EXPRESSO: Economia

06-05-2002
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Portugal é caro ou barato?

Jorge Simão Afinal, os preços portugueses podem não ser os mais caros da União Europeia

DADOS do Eurostat e da OCDE contradizem uma das principais conclusões de um livro a lançar brevemente e que sustenta que Portugal tem preços superiores em cerca de 1% à média europeia, mas salários substancialmente mais baixos. Com efeito, esta é uma das afirmações do livro, da autoria de Vasconcellos e Sá e Miguel Frasquilho, que será lançado no próximo dia 22, no Grémio Literário. Mas se quanto aos salários a afirmação, em termos médios, é pacífica, já no que toca aos preços a indicação é bastante mais polémica.

Com efeito, dados quer do Eurostat, quer da OCDE, mostram que o nível de preços comparado para o conjunto da União Europeia é sempre inferior em Portugal relativamente aos outros 14 Estados-membros - quer em termos médios, quer quando se faz a comparação um a um.

No caso do Eurostat, a série de 1995 a 1998 coloca sempre Portugal com um índice de preços relativos abaixo de todos os outros Estados, incluindo aí a Espanha e Grécia. Fora da União Europeia, mesmo Chipre apresenta preços superiores a Portugal e só a Polónia está melhor neste aspecto.

Quanto à OCDE, as séries relativas aos índices de preços comparados de 1996 a 2001 são também elucidativas: Portugal é sempre o país mais barato na Europa dos Quinze e só fica a perder nesta matéria para outros países fora da UE, como a Coreia do Sul, República Checa, Hungria, Polónia, Eslováquia e Turquia.

É certo que os autores do estudo não tomam como comparação os Quinze, mas antes uma amostra de oito países europeus. A questão, no entanto, mantém-se, já que esses oito países, de acordo com o Eurostat e a OCDE, apresentam níveis de preços relativos superiores a Portugal, o que não joga com a afirmação de que os preços nacionais são, em média, 1% superiores aos europeus.

Miguel Frasquilho, um dos autores do livro, disse ao EXPRESSO que para chegar a essa conclusão trabalharam sobre uma amostra representando 71% dos bens que compõem o cabaz do Índice de Preços no Consumidor do Instituto Nacional de Estatística. Além disso, utilizaram estudos da Pannel, ICEP, Proteste e Union des Banques Suisses. Os estudos da Pannel e ICEP, segundo Frasquilho, dão preços para Portugal acima da média europeia, enquanto os da Proteste e da UBS apontam para valores abaixo da média europeia. A conclusão foi que o nível médio de preços nesses países era de 117 e em Portugal de 121.

Frasquilho desvaloriza, no entanto, a questão, e diz que o essencial é a mensagem de que «os nossos salários estão muito abaixo da média europeia, pelo que vivemos uma situação muitíssimo desfavorável».

Dados do Eurostat relativos à comparação, entre 1995 e 2000, do custo de vida em diversas cidades europeias, evidenciam igualmente que Lisboa é uma das mais baratas capitais dos Quinze, já que o custo de vida anda a par do que se verifica em Atenas e abaixo do que acontece em Madrid. Londres é a cidade europeia onde o custo de vida é mais elevado, praticamente o dobro do que acontece em Lisboa, seguindo-se depois três cidades nórdicas: Copenhaga, Estocolmo e Helsínquia.

Outra das conclusões do estudo é que a produtividade em Portugal regrediu em 2000 e 2001. Os autores, contudo, não levaram em conta que de 1986 a 2000, Portugal foi o quarto país da União Europeia onde a produtividade mais cresceu, com um acréscimo de 42,5% por pessoa empregada, um aumento só ultrapassado pelo Luxemburgo, Irlanda e Finlândia.

Miguel Frasquilho diz que os dados não são contraditórios e que se verificou esse crescimento, mas que ele está muito longe do que o país necessita, já que nesse período a produtividade portuguesa passou de 39,8% para apenas 43,3% da média europeia, uma subida inferior a 4 pontos.

Portugal é caro ou barato?

Jorge Simão Afinal, os preços portugueses podem não ser os mais caros da União Europeia

DADOS do Eurostat e da OCDE contradizem uma das principais conclusões de um livro a lançar brevemente e que sustenta que Portugal tem preços superiores em cerca de 1% à média europeia, mas salários substancialmente mais baixos. Com efeito, esta é uma das afirmações do livro, da autoria de Vasconcellos e Sá e Miguel Frasquilho, que será lançado no próximo dia 22, no Grémio Literário. Mas se quanto aos salários a afirmação, em termos médios, é pacífica, já no que toca aos preços a indicação é bastante mais polémica.

Com efeito, dados quer do Eurostat, quer da OCDE, mostram que o nível de preços comparado para o conjunto da União Europeia é sempre inferior em Portugal relativamente aos outros 14 Estados-membros - quer em termos médios, quer quando se faz a comparação um a um.

No caso do Eurostat, a série de 1995 a 1998 coloca sempre Portugal com um índice de preços relativos abaixo de todos os outros Estados, incluindo aí a Espanha e Grécia. Fora da União Europeia, mesmo Chipre apresenta preços superiores a Portugal e só a Polónia está melhor neste aspecto.

Quanto à OCDE, as séries relativas aos índices de preços comparados de 1996 a 2001 são também elucidativas: Portugal é sempre o país mais barato na Europa dos Quinze e só fica a perder nesta matéria para outros países fora da UE, como a Coreia do Sul, República Checa, Hungria, Polónia, Eslováquia e Turquia.

É certo que os autores do estudo não tomam como comparação os Quinze, mas antes uma amostra de oito países europeus. A questão, no entanto, mantém-se, já que esses oito países, de acordo com o Eurostat e a OCDE, apresentam níveis de preços relativos superiores a Portugal, o que não joga com a afirmação de que os preços nacionais são, em média, 1% superiores aos europeus.

Miguel Frasquilho, um dos autores do livro, disse ao EXPRESSO que para chegar a essa conclusão trabalharam sobre uma amostra representando 71% dos bens que compõem o cabaz do Índice de Preços no Consumidor do Instituto Nacional de Estatística. Além disso, utilizaram estudos da Pannel, ICEP, Proteste e Union des Banques Suisses. Os estudos da Pannel e ICEP, segundo Frasquilho, dão preços para Portugal acima da média europeia, enquanto os da Proteste e da UBS apontam para valores abaixo da média europeia. A conclusão foi que o nível médio de preços nesses países era de 117 e em Portugal de 121.

Frasquilho desvaloriza, no entanto, a questão, e diz que o essencial é a mensagem de que «os nossos salários estão muito abaixo da média europeia, pelo que vivemos uma situação muitíssimo desfavorável».

Dados do Eurostat relativos à comparação, entre 1995 e 2000, do custo de vida em diversas cidades europeias, evidenciam igualmente que Lisboa é uma das mais baratas capitais dos Quinze, já que o custo de vida anda a par do que se verifica em Atenas e abaixo do que acontece em Madrid. Londres é a cidade europeia onde o custo de vida é mais elevado, praticamente o dobro do que acontece em Lisboa, seguindo-se depois três cidades nórdicas: Copenhaga, Estocolmo e Helsínquia.

Outra das conclusões do estudo é que a produtividade em Portugal regrediu em 2000 e 2001. Os autores, contudo, não levaram em conta que de 1986 a 2000, Portugal foi o quarto país da União Europeia onde a produtividade mais cresceu, com um acréscimo de 42,5% por pessoa empregada, um aumento só ultrapassado pelo Luxemburgo, Irlanda e Finlândia.

Miguel Frasquilho diz que os dados não são contraditórios e que se verificou esse crescimento, mas que ele está muito longe do que o país necessita, já que nesse período a produtividade portuguesa passou de 39,8% para apenas 43,3% da média europeia, uma subida inferior a 4 pontos.

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