"O Sentimento Separatista Galego Ganhou Força"
Por RICARDO DIAS FELNER
Segunda-feira, 24 de Fevereiro de 2003
Concentração em Lisboa
Manifestantes lembraram que Portugal não está livre de vir a ser atingido pela maré negra
Perto de uma centena de pessoas gritaram ontem "Maré negra nunca mais" em frente à embaixada de Espanha, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, ao som de gaita de foles. O protesto, organizado por jovens galegos a estudar em Lisboa, da plataforma "Nunca Mais", serviu para reforçar a solidariedade com o povo galego, mas também para lembrar que Portugal corre o risco de vir a ser atingido pela catástrofe.
O rapaz que empunhava o megafone gritou o mais que pôde. "Governo espanhol manipula informação", "Espanha culpada", "Não pode ser, não pode ser, Fraga no Governo e a mancha a crescer", ou "Solidariedade entre Galiza e Portugal", foram os "slogans" mais fortes da tarde, com os manifestantes a apontarem o dedo ao executivo de José Maria Aznar pela forma negligente como lidou com a catástrofe ambiental provocada pelo "Prestige".
Carlos Gonçalves, 21 anos, um dos jovens galegos presentes que seguiram o desenrolar da tragédia ambiental à distância, em Portugal, explicou ao PÚBLICO que o caso "Prestige" veio relançar o debate sobre a autonomia da Galiza. "Tenho falado com familiares e eles dizem-me que o sentimento separatista galego ganhou força depois do que aconteceu. Há muito tempo que somos esquecidos pelo Governo de Madrid e isto pode ter sido a gota de água", salientou.
Francisco Louçã, o único político a marcar presença, corroborou esta ideia, recordando o choque que foi visitar a Galiza, pouco depois de o fuelóleo derramado pelo petroleiro atingir a costa, e de ouvir, nessa altura, da boca do vice-primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, que não se estava a passar nada de grave. "Lembro-me de ele dizer que não havia maré negra e eu tinha acabado de a ver", acentuou. O deputado do Bloco de Esquerda salientou ainda a "enorme importância" da manifestação ocorrida em Madrid, também ontem. "É um grande sinal de indignação do povo galego e de toda a Espanha", frisou.
Por sua vez, Pedro Alves, da plataforma "Nunca Mais", espalhou pequenos barcos de papel na calçada, durante a concentração, como forma de "chamar a atenção para o problema". Este funcionário do Instituto de Meteorologia fez notar que "o que se passou na Galiza poder-se-á passar em águas portuguesas" e que a costa de Portugal "há muito tempo que é atingida por manchas de fuel", oriundas da lavagem dos tanques dos navios, sem que nunca se tivesse falado no problema.
Categorias
Entidades
"O Sentimento Separatista Galego Ganhou Força"
Por RICARDO DIAS FELNER
Segunda-feira, 24 de Fevereiro de 2003
Concentração em Lisboa
Manifestantes lembraram que Portugal não está livre de vir a ser atingido pela maré negra
Perto de uma centena de pessoas gritaram ontem "Maré negra nunca mais" em frente à embaixada de Espanha, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, ao som de gaita de foles. O protesto, organizado por jovens galegos a estudar em Lisboa, da plataforma "Nunca Mais", serviu para reforçar a solidariedade com o povo galego, mas também para lembrar que Portugal corre o risco de vir a ser atingido pela catástrofe.
O rapaz que empunhava o megafone gritou o mais que pôde. "Governo espanhol manipula informação", "Espanha culpada", "Não pode ser, não pode ser, Fraga no Governo e a mancha a crescer", ou "Solidariedade entre Galiza e Portugal", foram os "slogans" mais fortes da tarde, com os manifestantes a apontarem o dedo ao executivo de José Maria Aznar pela forma negligente como lidou com a catástrofe ambiental provocada pelo "Prestige".
Carlos Gonçalves, 21 anos, um dos jovens galegos presentes que seguiram o desenrolar da tragédia ambiental à distância, em Portugal, explicou ao PÚBLICO que o caso "Prestige" veio relançar o debate sobre a autonomia da Galiza. "Tenho falado com familiares e eles dizem-me que o sentimento separatista galego ganhou força depois do que aconteceu. Há muito tempo que somos esquecidos pelo Governo de Madrid e isto pode ter sido a gota de água", salientou.
Francisco Louçã, o único político a marcar presença, corroborou esta ideia, recordando o choque que foi visitar a Galiza, pouco depois de o fuelóleo derramado pelo petroleiro atingir a costa, e de ouvir, nessa altura, da boca do vice-primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, que não se estava a passar nada de grave. "Lembro-me de ele dizer que não havia maré negra e eu tinha acabado de a ver", acentuou. O deputado do Bloco de Esquerda salientou ainda a "enorme importância" da manifestação ocorrida em Madrid, também ontem. "É um grande sinal de indignação do povo galego e de toda a Espanha", frisou.
Por sua vez, Pedro Alves, da plataforma "Nunca Mais", espalhou pequenos barcos de papel na calçada, durante a concentração, como forma de "chamar a atenção para o problema". Este funcionário do Instituto de Meteorologia fez notar que "o que se passou na Galiza poder-se-á passar em águas portuguesas" e que a costa de Portugal "há muito tempo que é atingida por manchas de fuel", oriundas da lavagem dos tanques dos navios, sem que nunca se tivesse falado no problema.