Os forasteiros e os filhos pródigos

03-10-2003
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Nomes

Os Forasteiros e Os Filhos Pródigos

Segunda-feira, 29 de Setembro de 2003

António de Sousa e João Talone são os "outsiders" de quem se fala como potenciais sucessores do presidente e fundador do BCP. Os ex-administradores João Talone e Líbano Monteiro também são incontornáveis quando o tema é a sucessão de Jardim Gonçalves.

C.F.

O apoio dos accionistas de referência a Jardim Gonçalves tem sido uma constante ao longo dos 15 anos de actividade do BCP. Um dia, quando o presidente do BCP decidir sair da gestão corrente, o problema da sua substituição colocar-se-á. E o nome que o irá substituir terá de partir do Conselho Superior, que ouvirá o que o líder e fundador da instituição tem para lhe dizer. Se a proposta for consensual, será aceite. Mas caberá a assembleia-geral pronunciar-se sobre a solução encontrada. O banqueiro, na sua proposta, também deverá ter em conta o que o Estado tem para dizer sobre o BCP, onde possui uma importante participação, cerca de 10 por cento do capital, 6,5 por cento via CGD e 3,5 por cento via EDP. Mas não é previsível que o Governo intervenha enquanto Jardim Gonçalves estiver à frente do grupo bancário. E se o fizer dará um mau sinal ao mercado, que poderá revelar-se fatal, defendem fontes contactadas pelo PÚBLICO. Porém, na lógica partidária, tudo é possível. Em todo o caso, para intervir no BCP o Governo terá que contar com o apoio dos restantes accionistas.

No executivo de Durão Barroso há quem gostasse de ver no lugar ocupado por Jardim Gonçalves o presidente da CGD, António de Sousa. O BCP seria um "local simpático" para sentar o actual presidente da CGD António de Sousa, cujo mandato termina em Março, disseram ao PÚBLICO fontes próximas do executivo. Embora o gestor do banco público não conte com o apoio do núcleo duro do Governo, onde está Nuno Morais Sarmento, tem do seu lado alguns ministros, como Carlos Tavares. Sousa também terá contra si um diferendo que já este ano manteve com Jardim Gonçalves a propósito de uma operação de bolsa envolvendo acções do BCP, quando decorria o último aumento de capital? Além do mais, qualquer solução que envolva o presidente de uma instituição financeira levantará sempre questões éticas, devido ao acesso a dados confidenciais.

Segundo observadores, o BPI também poderá ter uma palavra a dizer quando Jardim Gonçalves anunciar a sua saída. A instituição presidida por Santos Silva detém quase três por cento do BCP, que por sua vez também é accionista do Português de Investimento. Mas não é provável que o banco se meta ao barulho entre mandatos, até porque se tratar de um investimento financeiro. Mas se houver uma assembleia-geral electiva, o BPI dará certamente a sua opinião.

Os ex-administradores do BCP João Talone, CEO da EDP, e Pedro Líbano Monteiro, à frente do ICEP, ambos caídos em desgraça dentro do banco, também são nomes incontornáveis quando se fala na sucessão do banqueiro do BCP. Talone e Jardim Gonçalves entraram em rota de colisão a propósito do desempenho da "holding" seguradora Eureko, que era presidida por Talone, mas continuam a manter relações cordatas. Também não é crível que o CEO da EDP aceitasse, até por ter assumido recentemente funções na eléctrica. Fonte ligada ao PSD lembra que ainda recentemente Talone foi sondado para ocupar um lugar ministerial e recusou.

A ruptura com Líbano Monteiro, que foi considerado um delfim de Jardim Gonçalves, terá sido ainda mais profunda, não se vislumbrando um sinal de aproximação com o BCP. Outro dos nomes que periodicamente é mencionado é o do vice-presidente da Goldman Sachs, António Borges, e que muitos gostariam de ver regressar a Portugal. Existem muito poucos lugares à sua dimensão e aspiração e o BCP seria um deles. Um desejo que já esteve mais perto de se realizar. Em entrevista ao PÚBLICO, Borges teceu algumas considerações sobre o modelo de governação do BCP, debruçando-se igualmente sobre outras instituições financeiras. A conversa decorreu meses depois do banco inglês ter prestado consultoria ao grupo português. A resposta do BCP não se faria esperar. Ao que o PÚBLICO apurou, Jardim Gonçalves enviou uma carta muito azeda ao presidente da Goldman Sachs, manifestando insatisfação pelas declarações de António Borges. Tal como Jardim Gonçalves, Borges tem carisma e é um líder nato. Um seu ex-colaborador lembra que quando foi vice-governador do Banco de Portugal, a marca contundente do banco central era a sua. Um perfil que não se coaduna com a discrição e contenção que impera à volta do engenheiro.

Nomes

Os Forasteiros e Os Filhos Pródigos

Segunda-feira, 29 de Setembro de 2003

António de Sousa e João Talone são os "outsiders" de quem se fala como potenciais sucessores do presidente e fundador do BCP. Os ex-administradores João Talone e Líbano Monteiro também são incontornáveis quando o tema é a sucessão de Jardim Gonçalves.

C.F.

O apoio dos accionistas de referência a Jardim Gonçalves tem sido uma constante ao longo dos 15 anos de actividade do BCP. Um dia, quando o presidente do BCP decidir sair da gestão corrente, o problema da sua substituição colocar-se-á. E o nome que o irá substituir terá de partir do Conselho Superior, que ouvirá o que o líder e fundador da instituição tem para lhe dizer. Se a proposta for consensual, será aceite. Mas caberá a assembleia-geral pronunciar-se sobre a solução encontrada. O banqueiro, na sua proposta, também deverá ter em conta o que o Estado tem para dizer sobre o BCP, onde possui uma importante participação, cerca de 10 por cento do capital, 6,5 por cento via CGD e 3,5 por cento via EDP. Mas não é previsível que o Governo intervenha enquanto Jardim Gonçalves estiver à frente do grupo bancário. E se o fizer dará um mau sinal ao mercado, que poderá revelar-se fatal, defendem fontes contactadas pelo PÚBLICO. Porém, na lógica partidária, tudo é possível. Em todo o caso, para intervir no BCP o Governo terá que contar com o apoio dos restantes accionistas.

No executivo de Durão Barroso há quem gostasse de ver no lugar ocupado por Jardim Gonçalves o presidente da CGD, António de Sousa. O BCP seria um "local simpático" para sentar o actual presidente da CGD António de Sousa, cujo mandato termina em Março, disseram ao PÚBLICO fontes próximas do executivo. Embora o gestor do banco público não conte com o apoio do núcleo duro do Governo, onde está Nuno Morais Sarmento, tem do seu lado alguns ministros, como Carlos Tavares. Sousa também terá contra si um diferendo que já este ano manteve com Jardim Gonçalves a propósito de uma operação de bolsa envolvendo acções do BCP, quando decorria o último aumento de capital? Além do mais, qualquer solução que envolva o presidente de uma instituição financeira levantará sempre questões éticas, devido ao acesso a dados confidenciais.

Segundo observadores, o BPI também poderá ter uma palavra a dizer quando Jardim Gonçalves anunciar a sua saída. A instituição presidida por Santos Silva detém quase três por cento do BCP, que por sua vez também é accionista do Português de Investimento. Mas não é provável que o banco se meta ao barulho entre mandatos, até porque se tratar de um investimento financeiro. Mas se houver uma assembleia-geral electiva, o BPI dará certamente a sua opinião.

Os ex-administradores do BCP João Talone, CEO da EDP, e Pedro Líbano Monteiro, à frente do ICEP, ambos caídos em desgraça dentro do banco, também são nomes incontornáveis quando se fala na sucessão do banqueiro do BCP. Talone e Jardim Gonçalves entraram em rota de colisão a propósito do desempenho da "holding" seguradora Eureko, que era presidida por Talone, mas continuam a manter relações cordatas. Também não é crível que o CEO da EDP aceitasse, até por ter assumido recentemente funções na eléctrica. Fonte ligada ao PSD lembra que ainda recentemente Talone foi sondado para ocupar um lugar ministerial e recusou.

A ruptura com Líbano Monteiro, que foi considerado um delfim de Jardim Gonçalves, terá sido ainda mais profunda, não se vislumbrando um sinal de aproximação com o BCP. Outro dos nomes que periodicamente é mencionado é o do vice-presidente da Goldman Sachs, António Borges, e que muitos gostariam de ver regressar a Portugal. Existem muito poucos lugares à sua dimensão e aspiração e o BCP seria um deles. Um desejo que já esteve mais perto de se realizar. Em entrevista ao PÚBLICO, Borges teceu algumas considerações sobre o modelo de governação do BCP, debruçando-se igualmente sobre outras instituições financeiras. A conversa decorreu meses depois do banco inglês ter prestado consultoria ao grupo português. A resposta do BCP não se faria esperar. Ao que o PÚBLICO apurou, Jardim Gonçalves enviou uma carta muito azeda ao presidente da Goldman Sachs, manifestando insatisfação pelas declarações de António Borges. Tal como Jardim Gonçalves, Borges tem carisma e é um líder nato. Um seu ex-colaborador lembra que quando foi vice-governador do Banco de Portugal, a marca contundente do banco central era a sua. Um perfil que não se coaduna com a discrição e contenção que impera à volta do engenheiro.

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