Água Lisa: FOLHAS SECAS

26-12-2004
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FOLHAS SECAS

Álvaro Cunhal deu-lhes, nos anos oitenta, um nome cheio de imagem e ressonância - folhas secas. Referia o então Secretário-Geral aqueles que se rebelavam contra o bolor do “centralismo democrático”, nomeadamente a adopção sacrílega da eleição por voto secreto e contra a fidelidade seguidista perante a antiga União Soviética e os seus clones políticos. Desta forma, tentou-se desvalorizar o peso e significado das sucessivas dissidências dentro do PCP, aquietando os que iam ficando para que olhassem com desprezo os “rebeldes” (intelectuais, ainda para mais) que assim não eram mais que parte do ciclo botânico dos que envelhecem e caem na marcha das estações por falta de capacidade para a fotossíntese dos caminhos dos amanhãs que, queiram ou não, cantarão.

A cada camada de “folhas secas”, seguiram-se e seguem-se novos Outonos, e, então, mais umas tantas folhas caem (por desistência, por ostracismo ou por expulsão). Vai restando o “viço” dos “cada vez menos, cada vez melhores”, os fiéis, os puros e os duros. Acompanhando outros Outonos – o do definhamento eleitoral e da penetração social, a incapacidade de atrair as gerações mais novas, a indigência teórica de repensar as novas realidades e ajustar o programa, os métodos e os objectivos às profundas alterações económicas e sociais em Portugal e no Mundo, a supremacia do aparelho e da burocracia. E mais Outonos virão porque as pessoas, cada pessoa, tem a sua hora e vez de cansar no esgotamento de quimeras.

(Lembro-me de, num desses tempos de queda de folhas, estar em bate-papo de grupo com o historiador António Hespanha, académico de mérito, meu companheiro da dissidente “Terceira Via” e homem de fino e aguçado sentido de humor. Dizia ele, farto da fraca altura dos debates em que se consumiam as nossas energias: “eh pá, já estou farto de andar a discutir o “braço no ar”, isto é ridículo, não se passa daqui, esgoto-me intelectualmente a levantar e a baixar o braço”.)

Pelos vistos, a árvore está em forma e recomenda-se. Vai fazer congresso. Com menos folhas. Mas com folhas verdes que, revoltadas pela infâmia da imposição da Lei, vão escolher um novo Comité Central por voto secreto. O mesmo voto secreto da malvadez outonal. Há alguma coisa que se aproxime, em beleza de celebração, ao mar de cartolinas vermelhas dirigidas ao céu, impelindo às ondas da unanimidade e da aclamação? E virá o novo Jardineiro que saberá tratar das folhas, escolhendo entre as perenes e as caducas.

Aqui fica, para vergonha das memórias das “folhas secas”, das ímpias e passadas exigências dessa vergonha chamada voto secreto e outros desvarios, os nomes de algumas delas, as mais conhecidas, entre muitas mais, já caídas e já varridas:

Alfredo Cardoso,

Álvaro Veiga de Oliveira,

Ana Merelo,

António Graça,

António Hespanha,

António Mendonça,

António Teodoro,

Baptista Bastos,

Carlos Brito,

Carlos Cidade,

Carlos Luís Figueira,

Cipriano Justo,

Clara Boléo,

Delgado Martins,

Domingos Lopes,

Dulce Martins,

Edgar Correia,

Elvira Nereu,

Fernando de Castro,

Fernando Sousa Marques,

Francisco Rocha,

Francisco Simões,

Helena Medina,

Helena Neves,

Henrique de Sousa,

João Abel de Freitas,

João Amaral,

João Galacho,

João Labescat,

João Rodrigues,

João Semedo,

João Tunes,

Joaquim Carreira,

Joaquim Gomes Canotilho,

Jorge Gouveia Monteiro,

Jorge Lemos,

José Barros Moura,

José Ernesto Oliveira,

José Garret,

José Luís Judas,

José Magalhães,

Luís Sá,

Manuel Correia,

Mário de Carvalho,

Mário Lino,

Mário Vieira de Carvalho,

Olga Areosa,

Osvaldo de Castro,

Paulo Fidalgo,

Pina Moura,

Raimundo Narciso,

Rogério Moreira,

Ronaldo da Fonseca,

Silva Graça,

Vasco Paiva,

Victor Louro,

Victor Neto,

Vidal Pinto,

Viriato Jordão,

Vital Moreira,

Zita Seabra.

fonte: Memórias do presente (Raimundo Narciso)

Posted by joao.tunes at novembro 1, 2004 05:14 PM

FOLHAS SECAS

Álvaro Cunhal deu-lhes, nos anos oitenta, um nome cheio de imagem e ressonância - folhas secas. Referia o então Secretário-Geral aqueles que se rebelavam contra o bolor do “centralismo democrático”, nomeadamente a adopção sacrílega da eleição por voto secreto e contra a fidelidade seguidista perante a antiga União Soviética e os seus clones políticos. Desta forma, tentou-se desvalorizar o peso e significado das sucessivas dissidências dentro do PCP, aquietando os que iam ficando para que olhassem com desprezo os “rebeldes” (intelectuais, ainda para mais) que assim não eram mais que parte do ciclo botânico dos que envelhecem e caem na marcha das estações por falta de capacidade para a fotossíntese dos caminhos dos amanhãs que, queiram ou não, cantarão.

A cada camada de “folhas secas”, seguiram-se e seguem-se novos Outonos, e, então, mais umas tantas folhas caem (por desistência, por ostracismo ou por expulsão). Vai restando o “viço” dos “cada vez menos, cada vez melhores”, os fiéis, os puros e os duros. Acompanhando outros Outonos – o do definhamento eleitoral e da penetração social, a incapacidade de atrair as gerações mais novas, a indigência teórica de repensar as novas realidades e ajustar o programa, os métodos e os objectivos às profundas alterações económicas e sociais em Portugal e no Mundo, a supremacia do aparelho e da burocracia. E mais Outonos virão porque as pessoas, cada pessoa, tem a sua hora e vez de cansar no esgotamento de quimeras.

(Lembro-me de, num desses tempos de queda de folhas, estar em bate-papo de grupo com o historiador António Hespanha, académico de mérito, meu companheiro da dissidente “Terceira Via” e homem de fino e aguçado sentido de humor. Dizia ele, farto da fraca altura dos debates em que se consumiam as nossas energias: “eh pá, já estou farto de andar a discutir o “braço no ar”, isto é ridículo, não se passa daqui, esgoto-me intelectualmente a levantar e a baixar o braço”.)

Pelos vistos, a árvore está em forma e recomenda-se. Vai fazer congresso. Com menos folhas. Mas com folhas verdes que, revoltadas pela infâmia da imposição da Lei, vão escolher um novo Comité Central por voto secreto. O mesmo voto secreto da malvadez outonal. Há alguma coisa que se aproxime, em beleza de celebração, ao mar de cartolinas vermelhas dirigidas ao céu, impelindo às ondas da unanimidade e da aclamação? E virá o novo Jardineiro que saberá tratar das folhas, escolhendo entre as perenes e as caducas.

Aqui fica, para vergonha das memórias das “folhas secas”, das ímpias e passadas exigências dessa vergonha chamada voto secreto e outros desvarios, os nomes de algumas delas, as mais conhecidas, entre muitas mais, já caídas e já varridas:

Alfredo Cardoso,

Álvaro Veiga de Oliveira,

Ana Merelo,

António Graça,

António Hespanha,

António Mendonça,

António Teodoro,

Baptista Bastos,

Carlos Brito,

Carlos Cidade,

Carlos Luís Figueira,

Cipriano Justo,

Clara Boléo,

Delgado Martins,

Domingos Lopes,

Dulce Martins,

Edgar Correia,

Elvira Nereu,

Fernando de Castro,

Fernando Sousa Marques,

Francisco Rocha,

Francisco Simões,

Helena Medina,

Helena Neves,

Henrique de Sousa,

João Abel de Freitas,

João Amaral,

João Galacho,

João Labescat,

João Rodrigues,

João Semedo,

João Tunes,

Joaquim Carreira,

Joaquim Gomes Canotilho,

Jorge Gouveia Monteiro,

Jorge Lemos,

José Barros Moura,

José Ernesto Oliveira,

José Garret,

José Luís Judas,

José Magalhães,

Luís Sá,

Manuel Correia,

Mário de Carvalho,

Mário Lino,

Mário Vieira de Carvalho,

Olga Areosa,

Osvaldo de Castro,

Paulo Fidalgo,

Pina Moura,

Raimundo Narciso,

Rogério Moreira,

Ronaldo da Fonseca,

Silva Graça,

Vasco Paiva,

Victor Louro,

Victor Neto,

Vidal Pinto,

Viriato Jordão,

Vital Moreira,

Zita Seabra.

fonte: Memórias do presente (Raimundo Narciso)

Posted by joao.tunes at novembro 1, 2004 05:14 PM

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