EXPRESSO: Opinião

17-06-2002
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1/6/2002

OPINIÃO

O homem e a sua circunstância José António Saraiva

Num ano, o mundo da televisão deu muitas voltas

«Primeiro, que num ano muita coisa muda. Segundo, que muitas pessoas não orientam o seu pensamento por princípios mais ou menos constantes, antes reagem de acordo com a sua circunstância, ou seja, do lugar que circunstancialmente ocupam.» HÁ UM ano, Emídio Rangel era o director-geral da SIC e acusava a RTP de «concorrência desleal» por competir directamente com as estações privadas recebendo dinheiro do Estado; hoje, Emídio Rangel é o director de antena da RTP e defende que a televisão pública deve manter o estatuto que tem. Há um ano, Arons de Carvalho ouvia Rangel acusá-lo de cometer sucessivos «dislates» e tinha-o como um dos seus principais inimigos; hoje, Arons de Carvalho acaba de publicar um livro em que uma das maiores preocupações é a defesa de Rangel. Há um ano, José Sócrates era comentador da SIC, elogiava a estação de Balsemão e dava-a até como exemplo à RTP; hoje, José Sócrates é comentador da RTP e acusa o Governo de querer assassinar a televisão pública para beneficiar as estações privadas, dizendo estarmos perante um «telenegócio». Há um ano, Manuel Maria Carrilho era um dos principais críticos da política do PS para a RTP; hoje, Manuel Maria Carrilho é o porta-voz do PS para a RTP, não se tendo aparentemente verificado nas posições dos socialistas qualquer alteração. Há um ano, Luís Filipe Menezes mantinha-se fiel à proposta feita em 96 no Congresso do PSD de «privatizar o Canal 1 da RTP»; hoje, Luís Filipe Menezes participa em manifestações a favor da manutenção dos dois canais da RTP. Há um ano, Francisco Pinto Balsemão parecia ter sido abandonado pelos deuses, via a SIC perder terreno para a TVI e perder dinheiro, não se vislumbrando forma de recuperar; hoje, Francisco Pinto Balsemão vê a SIC roubar à TVI a liderança das audiências e é apontado como um dos grandes beneficiários - se não mesmo como o inspirador - da intenção do Governo de retirar a publicidade à RTP. Há um ano, Margarida Marante era a principal figura feminina da SIC; hoje, Margarida Marante não está a fazer televisão e é crítica da SIC. Há um ano, Maria Elisa era a principal figura feminina da RTP; hoje, Maria Elisa é deputada do PSD, o partido mais crítico em relação à RTP. Há um ano, o principal pivô da SIC era José Alberto Carvalho; hoje, o principal pivô da RTP é José Alberto Carvalho. Há um ano, José Rodrigues dos Santos tinha um processo contra Emídio Rangel depois de este o ter chamado «canalha»; hoje, José Rodrigues dos Santos tem um processo contra Emídio Rangel, só que entretanto desistiu do primeiro processo depois de Rangel lhe ter pedido desculpas mas accionou um segundo considerando-se de novo ofendido com a republicação do «insulto», agora em livro. Este rol de factos, perfeitamente objectivo, mostra duas coisas. Primeiro, que num ano muita coisa muda. Segundo, que muitas pessoas não orientam o seu pensamento por princípios mais ou menos constantes, antes reagem de acordo com a sua circunstância, ou seja, do lugar que circunstancialmente ocupam. E-mail: jsaraiva@mail.expresso.pt

COMENTÁRIOS

19 comentários 1 a 10

3 de Junho de 2002 às 23:12

Asdrúbal ( pétant au-dessus de mon cul )

WWW.monde-diplomatique.fr/1997/08/VIRILIO/8948.

Onde se diz da «Dromoscopia». Um conjunto de saberes e conhecimentos sobre a velocidade e os seus efeitos.

Comme quoi je pète au-dessus de mon cul. É refrescante.

3 de Junho de 2002 às 01:25

Luisp ( np18vc@hotmail.com )

Isto é como os jogadores de futebol. Defendem quem lhes paga, porque é tido no senso comum como correcto não morder a mão de quem nos alimenta. A integridade e a coerência de cada um logo vê-se mais tarde ...

Anda tudo ao mesmo !

2 de Junho de 2002 às 22:25

ramos18 ( jrcontreiras@netcabo.pt )

Acho muito interessante o artigo e felicito o articulista pelo tema escolhido sobre o qual dissertou muito bem. Parabéns!

2 de Junho de 2002 às 14:17

Henrique Jorge ( henrique@netvisao.pt )

Só não mudou José António Saraiva que, há um ano como hoje, continua a "lamber as botas" de Pinto Balsemão. Talvez que a "circunstância" não se tenha alterado para ele.

2 de Junho de 2002 às 13:20

Luky Luky ( E quanto ao "subsídio"... )

... atribuído à Bárbara Guimarães, não é nenhuma insinuação! É um facto!

Não vivesse a Emissora Nacional da taxa que o povo paga com a electricidade, e não falaria (o que não quer dizer que gostasse).

É fácil governar assim, distribuindo os impostos pagos pelo povo pelos amigos e desprezando soberbamente essa coisa do défice, essa "linguagem de economistas"...

2 de Junho de 2002 às 13:17

Luky Luky ( Ah, os "incentivos"... )

... que Carrilho distribuiu pela nossa intelecutalidade!

Sem dúvida que me "apercebi" já há muito, e quem não andar "entretido" terá reparado que já em tempos aqui falei disso. A política de Carrilho na Cultura consistiu em "incentivar" os nossos artistas distribuindo-lhes generosamente os impostos gerados pelo suor do rosto do povo trabalhador.

Mariano Gago fez o mesmo na Ciência, e por isso não admira que ambos tenham fortes lobbies de apoio entre os nossos intelectuais.

Também referi que falta ver é o que é que o país ganhou com isso, que resultados todos esses "incentivos" geraram...

2 de Junho de 2002 às 11:51

jncps2 ( jncps@clix.pt )

O seu artigo fez-me lembrar uma frase que vi sobre um dos poucos politicos que admiro:

Francisco Sá Carneiro. Penso que essa frase é da autoria do actual Presidente

da AR (Mota Amaral).

Sá Carneiro, dizia ele, é um politico com a vertigem pelo risco que vivia como

pensava sem pensar como viveria.

Era isso mesmo que fazia com que ele não fosse circunstancial.

Mas isso só está ao alcance de poucos, e desses poucos mantêm a vertigem

e logo pensam na vidinha.

:o(

1 de Junho de 2002 às 19:07

imperador ( novoimperador@hotmail.com )

Para Luky Luky

É natural que não se tenha apercebido das ideias que Manuel Carrilho tem desenvolvido sobre uma política para o áudio-visual, em geral e para a RTP, em particular já que pelos vistos anda mais entretido com a tricazita rafeira e boçal. Em recente artigo Carrilho desenvolve as ideias que tem para a dita. Faça o favor de procurá-lo? Apercebeu-se ao menos do protagonismo que o Cinema Português tem tido actualmente no mundo graças a uma política de incentivo com pés e cabeça e que pôs Portugal em Programas dos Festivais de Todo o Mundo. Claro que a sua política não agrada a todos. Por exemplo, ainda há pouco ouviamos um dos acessores do José Lello queixar-se (quer dizer insultar) porque Carrilho não subsidiva projectos estilo Mala de Cartão da Emigrolândia nem Festivais Carnavalescos de Bunda à MOstra, nem Distribuía umas esmolas por todas as associações pindéricas. E deixe-se de tretas e esconda a raivazinha bem lusitana de não poder sequer chegar ao calcanhar da Bárbara Guimarães. Porquê que insiste na insinuação mesquinha e torpe como essa da grossa maquia que...

Bem mais ridículas coisas paga você como contribuinte e não se ouve um suspiro. Quer exemplos? Nunca mais acabavam!

Há muito mais coisas a fazer na vida que escrever comentários idiotas, sabia?

1 de Junho de 2002 às 18:54

metamorfose

As crianças pequenas que só têm a educação dos cromossomas, quando brincam querem vencer, seja como for.

Depois são educadas para terem as melhores notas na escola, para terem sucesso nos estudos, para vencerem, seja como for.

Estes são os princípios que trazem dentro de si quando nascem, que lhes repetem na família e na escola, e que os orientam toda a vida, não só de forma mais ou menos constante, mas constantemente da mesma forma.

Num ano, num século, durante milénios, nada tem mudado excepto a aparência das coisas, mas não as coisas e, muito menos, a essência das coisas.

As pessoas reagem de forma aparentemente diferente conforme as circunstâncias mudam precisamente porque orientam o seu pensamento sempre pelos mesmos princípios - ganhar, vencer, sobreviver.

Como de costume, com o pensamento orientado por princípios imutáveis, o prof. Saraiva diz o contrário do que julga estar dizendo.

1 de Junho de 2002 às 18:42

B. Wäss Füdder ( wass_fudder@hotmail.com )

Conclusão de JAS:

Somos um país de troca-tintas.

Mas isso não é novidade; lembra-se do trabalho que os alfaiates tiveram a virar casacas, depoi do 25 de Abril?

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O homem e a sua circunstância José António Saraiva

Num ano, o mundo da televisão deu muitas voltas

«Primeiro, que num ano muita coisa muda. Segundo, que muitas pessoas não orientam o seu pensamento por princípios mais ou menos constantes, antes reagem de acordo com a sua circunstância, ou seja, do lugar que circunstancialmente ocupam.» HÁ UM ano, Emídio Rangel era o director-geral da SIC e acusava a RTP de «concorrência desleal» por competir directamente com as estações privadas recebendo dinheiro do Estado; hoje, Emídio Rangel é o director de antena da RTP e defende que a televisão pública deve manter o estatuto que tem. Há um ano, Arons de Carvalho ouvia Rangel acusá-lo de cometer sucessivos «dislates» e tinha-o como um dos seus principais inimigos; hoje, Arons de Carvalho acaba de publicar um livro em que uma das maiores preocupações é a defesa de Rangel. Há um ano, José Sócrates era comentador da SIC, elogiava a estação de Balsemão e dava-a até como exemplo à RTP; hoje, José Sócrates é comentador da RTP e acusa o Governo de querer assassinar a televisão pública para beneficiar as estações privadas, dizendo estarmos perante um «telenegócio». Há um ano, Manuel Maria Carrilho era um dos principais críticos da política do PS para a RTP; hoje, Manuel Maria Carrilho é o porta-voz do PS para a RTP, não se tendo aparentemente verificado nas posições dos socialistas qualquer alteração. Há um ano, Luís Filipe Menezes mantinha-se fiel à proposta feita em 96 no Congresso do PSD de «privatizar o Canal 1 da RTP»; hoje, Luís Filipe Menezes participa em manifestações a favor da manutenção dos dois canais da RTP. Há um ano, Francisco Pinto Balsemão parecia ter sido abandonado pelos deuses, via a SIC perder terreno para a TVI e perder dinheiro, não se vislumbrando forma de recuperar; hoje, Francisco Pinto Balsemão vê a SIC roubar à TVI a liderança das audiências e é apontado como um dos grandes beneficiários - se não mesmo como o inspirador - da intenção do Governo de retirar a publicidade à RTP. Há um ano, Margarida Marante era a principal figura feminina da SIC; hoje, Margarida Marante não está a fazer televisão e é crítica da SIC. Há um ano, Maria Elisa era a principal figura feminina da RTP; hoje, Maria Elisa é deputada do PSD, o partido mais crítico em relação à RTP. Há um ano, o principal pivô da SIC era José Alberto Carvalho; hoje, o principal pivô da RTP é José Alberto Carvalho. Há um ano, José Rodrigues dos Santos tinha um processo contra Emídio Rangel depois de este o ter chamado «canalha»; hoje, José Rodrigues dos Santos tem um processo contra Emídio Rangel, só que entretanto desistiu do primeiro processo depois de Rangel lhe ter pedido desculpas mas accionou um segundo considerando-se de novo ofendido com a republicação do «insulto», agora em livro. Este rol de factos, perfeitamente objectivo, mostra duas coisas. Primeiro, que num ano muita coisa muda. Segundo, que muitas pessoas não orientam o seu pensamento por princípios mais ou menos constantes, antes reagem de acordo com a sua circunstância, ou seja, do lugar que circunstancialmente ocupam. E-mail: jsaraiva@mail.expresso.pt

COMENTÁRIOS

19 comentários 1 a 10

3 de Junho de 2002 às 23:12

Asdrúbal ( pétant au-dessus de mon cul )

WWW.monde-diplomatique.fr/1997/08/VIRILIO/8948.

Onde se diz da «Dromoscopia». Um conjunto de saberes e conhecimentos sobre a velocidade e os seus efeitos.

Comme quoi je pète au-dessus de mon cul. É refrescante.

3 de Junho de 2002 às 01:25

Luisp ( np18vc@hotmail.com )

Isto é como os jogadores de futebol. Defendem quem lhes paga, porque é tido no senso comum como correcto não morder a mão de quem nos alimenta. A integridade e a coerência de cada um logo vê-se mais tarde ...

Anda tudo ao mesmo !

2 de Junho de 2002 às 22:25

ramos18 ( jrcontreiras@netcabo.pt )

Acho muito interessante o artigo e felicito o articulista pelo tema escolhido sobre o qual dissertou muito bem. Parabéns!

2 de Junho de 2002 às 14:17

Henrique Jorge ( henrique@netvisao.pt )

Só não mudou José António Saraiva que, há um ano como hoje, continua a "lamber as botas" de Pinto Balsemão. Talvez que a "circunstância" não se tenha alterado para ele.

2 de Junho de 2002 às 13:20

Luky Luky ( E quanto ao "subsídio"... )

... atribuído à Bárbara Guimarães, não é nenhuma insinuação! É um facto!

Não vivesse a Emissora Nacional da taxa que o povo paga com a electricidade, e não falaria (o que não quer dizer que gostasse).

É fácil governar assim, distribuindo os impostos pagos pelo povo pelos amigos e desprezando soberbamente essa coisa do défice, essa "linguagem de economistas"...

2 de Junho de 2002 às 13:17

Luky Luky ( Ah, os "incentivos"... )

... que Carrilho distribuiu pela nossa intelecutalidade!

Sem dúvida que me "apercebi" já há muito, e quem não andar "entretido" terá reparado que já em tempos aqui falei disso. A política de Carrilho na Cultura consistiu em "incentivar" os nossos artistas distribuindo-lhes generosamente os impostos gerados pelo suor do rosto do povo trabalhador.

Mariano Gago fez o mesmo na Ciência, e por isso não admira que ambos tenham fortes lobbies de apoio entre os nossos intelectuais.

Também referi que falta ver é o que é que o país ganhou com isso, que resultados todos esses "incentivos" geraram...

2 de Junho de 2002 às 11:51

jncps2 ( jncps@clix.pt )

O seu artigo fez-me lembrar uma frase que vi sobre um dos poucos politicos que admiro:

Francisco Sá Carneiro. Penso que essa frase é da autoria do actual Presidente

da AR (Mota Amaral).

Sá Carneiro, dizia ele, é um politico com a vertigem pelo risco que vivia como

pensava sem pensar como viveria.

Era isso mesmo que fazia com que ele não fosse circunstancial.

Mas isso só está ao alcance de poucos, e desses poucos mantêm a vertigem

e logo pensam na vidinha.

:o(

1 de Junho de 2002 às 19:07

imperador ( novoimperador@hotmail.com )

Para Luky Luky

É natural que não se tenha apercebido das ideias que Manuel Carrilho tem desenvolvido sobre uma política para o áudio-visual, em geral e para a RTP, em particular já que pelos vistos anda mais entretido com a tricazita rafeira e boçal. Em recente artigo Carrilho desenvolve as ideias que tem para a dita. Faça o favor de procurá-lo? Apercebeu-se ao menos do protagonismo que o Cinema Português tem tido actualmente no mundo graças a uma política de incentivo com pés e cabeça e que pôs Portugal em Programas dos Festivais de Todo o Mundo. Claro que a sua política não agrada a todos. Por exemplo, ainda há pouco ouviamos um dos acessores do José Lello queixar-se (quer dizer insultar) porque Carrilho não subsidiva projectos estilo Mala de Cartão da Emigrolândia nem Festivais Carnavalescos de Bunda à MOstra, nem Distribuía umas esmolas por todas as associações pindéricas. E deixe-se de tretas e esconda a raivazinha bem lusitana de não poder sequer chegar ao calcanhar da Bárbara Guimarães. Porquê que insiste na insinuação mesquinha e torpe como essa da grossa maquia que...

Bem mais ridículas coisas paga você como contribuinte e não se ouve um suspiro. Quer exemplos? Nunca mais acabavam!

Há muito mais coisas a fazer na vida que escrever comentários idiotas, sabia?

1 de Junho de 2002 às 18:54

metamorfose

As crianças pequenas que só têm a educação dos cromossomas, quando brincam querem vencer, seja como for.

Depois são educadas para terem as melhores notas na escola, para terem sucesso nos estudos, para vencerem, seja como for.

Estes são os princípios que trazem dentro de si quando nascem, que lhes repetem na família e na escola, e que os orientam toda a vida, não só de forma mais ou menos constante, mas constantemente da mesma forma.

Num ano, num século, durante milénios, nada tem mudado excepto a aparência das coisas, mas não as coisas e, muito menos, a essência das coisas.

As pessoas reagem de forma aparentemente diferente conforme as circunstâncias mudam precisamente porque orientam o seu pensamento sempre pelos mesmos princípios - ganhar, vencer, sobreviver.

Como de costume, com o pensamento orientado por princípios imutáveis, o prof. Saraiva diz o contrário do que julga estar dizendo.

1 de Junho de 2002 às 18:42

B. Wäss Füdder ( wass_fudder@hotmail.com )

Conclusão de JAS:

Somos um país de troca-tintas.

Mas isso não é novidade; lembra-se do trabalho que os alfaiates tiveram a virar casacas, depoi do 25 de Abril?

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