EXPRESSO: Cartaz

15-07-2002
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RECENSÕES

Política Externa e Política de Defesa do Portugal Democrático Coord. José Medeiros Ferreira (Colibri, 2001, 232 págs., 2310$00, 11,52 euros) Este pequeno volume temo mérito de reunir reflexões de algumas daspersonalidades que de mais perto estudaram ou contribuíram para determinar as políticas externa e de defesa depois do 25 de Abril, como Mário Soares, Freitas do Amaral, Vítor Constâncio e José Lamego, os militares Pedro Cardoso, Belchior Vieira e Tomé Pinto e investigadores como António José Telo, Maria Carrilho, Vasco Rato e Medeiros Ferreira. Como salienta J.M.F. na introdução, estão em causa áreas sensíveis masmuito carecidas de estudos, sendo este tema pouco abordado «fora dasmuralhas dos corpos de Estado que as executaram». Daí o interesse de abordagens alargadas e de debates públicos sobre matérias que, segundo J.M.F., são geralmente «inacessíveis à sociedade civil, em geral, e a muitos estudiosos, em particular». O livro reúne intervenções do II Curso Livre de História Contemporânea (1999), com organização da Fundação Mário Soares edo Instituto de História Contemporânea (Univ. Nova de Lisboa). Este pequeno volume temo mérito de reunir reflexões de algumas daspersonalidades que de mais perto estudaram ou contribuíram para determinar as políticas externa e de defesa depois do 25 de Abril, como Mário Soares, Freitas do Amaral, Vítor Constâncio e José Lamego, os militares Pedro Cardoso, Belchior Vieira e Tomé Pinto e investigadores como António José Telo, Maria Carrilho, Vasco Rato e Medeiros Ferreira. Como salienta J.M.F. na introdução, estão em causa áreas sensíveis masmuito carecidas de estudos, sendo este tema pouco abordado «fora dasmuralhas dos corpos de Estado que as executaram». Daí o interesse de abordagens alargadas e de debates públicos sobre matérias que, segundo J.M.F., são geralmente «inacessíveis à sociedade civil, em geral, e a muitos estudiosos, em particular». O livro reúne intervenções do II Curso Livre de História Contemporânea (1999), com organização da Fundação Mário Soares edo Instituto de História Contemporânea (Univ. Nova de Lisboa). José Gabriel Viegas

O Assassino Cego Margareth Atwood (Livros do Brasil, 2001, trad. de Elsa T. S. Vieira, 648 págs., 4935$00, 24,62 euros) Vencedor do Booker Prize 2000, é um romance obrigatório para as longas tardes de Verão. Descreve o mundo através do olhar de Iris Chase, que aos 82 anos vive sozinha e quase sem meios de subsistir em Fort Ticonderoga, cidade outrora dominada pela sua família. O livro narra as suas origens, o casamento aos 18 anos com um industrial de grande projecção política, Richard Griffen, a complexa relação com a sua não menos estranha irmã Laura e a misteriosa e trágica morte desta. Iris, convencida pelo pai de que está nas suas mãos a salvação da indústria e da família, acede a casar com o industrial, enquanto a irmã mais nova, Laura, é praticamente abandonada a Reenie, a criada. Será aliás a filha de Reenie, Myra, a única «família» daoctogenária Iris Chase, quando esta se debate com a fragilidade de um corpo que já não lhe quer obedecer e que escreve sem parar, enquanto a vida lhe passa ao lado. E fica sozinha, como O Assassino Cego, que teria sido escrito por Laura e cuja trama se vai intercalando na história que Iris conta; passa-se no planeta Zycron,de onde a narradora, no fundo, nunca saiu. Vencedor do Booker Prize 2000, é um romance obrigatório para as longas tardes de Verão. Descreve o mundo através do olhar de Iris Chase, que aos 82 anos vive sozinha e quase sem meios de subsistir em Fort Ticonderoga, cidade outrora dominada pela sua família. O livro narra as suas origens, o casamento aos 18 anos com um industrial de grande projecção política, Richard Griffen, a complexa relação com a sua não menos estranha irmã Laura e a misteriosa e trágica morte desta. Iris, convencida pelo pai de que está nas suas mãos a salvação da indústria e da família, acede a casar com o industrial, enquanto a irmã mais nova, Laura, é praticamente abandonada a Reenie, a criada. Será aliás a filha de Reenie, Myra, a única «família» daoctogenária Iris Chase, quando esta se debate com a fragilidade de um corpo que já não lhe quer obedecer e que escreve sem parar, enquanto a vida lhe passa ao lado. E fica sozinha, como, que teria sido escrito por Laura e cuja trama se vai intercalando na história que Iris conta; passa-se no planeta Zycron,de onde a narradora, no fundo, nunca saiu. Luísa Mellid-Franco

A Nuvem de Smog e A Formiga Argentina Italo Calvino (Teorema, 2001, trad. de José Colaço Barreiros, 164 págs., 2100$00, 10,47 euros) Muito foi dito e traduzido do mestre italiano, mas às vezes ainda surge uma ou outra pérola, como é o caso destes dois contos, em boa hora traduzidos. Tanto A Nuvem de Smog como A Formiga Argentina datam da década de 50, oscilando o primeiro entre o ensaio sociológico e o diário íntimo e sugerindo o segundo uma história fantástica que relata uma praga bem real — ambos encerrando um «mal de vivre» que, não sendo exclusiva marca do autor, fornece indicações sobre o futuro da obra que aqui se adivinha. Parábolas sobre o viver contemporâneo e sobre os males da civilização, desafiam o leitor para um universo hiper-real e concentracionário, onde a vida nos surge em toda a sua fealdade, brutalidade cínica e de intenções quase catárticas. Não tendo o carácter fantástico de muita da sua obra posterior, apresenta-nos um mundo fantasmático em todo o seu esplendor nocturno, numa visão seca e desencantada da condição humana. Muito foi dito e traduzido do mestre italiano, mas às vezes ainda surge uma ou outra pérola, como é o caso destes dois contos, em boa hora traduzidos. Tantocomodatam da década de 50, oscilando o primeiro entre o ensaio sociológico e o diário íntimo e sugerindo o segundo uma história fantástica que relata uma praga bem real — ambos encerrando um «mal de vivre» que, não sendo exclusiva marca do autor, fornece indicações sobre o futuro da obra que aqui se adivinha. Parábolas sobre o viver contemporâneo e sobre os males da civilização, desafiam o leitor para um universo hiper-real e concentracionário, onde a vida nos surge em toda a sua fealdade, brutalidade cínica e de intenções quase catárticas. Não tendo o carácter fantástico de muita da sua obra posterior, apresenta-nos um mundo fantasmático em todo o seu esplendor nocturno, numa visão seca e desencantada da condição humana. José Guardado Moreira

Primavera Negra Henry Miller (Livros do Brasil, 2001, trad. de Clarisse Tavares, 198 págs., 1995$00, 9,95 euros) Henry Miller (1891-1980) é um autor sobejamente conhecido do público leitor, e com a edição deste título há boas razões para o revisitar, tanto mais que se trata de uma obra dos seus primeiros tempos de escritor sem eira nem beira. Sedeado em Paris durante bastantes anos antes da II Guerra Mundial, aí lançou as bases de uma obra pantagruélica, inclassificável e muitas vezes polémica, ao ponto de vários livros seus terem estado proibidos nos Estados Unidos até 1961. Em Primavera Negra, temos vários quadros da vida de Brooklyn — a sua terra natal, ou, como costumava dizer, a sua pátria —, quadros de uma rememoração entre o nostálgico e o revoltado e de um poder de evocação assinaláveis. E também, ainda e sempre, a Paris boémia e a vida de quem procurava com toda a gana um lugar ao sol, que é como quem diz o fio da meada de uma vida longa e cheia de procura do absoluto. Para quem não conhece este gigante das letras norte-americanas, eis um bom motivo para começar a lê-lo. Henry Miller (1891-1980) é um autor sobejamente conhecido do público leitor, e com a edição deste título há boas razões para o revisitar, tanto mais que se trata de uma obra dos seus primeiros tempos de escritor sem eira nem beira. Sedeado em Paris durante bastantes anos antes da II Guerra Mundial, aí lançou as bases de uma obra pantagruélica, inclassificável e muitas vezes polémica, ao ponto de vários livros seus terem estado proibidos nos Estados Unidos até 1961. Em, temos vários quadros da vida de Brooklyn — a sua terra natal, ou, como costumava dizer, a sua pátria —, quadros de uma rememoração entre o nostálgico e o revoltado e de um poder de evocação assinaláveis. E também, ainda e sempre, a Paris boémia e a vida de quem procurava com toda a gana um lugar ao sol, que é como quem diz o fio da meada de uma vida longa e cheia de procura do absoluto. Para quem não conhece este gigante das letras norte-americanas, eis um bom motivo para começar a lê-lo. José Guardado Moreira

De Uma Vez por Todas Maria Roma (Bertrand, 2001, 240 págs., 2450$00, 12,22 euros) Um romance sobre pessoas que parecem passear no passeio da frente. Lisboetas, moradores no Parque Expo, com raízes alentejanas, férias algarvias e barcos de recreio. Vemo-los na mesa ao lado, estacionam o jipe em frente do café que frequentamos. Quase esbarramos com eles no elevador ou no centro comercial. São mundos demasiado corriqueiros para sonhar, e as tramas não nos levam longe. Ou melhor: estão tão bem urdidas que a autora, após espicaçar a curiosidade do leitor, resolve em três penadas o que parecia complicado, fazendo o destino tornar óbvio o meramente acidental. O resultado é um livro aparentemente pensado como «de Verão», com um poder de observação invulgar, mas suscitando impaciências e desalentos. Impaciências porque frases como «Com que os olhos de Maria dos Remédios sempre os trazia amarrados», «E tudo contigo com dantes», ou «Nunca lá levei outro homem. A não seres tu!», entaramelam o fio narrativo; desalentos porque as personagens interpretam uma história que não se lhes adapta e cresce desmedidamente até um final atabalhoado. Um romance sobre pessoas que parecem passear no passeio da frente. Lisboetas, moradores no Parque Expo, com raízes alentejanas, férias algarvias e barcos de recreio. Vemo-los na mesa ao lado, estacionam o jipe em frente do café que frequentamos. Quase esbarramos com eles no elevador ou no centro comercial. São mundos demasiado corriqueiros para sonhar, e as tramas não nos levam longe. Ou melhor: estão tão bem urdidas que a autora, após espicaçar a curiosidade do leitor, resolve em três penadas o que parecia complicado, fazendo o destino tornar óbvio o meramente acidental. O resultado é um livro aparentemente pensado como «de Verão», com um poder de observação invulgar, mas suscitando impaciências e desalentos. Impaciências porque frases como «Com que os olhos de Maria dos Remédios sempre os trazia amarrados», «E tudo contigo com dantes», ou «Nunca lá levei outro homem. A não seres tu!», entaramelam o fio narrativo; desalentos porque as personagens interpretam uma história que não se lhes adapta e cresce desmedidamente até um final atabalhoado. Luísa Mellid-Franco

RECENSÕES

Política Externa e Política de Defesa do Portugal Democrático Coord. José Medeiros Ferreira (Colibri, 2001, 232 págs., 2310$00, 11,52 euros) Este pequeno volume temo mérito de reunir reflexões de algumas daspersonalidades que de mais perto estudaram ou contribuíram para determinar as políticas externa e de defesa depois do 25 de Abril, como Mário Soares, Freitas do Amaral, Vítor Constâncio e José Lamego, os militares Pedro Cardoso, Belchior Vieira e Tomé Pinto e investigadores como António José Telo, Maria Carrilho, Vasco Rato e Medeiros Ferreira. Como salienta J.M.F. na introdução, estão em causa áreas sensíveis masmuito carecidas de estudos, sendo este tema pouco abordado «fora dasmuralhas dos corpos de Estado que as executaram». Daí o interesse de abordagens alargadas e de debates públicos sobre matérias que, segundo J.M.F., são geralmente «inacessíveis à sociedade civil, em geral, e a muitos estudiosos, em particular». O livro reúne intervenções do II Curso Livre de História Contemporânea (1999), com organização da Fundação Mário Soares edo Instituto de História Contemporânea (Univ. Nova de Lisboa). Este pequeno volume temo mérito de reunir reflexões de algumas daspersonalidades que de mais perto estudaram ou contribuíram para determinar as políticas externa e de defesa depois do 25 de Abril, como Mário Soares, Freitas do Amaral, Vítor Constâncio e José Lamego, os militares Pedro Cardoso, Belchior Vieira e Tomé Pinto e investigadores como António José Telo, Maria Carrilho, Vasco Rato e Medeiros Ferreira. Como salienta J.M.F. na introdução, estão em causa áreas sensíveis masmuito carecidas de estudos, sendo este tema pouco abordado «fora dasmuralhas dos corpos de Estado que as executaram». Daí o interesse de abordagens alargadas e de debates públicos sobre matérias que, segundo J.M.F., são geralmente «inacessíveis à sociedade civil, em geral, e a muitos estudiosos, em particular». O livro reúne intervenções do II Curso Livre de História Contemporânea (1999), com organização da Fundação Mário Soares edo Instituto de História Contemporânea (Univ. Nova de Lisboa). José Gabriel Viegas

O Assassino Cego Margareth Atwood (Livros do Brasil, 2001, trad. de Elsa T. S. Vieira, 648 págs., 4935$00, 24,62 euros) Vencedor do Booker Prize 2000, é um romance obrigatório para as longas tardes de Verão. Descreve o mundo através do olhar de Iris Chase, que aos 82 anos vive sozinha e quase sem meios de subsistir em Fort Ticonderoga, cidade outrora dominada pela sua família. O livro narra as suas origens, o casamento aos 18 anos com um industrial de grande projecção política, Richard Griffen, a complexa relação com a sua não menos estranha irmã Laura e a misteriosa e trágica morte desta. Iris, convencida pelo pai de que está nas suas mãos a salvação da indústria e da família, acede a casar com o industrial, enquanto a irmã mais nova, Laura, é praticamente abandonada a Reenie, a criada. Será aliás a filha de Reenie, Myra, a única «família» daoctogenária Iris Chase, quando esta se debate com a fragilidade de um corpo que já não lhe quer obedecer e que escreve sem parar, enquanto a vida lhe passa ao lado. E fica sozinha, como O Assassino Cego, que teria sido escrito por Laura e cuja trama se vai intercalando na história que Iris conta; passa-se no planeta Zycron,de onde a narradora, no fundo, nunca saiu. Vencedor do Booker Prize 2000, é um romance obrigatório para as longas tardes de Verão. Descreve o mundo através do olhar de Iris Chase, que aos 82 anos vive sozinha e quase sem meios de subsistir em Fort Ticonderoga, cidade outrora dominada pela sua família. O livro narra as suas origens, o casamento aos 18 anos com um industrial de grande projecção política, Richard Griffen, a complexa relação com a sua não menos estranha irmã Laura e a misteriosa e trágica morte desta. Iris, convencida pelo pai de que está nas suas mãos a salvação da indústria e da família, acede a casar com o industrial, enquanto a irmã mais nova, Laura, é praticamente abandonada a Reenie, a criada. Será aliás a filha de Reenie, Myra, a única «família» daoctogenária Iris Chase, quando esta se debate com a fragilidade de um corpo que já não lhe quer obedecer e que escreve sem parar, enquanto a vida lhe passa ao lado. E fica sozinha, como, que teria sido escrito por Laura e cuja trama se vai intercalando na história que Iris conta; passa-se no planeta Zycron,de onde a narradora, no fundo, nunca saiu. Luísa Mellid-Franco

A Nuvem de Smog e A Formiga Argentina Italo Calvino (Teorema, 2001, trad. de José Colaço Barreiros, 164 págs., 2100$00, 10,47 euros) Muito foi dito e traduzido do mestre italiano, mas às vezes ainda surge uma ou outra pérola, como é o caso destes dois contos, em boa hora traduzidos. Tanto A Nuvem de Smog como A Formiga Argentina datam da década de 50, oscilando o primeiro entre o ensaio sociológico e o diário íntimo e sugerindo o segundo uma história fantástica que relata uma praga bem real — ambos encerrando um «mal de vivre» que, não sendo exclusiva marca do autor, fornece indicações sobre o futuro da obra que aqui se adivinha. Parábolas sobre o viver contemporâneo e sobre os males da civilização, desafiam o leitor para um universo hiper-real e concentracionário, onde a vida nos surge em toda a sua fealdade, brutalidade cínica e de intenções quase catárticas. Não tendo o carácter fantástico de muita da sua obra posterior, apresenta-nos um mundo fantasmático em todo o seu esplendor nocturno, numa visão seca e desencantada da condição humana. Muito foi dito e traduzido do mestre italiano, mas às vezes ainda surge uma ou outra pérola, como é o caso destes dois contos, em boa hora traduzidos. Tantocomodatam da década de 50, oscilando o primeiro entre o ensaio sociológico e o diário íntimo e sugerindo o segundo uma história fantástica que relata uma praga bem real — ambos encerrando um «mal de vivre» que, não sendo exclusiva marca do autor, fornece indicações sobre o futuro da obra que aqui se adivinha. Parábolas sobre o viver contemporâneo e sobre os males da civilização, desafiam o leitor para um universo hiper-real e concentracionário, onde a vida nos surge em toda a sua fealdade, brutalidade cínica e de intenções quase catárticas. Não tendo o carácter fantástico de muita da sua obra posterior, apresenta-nos um mundo fantasmático em todo o seu esplendor nocturno, numa visão seca e desencantada da condição humana. José Guardado Moreira

Primavera Negra Henry Miller (Livros do Brasil, 2001, trad. de Clarisse Tavares, 198 págs., 1995$00, 9,95 euros) Henry Miller (1891-1980) é um autor sobejamente conhecido do público leitor, e com a edição deste título há boas razões para o revisitar, tanto mais que se trata de uma obra dos seus primeiros tempos de escritor sem eira nem beira. Sedeado em Paris durante bastantes anos antes da II Guerra Mundial, aí lançou as bases de uma obra pantagruélica, inclassificável e muitas vezes polémica, ao ponto de vários livros seus terem estado proibidos nos Estados Unidos até 1961. Em Primavera Negra, temos vários quadros da vida de Brooklyn — a sua terra natal, ou, como costumava dizer, a sua pátria —, quadros de uma rememoração entre o nostálgico e o revoltado e de um poder de evocação assinaláveis. E também, ainda e sempre, a Paris boémia e a vida de quem procurava com toda a gana um lugar ao sol, que é como quem diz o fio da meada de uma vida longa e cheia de procura do absoluto. Para quem não conhece este gigante das letras norte-americanas, eis um bom motivo para começar a lê-lo. Henry Miller (1891-1980) é um autor sobejamente conhecido do público leitor, e com a edição deste título há boas razões para o revisitar, tanto mais que se trata de uma obra dos seus primeiros tempos de escritor sem eira nem beira. Sedeado em Paris durante bastantes anos antes da II Guerra Mundial, aí lançou as bases de uma obra pantagruélica, inclassificável e muitas vezes polémica, ao ponto de vários livros seus terem estado proibidos nos Estados Unidos até 1961. Em, temos vários quadros da vida de Brooklyn — a sua terra natal, ou, como costumava dizer, a sua pátria —, quadros de uma rememoração entre o nostálgico e o revoltado e de um poder de evocação assinaláveis. E também, ainda e sempre, a Paris boémia e a vida de quem procurava com toda a gana um lugar ao sol, que é como quem diz o fio da meada de uma vida longa e cheia de procura do absoluto. Para quem não conhece este gigante das letras norte-americanas, eis um bom motivo para começar a lê-lo. José Guardado Moreira

De Uma Vez por Todas Maria Roma (Bertrand, 2001, 240 págs., 2450$00, 12,22 euros) Um romance sobre pessoas que parecem passear no passeio da frente. Lisboetas, moradores no Parque Expo, com raízes alentejanas, férias algarvias e barcos de recreio. Vemo-los na mesa ao lado, estacionam o jipe em frente do café que frequentamos. Quase esbarramos com eles no elevador ou no centro comercial. São mundos demasiado corriqueiros para sonhar, e as tramas não nos levam longe. Ou melhor: estão tão bem urdidas que a autora, após espicaçar a curiosidade do leitor, resolve em três penadas o que parecia complicado, fazendo o destino tornar óbvio o meramente acidental. O resultado é um livro aparentemente pensado como «de Verão», com um poder de observação invulgar, mas suscitando impaciências e desalentos. Impaciências porque frases como «Com que os olhos de Maria dos Remédios sempre os trazia amarrados», «E tudo contigo com dantes», ou «Nunca lá levei outro homem. A não seres tu!», entaramelam o fio narrativo; desalentos porque as personagens interpretam uma história que não se lhes adapta e cresce desmedidamente até um final atabalhoado. Um romance sobre pessoas que parecem passear no passeio da frente. Lisboetas, moradores no Parque Expo, com raízes alentejanas, férias algarvias e barcos de recreio. Vemo-los na mesa ao lado, estacionam o jipe em frente do café que frequentamos. Quase esbarramos com eles no elevador ou no centro comercial. São mundos demasiado corriqueiros para sonhar, e as tramas não nos levam longe. Ou melhor: estão tão bem urdidas que a autora, após espicaçar a curiosidade do leitor, resolve em três penadas o que parecia complicado, fazendo o destino tornar óbvio o meramente acidental. O resultado é um livro aparentemente pensado como «de Verão», com um poder de observação invulgar, mas suscitando impaciências e desalentos. Impaciências porque frases como «Com que os olhos de Maria dos Remédios sempre os trazia amarrados», «E tudo contigo com dantes», ou «Nunca lá levei outro homem. A não seres tu!», entaramelam o fio narrativo; desalentos porque as personagens interpretam uma história que não se lhes adapta e cresce desmedidamente até um final atabalhoado. Luísa Mellid-Franco

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