A coragem de Nuno Morais Sarmento

23-04-2002
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A Coragem de Nuno Morais Sarmento

Por JOSÉ MANUEL FERNANDES

Terça-feira, 2 de Abril de 2002 Os cínicos dirão que foi por cálculo político, para evitar denúncias futuras na imprensa ou sopradas pela oposição. Mas mesmo que fosse - o que não me parece ter sido o caso, pelas palavras utilizadas, pelo olhar captado pelas câmaras -, isso era irrelevante. O importante na declaração de Nuno Morais Sarmento - alguém que esta semana tomará posse como ministro da Nação - foi a forma como assumiu ter um passado de consumo de drogas pesadas e o ter superado. Num país habituado - mal - a esconder os pecadilhos debaixo do tapete, num país habituado - bem - a não se imiscuir na vida privada dos políticos, este comportamento constitui uma importante novidade, e é também um excelente sinal de maioridade. Quem conhece mais de perto o círculo próximo de Durão Barroso costuma destacar o seu brilho, apesar de nunca ter ocupado um lugar de grande protagonismo ou visibilidade. A sua inteligência ficou comprovada na entrevista a Maria João Avillez, mas até aí não haveria surpresa. A surpresa esteve na revelação e nos seus termos. A assumir a sua condição de ex-toxicodependente, Nuno Morais Sarmento começou por não procurar desculpas, mesmo admitindo que na época havia menos informação do que hoje: "sem desculpas, experimentei e usei". "Sem desculpas". Fez então a sua escolha, que agora assumiu publicamente, tal como as consequências: foi "muito difícil pelo sofrimento pessoal, desestruturação da vida, e também de sofrimento à minha volta, na família." Mas depois fez outra escolha, talvez ainda mais difícil do que o sofrimento da condição de toxidependente: largar a droga. Como o conseguiu? Graças, "em primeiro lugar, à vontade". Mas também à família, especialmente à mulher, e ao círculo de amigos. Por outras palavras: o mundo da droga é um mundo "de sofrimento" aonde se vai "sem desculpas" e de onde se pode sair "com vontade". A condição de drogado, de dependente de drogas pesadas, causa dor ao próprio e aos que lhe são próximos, mas não é uma condenação para a vida. Pode existir uma vida depois da droga, e ali esteve Nuno Morais Sarmento, advogado de prestígio, dirigente partidário, futuro ministro, a mostrar-nos como há um outro mundo depois do abismo e como assumir publicamente os erros não é vergonha, é apenas um sinal de que se é capaz de os encarar de frente. E ultrapassar. A revelação do futuro ministro de Durão Barroso aumenta contudo a responsabilidade do próximo Governo no combate ao flagelo que o programa eleitoral do PSD designava como o "inimigo público número um". Esse programa - ao contrário do do seu parceiro de coligação, o CDS-PP, que só parece preocupar-se com o combate ao tráfico - baseia-se na prevenção, no tratamento e na reinserção dos toxicodependentes. Morais Sarmento sabe o que isso custa e sabe, também, como pode valer a pena. Ele é disso o exemplo vivo. OUTROS TÍTULOS EM ESPAÇO PÚBLICO EDITORIAL

A coragem de Nuno Morais Sarmento

OPINIÃO

A solução bélica israelita

O congresso

A.M. Seabra e a flauta trágica

O programa operacional e a política cultural

COMENTÁRIO

Deputados "ma non troppo"

O FIO DO HORIZONTE

O épico

CARTAS AO DIRECTOR

"TVI venceu na boca das urnas"

O espírito está mesmo lá!

Citações

A Coragem de Nuno Morais Sarmento

Por JOSÉ MANUEL FERNANDES

Terça-feira, 2 de Abril de 2002 Os cínicos dirão que foi por cálculo político, para evitar denúncias futuras na imprensa ou sopradas pela oposição. Mas mesmo que fosse - o que não me parece ter sido o caso, pelas palavras utilizadas, pelo olhar captado pelas câmaras -, isso era irrelevante. O importante na declaração de Nuno Morais Sarmento - alguém que esta semana tomará posse como ministro da Nação - foi a forma como assumiu ter um passado de consumo de drogas pesadas e o ter superado. Num país habituado - mal - a esconder os pecadilhos debaixo do tapete, num país habituado - bem - a não se imiscuir na vida privada dos políticos, este comportamento constitui uma importante novidade, e é também um excelente sinal de maioridade. Quem conhece mais de perto o círculo próximo de Durão Barroso costuma destacar o seu brilho, apesar de nunca ter ocupado um lugar de grande protagonismo ou visibilidade. A sua inteligência ficou comprovada na entrevista a Maria João Avillez, mas até aí não haveria surpresa. A surpresa esteve na revelação e nos seus termos. A assumir a sua condição de ex-toxicodependente, Nuno Morais Sarmento começou por não procurar desculpas, mesmo admitindo que na época havia menos informação do que hoje: "sem desculpas, experimentei e usei". "Sem desculpas". Fez então a sua escolha, que agora assumiu publicamente, tal como as consequências: foi "muito difícil pelo sofrimento pessoal, desestruturação da vida, e também de sofrimento à minha volta, na família." Mas depois fez outra escolha, talvez ainda mais difícil do que o sofrimento da condição de toxidependente: largar a droga. Como o conseguiu? Graças, "em primeiro lugar, à vontade". Mas também à família, especialmente à mulher, e ao círculo de amigos. Por outras palavras: o mundo da droga é um mundo "de sofrimento" aonde se vai "sem desculpas" e de onde se pode sair "com vontade". A condição de drogado, de dependente de drogas pesadas, causa dor ao próprio e aos que lhe são próximos, mas não é uma condenação para a vida. Pode existir uma vida depois da droga, e ali esteve Nuno Morais Sarmento, advogado de prestígio, dirigente partidário, futuro ministro, a mostrar-nos como há um outro mundo depois do abismo e como assumir publicamente os erros não é vergonha, é apenas um sinal de que se é capaz de os encarar de frente. E ultrapassar. A revelação do futuro ministro de Durão Barroso aumenta contudo a responsabilidade do próximo Governo no combate ao flagelo que o programa eleitoral do PSD designava como o "inimigo público número um". Esse programa - ao contrário do do seu parceiro de coligação, o CDS-PP, que só parece preocupar-se com o combate ao tráfico - baseia-se na prevenção, no tratamento e na reinserção dos toxicodependentes. Morais Sarmento sabe o que isso custa e sabe, também, como pode valer a pena. Ele é disso o exemplo vivo. OUTROS TÍTULOS EM ESPAÇO PÚBLICO EDITORIAL

A coragem de Nuno Morais Sarmento

OPINIÃO

A solução bélica israelita

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A.M. Seabra e a flauta trágica

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