CDS. “Poupem o partido à ideia de que ninguém o quer agarrar”

07-11-2019
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Foi a catarse possível, doze dias depois do resultado eleitoral que deixou o CDS de regresso ao estatuto de partido do táxi. Na noite desta quinta-feira, os conselheiros nacionais do partido reuniram-se durante (muitas) horas para discutir resultados e perceber o que os levou até aqui, mas também quem poderá assumir o leme do partido e substituir Assunção Cristas na liderança.

Essa substituição acontecerá no final de janeiro, no fim de semana de 25 e 26, em local ainda a definir. A proposta inicial que constava do regulamento para o próximo Congresso colocava como opção preferencial a data de 18 e 19 de janeiro, mas fosse por questões simbólicas - 25 e 26 coincidem com as datas da primeira reunião magna do partido - ou práticas - o PSD terá eleições diretas na mesma altura - a data acabou por ficar uma semana adiada.

O início da reunião deu a resposta, já antecipada, a uma das questões mais repetidas nas últimas semanas: confirma-se que Assunção Cristas vai mesmo abandonar o Parlamento a partir da data do Congresso, ou seja, deixará o lugar de deputada ao mesmo tempo que abandona a liderança do partido. Os cinco lugares do CDS na Assembleia passarão assim a ser ocupados por estes cinco nomes: João Gonçalves Pereira (que se seguia a Cristas na lista por Lisboa), Ana Rita Bessa, Cecília Meireles, João Almeida e Telmo Correia. Como “militante de base”, Cristas prosseguirá, no entanto, nas suas funções como vereadora na Câmara Municipal de Lisboa.

Depois de estar marcada a data oficial da despedida, seguiu-se o que poderia ter sido um desfile de candidatos. Isto porque o Conselho Nacional, muito atrasado, arrancou com as intervenções de todos os potenciais (num dos casos, confirmado) sucessores: Francisco Rodrigues dos Santos, Filipe Lobo d’Ávila, João Almeida e Abel Matos Santos (o único que já oficializou a sua candidatura) foram os primeiros a discursar. Intervenções que foram bem recebidas na sala, embora, como ironizava um conselheiro nacional ao Expresso, nesta altura seja difícil definir qual o que ficou em melhores condições de avançar: “O partido aplaude todos para não se comprometer… Faz parte do jogo partidário”.

Foi, assim, uma série de discursos em que os candidatos fizeram questão de se posicionar, sendo que contam com o rescaldo e o feedback deste Conselho Nacional para tomarem decisões nos próximos dias. Uma das questões que dividem, neste momento, um partido a pensar no futuro é a dos critérios que devem imperar na altura de escolher um novo líder: os defensores de João Almeida, porta-voz da atual direção, argumentam que com um grupo parlamentar reduzido a serviços mínimos (de dezoito para cinco deputados) é fundamental que o líder seja deputado e tenha assim projeção mediática garantida; os seus detratores lembram que nem Paulo Portas nem Manuel Monteiro eram deputados quando foram eleitos presidentes do partido e criticam a associação de Almeida à atual direção, que responsabilizam pelo péssimo resultado de 6 de outubro.

Uma das vozes que lembraram que os portugueses condenaram “esta estratégia de insucesso” foi Abel Matos Santos, que no entanto reconheceu o trabalho de “formiguinha” de Assunção Cristas, de quem sempre foi crítico. Agora, defendeu, será preciso que quem acha que tem condições para avançar com uma candidatura “se afirme” e se assuma - uma referência a João Almeida, que apresentará uma moção de estratégia global no congresso mas ainda “pondera” se a fará acompanhar de uma candidatura à liderança. Matos Santos, único candidato assumido até agora, condenou ainda o facto de um Conselho Nacional tão relevante ter sido marcado para “uma quinta-feira às nove da noite”, impedindo assim que alguns conselheiros pudessem marcar presença no tal momento de catarse - e sugeriu uma “terapia de grupo” mais alargada para o partido, como numa “família desavinda”.

Alguns apelos bem específicos e dirigidos aos potenciais candidatos - mas também a quem desde logo afastou a hipótese de o ser - foram formulados por Filipe Anacoreta Correia, que falhou a eleição como deputado por Viana do Castelo e abandonará assim o Parlamento. Um mau resultado pelo qual assumiu responsabilidades, mas aproveitando para deixar avisos aos demais que também as partilham: “Assumir a responsabilidade não é ir à vida de cada um, mas disponibilizar-se, na medida em que for desejado pelos outros e consentâneo com a natureza de cada um, para tentar ultrapassarmos juntos a circunstância em que estamos”. Traduzindo: uma farpa para a multiplicação de protagonistas que vieram nos últimos dias descartar a possibilidade de ir a jogo, comparando o estado atual do partido e o leque de nomes que circulavam como possíveis sucessores a uma “montra de esquina”, como dizia na semana passada Telmo Correia. “Poupem o Partido à ideia de que ninguém quer verdadeiramente agarrar o leme. Se não são pretendentes ao menos não promovam a má fama de uma noiva indesejada, nem condenem o noivo ao último dos redutos”.

Houve ainda tempo para pedir que o partido não insista “nos mesmos erros e nas mesmas pessoas”, criticando argumentos a que recorrem os apoiantes de João Almeida: “Tenho ouvido por aí que o próximo presidente deve ser do grupo parlamentar. Devo dizer que não concordo e fico até bastante preocupado com a insistência na abordagem”. Uma abordagem que, defendeu Anacoreta Correia, serve de “pretexto para esconder a indisponibilidade de egos altos” que pode ser percecionada como “falta de convicção na hora de escolher um líder”.

Com convicção ou não, está cada vez mais próximo o momento de conhecer quem serão os candidatos a agarrar um partido com uma representação parlamentar historicamente baixa e tentar inverter o ciclo de perda que já se desenhava, pelo menos, desde as eleições europeias. Os próximos dias deverão ser definidores para que cada potencial candidato meça os seus apoios e decida se avança para uma candidatura no congresso de janeiro.

Foi a catarse possível, doze dias depois do resultado eleitoral que deixou o CDS de regresso ao estatuto de partido do táxi. Na noite desta quinta-feira, os conselheiros nacionais do partido reuniram-se durante (muitas) horas para discutir resultados e perceber o que os levou até aqui, mas também quem poderá assumir o leme do partido e substituir Assunção Cristas na liderança.

Essa substituição acontecerá no final de janeiro, no fim de semana de 25 e 26, em local ainda a definir. A proposta inicial que constava do regulamento para o próximo Congresso colocava como opção preferencial a data de 18 e 19 de janeiro, mas fosse por questões simbólicas - 25 e 26 coincidem com as datas da primeira reunião magna do partido - ou práticas - o PSD terá eleições diretas na mesma altura - a data acabou por ficar uma semana adiada.

O início da reunião deu a resposta, já antecipada, a uma das questões mais repetidas nas últimas semanas: confirma-se que Assunção Cristas vai mesmo abandonar o Parlamento a partir da data do Congresso, ou seja, deixará o lugar de deputada ao mesmo tempo que abandona a liderança do partido. Os cinco lugares do CDS na Assembleia passarão assim a ser ocupados por estes cinco nomes: João Gonçalves Pereira (que se seguia a Cristas na lista por Lisboa), Ana Rita Bessa, Cecília Meireles, João Almeida e Telmo Correia. Como “militante de base”, Cristas prosseguirá, no entanto, nas suas funções como vereadora na Câmara Municipal de Lisboa.

Depois de estar marcada a data oficial da despedida, seguiu-se o que poderia ter sido um desfile de candidatos. Isto porque o Conselho Nacional, muito atrasado, arrancou com as intervenções de todos os potenciais (num dos casos, confirmado) sucessores: Francisco Rodrigues dos Santos, Filipe Lobo d’Ávila, João Almeida e Abel Matos Santos (o único que já oficializou a sua candidatura) foram os primeiros a discursar. Intervenções que foram bem recebidas na sala, embora, como ironizava um conselheiro nacional ao Expresso, nesta altura seja difícil definir qual o que ficou em melhores condições de avançar: “O partido aplaude todos para não se comprometer… Faz parte do jogo partidário”.

Foi, assim, uma série de discursos em que os candidatos fizeram questão de se posicionar, sendo que contam com o rescaldo e o feedback deste Conselho Nacional para tomarem decisões nos próximos dias. Uma das questões que dividem, neste momento, um partido a pensar no futuro é a dos critérios que devem imperar na altura de escolher um novo líder: os defensores de João Almeida, porta-voz da atual direção, argumentam que com um grupo parlamentar reduzido a serviços mínimos (de dezoito para cinco deputados) é fundamental que o líder seja deputado e tenha assim projeção mediática garantida; os seus detratores lembram que nem Paulo Portas nem Manuel Monteiro eram deputados quando foram eleitos presidentes do partido e criticam a associação de Almeida à atual direção, que responsabilizam pelo péssimo resultado de 6 de outubro.

Uma das vozes que lembraram que os portugueses condenaram “esta estratégia de insucesso” foi Abel Matos Santos, que no entanto reconheceu o trabalho de “formiguinha” de Assunção Cristas, de quem sempre foi crítico. Agora, defendeu, será preciso que quem acha que tem condições para avançar com uma candidatura “se afirme” e se assuma - uma referência a João Almeida, que apresentará uma moção de estratégia global no congresso mas ainda “pondera” se a fará acompanhar de uma candidatura à liderança. Matos Santos, único candidato assumido até agora, condenou ainda o facto de um Conselho Nacional tão relevante ter sido marcado para “uma quinta-feira às nove da noite”, impedindo assim que alguns conselheiros pudessem marcar presença no tal momento de catarse - e sugeriu uma “terapia de grupo” mais alargada para o partido, como numa “família desavinda”.

Alguns apelos bem específicos e dirigidos aos potenciais candidatos - mas também a quem desde logo afastou a hipótese de o ser - foram formulados por Filipe Anacoreta Correia, que falhou a eleição como deputado por Viana do Castelo e abandonará assim o Parlamento. Um mau resultado pelo qual assumiu responsabilidades, mas aproveitando para deixar avisos aos demais que também as partilham: “Assumir a responsabilidade não é ir à vida de cada um, mas disponibilizar-se, na medida em que for desejado pelos outros e consentâneo com a natureza de cada um, para tentar ultrapassarmos juntos a circunstância em que estamos”. Traduzindo: uma farpa para a multiplicação de protagonistas que vieram nos últimos dias descartar a possibilidade de ir a jogo, comparando o estado atual do partido e o leque de nomes que circulavam como possíveis sucessores a uma “montra de esquina”, como dizia na semana passada Telmo Correia. “Poupem o Partido à ideia de que ninguém quer verdadeiramente agarrar o leme. Se não são pretendentes ao menos não promovam a má fama de uma noiva indesejada, nem condenem o noivo ao último dos redutos”.

Houve ainda tempo para pedir que o partido não insista “nos mesmos erros e nas mesmas pessoas”, criticando argumentos a que recorrem os apoiantes de João Almeida: “Tenho ouvido por aí que o próximo presidente deve ser do grupo parlamentar. Devo dizer que não concordo e fico até bastante preocupado com a insistência na abordagem”. Uma abordagem que, defendeu Anacoreta Correia, serve de “pretexto para esconder a indisponibilidade de egos altos” que pode ser percecionada como “falta de convicção na hora de escolher um líder”.

Com convicção ou não, está cada vez mais próximo o momento de conhecer quem serão os candidatos a agarrar um partido com uma representação parlamentar historicamente baixa e tentar inverter o ciclo de perda que já se desenhava, pelo menos, desde as eleições europeias. Os próximos dias deverão ser definidores para que cada potencial candidato meça os seus apoios e decida se avança para uma candidatura no congresso de janeiro.

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