Catalina Pestana "abonou um testemunho falso"

17-10-2003
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Catalina Pestana "Abonou Um Testemunho Falso"

Por A.G./J.P.H

Quarta-feira, 15 de Outubro de 2003 P. - É preciso investigar até os crimes prescritos, propôs no dia em que foi libertado. Isso não é alterar as regras do jogo? R. - Não é investigar no sentido judicial. Sinto, pelo modo como fui caluniosamente envolvido, que está hoje instalado na sociedade portuguesa um clima de desconfiança generalizada. E isso é extremamente corrosivo para o sistema democrático. P. - E por isso propõe: vamos investigar até ao fundo. Onde é que isso pára? R. - Eu tenho um horizonte temporal: o sistema democrático. A exemplo do que se passou com acontecimentos traumáticos em países que viveram mudanças profundas como foram a guerra suja e o processo dos desaparecidos na Argentina e o apartheid na África do Sul, proponho que assumamos que o país seja confrontado com o que aconteceu naquela instituição. P. - Essa comissão destina-se a apurar os responsáveis em concreto da abusos ou os responsáveis institucionais? R. - Para que o processo não continue a corroer as instituições, é preciso sabermos quem foi quem e o que aconteceu. O país não pode pôr uma pedra tumular sobre o que terá acontecido e ficar com uma desconfiança. Muito menos quando vejo responsáveis [Catalina Pestana, provedora da Casa Pia ao semanário Expresso a 4/10] a dizer que quando se souber tudo vai haver um terramoto de grau 7 na escala de Richter. O clima de rumores em que vivemos hoje - eu vivo-o - transforma a vítima da mentira em algoz. P. - Há quem interprete a sua proposta como tentativa de politizar ainda mais o processo na esperança de arrastar gente de outros partidos. R. - Eu não conheço o processo, não faço ideia de quem se está a falar. Agora eu que tenho 38 anos, tenho direito ao bom nome e quero viver num Portugal com instituições democráticas fortes nos próximos 30 anos. Isto não é um jogo entre jovens, adultos bons e adultos maus. É um processo em que há vítimas, vítimas crianças abusadas, mas também vítimas suspeitos inocentes, vítimas famílias desses suspeitos inocentes. É um processo em que há muito ferimento de todas as partes. Havendo esse sofrimento de todas as partes, nada menos de que toda a verdade. Se, por hipótese absurda, as mentiras que foram ditas sobre mim fossem sobre um período abrangido pela prescrição, eu ficava sem direito de defesa? Ficava toda a vida sem direito a que se apurasse a verdade? O país não pode contentar-se com a insinuação. Surpreendeu-me muito o silêncio que se seguiu àquela frase da provedora, diria um silêncio de lamaçal. Não o aceito. Das duas, uma: ou quem a disse não mede as palavras e não sabe do que está a falar, sendo por isso o argumento desqualificado; ou quem a disse sabe do que está falar e, sendo assim, é inadmissível o país ficar-se apenas pelo conhecimento de insinuações. P. - Portanto Catalina Pestana deve provar o que disse ou explicar porque o disse? R. - Isso é evidente! P. - Isso evidencia uma contradição: o PS falar em "urdidura", maquinação, montagem de provas, etc, mas não apresenta provas, não dá a mínima pista; contudo já as exige à provedora. R. - Há uma diferença: eu e a direcção do PS partilhamos a convicção de que essa concentração de testemunhos não é o resultado de um bater de asas no Japão. E tomámos medidas: pedimos uma investigação às testemunhas. Mas quatro meses e meio depois eu não tenho a indicação de haver uma investigação a sequer o que possa estar por detrás desses testemunhos. As primeiras vítimas deste processo são, claro, as crianças abusadas. Mas as segundas, são as famílias de pessoas falsamente acusadas e a minha em particular, porque não têm culpa de eu ser figura pública. Tudo me foi mais fácil porque recebi os sinais de força anímica de todos os lados que me eram relevantes. Também compreendo que os que não me conhecem tenham dúvidas. Se eu próprio fui vulnerável à dúvida sobre arguidos que não conhecia porque é que hei-de reivindicar para mim o contrário? O que me dói é que haja pessoas que afirmem publicamente uma relação de amizade comigo para instrumentalizar essa afirmação pública em favor de uma posição neste processo. P. - Refere-se a quem? R. - A drª Catalina Pestana protestou muitas vezes a sua amizade por mim no contexto de credibilização das falsidades que sobre mim disseram. P. - Ela não pode deixar de defender em primeiro lugar as crianças e não pode adiantar-se em relação à sua inocência. R. - Aqui não há o lado das crianças boas e dos adultos maus. Há o lugar das vítimas, em primeiro das crianças vítimas; há o lugar dos culpados; e há o lugar dos inocentemente acusados. Não é de excluir que nem todas as crianças sejam vítimas e que não haja um contexto que acabe por funcionar como "pogrom" neste caso. O problema aqui não é saber se se está do lado das crianças; é saber se se está do lado da justiça e da liberdade. P. - Houve uma tendência do seu lado para apresentar o acórdão da Relação como se ele fosse uma declaração de inocência, e não foi o caso. R. - O que veio no PÚBLICO [ver edição de 9/10] foi que a drª Catalina abonava a veracidade do depoimento de uma testemunha que mentiu. Não se pode dizer que se mantém uma amizade quando se abona um testemunho falso sobre um facto verificável. Eu tenho a plena consciência de que continuo arguido. Eu estou no início do caminho e não no fim. O que acontece é que, quatro meses e meio depois, vi finalmente uma coisa reconhecida por um tribunal superior. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Processo Casa Pia: Direcção do PS trava explicações de Paulo Pedroso ao Parlamento

Adelino Granja mantém-se como patrono de 'Joel'

"Se tivesse garantias de defesa isto já tinha acabado"

"Se fosse ministro demitia-me"

"Está a ser feita alguma ocultação de provas?"

Catalina Pestana "abonou um testemunho falso"

"Investiguem as testemunhas"

EDITORIAL

O julgamento quase inútil

Catalina Pestana "Abonou Um Testemunho Falso"

Por A.G./J.P.H

Quarta-feira, 15 de Outubro de 2003 P. - É preciso investigar até os crimes prescritos, propôs no dia em que foi libertado. Isso não é alterar as regras do jogo? R. - Não é investigar no sentido judicial. Sinto, pelo modo como fui caluniosamente envolvido, que está hoje instalado na sociedade portuguesa um clima de desconfiança generalizada. E isso é extremamente corrosivo para o sistema democrático. P. - E por isso propõe: vamos investigar até ao fundo. Onde é que isso pára? R. - Eu tenho um horizonte temporal: o sistema democrático. A exemplo do que se passou com acontecimentos traumáticos em países que viveram mudanças profundas como foram a guerra suja e o processo dos desaparecidos na Argentina e o apartheid na África do Sul, proponho que assumamos que o país seja confrontado com o que aconteceu naquela instituição. P. - Essa comissão destina-se a apurar os responsáveis em concreto da abusos ou os responsáveis institucionais? R. - Para que o processo não continue a corroer as instituições, é preciso sabermos quem foi quem e o que aconteceu. O país não pode pôr uma pedra tumular sobre o que terá acontecido e ficar com uma desconfiança. Muito menos quando vejo responsáveis [Catalina Pestana, provedora da Casa Pia ao semanário Expresso a 4/10] a dizer que quando se souber tudo vai haver um terramoto de grau 7 na escala de Richter. O clima de rumores em que vivemos hoje - eu vivo-o - transforma a vítima da mentira em algoz. P. - Há quem interprete a sua proposta como tentativa de politizar ainda mais o processo na esperança de arrastar gente de outros partidos. R. - Eu não conheço o processo, não faço ideia de quem se está a falar. Agora eu que tenho 38 anos, tenho direito ao bom nome e quero viver num Portugal com instituições democráticas fortes nos próximos 30 anos. Isto não é um jogo entre jovens, adultos bons e adultos maus. É um processo em que há vítimas, vítimas crianças abusadas, mas também vítimas suspeitos inocentes, vítimas famílias desses suspeitos inocentes. É um processo em que há muito ferimento de todas as partes. Havendo esse sofrimento de todas as partes, nada menos de que toda a verdade. Se, por hipótese absurda, as mentiras que foram ditas sobre mim fossem sobre um período abrangido pela prescrição, eu ficava sem direito de defesa? Ficava toda a vida sem direito a que se apurasse a verdade? O país não pode contentar-se com a insinuação. Surpreendeu-me muito o silêncio que se seguiu àquela frase da provedora, diria um silêncio de lamaçal. Não o aceito. Das duas, uma: ou quem a disse não mede as palavras e não sabe do que está a falar, sendo por isso o argumento desqualificado; ou quem a disse sabe do que está falar e, sendo assim, é inadmissível o país ficar-se apenas pelo conhecimento de insinuações. P. - Portanto Catalina Pestana deve provar o que disse ou explicar porque o disse? R. - Isso é evidente! P. - Isso evidencia uma contradição: o PS falar em "urdidura", maquinação, montagem de provas, etc, mas não apresenta provas, não dá a mínima pista; contudo já as exige à provedora. R. - Há uma diferença: eu e a direcção do PS partilhamos a convicção de que essa concentração de testemunhos não é o resultado de um bater de asas no Japão. E tomámos medidas: pedimos uma investigação às testemunhas. Mas quatro meses e meio depois eu não tenho a indicação de haver uma investigação a sequer o que possa estar por detrás desses testemunhos. As primeiras vítimas deste processo são, claro, as crianças abusadas. Mas as segundas, são as famílias de pessoas falsamente acusadas e a minha em particular, porque não têm culpa de eu ser figura pública. Tudo me foi mais fácil porque recebi os sinais de força anímica de todos os lados que me eram relevantes. Também compreendo que os que não me conhecem tenham dúvidas. Se eu próprio fui vulnerável à dúvida sobre arguidos que não conhecia porque é que hei-de reivindicar para mim o contrário? O que me dói é que haja pessoas que afirmem publicamente uma relação de amizade comigo para instrumentalizar essa afirmação pública em favor de uma posição neste processo. P. - Refere-se a quem? R. - A drª Catalina Pestana protestou muitas vezes a sua amizade por mim no contexto de credibilização das falsidades que sobre mim disseram. P. - Ela não pode deixar de defender em primeiro lugar as crianças e não pode adiantar-se em relação à sua inocência. R. - Aqui não há o lado das crianças boas e dos adultos maus. Há o lugar das vítimas, em primeiro das crianças vítimas; há o lugar dos culpados; e há o lugar dos inocentemente acusados. Não é de excluir que nem todas as crianças sejam vítimas e que não haja um contexto que acabe por funcionar como "pogrom" neste caso. O problema aqui não é saber se se está do lado das crianças; é saber se se está do lado da justiça e da liberdade. P. - Houve uma tendência do seu lado para apresentar o acórdão da Relação como se ele fosse uma declaração de inocência, e não foi o caso. R. - O que veio no PÚBLICO [ver edição de 9/10] foi que a drª Catalina abonava a veracidade do depoimento de uma testemunha que mentiu. Não se pode dizer que se mantém uma amizade quando se abona um testemunho falso sobre um facto verificável. Eu tenho a plena consciência de que continuo arguido. Eu estou no início do caminho e não no fim. O que acontece é que, quatro meses e meio depois, vi finalmente uma coisa reconhecida por um tribunal superior. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Processo Casa Pia: Direcção do PS trava explicações de Paulo Pedroso ao Parlamento

Adelino Granja mantém-se como patrono de 'Joel'

"Se tivesse garantias de defesa isto já tinha acabado"

"Se fosse ministro demitia-me"

"Está a ser feita alguma ocultação de provas?"

Catalina Pestana "abonou um testemunho falso"

"Investiguem as testemunhas"

EDITORIAL

O julgamento quase inútil

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