"O Invasor": um vírus que passados dez meses ainda surpreende os médicos

23-10-2020
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Miguel Ángel Padriñán Alba

Há muitos anos que a Organização Mundial de Saúde alertava para o que, na gíria técnica, se chamava a pandemia X; a certeza de que um novo vírus poderia invadir o mundo.

2020 trouxe a certeza do seu nome: SARS Cov-2.

Nos dez meses que se seguiram foram feitos mais de 45 mil investigações científicas. Cientistas de todo o mundo tentaram encontrar respostas para três essenciais perguntas: que vírus é este? como é que se transmite e que doença causa.

No primeiro episódio da série Pandemia, a Grande Reportagem aborda o que já sabemos e o que ainda desconhecemos sobre "O Invasor" um vírus que passados dez meses ainda surpreende os médicos por causa da gravidade da doença que provoca em alguns, enquanto passa quase despercebida noutros.

O caso de Bruno Lopes

A reportagem conta, por exemplo, a história de Bruno Lopes. Um jovem de 33 anos saudável que o primeiro e único sintoma que teve, aconteceu numa noite que acordou com tosse e febre a expetoração com sangue.

Não fazendo parte dos grupos de risco, acabou por ficar nos cuidados intensivos 20 dias. Mas ao contrário do que acontece com a maioria dos doentes graves de covid, Bruno nunca foi sedado nem entubado.

Ficou apenas ligado à ECMO, um aparelho de oxigenação extracorporal, que substitui o coração e os pulmões e que só existe em quatro hospitais do país.

Segurança, Bruno Lopes acabou por ter sorte. O vírus acabou apenas por infetar-lhe o pulmão, o primeiro órgão, a par de todo o sistema respiratório, que o sars cov 2 invade.

Onde vive o vírus?

Como qualquer outro vírus respiratório, o sars Cov 2 vive em gotículas que se libertam quando falamos, tossimos ou espirramos.

Elas podem chegar ao nariz, boca ou olhos de outras pessoas que estejam próximas.

As gotículas, cheias de vírus, têm dimensões e pesos diferentes, as mais pesadas ficam retidas no nariz e as mais leves viajam pelo corpo humano.

A chave de entrada do coronavírus

E é nessa viagem que o novo coronavírus vai procurar células com as quais tenha afinidade para poder entrar, a única forma de sobreviver.

A junção entre vírus e célula, acontece entre uma espécie de espigão que o vírus tem à superfície, a proteína spyke e uma proteína da célula, denominada por ACE, e que neste jogo de ligação funciona como a chave de entrada do coronavírus.

Há milhares de células destas nas vias respiratórias e nos pulmões, o principal órgão que o que vírus infeta, mas também em muitos outros órgaõs e sistemas do corpo humano. É o caso do coração, dos rins ou do fígado por exemplo.

São as células que têm essa proteína, esse recetor, que o vírus invade acabando por criar infeção.

Sete meses internado

Joana Bento viu a sua família de sete pessoas ficar toda infetada. O pai esteve três meses internado. Os restantes seis membros da família fizeram a quarentena em casa, sem que nenhum deles tenha tido grandes sintomas

Joana, o marido, as filhas e o irmão acabaram por negativar ao fim de duas semanas.

Já a mãe esteve mais de dois meses para se livrar do vírus. Teve alta ao fim da 12ª zaragatoa, numa altura em que a comunidade científica começava a desvendar o mistério dos doentes eternamente infetados: a partir de determinada altura, o vírus desintegra-se e deixa fragmentos que são identificados pelos testes de diagnostico. Mas são apenas fragmentos e não vírus viáveis. Ou seja, não são transmissíveis.

Para a comunidade científica não foi surpresa o aparecimento deste novo vírus respiratório, nem a rapidez com que se expande e infeta milhões. O que surpreendeu e continua a surpreender os especialistas é a gravidade da doença que provoca em alguns doentes, enquanto passa quase despercebida noutros.

Em apenas 10 meses, a ciência produziu o que nunca antes tinha produzido em tão curto espaço de tempo.

Investigou-se a física, a morfologia, a genética e até a suscetibilidade que o SARS COV2 tem a fatores ambientais que podem condicionar a doença.

Sabe-se exatamente quais são os componentes do vírus, qual é a sua estrutura e até como é que opera dentro das células. Conhecimento que com outros vírus, por exemplo o da sida, se demorou anos a ter.

Ainda há muito por saber

Mas há ainda muito para saber. Não há por exemplo certezas de quanto tempo sobrevive nas superfícies em que tocamos, nem certezas quanto a um possível contágio pelo ar que respiramos.

Certo é que, como aconteceu com outros vírus - o da gripe por exemplo - o contágio acontece dois dias antes do aparecimento dos primeiros sintomas, como a dor de cabeça, a tosse, a febre ou a redução do olfato.

Miguel Ángel Padriñán Alba

Há muitos anos que a Organização Mundial de Saúde alertava para o que, na gíria técnica, se chamava a pandemia X; a certeza de que um novo vírus poderia invadir o mundo.

2020 trouxe a certeza do seu nome: SARS Cov-2.

Nos dez meses que se seguiram foram feitos mais de 45 mil investigações científicas. Cientistas de todo o mundo tentaram encontrar respostas para três essenciais perguntas: que vírus é este? como é que se transmite e que doença causa.

No primeiro episódio da série Pandemia, a Grande Reportagem aborda o que já sabemos e o que ainda desconhecemos sobre "O Invasor" um vírus que passados dez meses ainda surpreende os médicos por causa da gravidade da doença que provoca em alguns, enquanto passa quase despercebida noutros.

O caso de Bruno Lopes

A reportagem conta, por exemplo, a história de Bruno Lopes. Um jovem de 33 anos saudável que o primeiro e único sintoma que teve, aconteceu numa noite que acordou com tosse e febre a expetoração com sangue.

Não fazendo parte dos grupos de risco, acabou por ficar nos cuidados intensivos 20 dias. Mas ao contrário do que acontece com a maioria dos doentes graves de covid, Bruno nunca foi sedado nem entubado.

Ficou apenas ligado à ECMO, um aparelho de oxigenação extracorporal, que substitui o coração e os pulmões e que só existe em quatro hospitais do país.

Segurança, Bruno Lopes acabou por ter sorte. O vírus acabou apenas por infetar-lhe o pulmão, o primeiro órgão, a par de todo o sistema respiratório, que o sars cov 2 invade.

Onde vive o vírus?

Como qualquer outro vírus respiratório, o sars Cov 2 vive em gotículas que se libertam quando falamos, tossimos ou espirramos.

Elas podem chegar ao nariz, boca ou olhos de outras pessoas que estejam próximas.

As gotículas, cheias de vírus, têm dimensões e pesos diferentes, as mais pesadas ficam retidas no nariz e as mais leves viajam pelo corpo humano.

A chave de entrada do coronavírus

E é nessa viagem que o novo coronavírus vai procurar células com as quais tenha afinidade para poder entrar, a única forma de sobreviver.

A junção entre vírus e célula, acontece entre uma espécie de espigão que o vírus tem à superfície, a proteína spyke e uma proteína da célula, denominada por ACE, e que neste jogo de ligação funciona como a chave de entrada do coronavírus.

Há milhares de células destas nas vias respiratórias e nos pulmões, o principal órgão que o que vírus infeta, mas também em muitos outros órgaõs e sistemas do corpo humano. É o caso do coração, dos rins ou do fígado por exemplo.

São as células que têm essa proteína, esse recetor, que o vírus invade acabando por criar infeção.

Sete meses internado

Joana Bento viu a sua família de sete pessoas ficar toda infetada. O pai esteve três meses internado. Os restantes seis membros da família fizeram a quarentena em casa, sem que nenhum deles tenha tido grandes sintomas

Joana, o marido, as filhas e o irmão acabaram por negativar ao fim de duas semanas.

Já a mãe esteve mais de dois meses para se livrar do vírus. Teve alta ao fim da 12ª zaragatoa, numa altura em que a comunidade científica começava a desvendar o mistério dos doentes eternamente infetados: a partir de determinada altura, o vírus desintegra-se e deixa fragmentos que são identificados pelos testes de diagnostico. Mas são apenas fragmentos e não vírus viáveis. Ou seja, não são transmissíveis.

Para a comunidade científica não foi surpresa o aparecimento deste novo vírus respiratório, nem a rapidez com que se expande e infeta milhões. O que surpreendeu e continua a surpreender os especialistas é a gravidade da doença que provoca em alguns doentes, enquanto passa quase despercebida noutros.

Em apenas 10 meses, a ciência produziu o que nunca antes tinha produzido em tão curto espaço de tempo.

Investigou-se a física, a morfologia, a genética e até a suscetibilidade que o SARS COV2 tem a fatores ambientais que podem condicionar a doença.

Sabe-se exatamente quais são os componentes do vírus, qual é a sua estrutura e até como é que opera dentro das células. Conhecimento que com outros vírus, por exemplo o da sida, se demorou anos a ter.

Ainda há muito por saber

Mas há ainda muito para saber. Não há por exemplo certezas de quanto tempo sobrevive nas superfícies em que tocamos, nem certezas quanto a um possível contágio pelo ar que respiramos.

Certo é que, como aconteceu com outros vírus - o da gripe por exemplo - o contágio acontece dois dias antes do aparecimento dos primeiros sintomas, como a dor de cabeça, a tosse, a febre ou a redução do olfato.

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