Governo e PS trocam culpas sobre desemprego

23-02-2003
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Governo e PS Trocam Culpas Sobre Desemprego

Por POR SÃO JOSÉ ALMEIDA

Sexta-feira, 21 de Fevereiro de 2003 Crise domina debate parlamentar O PS levou a crise ao Parlamento para acusar o PSD de ser insensível ao desemprego. O Governo garante que a situação actual é a prova da falência das opções socialistas. E Carlos Tavares avança com um novo programa, que é chefiado por Daniel Bessa, o primeiro ministro da Economia de António Guterres. Quando no horizonte paira a iminência de uma guerra, que poderá, directa ou indirectamente, envolver Portugal, o PS fez questão de deixar inscrito para os "anais parlamentares" que a situação de crise e recessão é uma realidade na economia portuguesa e que ela não será provocada por qualquer desenvolvimento futuro da situação internacional, mas sim responsabilidade da governação do PSD. Assim, os socialistas interpelaram o Governo sobre a situação económica e logo no início o secretário-geral do PS, Eduardo Ferro Rodrigues, tratou de desafiar o primeiro-ministro, José Manuel Durão Barroso - que foi ao Parlamento ouvir a abertura do debate feita pelo líder da oposição - para que corrigisse a orientação da política económica e assumisse que optou por uma estratégia errada. E tratou mesmo de pedir a revisão do Orçamento de Estado, a reavaliação do Orçamento da Segurança Social, um plano contra o desemprego, apoio às empresas e apoio às regiões. Por sua vez, o Governo apresentou-se com o ministro da Economia como principal interveniente. E para mostrar que a maioria governativa não está de braços cruzados perante a situação económica e social do país, Carlos Tavares anunciou que os pagamentos especiais por conta ficam adiados até Junho, cinco novas medidas de alcance económico e social e o lançamento de um "novo programa apostado no desenvolvimento económico, social e regional". E exibindo uma conquista no campo do adversário, Carlos Tavares anunciou que convidou para coordenar e dirigir este novo programa Daniel Bessa, professor e economista que foi só o primeiro ministro da Economia do primeiro Governo de António Guterres. O que é facto é que se o PS queria puxar a situação de crise para a actualidade e inscrevê-la na ordem do dia institucional, o objectivo dos socialistas foi conseguido. Como reconheceria a ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, ao encerrar o debate em nome do Governo, é uma realidade que o desemprego aumentou, que o investimento baixou, que os índices de confiança baixaram, que aumenta a deslocalização de empresas. Mas a ministra fez questão de frisar que a culpa desta situação se deve ao Governo anterior e que os socialistas deviam assumir as suas responsabilidades por opções erradas. Provocando enormes protestos da bancada socialista, Manuela Ferreira Leite subiu mesmo a agressividade do tom contra o PS afirmando da tribuna: "Eu percebo que não aplaudam aquilo que nós conseguimos, mas calem-se. Eu percebo que não aplaudam aquilo que nós conseguimos, mas não falem. Era de resto o que acontecia se tivessem vergonha." A defesa da tese de que a actual situação se deve à gestão dos socialistas foi sustentada ao longo do debate, primeiro pelo ministro da Economia, Carlos Tavares, depois pelo ministro da Segurança Social e do Trabalho, António Bagão Félix. Carlos Tavares desdobrou-se em argumentação para provar que a orientação do actual Governo é correcta, que a prioridade é a redução do défice, a reestruturação da economia, a diminuição da dívida, o equilíbrio da balança de transacções com outros países. E não a manutenção de uma situação de pleno emprego, baseada em investimento público de apoio às empresas e de criação de emprego precário para combater o desemprego. O ministro da Economia sublinhou mesmo que Portugal tenta sobreviver num mercado internacional em que a mão-de-obra mais qualificada e mais barata dos países resultantes do ex-Bloco de Leste, bem como a mão de obra mais barata dos países do Oriente, concorrentes sérios. Daí ser necessário optar por um modelo que não assente no emprego sustentado pelo investimento público, antes reestruturar a economia. E o ministro da Segurança Social completou este raciocínio ao afirmar que o Estado tem de dar condições à sociedade para esta se estruturar e não "alimentar uma falsa ideia de uma sociedade sempre dependente de um Estado gastador". A defesa das soluções do Governo foi criticada também pelo PCP - com Lino de Carvalho a defender o investimento público e Odete Santos a lembrar o problema social - e ainda pelo Bloco de Esquerda, com Luís Fazenda a acusar a maioria de adoptar "um modelo terceiro mundista de salários baixos". Mas as várias horas de debate, cerca de quatro, foram dominadas pelo confronto entre o PS e o Governo, com o agitar de percentagens e números e acusações mútuas de responsabilidade. E se Manuela Ferreira Leite a fechar zurziu o PS, logo na primeira metade, o socialista João Cravinho tratou de acusar o Governo e concretamente Carlos Tavares de avançar com estatísticas falsas. Já a fechar, em nome dos socialistas, a deputada independente Elisa Ferreira fez questão de reduzir a acção governativa a pura propaganda, acusando a maioria de malbaratar o trabalho anteriormente feito pelos socialistas: "A impossibilidade de adequar o Programa de Governo às demagógicas promessas eleitorais foi camuflada com um pacote de mensagens simples e eficazes. O Governo reduziu o desígnio nacional a uma palavra, 'o défice'! A responsabilidade de quem governa (e com maioria absoluta), esgota-se numa frase universal e sem prazo de validade: 'a culpa não é nossa, é dos outros'! O discurso passou a ser, mais do que musculado e determinado, violento, crispado e sobretudo inconsequente, relembre-se o discurso sobre a televisão ou sobre os funcionários públicos!". Uma tarde passada em troca de acusações entre Governo e PS, de que resultou uma certeza: se no final não era líquido concluir quem era o vencedor do debate, o PS tinha atingido o objectivo de acentuar a gravidade da crise e de firmar a ideia de que o crescimento do desemprego é galopante. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Governo e PS trocam culpas sobre desemprego

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Assim, os socialistas interpelaram o Governo sobre a situação económica e logo no início o secretário-geral do PS, Eduardo Ferro Rodrigues, tratou de desafiar o primeiro-ministro, José Manuel Durão Barroso - que foi ao Parlamento ouvir a abertura do debate feita pelo líder da oposição - para que corrigisse a orientação da política económica e assumisse que optou por uma estratégia errada. E tratou mesmo de pedir a revisão do Orçamento de Estado, a reavaliação do Orçamento da Segurança Social, um plano contra o desemprego, apoio às empresas e apoio às regiões. Por sua vez, o Governo apresentou-se com o ministro da Economia como principal interveniente. E para mostrar que a maioria governativa não está de braços cruzados perante a situação económica e social do país, Carlos Tavares anunciou que os pagamentos especiais por conta ficam adiados até Junho, cinco novas medidas de alcance económico e social e o lançamento de um "novo programa apostado no desenvolvimento económico, social e regional". E exibindo uma conquista no campo do adversário, Carlos Tavares anunciou que convidou para coordenar e dirigir este novo programa Daniel Bessa, professor e economista que foi só o primeiro ministro da Economia do primeiro Governo de António Guterres. O que é facto é que se o PS queria puxar a situação de crise para a actualidade e inscrevê-la na ordem do dia institucional, o objectivo dos socialistas foi conseguido. Como reconheceria a ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, ao encerrar o debate em nome do Governo, é uma realidade que o desemprego aumentou, que o investimento baixou, que os índices de confiança baixaram, que aumenta a deslocalização de empresas. Mas a ministra fez questão de frisar que a culpa desta situação se deve ao Governo anterior e que os socialistas deviam assumir as suas responsabilidades por opções erradas. Provocando enormes protestos da bancada socialista, Manuela Ferreira Leite subiu mesmo a agressividade do tom contra o PS afirmando da tribuna: "Eu percebo que não aplaudam aquilo que nós conseguimos, mas calem-se. Eu percebo que não aplaudam aquilo que nós conseguimos, mas não falem. Era de resto o que acontecia se tivessem vergonha." A defesa da tese de que a actual situação se deve à gestão dos socialistas foi sustentada ao longo do debate, primeiro pelo ministro da Economia, Carlos Tavares, depois pelo ministro da Segurança Social e do Trabalho, António Bagão Félix. Carlos Tavares desdobrou-se em argumentação para provar que a orientação do actual Governo é correcta, que a prioridade é a redução do défice, a reestruturação da economia, a diminuição da dívida, o equilíbrio da balança de transacções com outros países. E não a manutenção de uma situação de pleno emprego, baseada em investimento público de apoio às empresas e de criação de emprego precário para combater o desemprego. O ministro da Economia sublinhou mesmo que Portugal tenta sobreviver num mercado internacional em que a mão-de-obra mais qualificada e mais barata dos países resultantes do ex-Bloco de Leste, bem como a mão de obra mais barata dos países do Oriente, concorrentes sérios. Daí ser necessário optar por um modelo que não assente no emprego sustentado pelo investimento público, antes reestruturar a economia. E o ministro da Segurança Social completou este raciocínio ao afirmar que o Estado tem de dar condições à sociedade para esta se estruturar e não "alimentar uma falsa ideia de uma sociedade sempre dependente de um Estado gastador". A defesa das soluções do Governo foi criticada também pelo PCP - com Lino de Carvalho a defender o investimento público e Odete Santos a lembrar o problema social - e ainda pelo Bloco de Esquerda, com Luís Fazenda a acusar a maioria de adoptar "um modelo terceiro mundista de salários baixos". Mas as várias horas de debate, cerca de quatro, foram dominadas pelo confronto entre o PS e o Governo, com o agitar de percentagens e números e acusações mútuas de responsabilidade. E se Manuela Ferreira Leite a fechar zurziu o PS, logo na primeira metade, o socialista João Cravinho tratou de acusar o Governo e concretamente Carlos Tavares de avançar com estatísticas falsas. Já a fechar, em nome dos socialistas, a deputada independente Elisa Ferreira fez questão de reduzir a acção governativa a pura propaganda, acusando a maioria de malbaratar o trabalho anteriormente feito pelos socialistas: "A impossibilidade de adequar o Programa de Governo às demagógicas promessas eleitorais foi camuflada com um pacote de mensagens simples e eficazes. O Governo reduziu o desígnio nacional a uma palavra, 'o défice'! A responsabilidade de quem governa (e com maioria absoluta), esgota-se numa frase universal e sem prazo de validade: 'a culpa não é nossa, é dos outros'! O discurso passou a ser, mais do que musculado e determinado, violento, crispado e sobretudo inconsequente, relembre-se o discurso sobre a televisão ou sobre os funcionários públicos!". Uma tarde passada em troca de acusações entre Governo e PS, de que resultou uma certeza: se no final não era líquido concluir quem era o vencedor do debate, o PS tinha atingido o objectivo de acentuar a gravidade da crise e de firmar a ideia de que o crescimento do desemprego é galopante. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Governo e PS trocam culpas sobre desemprego

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