Portugal deve ter sistema de alerta para maremotos, dizem cientistas

12-01-2005
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Portugal Deve Ter Sistema de Alerta para Maremotos, Dizem Cientistas

Sábado, 08 de Janeiro de 2005

Se acontecesse um maremoto como o que foi provocado pelo sismo de 1755, que atingiu Lisboa, o Algarve e a costa africana, os portugueses poderiam ser alertados com antecedência? Se houvesse um sistema de alerta montado em Portugal, era possível, embora não muito tempo antes. Mesmo assim, vale a pena cria-lo? Sim, foi a resposta dada ontem na conferência "Tsumani e sismos: causas e consequências sociais", na Faculdade de Ciências de Lisboa (FCUL).

Num anfiteatro repleto, o geofísico Miguel Miranda, da FCUL, disse que um sistema de alerta terá de ter sismómetros e sensores de pressão, para detectar o sismo e a formação de ondas gigantes. Também seria importante ter estações submarinas para localizar epicentros dos sismos.

Mas isto custa dinheiro, sobretudo as comunicações dos instrumentos para terra. "Rondará quatro a cinco milhões de euros." Da plateia, o geofísico Luís Matias, também da FCUL, precisou: "São dois quilómetros de auto-estrada, que podem salvar pessoas."

No caso português, a zona que parece mais perigosa, sujeita a forte actividade sísmica, está a 150 a 200 quilómetros da costa. Assim, entre a ocorrência de um maremoto e a chegada ao litoral - diferente para o Algarve ou Lisboa - não haverá muito tempo. "Estamos a falar de 15 minutos a uma hora. Vale a pena um sistema de alerta? Vale, do ponto de vista dos sistemas de segurança dos bombeiros, para actuar nos combustíveis, nas comunicações", disse Miguel Miranda. Evitar o pânico das populações, quando sentem um sismo, seria outras das vantagens, sublinhou Luís Matias.

Se os efeitos dos maremotos pareciam ficção para muitos habitantes da Terra, a catástrofe a 26 de Dezembro no sudoeste asiático mostrou que podem ser muito reais. "Tínhamos poucos registos instrumentais e documentação histórica. Quando a lemos, ficamos com a impressão de que pessoas exageram, porque apanharam um susto. Lemos que no 'tsunami' de 1755 âncoras com uma tonelada foram arrastadas 500 metros para terra. Aconteceu de facto", sublinhava César Andrade, geólogo da FCUL.

Ainda hoje há controvérsia na comunidade científica sobre a origem do sismo de 1755, com 8,75 de magnitude. Há quem defenda que foi no Banco de Gorringe, um monte submarino a sudoeste do Cabo de São Vicente, mas os dados de investigadores da FCUL e um grupo italiano têm indicado outra zona - a Falha Marquês de Pombal, descoberta em 1992, que põe o epicentro muito mais próximo da costa portuguesa, a 100 quilómetros a Oeste do Cabo de São Vicente.

Esta falha, uma rampa com 1500 metros de altura, só tem 60 a 70 quilómetros de comprimento. "Não é suficientemente grande para gerar o sismo de 1755", explicou o geólogo Pedro Terrinha (FCUL). Por isso, anda-se à procura de outras estruturas na vizinhança: uma candidata é a Falha da Ferradura, com 160 quilómetros de extensão. À superfície, as duas falhas estão separadas, mas em profundidade até podem ser o mesmo acidente tectónico.

Foi com base nesta nova localização que se fizeram modelos para o maremoto de 1755. Segundo Maria Ana Baptista (FCUL), 17 minutos depois de dar-se o sismo, uma onda de 12 metros inundou a costa do Algarve. "Ao fim de 25 minutos atingiu Oeiras e chegou ao estuário do Tejo, com uma altura de seis metros. E em 45 minutos chegou ao Golfo de Cádis e à costa de Marrocos."

Por aqui se vê que pode não haver muito tempo até à chegada do maremoto à costa, como sucedeu agora na Ásia. teresa Firmino

Portugal Deve Ter Sistema de Alerta para Maremotos, Dizem Cientistas

Sábado, 08 de Janeiro de 2005

Se acontecesse um maremoto como o que foi provocado pelo sismo de 1755, que atingiu Lisboa, o Algarve e a costa africana, os portugueses poderiam ser alertados com antecedência? Se houvesse um sistema de alerta montado em Portugal, era possível, embora não muito tempo antes. Mesmo assim, vale a pena cria-lo? Sim, foi a resposta dada ontem na conferência "Tsumani e sismos: causas e consequências sociais", na Faculdade de Ciências de Lisboa (FCUL).

Num anfiteatro repleto, o geofísico Miguel Miranda, da FCUL, disse que um sistema de alerta terá de ter sismómetros e sensores de pressão, para detectar o sismo e a formação de ondas gigantes. Também seria importante ter estações submarinas para localizar epicentros dos sismos.

Mas isto custa dinheiro, sobretudo as comunicações dos instrumentos para terra. "Rondará quatro a cinco milhões de euros." Da plateia, o geofísico Luís Matias, também da FCUL, precisou: "São dois quilómetros de auto-estrada, que podem salvar pessoas."

No caso português, a zona que parece mais perigosa, sujeita a forte actividade sísmica, está a 150 a 200 quilómetros da costa. Assim, entre a ocorrência de um maremoto e a chegada ao litoral - diferente para o Algarve ou Lisboa - não haverá muito tempo. "Estamos a falar de 15 minutos a uma hora. Vale a pena um sistema de alerta? Vale, do ponto de vista dos sistemas de segurança dos bombeiros, para actuar nos combustíveis, nas comunicações", disse Miguel Miranda. Evitar o pânico das populações, quando sentem um sismo, seria outras das vantagens, sublinhou Luís Matias.

Se os efeitos dos maremotos pareciam ficção para muitos habitantes da Terra, a catástrofe a 26 de Dezembro no sudoeste asiático mostrou que podem ser muito reais. "Tínhamos poucos registos instrumentais e documentação histórica. Quando a lemos, ficamos com a impressão de que pessoas exageram, porque apanharam um susto. Lemos que no 'tsunami' de 1755 âncoras com uma tonelada foram arrastadas 500 metros para terra. Aconteceu de facto", sublinhava César Andrade, geólogo da FCUL.

Ainda hoje há controvérsia na comunidade científica sobre a origem do sismo de 1755, com 8,75 de magnitude. Há quem defenda que foi no Banco de Gorringe, um monte submarino a sudoeste do Cabo de São Vicente, mas os dados de investigadores da FCUL e um grupo italiano têm indicado outra zona - a Falha Marquês de Pombal, descoberta em 1992, que põe o epicentro muito mais próximo da costa portuguesa, a 100 quilómetros a Oeste do Cabo de São Vicente.

Esta falha, uma rampa com 1500 metros de altura, só tem 60 a 70 quilómetros de comprimento. "Não é suficientemente grande para gerar o sismo de 1755", explicou o geólogo Pedro Terrinha (FCUL). Por isso, anda-se à procura de outras estruturas na vizinhança: uma candidata é a Falha da Ferradura, com 160 quilómetros de extensão. À superfície, as duas falhas estão separadas, mas em profundidade até podem ser o mesmo acidente tectónico.

Foi com base nesta nova localização que se fizeram modelos para o maremoto de 1755. Segundo Maria Ana Baptista (FCUL), 17 minutos depois de dar-se o sismo, uma onda de 12 metros inundou a costa do Algarve. "Ao fim de 25 minutos atingiu Oeiras e chegou ao estuário do Tejo, com uma altura de seis metros. E em 45 minutos chegou ao Golfo de Cádis e à costa de Marrocos."

Por aqui se vê que pode não haver muito tempo até à chegada do maremoto à costa, como sucedeu agora na Ásia. teresa Firmino

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