EXPRESSO: Artigo

22-08-2002
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3/8/2002

O ministro que nunca despediu ninguém... mas já foi despedido

Texto de Graça Rosendo FOTOGRAFIA DE JORGE SIMÃO Foi professor universitário, director da Mundial, administrador da Cosec, do Instituto de Seguros de Portugal e do BCI. Foi secretário de Estado, deputado, vice-governador do Banco de Portugal e administrador do grupo BCP. Agora é ministro e quer pôr em prática a ideia de trabalho que construiu ao longo dos seus 12 empregos. Do primeiro emprego tirou a primeira lição: «Não há nada pior que a rotina. Odeio-a.» No último, aquele em que agora exerce as funções de ministro, tenta manter vivas as lições que foi guardando ao longo de 30 anos de carreira profissional: privilegiar o contacto com as pessoas, saber rir mesmo nos momentos mais difíceis, exercer qualquer função com carácter, sentido do dever e justiça. António Bagão Félix, 59 anos, o homem que está a tentar pôr em prática no país a sua ideia de trabalho, é, ele próprio, alguém com a história de um trabalhador. «Garanto que nunca despedi ninguém... Mas já abri dois ou três processos disciplinares», assegura. E só por isso, pressupõe-se, nunca teve de ouvir a pergunta que fez ao seu «superior» hierárquico quando lhe aconteceu a si o que diz nunca ter feito aos outros: quando foi despedido. «Quis encontrar-me tanto com o ministro Eduardo Catroga, como com o Prof. Cavaco Silva, só para lhes perguntar porquê: por falta de competência, falta de carácter, falta de lealdade, falta de profissionalismo ou pelas ideias que defendo?» Não obteve respostas. Em troca, recebeu convites do primeiro-ministro para outros cargos. «É claro que recusei. Se não servia para aquele não servia para mais nenhum. Ainda por cima, num deles ia substituir um amigo. Isso nunca! Nunca faria isso a um amigo!» O «Gibóia», o jornal de que foi director aos 14 anos A lembrança, que ainda hoje guarda como a mais triste, mais amarga e mais injusta da sua carreira profissional, remonta a Junho de 1994. Bagão Félix era vice-governador do Banco de Portugal, a que presidia Miguel Beleza. «Estava em Estrasburgo, numa reunião dos bancos europeus, e fui chamado ao telefone. Em 30 segundos, o ministro Catroga dispensou-me. Assim, sem mais nem menos! Eu voltei para a reunião, sem dizer nada, e terminei o que estava a fazer. Depois, liguei para o Miguel Beleza. Sabe o que ele me disse? Com aquele seu estilo de humor quase britânico, respondeu-me: ‘É tempo de me privatizar.’ E eu fiz o mesmo.» A lembrança, que ainda hoje guarda como a mais triste, mais amarga e mais injusta da sua carreira profissional, remonta a Junho de 1994. Bagão Félix era vice-governador do Banco de Portugal, a que presidia Miguel Beleza. «Estava em Estrasburgo, numa reunião dos bancos europeus, e fui chamado ao telefone. Em 30 segundos, o ministro Catroga dispensou-me. Assim, sem mais nem menos! Eu voltei para a reunião, sem dizer nada, e terminei o que estava a fazer. Depois, liguei para o Miguel Beleza. Sabe o que ele me disse? Com aquele seu estilo de humor quase britânico, respondeu-me: ‘É tempo de me privatizar.’ E eu fiz o mesmo.» Mas não imediatamente. Durante quatro meses, ficou-se pela reflexão, leituras e apoio à família. Depois, aceitou entrar pela porta que já várias vezes lhe tinha sido aberta por Jardim Gonçalves. «Por acaso, nunca discuti ordenados com nenhuma das pessoas com quem fui trabalhar — até porque ocupei sempre funções tabeladas... Nem o fiz dessa vez. Limitei-me a dizer ao engenheiro Jardim Gonçalves que preferia trabalhar nos seguros, porque tinha estado na entidade que supervisiona a Banca e achava que sair daí para um banco era incompatível. Foi a única condição que impus à entrada de um emprego.» É claro que Bagão Félix não é um trabalhador comum. É claro também que, no momento em que procura implementar no país um novo conceito de trabalho, é só no lado dos trabalhadores que encontra resistências. Afinal, mexe-se com segurança e à-vontade no meio da alta finança e seguros — onde ganhou um estatuto de excelência como gestor e de onde pode assumir-se publicamente como um independente católico, de ideias à direita. O grupo do 7º ano do liceu, em Aveiro (de cócoras, à dir.) Isso fá-lo ter a forma de «ministro dos patrões»? É difícil dizer que não. Ele responde que exerce as suas funções, esteja onde estiver, com sentido de missão e com coerência. E, naturalmente, com a medida exacta de uma certa tensão — sobretudo quando, como agora, parece estar a jogar o tudo por tudo de um projecto de vida. É nesta mistura explosiva, afinal, que encontra energias para, durante os três ou quatro anos (não mais!) que permaneceu em cada emprego, conseguir nunca gerar rotinas. E ele odeia rotinas, como não se cansa de repetir. Isso fá-lo ter a forma de «ministro dos patrões»? É difícil dizer que não. Ele responde que exerce as suas funções, esteja onde estiver, com sentido de missão e com coerência. E, naturalmente, com a medida exacta de uma certa tensão — sobretudo quando, como agora, parece estar a jogar o tudo por tudo de um projecto de vida. É nesta mistura explosiva, afinal, que encontra energias para, durante os três ou quatro anos (não mais!) que permaneceu em cada emprego, conseguir nunca gerar rotinas. E ele odeia rotinas, como não se cansa de repetir. «Aprendi a odiá-las na tropa. Aliás, a tropa foi verdadeiramente o meu primeiro emprego.» Era o ano de 1970, e António acabara o curso de Finanças no ISCEF (agora ISEG). Depois dos três meses de recruta, foi integrado nos serviços financeiros do Ministério da Marinha. «Só tinha de conferir contas de caixa. Passei três anos a fazer isto.» Ganhava, por mês, 2200 escudos, no início. Quando passou a tenente, subiu para os 3800 escudos. «Era altamente monótono, claro. Mas foi com a rotina, com o convívio com a rotina, que aprendi a odiá-la», acrescenta, sem, no entanto, esquecer: «A tropa também me transmitiu a ideia da ordem, da disciplina, do sacrifício, que guardo até hoje e que são igualmente essenciais na nossa vida.» A ele e aos outros licenciados que ali cumpriam o serviço militar chamavam-lhes doutores e não lhes exigiam a farda. Mas eram eles que faziam a maior parte do trabalho. «Lá na repartição, havia militares e civis. Muitos deles não sabiam o que estavam a fazer, nem queriam saber. Foi lá, aliás, que fiz outra importante descoberta, a combater no meu futuro: é que tanto fazia trabalhar como não trabalhar, o ordenado era o mesmo», lembra, sorrindo. Tirou da tropa, pelos vistos, muitas lições. Mas acabou por não sentir na pele as consequências daquela que mais seria de esperar: a de uma visão autoritária e prepotente do trabalho. A ele e aos outros licenciados que ali cumpriam o serviço militar chamavam-lhes doutores e não lhes exigiam a farda. Mas eram eles que faziam a maior parte do trabalho. «Lá na repartição, havia militares e civis. Muitos deles não sabiam o que estavam a fazer, nem queriam saber. Foi lá, aliás, que fiz outra importante descoberta, a combater no meu futuro: é que tanto fazia trabalhar como não trabalhar, o ordenado era o mesmo», lembra, sorrindo. Tirou da tropa, pelos vistos, muitas lições. Mas acabou por não sentir na pele as consequências daquela que mais seria de esperar: a de uma visão autoritária e prepotente do trabalho. Mal acabou a tropa, recebeu outro convite. Dois amigos falaram no seu nome a Morais Leitão, então presidente da Mundial Confiança. «Ele entrevistou-me e gostou.» Contratou-o para chefe dos serviços financeiros, já com a promessa de, daí a um ano, subir a director. «Não me preparei para a entrevista, não senhor. Fui ter com ele de braços abertos e mãos livres. Para ver se havia empatia.» Houve. A tal ponto que foi também Morais Leitão quem iniciou Bagão Félix na política, uns anos mais tarde. A carreira profissional do jovem financeiro começa aqui. A seu cargo tinha uma centena de trabalhadores. E durante três ou quatro meses chegou a ter de partilhar o lugar e o gabinete com o anterior chefe, já com 70 anos e prestes a reformar-se. «Aprendi, durante este período, outro valor essencial: o da redistribuição geracional dos conhecimentos. Percebi como é fundamental para a vida das empresas esta conjugação, esta ventilação de experiência e conhecimentos.» A Marinha, que foi o seu primeiro emprego O jovem chefe de serviços, depois director, implementa, em dois anos, medidas inovadoras na organização do trabalho: «Métodos novos, gestão por objectivos, planeamento das funções, informatização.» Entre os seus cerca de cem funcionários, «havia de tudo, desde mangas-de-alpaca a gente nova — e devo dizer que foi uma experiência excelente». O lugar era, afinal, de responsabilidade. Por isso, aprendeu também aqui que a porta do seu gabinete tinha de manter-se sempre fechada. «Por uma questão de privacidade, de intimidade na reflexão e no processo de decisão, prefiro assim até hoje: porta fechada, mas coração aberto!» O jovem chefe de serviços, depois director, implementa, em dois anos, medidas inovadoras na organização do trabalho: «Métodos novos, gestão por objectivos, planeamento das funções, informatização.» Entre os seus cerca de cem funcionários, «havia de tudo, desde mangas-de-alpaca a gente nova — e devo dizer que foi uma experiência excelente». O lugar era, afinal, de responsabilidade. Por isso, aprendeu também aqui que a porta do seu gabinete tinha de manter-se sempre fechada. «Por uma questão de privacidade, de intimidade na reflexão e no processo de decisão, prefiro assim até hoje: porta fechada, mas coração aberto!» O pior foi quando, um ano depois da revolução, a companhia foi nacionalizada e a administração saneada. «Aí é que se deu o verdadeiro rebuliço lá dentro», recorda. Num plenário de trabalhadores, a 15 de Março de 1975, é nomeada uma comissão administrativa para dirigir a empresa. Bagão Félix é, com outro director, o único quadro superior a ser eleito pelos trabalhadores para integrar essa comissão. «É claro que recusei», afirma, provavelmente com a mesma certeza da época. Foi chamado ao sindicato para ouvir falar no dever para com a revolução e os trabalhadores. Mas preferiu dar explicações: «Primeiro, não concordei com o método. Depois, admirava profundamente Morais Leitão e não podia deixar de o apoiar naquele momento.» Depois disso, não terá sido chamado directamente de «traidor», mas passou a viver em grande tensão dentro da empresa. Ao seu serviço, alastrou também «o ambiente de indisciplina, de absentismo, de desrespeito pelas hierarquias» que diz ter sido o da época na companhia. «Lembro-me de algumas vezes ter ficado, com outro colega, pela noite fora a fazer trabalho de escriturário.» Carteira profissional de seguros A ideia de autoridade, que já lhe era cara, diluía-se cada vez mais depressa. Deixou de se usar gravata — moda a que chegou a ceder, embora apenas por um mês —, e toda a gente andava de barba demasiado espessa, o que também já contrariava toda a sua concepção de imagem no trabalho e o levou a rapar a sua própria barba. «Eu ia para casa cada vez mais desconfortável, a pensar: tenho de sair daqui!» A ideia de autoridade, que já lhe era cara, diluía-se cada vez mais depressa. Deixou de se usar gravata — moda a que chegou a ceder, embora apenas por um mês —, e toda a gente andava de barba demasiado espessa, o que também já contrariava toda a sua concepção de imagem no trabalho e o levou a rapar a sua própria barba. «Eu ia para casa cada vez mais desconfortável, a pensar: tenho de sair daqui!» Salvou-o Artur Santos Silva, então secretário de Estado do VI Governo Provisório, com um convite, em Janeiro de 1976, para a administração da COSEC, uma empresa de seguros de créditos. «Foi um magnífico laboratório. Do bom e do mau», afirma, resumindo a experiência. A pequena dimensão da empresa era favorável à introdução de novos métodos de gestão: a COSEC foi, por exemplo, a primeira companhia a ter um orçamento, no sentido moderno do termo. Mas a gestão era ainda demasiado politizada e, por isso, muito difícil de esgrimir. Os tempos favoreciam os processos de intenções e as sucessivas tentativas de contar espingardas entre os trabalhadores para cada um dos três elementos da administração. Entre traições e promessas com segundos sentidos, o jovem administrador fez outra descoberta: «A importância do carácter no trabalho.» Levou, mesmo assim, a sua tarefa em frente. Ao ponto de ter sido o único, dos três membros do conselho, a ver o seu mandato renovado ao fim de três anos. Na equipa de futebol da Comissão de Trabalhadores da Cosec (é o primeiro em pé, do lado direito) A COSEC, apesar de tudo, abriu-lhe a porta a novas experiências no mundo do trabalho. Pela primeira vez — e desde sempre, a partir daí — assumiu, como administrador, o pelouro dos Recursos Humanos. Os tempos eram propícios às reivindicações laborais e, por isso, Bagão passava dias seguidos em reuniões contínuas com as comissões de trabalhadores. «É verdade que eu não escondia o meu conceito de disciplina, de rigor, de autoridade, demasiado conservador para a época. Mas, mesmo assim, conseguimos introduzir coisas completamente inovadoras, que foram muito discutidas mas que, talvez por isso, acabaram por ser bem aceites.» Uma delas foi o horário flexível — com entrada até às 10h30 da manhã, havendo depois uma compensação no fim do dia. «Para isso, tivemos de instalar uns relógios de ponto altamente modernos», recorda, acrescentando: «E, claro, houve resistências à mudança: os relógios avariaram duas vezes, porque alguém meteu açúcar lá dentro!» Noutra ocasião, teve de delegar pontualmente as competências para entrevistar candidatos a lugares na COSEC, porque as entrevistas estavam marcadas para a hora exacta em que a sua mulher começou a dar à luz. «A Comissão de Trabalhadores fez um comunicado violento contra mim, acusando-me de não respeitar os trabalhadores por ter passado a tal tarefa para alguém com uma categoria inferior. Foi um bocadinho injusto, não acham?» A COSEC, apesar de tudo, abriu-lhe a porta a novas experiências no mundo do trabalho. Pela primeira vez — e desde sempre, a partir daí — assumiu, como administrador, o pelouro dos Recursos Humanos. Os tempos eram propícios às reivindicações laborais e, por isso, Bagão passava dias seguidos em reuniões contínuas com as comissões de trabalhadores. «É verdade que eu não escondia o meu conceito de disciplina, de rigor, de autoridade, demasiado conservador para a época. Mas, mesmo assim, conseguimos introduzir coisas completamente inovadoras, que foram muito discutidas mas que, talvez por isso, acabaram por ser bem aceites.» Uma delas foi o horário flexível — com entrada até às 10h30 da manhã, havendo depois uma compensação no fim do dia. «Para isso, tivemos de instalar uns relógios de ponto altamente modernos», recorda, acrescentando: «E, claro, houve resistências à mudança: os relógios avariaram duas vezes, porque alguém meteu açúcar lá dentro!» Noutra ocasião, teve de delegar pontualmente as competências para entrevistar candidatos a lugares na COSEC, porque as entrevistas estavam marcadas para a hora exacta em que a sua mulher começou a dar à luz. «A Comissão de Trabalhadores fez um comunicado violento contra mim, acusando-me de não respeitar os trabalhadores por ter passado a tal tarefa para alguém com uma categoria inferior. Foi um bocadinho injusto, não acham?» O «bom ambiente» que diz ter conseguido manter com a Comissão de Trabalhadores não o exemplifica apenas com o resultado das negociações para a introdução de mudanças. «Naquela altura, eu ainda podia mexer-me bem. E jogava futebol com o pessoal da Comissão de Trabalhadores. Um deles era do PC mais ortodoxo! E eu era extremo-direito... Mas por causa do pé, não das convicções ideológicas», acrescenta, rapidamente, no meio de uma gargalhada. Enquanto secretário de Estado da Segurança Social Quando o seu ciclo laboral começa a atingir o limite, quase quatro anos depois de ter entrado na COSEC, recebe novo convite, desta vez para o Instituto de Seguros de Portugal. Mas não chegou a aquecer o lugar, porque, logo a seguir, Morais Leitão chama-o para secretário de Estado da Segurança Social. Ficou no cargo até 1983, quando novamente Morais Leitão o convida para integrar as listas de deputados do CDS, acabando por ser eleito para um mandato que só dura dois anos. «Foi um alívio quando esses dois anos acabaram. Deve ter sido a minha pior experiência, essa de ser deputado.» Quando o seu ciclo laboral começa a atingir o limite, quase quatro anos depois de ter entrado na COSEC, recebe novo convite, desta vez para o Instituto de Seguros de Portugal. Mas não chegou a aquecer o lugar, porque, logo a seguir, Morais Leitão chama-o para secretário de Estado da Segurança Social. Ficou no cargo até 1983, quando novamente Morais Leitão o convida para integrar as listas de deputados do CDS, acabando por ser eleito para um mandato que só dura dois anos. «Foi um alívio quando esses dois anos acabaram. Deve ter sido a minha pior experiência, essa de ser deputado.» Esteve cinco anos fora da vida das empresas e só volta a elas por causa do desânimo que o exercício da política lhe provoca. Mas regressa igualmente para algo que lhe dá pouca vida: a proposta de Santos Silva para ajudar a montar um novo banco, o BCI. «Foi uma experiência demasiado técnica. A Banca é um sector muito árido. É por isso que prefiro os seguros: têm uma perspectiva mais social, mais próxima das pessoas.» É claro que dois anos depois estava a dizer «sim» a Cavaco Silva e a integrar o primeiro Governo maioritário do PSD. «Aceitei (o lugar de secretário de Estado do Emprego) justamente porque não estava muito satisfeito no banco. Mas fiquei apenas os primeiros quatro anos. No último ano, confesso que já me arrastava.» Secretário de Estado do Emprego (1987) Ao aceitar o convite para trabalhar no banco, não só escolheu uma nova opção de trabalho como cortou com as suas raízes profissionais. «Durante estes anos todos, eu tinha tido a muleta da Mundial, ou seja, nunca perdi o emprego, porque estava sempre em situação de requisição. O convite de Santos Silva fez-me rescindir definitivamente com a seguradora.» Ao aceitar o convite para trabalhar no banco, não só escolheu uma nova opção de trabalho como cortou com as suas raízes profissionais. «Durante estes anos todos, eu tinha tido a muleta da Mundial, ou seja, nunca perdi o emprego, porque estava sempre em situação de requisição. O convite de Santos Silva fez-me rescindir definitivamente com a seguradora.» O corte com a sua área de trabalho preferida manteve-se durante alguns anos. Depois de cumprida a legislatura, Cavaco convida-o para o Banco de Portugal, primeiro para administrador, depois para vice-governador. E é na sequência do único despedimento que tem de enfrentar — o seu — que Bagão Félix regressa aos seguros, no Grupo BCP, onde se manterá até Jardim Gonçalves o chamar para consultor, em Outubro de 2001. «Foi um sinal de que ele conhece bem os seus empregados. Eu já estava a criar rotinas no lugar onde trabalhava. Ele percebeu isso e chamou-me para outra função», comenta. O Banco de Portugal foi, como relata, o lugar de muitas experiências novas. Assumiu outra vez o pelouro dos Recursos Humanos, responsabilidade de que ninguém gostava, e durante dois anos voltou a partilhar o seu dia-a-dia com os dos outros funcionários. «Consegui ter uma óptima relação com os sindicatos e a Comissão de Trabalhadores. Aliás, quando de lá saí, a primeira homenagem que recebi foi precisamente dos representantes dos trabalhadores.» E continua: «Tínhamos as nossas divergências, mas discutíamos sempre muito, e abertamente. É esse o meu método de trabalho. E tenho tido resultados excelentes com ele. Mesmo as melhores medidas, quando são impostas, transformam-se facilmente em más medidas», justifica. No seu gabinete de vice-governador do Banco de Portugal (1992) No Banco de Portugal, Bagão Félix foi responsável pela introdução de uma política salarial que premiava o mérito. Foi a primeira experiência do género em entidades públicas daquela dimensão. Liderou também o processo de «downsizing» no banco, quando foi preciso provocar uma redução do pessoal de 2500 para 1700 funcionários. «Conseguimos tudo isto em clima de total paz social, sem notícias nos jornais nem queixas aos sindicatos», acrescenta. Várias centenas de trabalhadores rescindiram os contratos ou aceitaram a pré-reforma e a reforma. E Bagão Félix lembra ainda: «Se eu tivesse de eleger um momento, uma experiência que correu bem na minha vida profissional, escolhia esta, sem qualquer dúvida.» No Banco de Portugal, Bagão Félix foi responsável pela introdução de uma política salarial que premiava o mérito. Foi a primeira experiência do género em entidades públicas daquela dimensão. Liderou também o processo de «downsizing» no banco, quando foi preciso provocar uma redução do pessoal de 2500 para 1700 funcionários. «Conseguimos tudo isto em clima de total paz social, sem notícias nos jornais nem queixas aos sindicatos», acrescenta. Várias centenas de trabalhadores rescindiram os contratos ou aceitaram a pré-reforma e a reforma. E Bagão Félix lembra ainda: «Se eu tivesse de eleger um momento, uma experiência que correu bem na minha vida profissional, escolhia esta, sem qualquer dúvida.» Uns meses depois de estar no Grupo BCP foi para a administração da Bonança, onde viveu experiências semelhantes. De novo com o pelouro dos Recursos Humanos, Bagão Félix volta a definir uma política de pessoal e salarial baseada em princípios como o do mérito. E é outra vez confrontado com a necessidade de liderar um processo de redução de quadros. «Foi preciso saírem entre 400 a 500 trabalhadores, mas em simultâneo deu-se a entrada de 150 jovens licenciados.» E o momento é lembrado pelo ex-administrador como um dos mais... divertidos? «Eu fiz questão de liderar todas as entrevistas. E foi tão engraçado, tão curioso passar por aquilo», recorda, no seu estilo de falar rápido e rir ao mesmo tempo. Na equipa de futebol dos trabalhadores do Banco de Portugal (é o primeiro de cócoras, à direita, equipado à Benfica), em 1994 Um dos jovens que entrevistou trazia o jornal «A Bola» debaixo do braço, com um grande título sobre o Benfica: «Acho que era para me agradar.» Outro entrou na sala com o casaco dobrado sobre o braço: «Eu só lhe disse: então eu vesti o casaco para o receber e o senhor entra aqui com ele assim? Depois sentámo-nos, e eu estive a dar-lhe alguns conselhos.» Com outros, o administrador punha a correr a ampulheta — um dos seus objectos-fetiche, que colecciona há mais de 30 anos: «Era importante perceber como reagem em momentos de pressão.» E a outros, ainda, perguntava: «Por que ordem coloca estas pessoas: a inteligente, a activa, a burra e a inactiva?» Invariavelmente, os jovens candidatos respondiam dizendo que em último lugar deviam ficar os burros pouco activos, como parece óbvio. «Mas não! Eu explicava-lhes que um burro activo é que é perigoso!» E eles, claro, percebiam imediatamente que a vaga não lhes ia cair no colo. Um dos jovens que entrevistou trazia o jornal «A Bola» debaixo do braço, com um grande título sobre o Benfica: «Acho que era para me agradar.» Outro entrou na sala com o casaco dobrado sobre o braço: «Eu só lhe disse: então eu vesti o casaco para o receber e o senhor entra aqui com ele assim? Depois sentámo-nos, e eu estive a dar-lhe alguns conselhos.» Com outros, o administrador punha a correr a ampulheta — um dos seus objectos-fetiche, que colecciona há mais de 30 anos: «Era importante perceber como reagem em momentos de pressão.» E a outros, ainda, perguntava: «Por que ordem coloca estas pessoas: a inteligente, a activa, a burra e a inactiva?» Invariavelmente, os jovens candidatos respondiam dizendo que em último lugar deviam ficar os burros pouco activos, como parece óbvio. «Mas não! Eu explicava-lhes que um burro activo é que é perigoso!» E eles, claro, percebiam imediatamente que a vaga não lhes ia cair no colo. O Grupo BCP foi também o lugar para outros balões de ensaio na vida do futuro ministro do Trabalho. Um deles foi a «cedência ocasional de funções», uma espécie de flexibilidade laboral em que os trabalhadores das várias empresas do grupo eram «trocados» em função de motivos vários, desde a necessidade dos serviços à capacidade dos seus funcionários. «Correu bem», reconhece, pausadamente. «Pudemos aproveitar pessoas que estavam a sentir-se mal nos lugares onde trabalhavam e que acabaram por dar-se melhor nos novos postos. Mas também houve situações difíceis. Eu próprio, no grupo, passei por essa experiência, ao ser administrador da Império, da Bonança, depois da Médis. É um pouco como ir para onde se é útil e necessário», acrescenta. É claro que todos estes passos são hoje lembrados por Bagão Félix de forma muito especial, sobretudo quando precisa de justificar as suas opções políticas. Mas elas também se fundamentam, acrescenta, em episódios aparentemente menos importantes. Como o de, ao fim de dois anos no Banco de Portugal, já conhecer todos os funcionários pelo nome; o de ter recrutado, para a COSEC, uma secretária, entre várias candidatas, que estava grávida de cinco meses; ou o de continuar a receber telefonemas de elementos das comissões de trabalhadores das empresas por onde passou só para conversar. «O trabalho é um espaço de afecto. Se não se sentir isso, ele transforma-se numa angústia. O afecto é uma espécie de propulsor do trabalho. É por isso que, para mim, é importante saber o nome de toda a gente, conhecer os seus problemas, cumprimentar todos. Como inferior hierárquico, eu também preciso desse acervo de simpatia. Gostei, por exemplo, de ouvir as palavras de apoio do primeiro-ministro, noutro dia. Se eu preciso disso, porque não hei-de dá-lo também a quem trabalha comigo?» Durante uma assembleia geral do clube do seu coração Os sindicalistas, que serão neste momento quem mais se prepara para lhe fazer frente, são capazes de reconhecer a qualidade. «Ele é um homem persistente e determinado na defesa das suas ideias. Mas aberto à discussão e franco no processo negocial», diz Luís Parreira, funcionário da Bonança e dirigente do sindicato dos trabalhadores dos seguros. «Mesmo quando não se concorda em nada com as suas posições», acrescenta. No mesmo tom fala Jacinto Cruz, coordenador da estrutura sindical do Banco de Portugal: «O nosso papel é ficarmos sempre insatisfeitos. Mas a imagem que dele guardamos aqui é uma imagem positiva, de alguém que foi capaz de reconhecer as nossas razões e, ao mesmo tempo, levar a água ao seu moinho.» Os sindicalistas, que serão neste momento quem mais se prepara para lhe fazer frente, são capazes de reconhecer a qualidade. «Ele é um homem persistente e determinado na defesa das suas ideias. Mas aberto à discussão e franco no processo negocial», diz Luís Parreira, funcionário da Bonança e dirigente do sindicato dos trabalhadores dos seguros. «Mesmo quando não se concorda em nada com as suas posições», acrescenta. No mesmo tom fala Jacinto Cruz, coordenador da estrutura sindical do Banco de Portugal: «O nosso papel é ficarmos sempre insatisfeitos. Mas a imagem que dele guardamos aqui é uma imagem positiva, de alguém que foi capaz de reconhecer as nossas razões e, ao mesmo tempo, levar a água ao seu moinho.» Desde que se instalou no gabinete do 16º andar da Praça de Londres, Bagão Félix tem respondido diariamente às cartas que lhe escrevem, por escrito e por respeito. É que a política distancia o decisor do mundo real. E o ministro não quer perder, nem por um minuto, aquilo que as pessoas têm para lhe dar. 30

COMENTÁRIOS

8 comentários 1 a 8

4 de Agosto de 2002 às 17:27

ramos18 ( jrcontreiras@netcabo.pt )

Achei muito interessante o "curriculum vitae" do Ministro Bragão felix.

Efectivamente,a experiência no trabalho é muito importante para se ser político e principalmnete

ministro.

É na vida prática que se aprende muito e sobretudo a compreender as pessoas.

Espero que ele,como ministro,aplique bem a sua experiência vivida nas empresas por onde passou.

4 de Agosto de 2002 às 03:33

soafil ( hellraiser@netcabo.pt )

E ainda há quem pague por este jornal........

3 de Agosto de 2002 às 22:47

euroluso ( O HOMEN QUE NÂO GOSTA DOS EMIGRANTES, OS QUIAS COM AS SUAS DEVISAS SALVARAM O PAIS DA BANCA ROTTA VARIAS VEZES. E AGORA PREPARA-SE PARA LHES TIRAR DIREITOS. QUAL É O PAIS QUE NÂO PROTEGE AS SUAS MULTINACIONAIS QUE SÂO OS EMIGRANTES PORTUGUSES QUE SÂO MAIS PATRIOTAS QUE QUALQUER OUTRO TUGA. )

P.S. NÂO MEXA NOS DIREITOS DOS EMIGRANTES.

E COPIE A SUIÇA EM TUDO E VERA QUE LEVA O MUNDO LUSO AO SOCESSO.

3 de Agosto de 2002 às 17:56

Vsantos ( contracorrente@netcabo.pt )

O Expresso é useiro e vezeiro a fazer propaganda de ministros e outras "aves de alto poleiro""

Desta vez, foi o beato B.Félix o eleito. Veja-se o editorial a completar o quadro. O que diz Diogo Sotto Mai é suficiente.Os trabalhadores agradecidos cantarão ladaínhas em honra do beato Félix. Amém!

3 de Agosto de 2002 às 12:35

B. Wäss Füdder ( wass_fudder@hotmail.com )

Este trabalho de Graça Rosendo é um frete que, se publicado na década de 30 do século anterior, poderia ter a assinatura de Goebbels, pois é propaganda pura.

Claro que leitores haverá que gostarão de ser enganados por estes panegíricos de alguns "jornalistas". Mas a verdade é que "isto" é um exemplo da propaganda a substituir o jornalismo.

3 de Agosto de 2002 às 11:17

Diogo Sotto Mai ( op3706@mail.telepac.pt )

Bagão Félix tem o grande Capital atrás de si. Por isso, a força do dinheiro está a criar uma imagem do homem bom, ou normal.

Mas, na verdade, está a fazer o verdadeiro anti-25 de Abril em matéria social e do trabalho. Está mesmo a criar um novo "Estatuto do trabalho Nacional" dos anos salazarentos, num favorecimento descarado dos interesses patronais.

Logo o título é falso e panegírico: "Nunca despedediu ninguèm", mas "liderou o processo de downsizing do Banco de Portugal que levou de 2500 para 1700 funcionários". Não despediu, apenas correu com 800 trabalhadores do BP e sei que foram quase todos corridos por serem socialistas e comunistas ou fundamentalmente favoráveis ao 25 de Abril, Conheço muitos, o processo foi pacífico porque foram para casa montantes da ordem ods 90% daquilo que ganhavam e muitos tinham apenas quarenta anos de idade. E foram muito contentes.

Estão há anos a receber as tais reformas que poderão receber até aos 80 e mais anos de idade, o que custa ao erário público uns 7 a 8 milhões de contos anuais, sim porque o Banco de Portugal é do Estado, logo dos contribuintes.

Bagão desspediu sem poupar um tostão porque as pessoas passaram a recevber de outra conta, mas dos contribuintes na mesma. Depois disso, o BP voltou a meter muita gente nova, principalmente do PSD e do CDS. Seria muito bonito, se o País fosse rico, mas não é e na altura era muito menos que actualmente.

O artigo do Expresso quer apresentar Bagão como um homem bom, afável, interessado em questões do trabalho. Bagão é um conservador de direita, fiel e dedicado a um capitalismo arcaico que quer salvar da crise com os descontos dos trabalhadores.

Esse é o maior CRIME de Bagão. Reduzir receitas do Estado para financiar fundos privadaos que estão em COLAPSO TOTAL, em DESCAPITALIZAÇLÂO ABSOLUTA e que ninguém coloca um céntimo neles.

Assim, Bagão criou à pressa uma legislação para que À FORÇA, as empresas seguradoras e os bancos com os seus Fundos de Reforma passem a receber determinadas verbas anuais que só daqui a 30 anos terão de ser pagas aos eventuais beneficiários. Bagão hoje sabe que essas verbas vão ser DESCAPITALIZDAS, mas não se importa, ele quer salvar o seu patrão Jardim Gonçalves da falência.

É escandoloso quando sabemos hoje que não há CAPITALIZAÇÃO BOLSISTA. Há momento de euforia especulativa a que se seguem quebras enormes para depois voltar a nova euforia, mas o detentor dos fundos nunca fica a ganhar, apenas os grandes banqueiros e gestores que comandam os processos é que ganham sempre. Por issso, o desvio dos descontos dos trabalhadores das classes médias é ROUBO e tenho perguntado a muita gente bem colocada na vida se acha isso bem e todos estão de acordo que não tem sentido e não vão aceitar esse desvio.

Claro, as pessoas são livres de descontar para o estado ou para privados, mas há maneiras de enganar as pessoas e basta que circule com mais intensidade a recente declaração do Tribunal de Contas de que as reformas não estão a ser pagas e que há um grande intervalo de tempo muito grande para as pagar e que a Segurança Social dirigida por Bagão está a dizer que não encontra os descontos feitos há muitos anos e, com isso, pretende em média ROUBAR 10 a 20% das reformas, etc..

Não interessa se o Homem esteve na Marinha ou trabalhou nos Seguros e foi "afilhado" fiel do Morais Leitão primeiro e do Jardim Gonçalves depois. O que interessa é que está também a fazer uma Lei do Trabalho do Chicote. E vem mentir com a flexibilização dos horários na Alemanha, por exemplo.

Aí, a flexibilização foi negociada pela VW, por exemplo, mas na BASE DE UM SALÁRIO MÍNIMO DE 5 MIL MARCOS. O horário pode ser reduzido, mas o salário nunca desce abaixo dos 500 contos mensais.

Bagão quer uma flexibilização sem mínimo salarial. Uma empresa pode reduzir o tempo de trabalho a um ou dois dias semanais e o trabalhador pode ir para casa com um salário inferior ao RMG. Agora é que compreendo a razão porque Paulo Portas e o CDS eram contra o RMG e diziam que era um convite à preguiça. Porque querem que as empresas cheguem a pagar menos que isso. UMA VERGONHA.

Nunce despediu ninguém diz o título, mas a nova Lei do trabalho é um verdadeiro Código do despedimento e do Trabalho Precário por toda a vida. Isto no País que paga os salários mais baixos da Europa, quase um terço da média europeia. UMA VERGONHA.

Quando governava o eng. Guterreses, o prof. Frasquilho e outros economistas do PSD insurgiram-se contra o factro de os salários portugueses serem os mais baixos da Europa e agora querem que sejam ainda mais baixos pela via da eventual redução do tempo de trabalho nocturno em que se deveria pagar a dobrar, etc. UMA VERGONHA.

Além disso, Bagão quer impôr um regime quase esclavagista de 60 horas de trabalho semanais exigíveis se a empresa quiser.

Nas Lei de Bagão, NADA HÁ que favoreça os trabalhadores, os verdadeiros, aqueles que trabalham e descontam. Apenas uns pós que já estavam previstas para as reformas mínimas que são geralmente de pessoas que não trabalharam e fizeram uns descontos no fim da vida, ou trabalharam e não descontaram, não se solidarizaram com os mais idosos do seu tempo.

Bagão alinha com os que dizem que a produtividade do trabalho é baixa.

Fazem a conta estúpida de produção por trabalhador sem entrar em conta com o custo do trabalhador e o capital fixo envolvido na produção.

Como homem de empresa, Bagão deveria saber que as empresas fazem contas de custos. E não se introduzem robots ou equipamentos automatizados qye custam milhões se os salários não forem suficientemente altos para o justificar.

Mesmo assim, a verdadeira produtividade do trabalhador português é mais do dobro da europeia.

Os portugues ganham cerca de 25% da média salarial europeia e geram um produto igual a 76% da média europeia. Logo, a produtividade financeira do trabalho português é quase 300% superior à europeia.

Mesmo a nível de Estado. O Estudo Pisa revela que os nove anos de escolaridade em Portugal custam em euros reais menos de um terço da média europeia. Na Alemanha, cada acto médico praticado nos hospitais públicos custa quase quatro vezes mais em euros que em Portugal, logo os médicos e enfermeiros portuguese têm uma produtividade real 400% superior à alemã.

O Dr. Bagão não está de acordo. Queria comprar Mercedes 300 pelo preço de um VW Lupo. Como não pode, acha que a produtividade do Lupo é muito baixa.

3 de Agosto de 2002 às 10:49

paulao ( paucar@sapo.pt )

Tem que se ter sempre um padrinho, não é? Neste caso houve dois: Morais Leitão e o Jesus Cristo........FARISEU

3 de Agosto de 2002 às 10:48

paulao ( paucar@sapo.pt )

Tem que se ter sempre um padrinhbo, não é? Neste caso houve dois: Morais Leitão e o Jesus Cristo........FARISEU

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3/8/2002

O ministro que nunca despediu ninguém... mas já foi despedido

Texto de Graça Rosendo FOTOGRAFIA DE JORGE SIMÃO Foi professor universitário, director da Mundial, administrador da Cosec, do Instituto de Seguros de Portugal e do BCI. Foi secretário de Estado, deputado, vice-governador do Banco de Portugal e administrador do grupo BCP. Agora é ministro e quer pôr em prática a ideia de trabalho que construiu ao longo dos seus 12 empregos. Do primeiro emprego tirou a primeira lição: «Não há nada pior que a rotina. Odeio-a.» No último, aquele em que agora exerce as funções de ministro, tenta manter vivas as lições que foi guardando ao longo de 30 anos de carreira profissional: privilegiar o contacto com as pessoas, saber rir mesmo nos momentos mais difíceis, exercer qualquer função com carácter, sentido do dever e justiça. António Bagão Félix, 59 anos, o homem que está a tentar pôr em prática no país a sua ideia de trabalho, é, ele próprio, alguém com a história de um trabalhador. «Garanto que nunca despedi ninguém... Mas já abri dois ou três processos disciplinares», assegura. E só por isso, pressupõe-se, nunca teve de ouvir a pergunta que fez ao seu «superior» hierárquico quando lhe aconteceu a si o que diz nunca ter feito aos outros: quando foi despedido. «Quis encontrar-me tanto com o ministro Eduardo Catroga, como com o Prof. Cavaco Silva, só para lhes perguntar porquê: por falta de competência, falta de carácter, falta de lealdade, falta de profissionalismo ou pelas ideias que defendo?» Não obteve respostas. Em troca, recebeu convites do primeiro-ministro para outros cargos. «É claro que recusei. Se não servia para aquele não servia para mais nenhum. Ainda por cima, num deles ia substituir um amigo. Isso nunca! Nunca faria isso a um amigo!» O «Gibóia», o jornal de que foi director aos 14 anos A lembrança, que ainda hoje guarda como a mais triste, mais amarga e mais injusta da sua carreira profissional, remonta a Junho de 1994. Bagão Félix era vice-governador do Banco de Portugal, a que presidia Miguel Beleza. «Estava em Estrasburgo, numa reunião dos bancos europeus, e fui chamado ao telefone. Em 30 segundos, o ministro Catroga dispensou-me. Assim, sem mais nem menos! Eu voltei para a reunião, sem dizer nada, e terminei o que estava a fazer. Depois, liguei para o Miguel Beleza. Sabe o que ele me disse? Com aquele seu estilo de humor quase britânico, respondeu-me: ‘É tempo de me privatizar.’ E eu fiz o mesmo.» A lembrança, que ainda hoje guarda como a mais triste, mais amarga e mais injusta da sua carreira profissional, remonta a Junho de 1994. Bagão Félix era vice-governador do Banco de Portugal, a que presidia Miguel Beleza. «Estava em Estrasburgo, numa reunião dos bancos europeus, e fui chamado ao telefone. Em 30 segundos, o ministro Catroga dispensou-me. Assim, sem mais nem menos! Eu voltei para a reunião, sem dizer nada, e terminei o que estava a fazer. Depois, liguei para o Miguel Beleza. Sabe o que ele me disse? Com aquele seu estilo de humor quase britânico, respondeu-me: ‘É tempo de me privatizar.’ E eu fiz o mesmo.» Mas não imediatamente. Durante quatro meses, ficou-se pela reflexão, leituras e apoio à família. Depois, aceitou entrar pela porta que já várias vezes lhe tinha sido aberta por Jardim Gonçalves. «Por acaso, nunca discuti ordenados com nenhuma das pessoas com quem fui trabalhar — até porque ocupei sempre funções tabeladas... Nem o fiz dessa vez. Limitei-me a dizer ao engenheiro Jardim Gonçalves que preferia trabalhar nos seguros, porque tinha estado na entidade que supervisiona a Banca e achava que sair daí para um banco era incompatível. Foi a única condição que impus à entrada de um emprego.» É claro que Bagão Félix não é um trabalhador comum. É claro também que, no momento em que procura implementar no país um novo conceito de trabalho, é só no lado dos trabalhadores que encontra resistências. Afinal, mexe-se com segurança e à-vontade no meio da alta finança e seguros — onde ganhou um estatuto de excelência como gestor e de onde pode assumir-se publicamente como um independente católico, de ideias à direita. O grupo do 7º ano do liceu, em Aveiro (de cócoras, à dir.) Isso fá-lo ter a forma de «ministro dos patrões»? É difícil dizer que não. Ele responde que exerce as suas funções, esteja onde estiver, com sentido de missão e com coerência. E, naturalmente, com a medida exacta de uma certa tensão — sobretudo quando, como agora, parece estar a jogar o tudo por tudo de um projecto de vida. É nesta mistura explosiva, afinal, que encontra energias para, durante os três ou quatro anos (não mais!) que permaneceu em cada emprego, conseguir nunca gerar rotinas. E ele odeia rotinas, como não se cansa de repetir. Isso fá-lo ter a forma de «ministro dos patrões»? É difícil dizer que não. Ele responde que exerce as suas funções, esteja onde estiver, com sentido de missão e com coerência. E, naturalmente, com a medida exacta de uma certa tensão — sobretudo quando, como agora, parece estar a jogar o tudo por tudo de um projecto de vida. É nesta mistura explosiva, afinal, que encontra energias para, durante os três ou quatro anos (não mais!) que permaneceu em cada emprego, conseguir nunca gerar rotinas. E ele odeia rotinas, como não se cansa de repetir. «Aprendi a odiá-las na tropa. Aliás, a tropa foi verdadeiramente o meu primeiro emprego.» Era o ano de 1970, e António acabara o curso de Finanças no ISCEF (agora ISEG). Depois dos três meses de recruta, foi integrado nos serviços financeiros do Ministério da Marinha. «Só tinha de conferir contas de caixa. Passei três anos a fazer isto.» Ganhava, por mês, 2200 escudos, no início. Quando passou a tenente, subiu para os 3800 escudos. «Era altamente monótono, claro. Mas foi com a rotina, com o convívio com a rotina, que aprendi a odiá-la», acrescenta, sem, no entanto, esquecer: «A tropa também me transmitiu a ideia da ordem, da disciplina, do sacrifício, que guardo até hoje e que são igualmente essenciais na nossa vida.» A ele e aos outros licenciados que ali cumpriam o serviço militar chamavam-lhes doutores e não lhes exigiam a farda. Mas eram eles que faziam a maior parte do trabalho. «Lá na repartição, havia militares e civis. Muitos deles não sabiam o que estavam a fazer, nem queriam saber. Foi lá, aliás, que fiz outra importante descoberta, a combater no meu futuro: é que tanto fazia trabalhar como não trabalhar, o ordenado era o mesmo», lembra, sorrindo. Tirou da tropa, pelos vistos, muitas lições. Mas acabou por não sentir na pele as consequências daquela que mais seria de esperar: a de uma visão autoritária e prepotente do trabalho. A ele e aos outros licenciados que ali cumpriam o serviço militar chamavam-lhes doutores e não lhes exigiam a farda. Mas eram eles que faziam a maior parte do trabalho. «Lá na repartição, havia militares e civis. Muitos deles não sabiam o que estavam a fazer, nem queriam saber. Foi lá, aliás, que fiz outra importante descoberta, a combater no meu futuro: é que tanto fazia trabalhar como não trabalhar, o ordenado era o mesmo», lembra, sorrindo. Tirou da tropa, pelos vistos, muitas lições. Mas acabou por não sentir na pele as consequências daquela que mais seria de esperar: a de uma visão autoritária e prepotente do trabalho. Mal acabou a tropa, recebeu outro convite. Dois amigos falaram no seu nome a Morais Leitão, então presidente da Mundial Confiança. «Ele entrevistou-me e gostou.» Contratou-o para chefe dos serviços financeiros, já com a promessa de, daí a um ano, subir a director. «Não me preparei para a entrevista, não senhor. Fui ter com ele de braços abertos e mãos livres. Para ver se havia empatia.» Houve. A tal ponto que foi também Morais Leitão quem iniciou Bagão Félix na política, uns anos mais tarde. A carreira profissional do jovem financeiro começa aqui. A seu cargo tinha uma centena de trabalhadores. E durante três ou quatro meses chegou a ter de partilhar o lugar e o gabinete com o anterior chefe, já com 70 anos e prestes a reformar-se. «Aprendi, durante este período, outro valor essencial: o da redistribuição geracional dos conhecimentos. Percebi como é fundamental para a vida das empresas esta conjugação, esta ventilação de experiência e conhecimentos.» A Marinha, que foi o seu primeiro emprego O jovem chefe de serviços, depois director, implementa, em dois anos, medidas inovadoras na organização do trabalho: «Métodos novos, gestão por objectivos, planeamento das funções, informatização.» Entre os seus cerca de cem funcionários, «havia de tudo, desde mangas-de-alpaca a gente nova — e devo dizer que foi uma experiência excelente». O lugar era, afinal, de responsabilidade. Por isso, aprendeu também aqui que a porta do seu gabinete tinha de manter-se sempre fechada. «Por uma questão de privacidade, de intimidade na reflexão e no processo de decisão, prefiro assim até hoje: porta fechada, mas coração aberto!» O jovem chefe de serviços, depois director, implementa, em dois anos, medidas inovadoras na organização do trabalho: «Métodos novos, gestão por objectivos, planeamento das funções, informatização.» Entre os seus cerca de cem funcionários, «havia de tudo, desde mangas-de-alpaca a gente nova — e devo dizer que foi uma experiência excelente». O lugar era, afinal, de responsabilidade. Por isso, aprendeu também aqui que a porta do seu gabinete tinha de manter-se sempre fechada. «Por uma questão de privacidade, de intimidade na reflexão e no processo de decisão, prefiro assim até hoje: porta fechada, mas coração aberto!» O pior foi quando, um ano depois da revolução, a companhia foi nacionalizada e a administração saneada. «Aí é que se deu o verdadeiro rebuliço lá dentro», recorda. Num plenário de trabalhadores, a 15 de Março de 1975, é nomeada uma comissão administrativa para dirigir a empresa. Bagão Félix é, com outro director, o único quadro superior a ser eleito pelos trabalhadores para integrar essa comissão. «É claro que recusei», afirma, provavelmente com a mesma certeza da época. Foi chamado ao sindicato para ouvir falar no dever para com a revolução e os trabalhadores. Mas preferiu dar explicações: «Primeiro, não concordei com o método. Depois, admirava profundamente Morais Leitão e não podia deixar de o apoiar naquele momento.» Depois disso, não terá sido chamado directamente de «traidor», mas passou a viver em grande tensão dentro da empresa. Ao seu serviço, alastrou também «o ambiente de indisciplina, de absentismo, de desrespeito pelas hierarquias» que diz ter sido o da época na companhia. «Lembro-me de algumas vezes ter ficado, com outro colega, pela noite fora a fazer trabalho de escriturário.» Carteira profissional de seguros A ideia de autoridade, que já lhe era cara, diluía-se cada vez mais depressa. Deixou de se usar gravata — moda a que chegou a ceder, embora apenas por um mês —, e toda a gente andava de barba demasiado espessa, o que também já contrariava toda a sua concepção de imagem no trabalho e o levou a rapar a sua própria barba. «Eu ia para casa cada vez mais desconfortável, a pensar: tenho de sair daqui!» A ideia de autoridade, que já lhe era cara, diluía-se cada vez mais depressa. Deixou de se usar gravata — moda a que chegou a ceder, embora apenas por um mês —, e toda a gente andava de barba demasiado espessa, o que também já contrariava toda a sua concepção de imagem no trabalho e o levou a rapar a sua própria barba. «Eu ia para casa cada vez mais desconfortável, a pensar: tenho de sair daqui!» Salvou-o Artur Santos Silva, então secretário de Estado do VI Governo Provisório, com um convite, em Janeiro de 1976, para a administração da COSEC, uma empresa de seguros de créditos. «Foi um magnífico laboratório. Do bom e do mau», afirma, resumindo a experiência. A pequena dimensão da empresa era favorável à introdução de novos métodos de gestão: a COSEC foi, por exemplo, a primeira companhia a ter um orçamento, no sentido moderno do termo. Mas a gestão era ainda demasiado politizada e, por isso, muito difícil de esgrimir. Os tempos favoreciam os processos de intenções e as sucessivas tentativas de contar espingardas entre os trabalhadores para cada um dos três elementos da administração. Entre traições e promessas com segundos sentidos, o jovem administrador fez outra descoberta: «A importância do carácter no trabalho.» Levou, mesmo assim, a sua tarefa em frente. Ao ponto de ter sido o único, dos três membros do conselho, a ver o seu mandato renovado ao fim de três anos. Na equipa de futebol da Comissão de Trabalhadores da Cosec (é o primeiro em pé, do lado direito) A COSEC, apesar de tudo, abriu-lhe a porta a novas experiências no mundo do trabalho. Pela primeira vez — e desde sempre, a partir daí — assumiu, como administrador, o pelouro dos Recursos Humanos. Os tempos eram propícios às reivindicações laborais e, por isso, Bagão passava dias seguidos em reuniões contínuas com as comissões de trabalhadores. «É verdade que eu não escondia o meu conceito de disciplina, de rigor, de autoridade, demasiado conservador para a época. Mas, mesmo assim, conseguimos introduzir coisas completamente inovadoras, que foram muito discutidas mas que, talvez por isso, acabaram por ser bem aceites.» Uma delas foi o horário flexível — com entrada até às 10h30 da manhã, havendo depois uma compensação no fim do dia. «Para isso, tivemos de instalar uns relógios de ponto altamente modernos», recorda, acrescentando: «E, claro, houve resistências à mudança: os relógios avariaram duas vezes, porque alguém meteu açúcar lá dentro!» Noutra ocasião, teve de delegar pontualmente as competências para entrevistar candidatos a lugares na COSEC, porque as entrevistas estavam marcadas para a hora exacta em que a sua mulher começou a dar à luz. «A Comissão de Trabalhadores fez um comunicado violento contra mim, acusando-me de não respeitar os trabalhadores por ter passado a tal tarefa para alguém com uma categoria inferior. Foi um bocadinho injusto, não acham?» A COSEC, apesar de tudo, abriu-lhe a porta a novas experiências no mundo do trabalho. Pela primeira vez — e desde sempre, a partir daí — assumiu, como administrador, o pelouro dos Recursos Humanos. Os tempos eram propícios às reivindicações laborais e, por isso, Bagão passava dias seguidos em reuniões contínuas com as comissões de trabalhadores. «É verdade que eu não escondia o meu conceito de disciplina, de rigor, de autoridade, demasiado conservador para a época. Mas, mesmo assim, conseguimos introduzir coisas completamente inovadoras, que foram muito discutidas mas que, talvez por isso, acabaram por ser bem aceites.» Uma delas foi o horário flexível — com entrada até às 10h30 da manhã, havendo depois uma compensação no fim do dia. «Para isso, tivemos de instalar uns relógios de ponto altamente modernos», recorda, acrescentando: «E, claro, houve resistências à mudança: os relógios avariaram duas vezes, porque alguém meteu açúcar lá dentro!» Noutra ocasião, teve de delegar pontualmente as competências para entrevistar candidatos a lugares na COSEC, porque as entrevistas estavam marcadas para a hora exacta em que a sua mulher começou a dar à luz. «A Comissão de Trabalhadores fez um comunicado violento contra mim, acusando-me de não respeitar os trabalhadores por ter passado a tal tarefa para alguém com uma categoria inferior. Foi um bocadinho injusto, não acham?» O «bom ambiente» que diz ter conseguido manter com a Comissão de Trabalhadores não o exemplifica apenas com o resultado das negociações para a introdução de mudanças. «Naquela altura, eu ainda podia mexer-me bem. E jogava futebol com o pessoal da Comissão de Trabalhadores. Um deles era do PC mais ortodoxo! E eu era extremo-direito... Mas por causa do pé, não das convicções ideológicas», acrescenta, rapidamente, no meio de uma gargalhada. Enquanto secretário de Estado da Segurança Social Quando o seu ciclo laboral começa a atingir o limite, quase quatro anos depois de ter entrado na COSEC, recebe novo convite, desta vez para o Instituto de Seguros de Portugal. Mas não chegou a aquecer o lugar, porque, logo a seguir, Morais Leitão chama-o para secretário de Estado da Segurança Social. Ficou no cargo até 1983, quando novamente Morais Leitão o convida para integrar as listas de deputados do CDS, acabando por ser eleito para um mandato que só dura dois anos. «Foi um alívio quando esses dois anos acabaram. Deve ter sido a minha pior experiência, essa de ser deputado.» Quando o seu ciclo laboral começa a atingir o limite, quase quatro anos depois de ter entrado na COSEC, recebe novo convite, desta vez para o Instituto de Seguros de Portugal. Mas não chegou a aquecer o lugar, porque, logo a seguir, Morais Leitão chama-o para secretário de Estado da Segurança Social. Ficou no cargo até 1983, quando novamente Morais Leitão o convida para integrar as listas de deputados do CDS, acabando por ser eleito para um mandato que só dura dois anos. «Foi um alívio quando esses dois anos acabaram. Deve ter sido a minha pior experiência, essa de ser deputado.» Esteve cinco anos fora da vida das empresas e só volta a elas por causa do desânimo que o exercício da política lhe provoca. Mas regressa igualmente para algo que lhe dá pouca vida: a proposta de Santos Silva para ajudar a montar um novo banco, o BCI. «Foi uma experiência demasiado técnica. A Banca é um sector muito árido. É por isso que prefiro os seguros: têm uma perspectiva mais social, mais próxima das pessoas.» É claro que dois anos depois estava a dizer «sim» a Cavaco Silva e a integrar o primeiro Governo maioritário do PSD. «Aceitei (o lugar de secretário de Estado do Emprego) justamente porque não estava muito satisfeito no banco. Mas fiquei apenas os primeiros quatro anos. No último ano, confesso que já me arrastava.» Secretário de Estado do Emprego (1987) Ao aceitar o convite para trabalhar no banco, não só escolheu uma nova opção de trabalho como cortou com as suas raízes profissionais. «Durante estes anos todos, eu tinha tido a muleta da Mundial, ou seja, nunca perdi o emprego, porque estava sempre em situação de requisição. O convite de Santos Silva fez-me rescindir definitivamente com a seguradora.» Ao aceitar o convite para trabalhar no banco, não só escolheu uma nova opção de trabalho como cortou com as suas raízes profissionais. «Durante estes anos todos, eu tinha tido a muleta da Mundial, ou seja, nunca perdi o emprego, porque estava sempre em situação de requisição. O convite de Santos Silva fez-me rescindir definitivamente com a seguradora.» O corte com a sua área de trabalho preferida manteve-se durante alguns anos. Depois de cumprida a legislatura, Cavaco convida-o para o Banco de Portugal, primeiro para administrador, depois para vice-governador. E é na sequência do único despedimento que tem de enfrentar — o seu — que Bagão Félix regressa aos seguros, no Grupo BCP, onde se manterá até Jardim Gonçalves o chamar para consultor, em Outubro de 2001. «Foi um sinal de que ele conhece bem os seus empregados. Eu já estava a criar rotinas no lugar onde trabalhava. Ele percebeu isso e chamou-me para outra função», comenta. O Banco de Portugal foi, como relata, o lugar de muitas experiências novas. Assumiu outra vez o pelouro dos Recursos Humanos, responsabilidade de que ninguém gostava, e durante dois anos voltou a partilhar o seu dia-a-dia com os dos outros funcionários. «Consegui ter uma óptima relação com os sindicatos e a Comissão de Trabalhadores. Aliás, quando de lá saí, a primeira homenagem que recebi foi precisamente dos representantes dos trabalhadores.» E continua: «Tínhamos as nossas divergências, mas discutíamos sempre muito, e abertamente. É esse o meu método de trabalho. E tenho tido resultados excelentes com ele. Mesmo as melhores medidas, quando são impostas, transformam-se facilmente em más medidas», justifica. No seu gabinete de vice-governador do Banco de Portugal (1992) No Banco de Portugal, Bagão Félix foi responsável pela introdução de uma política salarial que premiava o mérito. Foi a primeira experiência do género em entidades públicas daquela dimensão. Liderou também o processo de «downsizing» no banco, quando foi preciso provocar uma redução do pessoal de 2500 para 1700 funcionários. «Conseguimos tudo isto em clima de total paz social, sem notícias nos jornais nem queixas aos sindicatos», acrescenta. Várias centenas de trabalhadores rescindiram os contratos ou aceitaram a pré-reforma e a reforma. E Bagão Félix lembra ainda: «Se eu tivesse de eleger um momento, uma experiência que correu bem na minha vida profissional, escolhia esta, sem qualquer dúvida.» No Banco de Portugal, Bagão Félix foi responsável pela introdução de uma política salarial que premiava o mérito. Foi a primeira experiência do género em entidades públicas daquela dimensão. Liderou também o processo de «downsizing» no banco, quando foi preciso provocar uma redução do pessoal de 2500 para 1700 funcionários. «Conseguimos tudo isto em clima de total paz social, sem notícias nos jornais nem queixas aos sindicatos», acrescenta. Várias centenas de trabalhadores rescindiram os contratos ou aceitaram a pré-reforma e a reforma. E Bagão Félix lembra ainda: «Se eu tivesse de eleger um momento, uma experiência que correu bem na minha vida profissional, escolhia esta, sem qualquer dúvida.» Uns meses depois de estar no Grupo BCP foi para a administração da Bonança, onde viveu experiências semelhantes. De novo com o pelouro dos Recursos Humanos, Bagão Félix volta a definir uma política de pessoal e salarial baseada em princípios como o do mérito. E é outra vez confrontado com a necessidade de liderar um processo de redução de quadros. «Foi preciso saírem entre 400 a 500 trabalhadores, mas em simultâneo deu-se a entrada de 150 jovens licenciados.» E o momento é lembrado pelo ex-administrador como um dos mais... divertidos? «Eu fiz questão de liderar todas as entrevistas. E foi tão engraçado, tão curioso passar por aquilo», recorda, no seu estilo de falar rápido e rir ao mesmo tempo. Na equipa de futebol dos trabalhadores do Banco de Portugal (é o primeiro de cócoras, à direita, equipado à Benfica), em 1994 Um dos jovens que entrevistou trazia o jornal «A Bola» debaixo do braço, com um grande título sobre o Benfica: «Acho que era para me agradar.» Outro entrou na sala com o casaco dobrado sobre o braço: «Eu só lhe disse: então eu vesti o casaco para o receber e o senhor entra aqui com ele assim? Depois sentámo-nos, e eu estive a dar-lhe alguns conselhos.» Com outros, o administrador punha a correr a ampulheta — um dos seus objectos-fetiche, que colecciona há mais de 30 anos: «Era importante perceber como reagem em momentos de pressão.» E a outros, ainda, perguntava: «Por que ordem coloca estas pessoas: a inteligente, a activa, a burra e a inactiva?» Invariavelmente, os jovens candidatos respondiam dizendo que em último lugar deviam ficar os burros pouco activos, como parece óbvio. «Mas não! Eu explicava-lhes que um burro activo é que é perigoso!» E eles, claro, percebiam imediatamente que a vaga não lhes ia cair no colo. Um dos jovens que entrevistou trazia o jornal «A Bola» debaixo do braço, com um grande título sobre o Benfica: «Acho que era para me agradar.» Outro entrou na sala com o casaco dobrado sobre o braço: «Eu só lhe disse: então eu vesti o casaco para o receber e o senhor entra aqui com ele assim? Depois sentámo-nos, e eu estive a dar-lhe alguns conselhos.» Com outros, o administrador punha a correr a ampulheta — um dos seus objectos-fetiche, que colecciona há mais de 30 anos: «Era importante perceber como reagem em momentos de pressão.» E a outros, ainda, perguntava: «Por que ordem coloca estas pessoas: a inteligente, a activa, a burra e a inactiva?» Invariavelmente, os jovens candidatos respondiam dizendo que em último lugar deviam ficar os burros pouco activos, como parece óbvio. «Mas não! Eu explicava-lhes que um burro activo é que é perigoso!» E eles, claro, percebiam imediatamente que a vaga não lhes ia cair no colo. O Grupo BCP foi também o lugar para outros balões de ensaio na vida do futuro ministro do Trabalho. Um deles foi a «cedência ocasional de funções», uma espécie de flexibilidade laboral em que os trabalhadores das várias empresas do grupo eram «trocados» em função de motivos vários, desde a necessidade dos serviços à capacidade dos seus funcionários. «Correu bem», reconhece, pausadamente. «Pudemos aproveitar pessoas que estavam a sentir-se mal nos lugares onde trabalhavam e que acabaram por dar-se melhor nos novos postos. Mas também houve situações difíceis. Eu próprio, no grupo, passei por essa experiência, ao ser administrador da Império, da Bonança, depois da Médis. É um pouco como ir para onde se é útil e necessário», acrescenta. É claro que todos estes passos são hoje lembrados por Bagão Félix de forma muito especial, sobretudo quando precisa de justificar as suas opções políticas. Mas elas também se fundamentam, acrescenta, em episódios aparentemente menos importantes. Como o de, ao fim de dois anos no Banco de Portugal, já conhecer todos os funcionários pelo nome; o de ter recrutado, para a COSEC, uma secretária, entre várias candidatas, que estava grávida de cinco meses; ou o de continuar a receber telefonemas de elementos das comissões de trabalhadores das empresas por onde passou só para conversar. «O trabalho é um espaço de afecto. Se não se sentir isso, ele transforma-se numa angústia. O afecto é uma espécie de propulsor do trabalho. É por isso que, para mim, é importante saber o nome de toda a gente, conhecer os seus problemas, cumprimentar todos. Como inferior hierárquico, eu também preciso desse acervo de simpatia. Gostei, por exemplo, de ouvir as palavras de apoio do primeiro-ministro, noutro dia. Se eu preciso disso, porque não hei-de dá-lo também a quem trabalha comigo?» Durante uma assembleia geral do clube do seu coração Os sindicalistas, que serão neste momento quem mais se prepara para lhe fazer frente, são capazes de reconhecer a qualidade. «Ele é um homem persistente e determinado na defesa das suas ideias. Mas aberto à discussão e franco no processo negocial», diz Luís Parreira, funcionário da Bonança e dirigente do sindicato dos trabalhadores dos seguros. «Mesmo quando não se concorda em nada com as suas posições», acrescenta. No mesmo tom fala Jacinto Cruz, coordenador da estrutura sindical do Banco de Portugal: «O nosso papel é ficarmos sempre insatisfeitos. Mas a imagem que dele guardamos aqui é uma imagem positiva, de alguém que foi capaz de reconhecer as nossas razões e, ao mesmo tempo, levar a água ao seu moinho.» Os sindicalistas, que serão neste momento quem mais se prepara para lhe fazer frente, são capazes de reconhecer a qualidade. «Ele é um homem persistente e determinado na defesa das suas ideias. Mas aberto à discussão e franco no processo negocial», diz Luís Parreira, funcionário da Bonança e dirigente do sindicato dos trabalhadores dos seguros. «Mesmo quando não se concorda em nada com as suas posições», acrescenta. No mesmo tom fala Jacinto Cruz, coordenador da estrutura sindical do Banco de Portugal: «O nosso papel é ficarmos sempre insatisfeitos. Mas a imagem que dele guardamos aqui é uma imagem positiva, de alguém que foi capaz de reconhecer as nossas razões e, ao mesmo tempo, levar a água ao seu moinho.» Desde que se instalou no gabinete do 16º andar da Praça de Londres, Bagão Félix tem respondido diariamente às cartas que lhe escrevem, por escrito e por respeito. É que a política distancia o decisor do mundo real. E o ministro não quer perder, nem por um minuto, aquilo que as pessoas têm para lhe dar. 30

COMENTÁRIOS

8 comentários 1 a 8

4 de Agosto de 2002 às 17:27

ramos18 ( jrcontreiras@netcabo.pt )

Achei muito interessante o "curriculum vitae" do Ministro Bragão felix.

Efectivamente,a experiência no trabalho é muito importante para se ser político e principalmnete

ministro.

É na vida prática que se aprende muito e sobretudo a compreender as pessoas.

Espero que ele,como ministro,aplique bem a sua experiência vivida nas empresas por onde passou.

4 de Agosto de 2002 às 03:33

soafil ( hellraiser@netcabo.pt )

E ainda há quem pague por este jornal........

3 de Agosto de 2002 às 22:47

euroluso ( O HOMEN QUE NÂO GOSTA DOS EMIGRANTES, OS QUIAS COM AS SUAS DEVISAS SALVARAM O PAIS DA BANCA ROTTA VARIAS VEZES. E AGORA PREPARA-SE PARA LHES TIRAR DIREITOS. QUAL É O PAIS QUE NÂO PROTEGE AS SUAS MULTINACIONAIS QUE SÂO OS EMIGRANTES PORTUGUSES QUE SÂO MAIS PATRIOTAS QUE QUALQUER OUTRO TUGA. )

P.S. NÂO MEXA NOS DIREITOS DOS EMIGRANTES.

E COPIE A SUIÇA EM TUDO E VERA QUE LEVA O MUNDO LUSO AO SOCESSO.

3 de Agosto de 2002 às 17:56

Vsantos ( contracorrente@netcabo.pt )

O Expresso é useiro e vezeiro a fazer propaganda de ministros e outras "aves de alto poleiro""

Desta vez, foi o beato B.Félix o eleito. Veja-se o editorial a completar o quadro. O que diz Diogo Sotto Mai é suficiente.Os trabalhadores agradecidos cantarão ladaínhas em honra do beato Félix. Amém!

3 de Agosto de 2002 às 12:35

B. Wäss Füdder ( wass_fudder@hotmail.com )

Este trabalho de Graça Rosendo é um frete que, se publicado na década de 30 do século anterior, poderia ter a assinatura de Goebbels, pois é propaganda pura.

Claro que leitores haverá que gostarão de ser enganados por estes panegíricos de alguns "jornalistas". Mas a verdade é que "isto" é um exemplo da propaganda a substituir o jornalismo.

3 de Agosto de 2002 às 11:17

Diogo Sotto Mai ( op3706@mail.telepac.pt )

Bagão Félix tem o grande Capital atrás de si. Por isso, a força do dinheiro está a criar uma imagem do homem bom, ou normal.

Mas, na verdade, está a fazer o verdadeiro anti-25 de Abril em matéria social e do trabalho. Está mesmo a criar um novo "Estatuto do trabalho Nacional" dos anos salazarentos, num favorecimento descarado dos interesses patronais.

Logo o título é falso e panegírico: "Nunca despedediu ninguèm", mas "liderou o processo de downsizing do Banco de Portugal que levou de 2500 para 1700 funcionários". Não despediu, apenas correu com 800 trabalhadores do BP e sei que foram quase todos corridos por serem socialistas e comunistas ou fundamentalmente favoráveis ao 25 de Abril, Conheço muitos, o processo foi pacífico porque foram para casa montantes da ordem ods 90% daquilo que ganhavam e muitos tinham apenas quarenta anos de idade. E foram muito contentes.

Estão há anos a receber as tais reformas que poderão receber até aos 80 e mais anos de idade, o que custa ao erário público uns 7 a 8 milhões de contos anuais, sim porque o Banco de Portugal é do Estado, logo dos contribuintes.

Bagão desspediu sem poupar um tostão porque as pessoas passaram a recevber de outra conta, mas dos contribuintes na mesma. Depois disso, o BP voltou a meter muita gente nova, principalmente do PSD e do CDS. Seria muito bonito, se o País fosse rico, mas não é e na altura era muito menos que actualmente.

O artigo do Expresso quer apresentar Bagão como um homem bom, afável, interessado em questões do trabalho. Bagão é um conservador de direita, fiel e dedicado a um capitalismo arcaico que quer salvar da crise com os descontos dos trabalhadores.

Esse é o maior CRIME de Bagão. Reduzir receitas do Estado para financiar fundos privadaos que estão em COLAPSO TOTAL, em DESCAPITALIZAÇLÂO ABSOLUTA e que ninguém coloca um céntimo neles.

Assim, Bagão criou à pressa uma legislação para que À FORÇA, as empresas seguradoras e os bancos com os seus Fundos de Reforma passem a receber determinadas verbas anuais que só daqui a 30 anos terão de ser pagas aos eventuais beneficiários. Bagão hoje sabe que essas verbas vão ser DESCAPITALIZDAS, mas não se importa, ele quer salvar o seu patrão Jardim Gonçalves da falência.

É escandoloso quando sabemos hoje que não há CAPITALIZAÇÃO BOLSISTA. Há momento de euforia especulativa a que se seguem quebras enormes para depois voltar a nova euforia, mas o detentor dos fundos nunca fica a ganhar, apenas os grandes banqueiros e gestores que comandam os processos é que ganham sempre. Por issso, o desvio dos descontos dos trabalhadores das classes médias é ROUBO e tenho perguntado a muita gente bem colocada na vida se acha isso bem e todos estão de acordo que não tem sentido e não vão aceitar esse desvio.

Claro, as pessoas são livres de descontar para o estado ou para privados, mas há maneiras de enganar as pessoas e basta que circule com mais intensidade a recente declaração do Tribunal de Contas de que as reformas não estão a ser pagas e que há um grande intervalo de tempo muito grande para as pagar e que a Segurança Social dirigida por Bagão está a dizer que não encontra os descontos feitos há muitos anos e, com isso, pretende em média ROUBAR 10 a 20% das reformas, etc..

Não interessa se o Homem esteve na Marinha ou trabalhou nos Seguros e foi "afilhado" fiel do Morais Leitão primeiro e do Jardim Gonçalves depois. O que interessa é que está também a fazer uma Lei do Trabalho do Chicote. E vem mentir com a flexibilização dos horários na Alemanha, por exemplo.

Aí, a flexibilização foi negociada pela VW, por exemplo, mas na BASE DE UM SALÁRIO MÍNIMO DE 5 MIL MARCOS. O horário pode ser reduzido, mas o salário nunca desce abaixo dos 500 contos mensais.

Bagão quer uma flexibilização sem mínimo salarial. Uma empresa pode reduzir o tempo de trabalho a um ou dois dias semanais e o trabalhador pode ir para casa com um salário inferior ao RMG. Agora é que compreendo a razão porque Paulo Portas e o CDS eram contra o RMG e diziam que era um convite à preguiça. Porque querem que as empresas cheguem a pagar menos que isso. UMA VERGONHA.

Nunce despediu ninguém diz o título, mas a nova Lei do trabalho é um verdadeiro Código do despedimento e do Trabalho Precário por toda a vida. Isto no País que paga os salários mais baixos da Europa, quase um terço da média europeia. UMA VERGONHA.

Quando governava o eng. Guterreses, o prof. Frasquilho e outros economistas do PSD insurgiram-se contra o factro de os salários portugueses serem os mais baixos da Europa e agora querem que sejam ainda mais baixos pela via da eventual redução do tempo de trabalho nocturno em que se deveria pagar a dobrar, etc. UMA VERGONHA.

Além disso, Bagão quer impôr um regime quase esclavagista de 60 horas de trabalho semanais exigíveis se a empresa quiser.

Nas Lei de Bagão, NADA HÁ que favoreça os trabalhadores, os verdadeiros, aqueles que trabalham e descontam. Apenas uns pós que já estavam previstas para as reformas mínimas que são geralmente de pessoas que não trabalharam e fizeram uns descontos no fim da vida, ou trabalharam e não descontaram, não se solidarizaram com os mais idosos do seu tempo.

Bagão alinha com os que dizem que a produtividade do trabalho é baixa.

Fazem a conta estúpida de produção por trabalhador sem entrar em conta com o custo do trabalhador e o capital fixo envolvido na produção.

Como homem de empresa, Bagão deveria saber que as empresas fazem contas de custos. E não se introduzem robots ou equipamentos automatizados qye custam milhões se os salários não forem suficientemente altos para o justificar.

Mesmo assim, a verdadeira produtividade do trabalhador português é mais do dobro da europeia.

Os portugues ganham cerca de 25% da média salarial europeia e geram um produto igual a 76% da média europeia. Logo, a produtividade financeira do trabalho português é quase 300% superior à europeia.

Mesmo a nível de Estado. O Estudo Pisa revela que os nove anos de escolaridade em Portugal custam em euros reais menos de um terço da média europeia. Na Alemanha, cada acto médico praticado nos hospitais públicos custa quase quatro vezes mais em euros que em Portugal, logo os médicos e enfermeiros portuguese têm uma produtividade real 400% superior à alemã.

O Dr. Bagão não está de acordo. Queria comprar Mercedes 300 pelo preço de um VW Lupo. Como não pode, acha que a produtividade do Lupo é muito baixa.

3 de Agosto de 2002 às 10:49

paulao ( paucar@sapo.pt )

Tem que se ter sempre um padrinho, não é? Neste caso houve dois: Morais Leitão e o Jesus Cristo........FARISEU

3 de Agosto de 2002 às 10:48

paulao ( paucar@sapo.pt )

Tem que se ter sempre um padrinhbo, não é? Neste caso houve dois: Morais Leitão e o Jesus Cristo........FARISEU

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