"Sentimo-nos enganados pelo último Governo"

09-08-2002
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Jurgen Hotz, do grupo distribuidor alemão Tengelmann, em entrevista ao PÚBLICO

"Sentimo-nos Enganados pelo Último Governo"

Por CARLOS ROMERO

Segunda-feira, 22 de Julho de 2002

A cadeia de "discount" germânica não abre os supermercados que quer abrir e até já lhe fecharam uma loja no Montijo. A direcção do grupo está a equacionar o abandono dos investimentos em Portugal

Os alemães da Tengelmann chegaram a Portugal há dois anos com a intenção de apostar nas lojas de "discount" alimentar, com a marca Plus Superdesconto. A intenção era investir entre 200 e 250 milhões de euros em pelo menos 100 lojas, mas as coisas estão a correr mal. O grupo tem apenas 15 unidades abertas, não conseguiu mais de 11 licenças de novas lojas e está desde Setembro com os investimentos parados, à espera de uma nova lei para licenciar unidades dos grupos distribuidores. Para piorar a situação, o grupo alemão viu uma loja sua no Montijo ser encerrada por ordem da Direcção-Geral do Comércio e da Concorrência. Foi a gota que faltava para entornar o copo da paciência alemã. Jurgen Hotz, responsável pelos negócios ibéricos do grupo, garante que se, até Setembro, a situação não se clarificar, a Tengelmann faz as malas, fecha as lojas e vai-se embora de Portugal, para nunca mais voltar.

Jurgen Hotz - Muito bem nas 15 lojas que temos abertas.

R. - Têm tido dificuldades em abrir mais lojas?

R. - Nos últimos três anos temos tido muitíssimas reuniões com ministros e secretários de Estado e, na verdade, sentimo-nos enganados pelo último Governo português.

R. - Informaram-nos que poderíamos abrir, recorrendo apenas a licenças municipais, até 15 mil metros quadrados de lojas, o que perfaz entre 18 e 19 das nossas unidades. Até agora temos operacionais 12 mil metros quadrados de área de venda, correspondentes a 15 lojas, umas com licença ministerial, outras apenas com autorização camarária. Desde Setembro de 2001, com a suspensão da lei [que regula a abertura de novas lojas dos grupos distribuidores, as chamadas UCDR-Unidades Comerciais de Dimensão Relevante], não conseguimos mais nenhuma licença e, pior do que isso, encerraram-nos uma das lojas já abertas, no Montijo, no passado dia 31 de Maio.

R. - A Direcção-Geral do Comércio e Concorrência (DGCC). Deram-nos duas semanas para fechar a loja, sob pena de incorrermos no crime de desobediência. Portugal foi o único país da Europa e do Mundo, entre aqueles em que a Tengelmann está implantada, onde o grupo teve uma ordem de encerramento de uma unidade.

R. - Tivemos conhecimento de que foi o comércio local que fez uma exposição dizendo que a loja não estava aprovada.

R. - Em Janeiro de 2001, recém chegados a Portugal, elaboramos uma lista com as 19 lojas que perfaziam os tais 15 mil metros quadrados. O então secretário de Estado do Comércio, Osvaldo de Castro, disse-nos que, até essa área, poderíamos abrir as lojas sem restrições. Acontece que, dessa lista inicial, tivemos um problema, que está em tribunal, com a loja prevista para Olhão. Em Junho desse mesmo ano, assim que demos conta da impossibilidade de avançarmos em Olhão, informámos por fax a DGCC que avançaríamos com o Montijo. Nessa altura, tínhamos abertas em Portugal apenas quatro lojas. Quando abre a loja do Montijo, a DGCC informa-nos que a unidade não estava prevista na tal lista inicial.

R. - Pois não. Acontece que, entretanto, tínhamos feito pedidos de licenciamento para além dos 15 mil metros, e, nesses pedidos, estava incluída uma loja no Montijo. O Governo aprovou uma pequena parte das lojas que iam para além do limite referido, e, entre as chumbadas, estava a do Montijo. E é aqui que nasce o diferendo. É que nós encarámos o Montijo, desde Junho de 2001, como uma loja que substituía a de Olhão, no tal pacote inicial que não carecia de autorização central. Já avançámos com uma providência cautelar para suspender a decisão de encerramento.

R. - Para além das 15 já abertas e de mais quatro que podemos abrir até atingir os 15 mil metros quadrados, conseguimos autorização para abrir mais 11, o que perfaz 30 lojas.

R. - Por causa disso, mas sobretudo pelo facto de, desde Setembro passado, o plano de expansão do grupo estar completamente parado, estamos neste momento a discutir internamente o destino a dar a investimentos que tínhamos pensado para Portugal. Estamos a começar a investir em países da Europa de Leste, no Canadá, até na China, e em nenhum país, em toda a história da Tengelmann, tivemos os problemas que temos em Portugal.

R. - Ainda não. Estamos a discutir o problema.

R. - Sim. Em todos os países onde estamos implantados não temos os problemas que enfrentamos em Portugal. A legislação é muito mais clara, os processos muito mais rápidos e o acesso aos responsáveis do Governo muito mais fácil.

R. - Não conseguimos perceber o que se passa.

R. - Sim, vamo-nos embora. Somos o único grupo distribuidor que entrou em Portugal e, com apenas 15 lojas abertas, está a ser impedido de abrir mais unidades. Há um ano que esperamos por novas licenças e não estamos dispostos a esperar para além de Agosto ou Setembro próximos.

R. - Não. Vamos embora de vez.

R. - Estamos a tentar.

R. - Perto de 30 milhões de euros.

R. - 150 a 200 milhões de euros.

R. - Não, cada país é um país. Isso não traria quaisquer problemas para o andamento do negócio em Espanha. O problema seria dos consumidores portugueses. Por falta de concorrência no nosso segmento de negócio, os produtos básicos que nós vendemos têm, em Portugal, dos preços mais altos da Europa. Comparativamente com Espanha, por exemplo, o cabaz básico de produtos tem um preço vinte por cento mais alto em Portugal. É por isso que não entendemos as razões que levam o Governo a criar barreiras à livre concorrência.

R. - Ouvimos falar nisso, embora não oficialmente. Disseram-nos que seria um dos temas a contemplar pela nova lei de licenciamento comercial. É uma ideia um pouco estranha, contra a qual nos pronunciaremos se nos for apresentada.

Jurgen Hotz, do grupo distribuidor alemão Tengelmann, em entrevista ao PÚBLICO

"Sentimo-nos Enganados pelo Último Governo"

Por CARLOS ROMERO

Segunda-feira, 22 de Julho de 2002

A cadeia de "discount" germânica não abre os supermercados que quer abrir e até já lhe fecharam uma loja no Montijo. A direcção do grupo está a equacionar o abandono dos investimentos em Portugal

Os alemães da Tengelmann chegaram a Portugal há dois anos com a intenção de apostar nas lojas de "discount" alimentar, com a marca Plus Superdesconto. A intenção era investir entre 200 e 250 milhões de euros em pelo menos 100 lojas, mas as coisas estão a correr mal. O grupo tem apenas 15 unidades abertas, não conseguiu mais de 11 licenças de novas lojas e está desde Setembro com os investimentos parados, à espera de uma nova lei para licenciar unidades dos grupos distribuidores. Para piorar a situação, o grupo alemão viu uma loja sua no Montijo ser encerrada por ordem da Direcção-Geral do Comércio e da Concorrência. Foi a gota que faltava para entornar o copo da paciência alemã. Jurgen Hotz, responsável pelos negócios ibéricos do grupo, garante que se, até Setembro, a situação não se clarificar, a Tengelmann faz as malas, fecha as lojas e vai-se embora de Portugal, para nunca mais voltar.

Jurgen Hotz - Muito bem nas 15 lojas que temos abertas.

R. - Têm tido dificuldades em abrir mais lojas?

R. - Nos últimos três anos temos tido muitíssimas reuniões com ministros e secretários de Estado e, na verdade, sentimo-nos enganados pelo último Governo português.

R. - Informaram-nos que poderíamos abrir, recorrendo apenas a licenças municipais, até 15 mil metros quadrados de lojas, o que perfaz entre 18 e 19 das nossas unidades. Até agora temos operacionais 12 mil metros quadrados de área de venda, correspondentes a 15 lojas, umas com licença ministerial, outras apenas com autorização camarária. Desde Setembro de 2001, com a suspensão da lei [que regula a abertura de novas lojas dos grupos distribuidores, as chamadas UCDR-Unidades Comerciais de Dimensão Relevante], não conseguimos mais nenhuma licença e, pior do que isso, encerraram-nos uma das lojas já abertas, no Montijo, no passado dia 31 de Maio.

R. - A Direcção-Geral do Comércio e Concorrência (DGCC). Deram-nos duas semanas para fechar a loja, sob pena de incorrermos no crime de desobediência. Portugal foi o único país da Europa e do Mundo, entre aqueles em que a Tengelmann está implantada, onde o grupo teve uma ordem de encerramento de uma unidade.

R. - Tivemos conhecimento de que foi o comércio local que fez uma exposição dizendo que a loja não estava aprovada.

R. - Em Janeiro de 2001, recém chegados a Portugal, elaboramos uma lista com as 19 lojas que perfaziam os tais 15 mil metros quadrados. O então secretário de Estado do Comércio, Osvaldo de Castro, disse-nos que, até essa área, poderíamos abrir as lojas sem restrições. Acontece que, dessa lista inicial, tivemos um problema, que está em tribunal, com a loja prevista para Olhão. Em Junho desse mesmo ano, assim que demos conta da impossibilidade de avançarmos em Olhão, informámos por fax a DGCC que avançaríamos com o Montijo. Nessa altura, tínhamos abertas em Portugal apenas quatro lojas. Quando abre a loja do Montijo, a DGCC informa-nos que a unidade não estava prevista na tal lista inicial.

R. - Pois não. Acontece que, entretanto, tínhamos feito pedidos de licenciamento para além dos 15 mil metros, e, nesses pedidos, estava incluída uma loja no Montijo. O Governo aprovou uma pequena parte das lojas que iam para além do limite referido, e, entre as chumbadas, estava a do Montijo. E é aqui que nasce o diferendo. É que nós encarámos o Montijo, desde Junho de 2001, como uma loja que substituía a de Olhão, no tal pacote inicial que não carecia de autorização central. Já avançámos com uma providência cautelar para suspender a decisão de encerramento.

R. - Para além das 15 já abertas e de mais quatro que podemos abrir até atingir os 15 mil metros quadrados, conseguimos autorização para abrir mais 11, o que perfaz 30 lojas.

R. - Por causa disso, mas sobretudo pelo facto de, desde Setembro passado, o plano de expansão do grupo estar completamente parado, estamos neste momento a discutir internamente o destino a dar a investimentos que tínhamos pensado para Portugal. Estamos a começar a investir em países da Europa de Leste, no Canadá, até na China, e em nenhum país, em toda a história da Tengelmann, tivemos os problemas que temos em Portugal.

R. - Ainda não. Estamos a discutir o problema.

R. - Sim. Em todos os países onde estamos implantados não temos os problemas que enfrentamos em Portugal. A legislação é muito mais clara, os processos muito mais rápidos e o acesso aos responsáveis do Governo muito mais fácil.

R. - Não conseguimos perceber o que se passa.

R. - Sim, vamo-nos embora. Somos o único grupo distribuidor que entrou em Portugal e, com apenas 15 lojas abertas, está a ser impedido de abrir mais unidades. Há um ano que esperamos por novas licenças e não estamos dispostos a esperar para além de Agosto ou Setembro próximos.

R. - Não. Vamos embora de vez.

R. - Estamos a tentar.

R. - Perto de 30 milhões de euros.

R. - 150 a 200 milhões de euros.

R. - Não, cada país é um país. Isso não traria quaisquer problemas para o andamento do negócio em Espanha. O problema seria dos consumidores portugueses. Por falta de concorrência no nosso segmento de negócio, os produtos básicos que nós vendemos têm, em Portugal, dos preços mais altos da Europa. Comparativamente com Espanha, por exemplo, o cabaz básico de produtos tem um preço vinte por cento mais alto em Portugal. É por isso que não entendemos as razões que levam o Governo a criar barreiras à livre concorrência.

R. - Ouvimos falar nisso, embora não oficialmente. Disseram-nos que seria um dos temas a contemplar pela nova lei de licenciamento comercial. É uma ideia um pouco estranha, contra a qual nos pronunciaremos se nos for apresentada.

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