A "esquerda progressista" conluia-se com os poderosos para defender o regresso do PS ao poder

19-02-2005
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A "Esquerda Progressista" Conluia-se com Os Poderosos para Defender o Regresso do PS ao Poder

Por POR MANUEL CARVALHO, Paulo Magalhães (Rádio Renascença) e Pedro Cunha (fotos)

Sexta-feira, 18 de Fevereiro de 2005

Durão Barroso perdeu as legislativas em 1999 e foi reconduzido na liderança do PSD. O exemplo serve para Santana Lopes considerar que o seu destino político está dependente de múltiplas análises dos resultados de domingo, não apenas os do PSD, mas igualmente dos restantes partidos. Insistindo na ausência de razões capazes de explicar a dissolução da Assembleia da República, Santana Lopes assume que foram as posições públicas de altos representantes da banca e do empresariado que levaram o Presidente da República a suspender a legislatura. E afirma que são esses "interesses" que estão a defender o regresso do PS ao poder.

R. - Eu não tenho patamares mínimos. Penso que a avaliação de domingo à noite depende dos resultados próprios e do conjunto dos resultados. Há dados absolutos e dados relativos. Para mim não faz sentido estar a fazer agora a reflexão que quero fazer domingo à noite.

R. - Penso que, se ganhar, como espero, tenho de partir imediatamente para a cimeira da NATO, que terá lugar em Bruxelas. As consequências a extrair de uma vitória é governar; de uma derrota, a ver vamos. Já houve outras derrotas na história do partido. Lembro-me da de Durão Barroso em 1999 e ele continuou em funções.

R. - Também nessa altura havia. Diziam que era eu e depois houve um congresso em Viseu e ele voltou a ganhar as eleições.

R. - Depende dos resultados e eu só quero falar em vitória neste momento. Estaria a prejudicar o meu caminho, o projecto que protagonizo, se neste momento estivesse a falar de situações que não interessam aos princípios e valores que defendo.

R. - Mas a clareza antes do tempo gera confusão.

R. - Não é vitória moral nenhuma, nunca gostei de vitórias morais - para mim ou há vitória ou derrota. Ou ganho as eleições de domingo, ou perco as eleições de domingo. Agora é um facto que peguei no partido quando se estava na pior fase do centro-direita em Portugal, quando os dois partidos da coligação juntos tinham 33 por cento. E quatro, cinco meses depois, estava a haver dissolução da Assembleia. Eu peguei no Governo em cima de dois anos de governação muito difícil, que deu os resultados eleitorais que deu, e quatro meses depois estava a ir para eleições. Esta é uma realidade que não pode ser ignorada nem escamoteada e que o povo pelo país fora compreende. O meu partido, nomeadamente, sente-o. Um grande erro, que alguns, algumas figuras mais conhecidas, cometeram no princípio desta campanha foi quererem ditar antecipadamente que o PPD/PSD não iria estar comigo, não iria reagir, não iria estar na luta. Tem estado e com um entusiasmo como eu não via há cerca de 20 anos.

R. - Nem Cavaco Silva teve o PSD em bloco e conquistou 51 por cento dos votos. Nem Mário Soares teve sempre o PS em bloco. Isso é unanimismo. Depois de tudo o que se passou, a grande maioria do partido mostrou uma atitude fantástica. Agora que haja dois, três, dez, vinte até militantes...

R. - Destacados. São mais destacados quando estão contra, são menos destacados quando estão a favor.

R. - É um facto. No artigo [de José Pacheco Pereira, ontem no PÚBLICO], eu li: "Eu, que sou o maior crítico de Santana Lopes." Não sou eu que estou a dizer. É o próprio que assume e honra lhe seja feita. Atacou sempre o Governo do PPS/PSD e agora diz que vota no PPS/PSD. Mas não é um voto coerente com tudo o que fez ao longo deste tempo. As pessoas deviam ser coerentes, mas cada um sabe de si.

R. - Mas sempre numa posição heterodoxa. Sempre acusado pelos senhores que escrevem, que falam, que analisam, como alguém que não faz parte da convenção. São os senhores [jornalistas] que dizem: "Ele tem uma vida privada, uma vida pessoal, uma maneira de estar na política, de reagir, de falar, de ser, que não faz parte dos cânones." E quem escreve isto são supostamente os mais progressistas.

R. - Já o disse. Foi o presidente da associação dos banqueiros que veio defender em público o derrube do meu Governo e a dissolução da Assembleia. Não foi o presidente da associação dos desempregados. Foi o presidente da CIP, dos patrões, que veio fazer o mesmo apelo, não foi o presidente das confederações sindicais. São esses, com os quais a esquerda progressista entre aspas se conluia, se organiza, para defender os interesses do regresso ao poder do PS. Não fui eu que falei por eles. Foram eles que falaram. Se tivesse sido o secretário-geral da CGTP sozinho... Mas não.

R. - É um facto. O jornal que fez mais eco disso, para além do PÚBLICO, que é um jornal militante desde o princípio - o director esteve numa manifestação em Belém contra a posse do meu Governo -, para além do PÚBLICO, o "Diário Económico", que, como é sabido, é o jornal de determinados sectores económicos, foi o jornal onde apareceu, no dia da dissolução, a expressão do descontentamento desses sectores do patronato. Não foi dos que não têm voz. Eu ganhei Lisboa com os bairros sociais.

R. - ... populista. Já sei qual é a conversa.

R. - Mas isso é um facto, sabe?

R. - Não sei, podemos comparar rendimentos. Em Lisboa, ganhei as eleições com os bairros municipais. Na Figueira da Foz, os notáveis da terra estavam todos com o PS. Eu ganhei as eleições foi com o povo. Custa. Dói. Mas é verdade.

R. - Como, por exemplo?

R. - É falso.

R. - Eu dou a minha palavra de honra que ele sabia. A questão era a designação - se ficava Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, ou dos Assuntos do Mar e da Defesa Nacional. E foi isso que foi mudado com o Presidente da República. Uma questão gravíssima... De facto, houve a hipótese até de o ministro Paulo Portas não ficar na Defesa Nacional, e isso é uma coisa que um dia escreverei. Uma das razões pelas quais eu insisti para ele ficar com a Defesa Nacional foi ele também ficar com os Assuntos do Mar. Isso sempre esteve mais nos estudos militares que nos estudos civis. E ele, quando ouviu o nome do ministério, fez assim aquela cara, confesso que um pouco exagerada e causou essa sensação.

R. - Primeiro ponto: se fosse por causa de um secretário de Estado que estava para ir para um lado e acabou por ir para o outro, tinha caído o Governo de António Guterres quatro vezes - aconteceu isso em quatro tomadas de posse. Por exemplo, Miranda Calha, que tinha ficado no Desporto e à última hora foi para a Defesa.

R. - A colocação dos professores, que vinha do Governo anterior mas que teve efeitos no meu Governo. Não correu bem. Foi desagradável. Houve dois ou três ministros que divergiram em público, acontece em todos os governos do mundo. Mas no momento político em que vivíamos, de especial tensão, em que houve um primeiro-ministro que saiu e outro que entrou e o Presidente teve três semanas para decidir se lhe dava posse ou não, a mínima beliscadura, o mínimo problema, ganhava uma dimensão maior do que ganharia normalmente.

R. - Tem graça, é simpático, é um cartaz bem feito.

R. - Não, são frases de campanha, é compreensível. Naturalmente, o PP preocupa-se com o voto útil no PPD/PSD à última hora e procurou estancar essa fuga fazendo esse cartaz. O PP não andou a disputar votos ao Bloco de Esquerda, andou a disputar também a nós. Faz parte. Não me melindro.

A "Esquerda Progressista" Conluia-se com Os Poderosos para Defender o Regresso do PS ao Poder

Por POR MANUEL CARVALHO, Paulo Magalhães (Rádio Renascença) e Pedro Cunha (fotos)

Sexta-feira, 18 de Fevereiro de 2005

Durão Barroso perdeu as legislativas em 1999 e foi reconduzido na liderança do PSD. O exemplo serve para Santana Lopes considerar que o seu destino político está dependente de múltiplas análises dos resultados de domingo, não apenas os do PSD, mas igualmente dos restantes partidos. Insistindo na ausência de razões capazes de explicar a dissolução da Assembleia da República, Santana Lopes assume que foram as posições públicas de altos representantes da banca e do empresariado que levaram o Presidente da República a suspender a legislatura. E afirma que são esses "interesses" que estão a defender o regresso do PS ao poder.

R. - Eu não tenho patamares mínimos. Penso que a avaliação de domingo à noite depende dos resultados próprios e do conjunto dos resultados. Há dados absolutos e dados relativos. Para mim não faz sentido estar a fazer agora a reflexão que quero fazer domingo à noite.

R. - Penso que, se ganhar, como espero, tenho de partir imediatamente para a cimeira da NATO, que terá lugar em Bruxelas. As consequências a extrair de uma vitória é governar; de uma derrota, a ver vamos. Já houve outras derrotas na história do partido. Lembro-me da de Durão Barroso em 1999 e ele continuou em funções.

R. - Também nessa altura havia. Diziam que era eu e depois houve um congresso em Viseu e ele voltou a ganhar as eleições.

R. - Depende dos resultados e eu só quero falar em vitória neste momento. Estaria a prejudicar o meu caminho, o projecto que protagonizo, se neste momento estivesse a falar de situações que não interessam aos princípios e valores que defendo.

R. - Mas a clareza antes do tempo gera confusão.

R. - Não é vitória moral nenhuma, nunca gostei de vitórias morais - para mim ou há vitória ou derrota. Ou ganho as eleições de domingo, ou perco as eleições de domingo. Agora é um facto que peguei no partido quando se estava na pior fase do centro-direita em Portugal, quando os dois partidos da coligação juntos tinham 33 por cento. E quatro, cinco meses depois, estava a haver dissolução da Assembleia. Eu peguei no Governo em cima de dois anos de governação muito difícil, que deu os resultados eleitorais que deu, e quatro meses depois estava a ir para eleições. Esta é uma realidade que não pode ser ignorada nem escamoteada e que o povo pelo país fora compreende. O meu partido, nomeadamente, sente-o. Um grande erro, que alguns, algumas figuras mais conhecidas, cometeram no princípio desta campanha foi quererem ditar antecipadamente que o PPD/PSD não iria estar comigo, não iria reagir, não iria estar na luta. Tem estado e com um entusiasmo como eu não via há cerca de 20 anos.

R. - Nem Cavaco Silva teve o PSD em bloco e conquistou 51 por cento dos votos. Nem Mário Soares teve sempre o PS em bloco. Isso é unanimismo. Depois de tudo o que se passou, a grande maioria do partido mostrou uma atitude fantástica. Agora que haja dois, três, dez, vinte até militantes...

R. - Destacados. São mais destacados quando estão contra, são menos destacados quando estão a favor.

R. - É um facto. No artigo [de José Pacheco Pereira, ontem no PÚBLICO], eu li: "Eu, que sou o maior crítico de Santana Lopes." Não sou eu que estou a dizer. É o próprio que assume e honra lhe seja feita. Atacou sempre o Governo do PPS/PSD e agora diz que vota no PPS/PSD. Mas não é um voto coerente com tudo o que fez ao longo deste tempo. As pessoas deviam ser coerentes, mas cada um sabe de si.

R. - Mas sempre numa posição heterodoxa. Sempre acusado pelos senhores que escrevem, que falam, que analisam, como alguém que não faz parte da convenção. São os senhores [jornalistas] que dizem: "Ele tem uma vida privada, uma vida pessoal, uma maneira de estar na política, de reagir, de falar, de ser, que não faz parte dos cânones." E quem escreve isto são supostamente os mais progressistas.

R. - Já o disse. Foi o presidente da associação dos banqueiros que veio defender em público o derrube do meu Governo e a dissolução da Assembleia. Não foi o presidente da associação dos desempregados. Foi o presidente da CIP, dos patrões, que veio fazer o mesmo apelo, não foi o presidente das confederações sindicais. São esses, com os quais a esquerda progressista entre aspas se conluia, se organiza, para defender os interesses do regresso ao poder do PS. Não fui eu que falei por eles. Foram eles que falaram. Se tivesse sido o secretário-geral da CGTP sozinho... Mas não.

R. - É um facto. O jornal que fez mais eco disso, para além do PÚBLICO, que é um jornal militante desde o princípio - o director esteve numa manifestação em Belém contra a posse do meu Governo -, para além do PÚBLICO, o "Diário Económico", que, como é sabido, é o jornal de determinados sectores económicos, foi o jornal onde apareceu, no dia da dissolução, a expressão do descontentamento desses sectores do patronato. Não foi dos que não têm voz. Eu ganhei Lisboa com os bairros sociais.

R. - ... populista. Já sei qual é a conversa.

R. - Mas isso é um facto, sabe?

R. - Não sei, podemos comparar rendimentos. Em Lisboa, ganhei as eleições com os bairros municipais. Na Figueira da Foz, os notáveis da terra estavam todos com o PS. Eu ganhei as eleições foi com o povo. Custa. Dói. Mas é verdade.

R. - Como, por exemplo?

R. - É falso.

R. - Eu dou a minha palavra de honra que ele sabia. A questão era a designação - se ficava Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, ou dos Assuntos do Mar e da Defesa Nacional. E foi isso que foi mudado com o Presidente da República. Uma questão gravíssima... De facto, houve a hipótese até de o ministro Paulo Portas não ficar na Defesa Nacional, e isso é uma coisa que um dia escreverei. Uma das razões pelas quais eu insisti para ele ficar com a Defesa Nacional foi ele também ficar com os Assuntos do Mar. Isso sempre esteve mais nos estudos militares que nos estudos civis. E ele, quando ouviu o nome do ministério, fez assim aquela cara, confesso que um pouco exagerada e causou essa sensação.

R. - Primeiro ponto: se fosse por causa de um secretário de Estado que estava para ir para um lado e acabou por ir para o outro, tinha caído o Governo de António Guterres quatro vezes - aconteceu isso em quatro tomadas de posse. Por exemplo, Miranda Calha, que tinha ficado no Desporto e à última hora foi para a Defesa.

R. - A colocação dos professores, que vinha do Governo anterior mas que teve efeitos no meu Governo. Não correu bem. Foi desagradável. Houve dois ou três ministros que divergiram em público, acontece em todos os governos do mundo. Mas no momento político em que vivíamos, de especial tensão, em que houve um primeiro-ministro que saiu e outro que entrou e o Presidente teve três semanas para decidir se lhe dava posse ou não, a mínima beliscadura, o mínimo problema, ganhava uma dimensão maior do que ganharia normalmente.

R. - Tem graça, é simpático, é um cartaz bem feito.

R. - Não, são frases de campanha, é compreensível. Naturalmente, o PP preocupa-se com o voto útil no PPD/PSD à última hora e procurou estancar essa fuga fazendo esse cartaz. O PP não andou a disputar votos ao Bloco de Esquerda, andou a disputar também a nós. Faz parte. Não me melindro.

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