banda perguntava a uma plateia já claramente rendida ao ritmo: "Amor, como é que é? ?Tá tudo? ?Tás a curtir?".

Menos entusiasta parece ter sido a reacção que o "stand up comedian" Francisco Menezes (lembram-se do "Portugal FM"?), chamado ao palco para animar os intervalos entre as bandas, provocou na bancada VIP do Edifício Transparente. O recurso ao calão e algumas alusões veladas ao facto de aquele edifício construído pela Porto 2001 continuar de portas fechadas destoou do tom que o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, quis imprimir ao evento. O autarca terá passado por lá, acompanhado pelo Secretário de Estado da Juventude, Pedro Duarte, mas nenhum deles foi notado pelo espectadores.

À medida que se começou a cifrar nos milhares, o público tratou de se espalhar pelo areal. Os balcões onde se podia comprar um copo de cerveja a um euro eram vários e dali podia-se acompanhar os concertos, espreitando para os dois ecrãs laterais ao palco. E havia ainda tochas de fogo a garantir a luz necessária, sobretudo para os mais velhos que preferiram guardar distância enquanto não chegava a vez de Sérgio Godinho actuar. "Viemos cá só por causa dele e do Vitorino", justificava-se o casal António e Adelaide, "mais de 60 anos", conforme explica a mulher, antes de acrescentar: "O cenário é lindíssimo. É pena que não o aproveitem para coisas destas mais vezes".

Emigrante em Lisboa, Godinho não deixou de cumprir o apelo à celebração colectiva do orgulho tripeiro. Começou em registo intimista com "Horas Extraordinárias" e seguiu com "Visita Guiada", "Galo Dono dos Ovos" e Charlatão". Referindo-se a esta última, composta a meias com José Mário Branco nos tempos de exílio, Godinho ainda brincou, antes de soltar uma gargalhada céptica: "Ainda bem que agora não há nenhum charlatão em Portugal". "Mudemos de Assunto" foi, nem de propósito, a música seguinte do alinhamento. Pelo meio, houve um dueto com o ex-Silence 4 David Fonseca, que o acompanhou Sérgio Godinho na "Balada da Rita" e no "Tempo que Passou".

O relógio passava da uma da manhã quando os "Da Weasel" arrancaram com a pergunta "Como é Porto, estamos bem?". Os adolescentes estavam. A partir daí, os décibeis foram em crescendo e os braços começaram a mexer-se num ritual mimético. Quando chegou a vez do DJ "Dezperado" as gargantas já estavam roucas. E não era da brisa marítima nocturna.

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