Portugal e a Europa: 5 décadas de atraso

18-11-2004
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Portugal e a Europa

Cinco décadas de atraso

A manterem-se os actuais ritmos de crescimento dos principais índices económicos, Portugal precisará de meio século até atingir o nível médio de vida dos seus parceiros europeus e corre o perigo de divergência permanente com a UE.

A conclusão é tirada num estudo intitulado «Portugal Europeu?», da autoria dos economistas Vasconcellos e Sá e Miguel Frasquilho, que será dado à estampa no próximo dia 22. A comparação, que envolve oito países da União Europeia responsáveis por 94,3 por cento do PIB comunitário, revela que o nosso país apresenta os preços mais elevados (1% superiores à média comunitária), e os mais baixos salários. Concretamente, em média, o nível salarial médio nos oito países em análise é 80 por cento (!) superior ao dos portugueses. Mesmo na vizinha Espanha, o salário médio é 62 por cento mais elevado ao nacional.

Com os preços mais altos e os salários mais baixos, os portugueses têm um nível de vida 44 por cento mais baixo que os espanhóis e 45 por cento abaixo da média europeia. O mais grave é que, segundo os autores, a tendência actual é para que o desnível se agrave. Ou seja, ou os governantes tomam medidas radicais para acelerar o crescimento da produtividade ou se entra em divergência real com o resto da Europa.

Para além disso, estes economistas afirmam que todas as comparações são desfavoráveis a Portugal. Por exemplo, em matéria de rendimentos, o nosso país não só é o mais pobre como é aquele que tem apresenta maiores desigualdades. Ou seja, a pouca riqueza que é produzida concentra-se nos salários mais altos, os únicos que estão ao nível da média europeia e, imagine-se, superam mesmo os da Bélgica Suécia e Grécia.

Os pobres

pagam mais

A injustiça abate-se duplamente sobre as famílias de poucos rendimentos porque não só auferem baixos salários como têm de suportar preços inflacionados dos produtos básicos, mais caros do que por exemplo em Espanha que também é um país da coesão.

De facto, o estudo constata com surpresa que em nenhuma das comparações Portugal surge como o país mais barato. Relativamente à Espanha, os preços no nosso país são 11 por cento mais elevados. Mas no bens de consumo básico a diferença aumenta para 16 por cento, penalizando ainda mais as camadas mais desfavorecidas que destinam grande parte do orçamento familiar para aquisição deste tipo de produtos.

Preços mais favoráveis encontram-se no sector dos serviços, como restaurantes, hotéis, taxis, serviço doméstico que se destinam sobretudo às classes mais abastadas. Nesta área, os preços são 22,3 e 28,7 por cento mais baixos do que em Espanha.

Entre as razões da pior relação preços/salários da Europa, os autores destacam a baixa produtividade. E a continuar assim, em termos de produto interno bruto, Portugal corre o sério risco de ser ultrapassado pela Grécia já em 2008, ao mesmo tempo que se vê irremediavelmente afastado da Espanha.

«Avante!» Nº 1458 - 8.Novembro.2001

Portugal e a Europa

Cinco décadas de atraso

A manterem-se os actuais ritmos de crescimento dos principais índices económicos, Portugal precisará de meio século até atingir o nível médio de vida dos seus parceiros europeus e corre o perigo de divergência permanente com a UE.

A conclusão é tirada num estudo intitulado «Portugal Europeu?», da autoria dos economistas Vasconcellos e Sá e Miguel Frasquilho, que será dado à estampa no próximo dia 22. A comparação, que envolve oito países da União Europeia responsáveis por 94,3 por cento do PIB comunitário, revela que o nosso país apresenta os preços mais elevados (1% superiores à média comunitária), e os mais baixos salários. Concretamente, em média, o nível salarial médio nos oito países em análise é 80 por cento (!) superior ao dos portugueses. Mesmo na vizinha Espanha, o salário médio é 62 por cento mais elevado ao nacional.

Com os preços mais altos e os salários mais baixos, os portugueses têm um nível de vida 44 por cento mais baixo que os espanhóis e 45 por cento abaixo da média europeia. O mais grave é que, segundo os autores, a tendência actual é para que o desnível se agrave. Ou seja, ou os governantes tomam medidas radicais para acelerar o crescimento da produtividade ou se entra em divergência real com o resto da Europa.

Para além disso, estes economistas afirmam que todas as comparações são desfavoráveis a Portugal. Por exemplo, em matéria de rendimentos, o nosso país não só é o mais pobre como é aquele que tem apresenta maiores desigualdades. Ou seja, a pouca riqueza que é produzida concentra-se nos salários mais altos, os únicos que estão ao nível da média europeia e, imagine-se, superam mesmo os da Bélgica Suécia e Grécia.

Os pobres

pagam mais

A injustiça abate-se duplamente sobre as famílias de poucos rendimentos porque não só auferem baixos salários como têm de suportar preços inflacionados dos produtos básicos, mais caros do que por exemplo em Espanha que também é um país da coesão.

De facto, o estudo constata com surpresa que em nenhuma das comparações Portugal surge como o país mais barato. Relativamente à Espanha, os preços no nosso país são 11 por cento mais elevados. Mas no bens de consumo básico a diferença aumenta para 16 por cento, penalizando ainda mais as camadas mais desfavorecidas que destinam grande parte do orçamento familiar para aquisição deste tipo de produtos.

Preços mais favoráveis encontram-se no sector dos serviços, como restaurantes, hotéis, taxis, serviço doméstico que se destinam sobretudo às classes mais abastadas. Nesta área, os preços são 22,3 e 28,7 por cento mais baixos do que em Espanha.

Entre as razões da pior relação preços/salários da Europa, os autores destacam a baixa produtividade. E a continuar assim, em termos de produto interno bruto, Portugal corre o sério risco de ser ultrapassado pela Grécia já em 2008, ao mesmo tempo que se vê irremediavelmente afastado da Espanha.

«Avante!» Nº 1458 - 8.Novembro.2001

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