Regressou o guterrismo

26-09-2004
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Regressou o Guterrismo

Sexta-feira, 24 de Setembro de 2004

nasceu o alegrismo

Os militantes socialistas começarão hoje a eleger o novo secretário-geral do partido. Amanhã ao fim da noite os resultados oficiais deverão ser anunciados. Prognósticos, como de costume, só no fim - mas não há um único militante que não preveja a vitória de José Sócrates, que arrancou para a campanha merecendo o apoio quase unânime do aparelho distrital/autárquico do partido (Alegre chamou a isto o "milagre das rosas").

A pergunta é: por quantos vai ganhar? Como irá tratar os derrotados? Que colaboração irão estes dar ao líder? O PS poderá sair do congresso mais dividido do que lá chegou? Quanto tempo de "estado de graça" concederão as oposições internas ao novo líder?

Ontem, o coordenador da campanha de José Sócrates, o eurodeputado Capoulas Santos, disse à agência Lusa que as listas de delegados da sua candidatura concorrem sem oposição "em mais de metade das secções do partido". E o director de campanha de Manuel Alegre, o deputado Osvaldo de Castro, e o candidato à liderança dos socialistas João Soares admitiram o favoritismo do ex-ministro do Ambiente na eleição dos delegados ao congresso. Mas uma coisa é a eleição de delegados, outra é a eleição do líder (ver texto nestas páginas). "Sei que José Sócrates tem tantos candidatos a delegados como a minha candidatura e a do Manuel Alegre juntas, mas uma coisa é este processo de eleição de delegados e outra coisa é a escolha do secretário-geral do PS", frisou João Soares.

As últimas afirmações tanto de Sócrates como de Alegre - os dois principais adversários - deixam no ar uma ideia de jogo do empurra quanto ao futuro do partido. Alegre lançou a ideia de que a sua candidatura já alcançou o estatuto de "movimento", havendo "muita gente" que lhe pede para que "isto não pare". Em linguagem partidária "movimento" significa "tendência" e isto constituirá, provavelmente, nos alinhamentos internos, a principal novidade desta luta interna no PS: o guterrismo voltou à primeira linha (e em grande força) por via de Sócrates; o "joão soarismo" retomou o seu carácter organizado (que nunca deixou de facto de existir desde que foi fundado, em 1986); mas o "sampaísmo" não deu lugar a um "ferrismo", porque o sucessor natural de Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso, está envolvido nos problemas que está. Por isso, deu lugar ao "alegrismo".

Este é o facto novo nesta campanha interna do PS. Manuel Alegre, desde sempre uma voz tão crítica quanto solitária, lidera, a partir de agora, um grupo. O poeta deixará de ser uma voz que se representa apenas a si mesmo para ser uma voz que representa uma determinada percentagem de apoiantes e de eleitores internos.

Isto preocupa José Sócrates. Na entrevista ao "Diga Lá Excelência", ontem editada no PÚBLICO, o ex-ministro deixou bem claro que não quer oposições internas organizadas. "Os outros candidatos são candidatos à liderança. Não se candidatam a movimentos que se pretendem organizar depois do congresso para contestar a escolha do partido", afirmou. E depois acrescentou: "Não confundamos as coisas. Eu sou pela clarificação. Haverá uma linha que ganha e uma linha que perde, neste congresso."

O recado é claro. Quem perder que assuma a derrota e se comporte como tal. Sócrates é fundador do guterrismo, mas no seu feitio é pouco dado a diálogos - prefere cortar a direito. Tenderá, na sua relação com as oposições internas, a ser pouco contemporizador. "A linha [vencedora] é para ser seguida", afirmou.

Alegre, pelo seu lado, espera para ver. Como também afirmou ao "Diga Lá Excelência", numa entrevista editada no PÚBLICO terça-feira, a sua posição face ao novo líder "depende muito da postura de quem ganhar". Seja como for, adianta que o seu principal objectivo é lutar pela "autonomia" do PS face à "direita dos interesses", fazendo isto supor que só quando (e se) o partido chegar ao poder é que desembainhará a espada. Por outras palavras: o novo líder está sob vigilância mas, para já, deverá ter direito a algum descanso.

Regressou o Guterrismo

Sexta-feira, 24 de Setembro de 2004

nasceu o alegrismo

Os militantes socialistas começarão hoje a eleger o novo secretário-geral do partido. Amanhã ao fim da noite os resultados oficiais deverão ser anunciados. Prognósticos, como de costume, só no fim - mas não há um único militante que não preveja a vitória de José Sócrates, que arrancou para a campanha merecendo o apoio quase unânime do aparelho distrital/autárquico do partido (Alegre chamou a isto o "milagre das rosas").

A pergunta é: por quantos vai ganhar? Como irá tratar os derrotados? Que colaboração irão estes dar ao líder? O PS poderá sair do congresso mais dividido do que lá chegou? Quanto tempo de "estado de graça" concederão as oposições internas ao novo líder?

Ontem, o coordenador da campanha de José Sócrates, o eurodeputado Capoulas Santos, disse à agência Lusa que as listas de delegados da sua candidatura concorrem sem oposição "em mais de metade das secções do partido". E o director de campanha de Manuel Alegre, o deputado Osvaldo de Castro, e o candidato à liderança dos socialistas João Soares admitiram o favoritismo do ex-ministro do Ambiente na eleição dos delegados ao congresso. Mas uma coisa é a eleição de delegados, outra é a eleição do líder (ver texto nestas páginas). "Sei que José Sócrates tem tantos candidatos a delegados como a minha candidatura e a do Manuel Alegre juntas, mas uma coisa é este processo de eleição de delegados e outra coisa é a escolha do secretário-geral do PS", frisou João Soares.

As últimas afirmações tanto de Sócrates como de Alegre - os dois principais adversários - deixam no ar uma ideia de jogo do empurra quanto ao futuro do partido. Alegre lançou a ideia de que a sua candidatura já alcançou o estatuto de "movimento", havendo "muita gente" que lhe pede para que "isto não pare". Em linguagem partidária "movimento" significa "tendência" e isto constituirá, provavelmente, nos alinhamentos internos, a principal novidade desta luta interna no PS: o guterrismo voltou à primeira linha (e em grande força) por via de Sócrates; o "joão soarismo" retomou o seu carácter organizado (que nunca deixou de facto de existir desde que foi fundado, em 1986); mas o "sampaísmo" não deu lugar a um "ferrismo", porque o sucessor natural de Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso, está envolvido nos problemas que está. Por isso, deu lugar ao "alegrismo".

Este é o facto novo nesta campanha interna do PS. Manuel Alegre, desde sempre uma voz tão crítica quanto solitária, lidera, a partir de agora, um grupo. O poeta deixará de ser uma voz que se representa apenas a si mesmo para ser uma voz que representa uma determinada percentagem de apoiantes e de eleitores internos.

Isto preocupa José Sócrates. Na entrevista ao "Diga Lá Excelência", ontem editada no PÚBLICO, o ex-ministro deixou bem claro que não quer oposições internas organizadas. "Os outros candidatos são candidatos à liderança. Não se candidatam a movimentos que se pretendem organizar depois do congresso para contestar a escolha do partido", afirmou. E depois acrescentou: "Não confundamos as coisas. Eu sou pela clarificação. Haverá uma linha que ganha e uma linha que perde, neste congresso."

O recado é claro. Quem perder que assuma a derrota e se comporte como tal. Sócrates é fundador do guterrismo, mas no seu feitio é pouco dado a diálogos - prefere cortar a direito. Tenderá, na sua relação com as oposições internas, a ser pouco contemporizador. "A linha [vencedora] é para ser seguida", afirmou.

Alegre, pelo seu lado, espera para ver. Como também afirmou ao "Diga Lá Excelência", numa entrevista editada no PÚBLICO terça-feira, a sua posição face ao novo líder "depende muito da postura de quem ganhar". Seja como for, adianta que o seu principal objectivo é lutar pela "autonomia" do PS face à "direita dos interesses", fazendo isto supor que só quando (e se) o partido chegar ao poder é que desembainhará a espada. Por outras palavras: o novo líder está sob vigilância mas, para já, deverá ter direito a algum descanso.

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