%Alexandra Prado Coelho

27-07-2003
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Sábado, 12 de Julho de 2003

Na "Nova História Militar de Portugal" - uma obra em cinco volumes que o Círculo de Leitores começará a lançar a partir de Outubro - "não interessa apenas a estratégia militar do general, mas a forma como um soldado reage perante um combate, se tem medo, o que sente quando é ferido, como é o convívio com a morte, com o desespero", explicou ao PÚBLICO Nuno Severiano Teixeira, um dos dois responsáveis pela direcção do projecto, juntamente com Themudo Barata, entretanto falecido.

Os cinco volumes abarcam o período desde a Idade Média (o tema do primeiro, coordenado por José Mattoso) até à actualidade (o último, coordenado pelo próprio Severiano Teixeira, e com a participação de Luís Salgado de Matos, Medeiros Ferreira e António Telo), terminando com a participação de Portugal nas operações de manutenção da paz, como as de Timor ou da Bósnia.

Uma síntese global da história militar portuguesa com esta dimensão não era feita desde os anos 30, diz Severiano Teixeira. A novidade deste trabalho é também o passar "de um paradigma que baseava a história militar nos heróis, nas batalhas e nos grandes acontecimentos para um novo paradigma que procura lê-la no seu contexto económico, social, político e cultural".

Daí a importância de questões como a do sofrimento do soldado ou, por exemplo, o papel das mulheres. Existe um capítulo só sobre a guerra no feminino que "é em grande parte sobre o outro lado da guerra, os que ficam, as mulheres, as mães, os filhos, mas também as madrinhas de guerra, e as primeiras mulheres que vão para o campo de batalha, primeiro como enfermeiras, e mais tarde já como combatentes".

Novo também será o tema do quinto e último volume: as representações da guerra na literatura (capítulo a cargo de Vasco Graça Moura), no cinema (João Mário Grilo), nas artes plásticas (Paulo Pereira), no jornalismo (José Rodrigues dos Santos) ou da relação entre os conflitos militares e a ciência (Mariano Gago).

Os restantes quatro volumes têm uma estrutura semelhante, com uma parte inicial sobre a evolução do conjunto das guerras no período em foco e capítulos sobre a orgânica da instituição militar, a relação entre os militares e o poder político, e questões mais técnicas de estratégia, tácticas e armamento. "Há um texto sobre o quotidiano da guerra, que acompanha o percurso do soldado da mobilização, que é obviamente muito diferente na Idade Média e na actualidade, até ao regresso do conflito", adianta Nuno Severiano Teixeira, embora não exista um texto especificamente sobre a questão do trauma dos soldados, nomeadamente os que combateram na guerra colonial.

A participação portuguesa em operações militares no pós-guerra fria é vista numa perspectiva de continuidade e não de ruptura. Para Severiano Teixeira, que sublinha neste ponto estar a falar a título meramente pessoal, a situação actual "pode ser comparável à nossa participação na I Guerra Mundial, na medida em que não está directamente em causa o território português, mas a intervenção faz-se como apoio à política externa e instrumento da credibilização internacional do país".

%Alexandra Prado Coelho

Sábado, 12 de Julho de 2003

Na "Nova História Militar de Portugal" - uma obra em cinco volumes que o Círculo de Leitores começará a lançar a partir de Outubro - "não interessa apenas a estratégia militar do general, mas a forma como um soldado reage perante um combate, se tem medo, o que sente quando é ferido, como é o convívio com a morte, com o desespero", explicou ao PÚBLICO Nuno Severiano Teixeira, um dos dois responsáveis pela direcção do projecto, juntamente com Themudo Barata, entretanto falecido.

Os cinco volumes abarcam o período desde a Idade Média (o tema do primeiro, coordenado por José Mattoso) até à actualidade (o último, coordenado pelo próprio Severiano Teixeira, e com a participação de Luís Salgado de Matos, Medeiros Ferreira e António Telo), terminando com a participação de Portugal nas operações de manutenção da paz, como as de Timor ou da Bósnia.

Uma síntese global da história militar portuguesa com esta dimensão não era feita desde os anos 30, diz Severiano Teixeira. A novidade deste trabalho é também o passar "de um paradigma que baseava a história militar nos heróis, nas batalhas e nos grandes acontecimentos para um novo paradigma que procura lê-la no seu contexto económico, social, político e cultural".

Daí a importância de questões como a do sofrimento do soldado ou, por exemplo, o papel das mulheres. Existe um capítulo só sobre a guerra no feminino que "é em grande parte sobre o outro lado da guerra, os que ficam, as mulheres, as mães, os filhos, mas também as madrinhas de guerra, e as primeiras mulheres que vão para o campo de batalha, primeiro como enfermeiras, e mais tarde já como combatentes".

Novo também será o tema do quinto e último volume: as representações da guerra na literatura (capítulo a cargo de Vasco Graça Moura), no cinema (João Mário Grilo), nas artes plásticas (Paulo Pereira), no jornalismo (José Rodrigues dos Santos) ou da relação entre os conflitos militares e a ciência (Mariano Gago).

Os restantes quatro volumes têm uma estrutura semelhante, com uma parte inicial sobre a evolução do conjunto das guerras no período em foco e capítulos sobre a orgânica da instituição militar, a relação entre os militares e o poder político, e questões mais técnicas de estratégia, tácticas e armamento. "Há um texto sobre o quotidiano da guerra, que acompanha o percurso do soldado da mobilização, que é obviamente muito diferente na Idade Média e na actualidade, até ao regresso do conflito", adianta Nuno Severiano Teixeira, embora não exista um texto especificamente sobre a questão do trauma dos soldados, nomeadamente os que combateram na guerra colonial.

A participação portuguesa em operações militares no pós-guerra fria é vista numa perspectiva de continuidade e não de ruptura. Para Severiano Teixeira, que sublinha neste ponto estar a falar a título meramente pessoal, a situação actual "pode ser comparável à nossa participação na I Guerra Mundial, na medida em que não está directamente em causa o território português, mas a intervenção faz-se como apoio à política externa e instrumento da credibilização internacional do país".

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