Proposta de prescrição médica de "cannabis" vai ser chumbada no Parlamento

01-03-2004
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Proposta de Prescrição Médica de "Cannabis" Vai Ser Chumbada no Parlamento

Por CATARINA GOMES

Quinta-feira, 12 de Fevereiro de 2004

O projecto de lei do Bloco de Esquerda (BE) sobre prescrição médica de "cannabis" para doentes crónicos e terminais vai ser chumbado na Assembleia da República, na votação de sexta-feira. Mas os grupos parlamentares dos partidos Social Democrata e Popular vão pedir ao Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed) um relatório técnico sobre a questão.

O projecto do BE prevê que os médicos possam prescrever "cannabis e seus princípios activos" em caso de dores crónicas e graves, náuseas graves, anorexia, subnutrição e perda de peso em caso de cancro ou sida, assim como dores crónicas em caso de esclerose múltipla, acessos de epilepsia e formas extremas de artrite.

Para o deputado social-democrata Miguel Coleta, falta rigor científico à proposta do BE. Fala-se de "princípios activos" da "cannabis" mas desconhece-se actualmente a actividade farmacológica das 400 substâncias que constituem a planta e seus princípios activos. Coleta afirma que a 8ª comissão parlamentar (de trabalho e dos assuntos sociais) vai pedir ao Infarmed um relatório profundo, que será publico, que faça uma interpretação dos estudos clínicos e ensaios científicos existentes.

Se os relatos de resultados positivos são episódicos não podemos usá-los para tomar decisões, defende. Nos países em que se avançou com a medida, casos por exemplo da Holanda e do Canadá, as autoridades reguladoras emitiram decisões com base em pareceres técnicos. "Mantemos o espírito aberto para uma melhor análise do assunto", garante Miguel Coleta. "Queremos aprofundar a questão, porque o tema é importante", acrescenta o deputado popular João Almeida.

Miguel Coleta afirma que o PSD e o PP propuseram ao BE que a proposta, em vez de ser chumbada em plenário, baixasse à subcomissão de saúde e toxicodependência sem votação e que fosse feita uma audição parlamentar com as ordem dos farmacêuticos, dos médicos, o Infarmed, o Instituto da Droga e Toxicodependência e da Comissão para a Ciência e Tecnologia. O BE recusou.

"Exercício de hipocrisia política" - é assim que o deputado bloquista Francisco Louçã apelida a proposta das forças políticas "da direita", uma vez que a proposta do BE já entrou na Assembleia em Outubro e houve muito tempo para audições. "O que se pretende é enterrar na gaveta da comissão esta iniciativa isentando o Governo de fazer escolhas", acusa: "Estão indecisos politicamente, confusos, querem que a proposta seja enterrada a em burocracia e que se faça silêncio sobre o assunto."

O deputado e líder da Juventude Social Democrata Jorge Nuno Sá, que chegou a manifestar a sua concordância em relação à proposta do BE de prescrição terapêutica de "cannabis" (ver PÚBLICO 10/01/04), vem defender que faltam provas técnicas para que se possa tomar uma decisão política como rigor, mas que é, por princípio, a favor de quaisquer substâncias terapêuticas com efeitos terapêuticos comprovados. "As decisões políticas devem ter sustentabilidade técnica."

Proposta de Prescrição Médica de "Cannabis" Vai Ser Chumbada no Parlamento

Por CATARINA GOMES

Quinta-feira, 12 de Fevereiro de 2004

O projecto de lei do Bloco de Esquerda (BE) sobre prescrição médica de "cannabis" para doentes crónicos e terminais vai ser chumbado na Assembleia da República, na votação de sexta-feira. Mas os grupos parlamentares dos partidos Social Democrata e Popular vão pedir ao Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed) um relatório técnico sobre a questão.

O projecto do BE prevê que os médicos possam prescrever "cannabis e seus princípios activos" em caso de dores crónicas e graves, náuseas graves, anorexia, subnutrição e perda de peso em caso de cancro ou sida, assim como dores crónicas em caso de esclerose múltipla, acessos de epilepsia e formas extremas de artrite.

Para o deputado social-democrata Miguel Coleta, falta rigor científico à proposta do BE. Fala-se de "princípios activos" da "cannabis" mas desconhece-se actualmente a actividade farmacológica das 400 substâncias que constituem a planta e seus princípios activos. Coleta afirma que a 8ª comissão parlamentar (de trabalho e dos assuntos sociais) vai pedir ao Infarmed um relatório profundo, que será publico, que faça uma interpretação dos estudos clínicos e ensaios científicos existentes.

Se os relatos de resultados positivos são episódicos não podemos usá-los para tomar decisões, defende. Nos países em que se avançou com a medida, casos por exemplo da Holanda e do Canadá, as autoridades reguladoras emitiram decisões com base em pareceres técnicos. "Mantemos o espírito aberto para uma melhor análise do assunto", garante Miguel Coleta. "Queremos aprofundar a questão, porque o tema é importante", acrescenta o deputado popular João Almeida.

Miguel Coleta afirma que o PSD e o PP propuseram ao BE que a proposta, em vez de ser chumbada em plenário, baixasse à subcomissão de saúde e toxicodependência sem votação e que fosse feita uma audição parlamentar com as ordem dos farmacêuticos, dos médicos, o Infarmed, o Instituto da Droga e Toxicodependência e da Comissão para a Ciência e Tecnologia. O BE recusou.

"Exercício de hipocrisia política" - é assim que o deputado bloquista Francisco Louçã apelida a proposta das forças políticas "da direita", uma vez que a proposta do BE já entrou na Assembleia em Outubro e houve muito tempo para audições. "O que se pretende é enterrar na gaveta da comissão esta iniciativa isentando o Governo de fazer escolhas", acusa: "Estão indecisos politicamente, confusos, querem que a proposta seja enterrada a em burocracia e que se faça silêncio sobre o assunto."

O deputado e líder da Juventude Social Democrata Jorge Nuno Sá, que chegou a manifestar a sua concordância em relação à proposta do BE de prescrição terapêutica de "cannabis" (ver PÚBLICO 10/01/04), vem defender que faltam provas técnicas para que se possa tomar uma decisão política como rigor, mas que é, por princípio, a favor de quaisquer substâncias terapêuticas com efeitos terapêuticos comprovados. "As decisões políticas devem ter sustentabilidade técnica."

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