EXPRESSO: Artigo

22-08-2002
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Incompatível

Começou por querer ser médica, depois actriz, tornou-se vedeta da televisão e a seguir jornalista, para finalmente se dedicar, em exclusivo, à mais nobre das missões: a política. A escolha de Maria Elisa, porém, foi só uma: o caminho da fama.

Texto de Catarina Carvalho LUIZ CARVALHO Quando chegou à Assembleia da República, eleita cabeça de lista do PSD por Castelo Branco, Maria Elisa Domingues fez questão de não se sentar nas filas da frente. «Pelo menos nas três primeiras. Na cultura do Parlamento são as mais mediáticas, que eu queria evitar. Até porque me acompanha o problema do protagonismo, por ser figura pública. Aqui assumi o meu papel: estou a iniciar-me, estou a aprender.» Quando chegou à Assembleia da República, eleita cabeça de lista do PSD por Castelo Branco, Maria Elisa Domingues fez questão de não se sentar nas filas da frente. «Pelo menos nas três primeiras. Na cultura do Parlamento são as mais mediáticas, que eu queria evitar. Até porque me acompanha o problema do protagonismo, por ser figura pública. Aqui assumi o meu papel: estou a iniciar-me, estou a aprender.» Puro engano. Os holofotes voltaram a ir buscá-la, aos 52 anos, mesmo na penúltima fila do hemiciclo. Como guardadores do templo a percorrer o pátio à procura da pecadora. Acusação: incompatibilidade. Maria Elisa queria continuar na RTP e ser deputada ao mesmo tempo. «Antes de aceitar o convite pedi ao PSD que fizesse um estudo e a conclusão foi que não havia incompatibilidade. Por isso aceitei.» Talvez não houvesse, no plano legal. Mas numa altura em que o Governo pretendia sanear o canal público, parecia imoral que alguém das suas fileiras continuasse a ganhar 1500 contos pela RTP. A polémica rolou. Em vez das questões éticas - da possibilidade ou não de fazer trabalho jornalístico isento, sendo deputada - passaram a estar em cheque apenas motivos económicos. Por outras razões, sobretudo políticas, ou seja, para não prejudicar quem a tinha elegido, Maria Elisa marca uma conferência de imprensa para anunciar a resignação. «Estou triste. Para mim era importante continuar a ser a antena da sociedade na Assembleia.» Por outras razões, sobretudo políticas, ou seja, para não prejudicar quem a tinha elegido, Maria Elisa marca uma conferência de imprensa para anunciar a resignação. «Estou triste. Para mim era importante continuar a ser a antena da sociedade na Assembleia.» Espalhar os ovos por vários cestos é hábito antigo. Ainda Maria Elisa estava no segundo ano de Medicina e já desistia do curso para entrar no Conservatório. Mal iniciara uma carreira de actriz, contando com os bons augúrios da crítica e dos colegas, e já tinha lugar como locutora na RTP, em 1973. Seria a primeira mulher a apresentar os telejornais. Mas, como continuava sem dar mostras de pretender largar os palcos, João Mota, encenador da Comuna, foi o primeiro a desempenhar o papel de fiel da balança na sua carreira. «Tens de escolher, ou és vedeta da TV, ou és actriz de teatro», disse-lhe. Ela achava que tinha energia para tudo, mas optou pelas câmaras, ainda sem noção até onde iriam levá-la. «Quando escolhi a RTP fi-lo por alguma segurança material». O pai fora toda a vida um servidor do Estado, como engenheiro geógrafo. Ficou zangado com a filha, por ter abandonado uma carreira séria, de médica, mas depressa se orgulhou do sucesso da Mili. Maria Elisa, já sem apelido, marcou um estilo, sério, para dar as notícias da noite. «Se eu fosse directora da RTP escolhê-la-ia, ainda hoje, como pivot», diz Diana Andringa, de quem, além da RTP, foi também colega em Medicina. Numa época em que as mulheres lutavam pela emancipação, a sua imagem é para todos os gostos. Moderna, eficiente, mas que não descura a elegância. Maria Alice, sua maquilhadora de sempre - a que ela escolheu e não a que a RTP lhe forneceu - diz que «ela não se julga bonita, detesta o nariz, por exemplo, mas tem a noção que a televisão não se compadece com amadorismos». Diz ela própria que aprendeu a lição em Paris, não no curso da Escola Superior de Jornalismo que foi tirar, em 1975, para se profissionalizar, mas na televisão que viu na altura. Quando chegou, teve «discussões homéricas» com o Sr. Couto, o cabeleireiro da RTP que a queria pentear com caracóis. «O visual não pode ser um empecilho.» Maria Alice, sua maquilhadora de sempre - a que ela escolheu e não a que a RTP lhe forneceu - diz que «ela não se julga bonita, detesta o nariz, por exemplo, mas tem a noção que a televisão não se compadece com amadorismos». Diz ela própria que aprendeu a lição em Paris, não no curso da Escola Superior de Jornalismo que foi tirar, em 1975, para se profissionalizar, mas na televisão que viu na altura. Quando chegou, teve «discussões homéricas» com o Sr. Couto, o cabeleireiro da RTP que a queria pentear com caracóis. «O visual não pode ser um empecilho.» Nos seus programas mantém o hábito de escolher o que vai vestir de acordo com o tema, em discussão com os estilistas da casa que a veste, a Stivali. Não é um sacrifício, é antiga a sua paixão pelas roupas. Sai à mãe - «sempre impecável, mesmo em casa» - e à avó, bordadeira profissional. Recorda: «Mesmo quando, em criança, tinha aulas com professoras privadas, os meus bibes eram escolhidos a dedo e bordados com patinhos e galinhas.» Maria Elisa guarda «toilettes» de há mais de 20 anos. A notoriedade ganha no ecrã fá-la alvo de interesse dos políticos que, passado o namoro pós-25 de Abril, começavam a precisar de reconquistar o povo. Em 1979, Maria Elisa recebe um convite para ser assessora da primeiro-ministro Maria de Lurdes Pintasilgo. «Tinha de aceitar, eram as minhas origens políticas que me chamavam». Católica da parte da mãe, com preocupações sociais de esquerda, herdadas do pai - esse, comunista à séria - participara, com o Graal, organização dirigida por Pintasilgo, na alfabetização às operárias da indústria de conservas, na Fuzeta, aos 15 anos. A carreira na RTP começa logo em Janeiro de 1973: Maria Elisa foi a primeira mulher a apresentar o telejornal e a fazer entrevistas políticas Em 1986 volta à política, mas no oposto do espectro, para apoiar Freitas do Amaral. A influência de Proença de Carvalho - de quem se tornara amiga desde o convite que ele lhe fizera para directora de programas, com 30 anos - é evidente. Mas a guinada à direita será muito criticada. Na altura dirá que não acredita que Soares resista aos lóbis nacionais e por isso escolhera o outro lado. Mais tarde arrepender-se-á, elegendo Soares o político da sua vida de entrevistas. Em 1986 volta à política, mas no oposto do espectro, para apoiar Freitas do Amaral. A influência de Proença de Carvalho - de quem se tornara amiga desde o convite que ele lhe fizera para directora de programas, com 30 anos - é evidente. Mas a guinada à direita será muito criticada. Na altura dirá que não acredita que Soares resista aos lóbis nacionais e por isso escolhera o outro lado. Mais tarde arrepender-se-á, elegendo Soares o político da sua vida de entrevistas. Em 1990, de novo a acumular funções, é obrigada a mudar de rumo. A RTP despede-a - num processo que partilhou com Margarida Marante, Diana Andringa e Maria Antónia Palla - por ser directora da revista «Marie Claire». Em 1994, já de volta à RTP depois de uma passagem pelos projectos da televisão privada TV1 - do amigo Proença de Carvalho - e da SIC, recebe um convite de Ferrer Correia para ser Directora de Comunicação da Fundação Gulbenkian. Fá-lo ao mesmo tempo que continua com entrevistas na RTP. Depois, pede licença sem vencimento da Gulbenkian quando é convidada para Directora de Programas, pela segunda vez, em 1998. Ainda nesse ano, propõe um orçamento de programação de mais cinco milhões que o previsto. Mais uma vez, os cifrões são a notícia. «Não há um único director de programas que tenha cumprido o orçamento e só eu fiz manchetes», queixa-se. «Só gastei o que me deixaram». Um ano depois, quando está quase a expirar o prazo da licença sem vencimento na Gulbenkian, começam de novo a aparecer notícias nos jornais acusando-a de deixar o caso em banho maria, por não querer largar facilmente a possibilidade de ganhar mais mil contos por mês. Tal como aconteceu nestas últimas semanas, o dinheiro de Maria Elisa é sempre tratado nos jornais com um despudor pouco usual em Portugal - sobretudo no que diz respeito a questões privadas. A imagem de gastadora colou-se-lhe desde cedo. O luxo parecia decorrente da sua boa imagem. Em 1982, Directora de Programas, com 31 anos, apareceu uma notícia na secção «Gente» do Expresso dizendo «Maria Elisa só bebe champanhe». Diziam que queria beber champanhe quando viajava em classe turística para Milão. «Pedi, sim, e queria pagá-la. Não bebo vinho. Mas a tripulação disse-me que não me podia vender champanhe. Eu perguntei porquê. Eles não sabiam responder-me e fiz uma queixa. Esta queixa deu origem à notícia do Expresso.» Tal como aconteceu nestas últimas semanas, o dinheiro de Maria Elisa é sempre tratado nos jornais com um despudor pouco usual em Portugal - sobretudo no que diz respeito a questões privadas. A imagem de gastadora colou-se-lhe desde cedo. O luxo parecia decorrente da sua boa imagem. Em 1982, Directora de Programas, com 31 anos, apareceu uma notícia na secção «Gente» do Expresso dizendo «Maria Elisa só bebe champanhe». Diziam que queria beber champanhe quando viajava em classe turística para Milão. «Pedi, sim, e queria pagá-la. Não bebo vinho. Mas a tripulação disse-me que não me podia vender champanhe. Eu perguntei porquê. Eles não sabiam responder-me e fiz uma queixa. Esta queixa deu origem à notícia do Expresso.» Quando, em 1992, estava a preparar o lançamento da SIC, para onde foi convidada como Directora de Programação, e faz uma saída de rompante, voltando de novo para a RTP, a acusação que se lhe faz é de ter vendido a alma por um contrato milionário. Ela entra no jogo. Defende-se. «Vou perder centenas de contos. E não podia ficar desempregada. Sou sozinha, tenho um filho e a minha mãe ficou viúva», diz, numa entrevista ao «Independente». Maria Elisa põe-se a jeito, ao revelar a sua intimidade. «Faço-o sempre em generalidades, nunca mostrei o meu filho, nem as minhas relações íntimas». Mas fala. Da sua solidão ou da relação com os homens, o facto de «não ter talento para ser feliz». Desde 1999 revela-se num «Diário» publicado aos domingos no «DN». «Acho que me exponho bastante, é o meu carácter. Se me controlasse, fá-lo-ia por táctica, que é uma maneira de estar na vida que não me interessa.» Só que a exposição pública paga-se. Em 1983, o jornal «Tal & Qual» descobre um velho filme «Omala Wangallengue», de António Faria, que ela tinha feito quando no Conservatório, e coloca-a na primeira página protagonizando uma cena de sexo com o angolano Jaka Jamba. Em 1997, os jornais dão como certa a sua relação com Pinto da Costa, sobre o qual anuncia uma biografia. O livro nunca saiu. «Pinto da Costa é um homem muito inteligente e como tal manipulador. Qualquer biografia sobre ele é a que ele quiser. E, no mundo do futebol, ninguém se atreve a dizer nada sobre ele», explica, dizendo porque desistiu do projecto. Só que a exposição pública paga-se. Em 1983, o jornal «Tal & Qual» descobre um velho filme «Omala Wangallengue», de António Faria, que ela tinha feito quando no Conservatório, e coloca-a na primeira página protagonizando uma cena de sexo com o angolano Jaka Jamba. Em 1997, os jornais dão como certa a sua relação com Pinto da Costa, sobre o qual anuncia uma biografia. O livro nunca saiu. «Pinto da Costa é um homem muito inteligente e como tal manipulador. Qualquer biografia sobre ele é a que ele quiser. E, no mundo do futebol, ninguém se atreve a dizer nada sobre ele», explica, dizendo porque desistiu do projecto. Com as figuras públicas as pessoas ganham uma intimidade por vezes cruel. «Na rua, dizem-lhe muitas vezes que é muito baixinha», revela Maria Alice, a maquilhadora. Comentam-se-lhe as roupas. Contam-se as viagens. As saltadas a Londres. O eleger o Raffles, em Singapura, um dos hotéis mais caros do Mundo como um dos da sua vida. Não há ninguém que não saiba onde mora - no Páteo Bagatella. E os que menos a apreciam não têm o mínimo pejo em divulgar os boatos. «Ela não devolve às lojas os vestidos usados nos programas», garantiu ao Expresso um ex-funcionário da RTP. Maria Elisa não sabe dos boatos sobre si, faz um esgar de espanto sobre estas histórias. Também não tem total conhecimento de todas as coisas que dizem os jornais. «Faço assim: vejo que é sobre mim, no quiosque, e dobro. Ou ponho na gaveta onde guardo tudo o que um dia me possa ajudar a escrever as memórias, ou dou ao meu advogado.» Habituou-se aos olhares públicos há muito tempo - a sua cara aparece nos ecrãs desde 1973, quando a palavra vedeta ainda não tinha passado de moda. Mas continua a preocupá-la o julgamento de um círculo restrito. A mãe, com 78 anos. O filho, 28, arquitecto. Os amigos mais próximos. A estes costuma mandar postais sentimentais, a pedir desculpa ou a explicar razões, como fez quando não gostou de ver-se escarrapachada numa fotografia na capa da «Revista» do Expresso que lhe mostrava o recorte do seio. Os que a conhecem dizem que Maria Elisa é o que se podia chamar «uma amiga compulsiva». Telefona - ganhou agora o hábito de mandar mensagens pelo telemóvel -, escreve quando vai de férias, nunca se esquece de um aniversário e compra presentes o ano inteiro para dar sempre coisas escolhidas a dedo, no Natal. Os que a conhecem dizem que Maria Elisa é o que se podia chamar «uma amiga compulsiva». Telefona - ganhou agora o hábito de mandar mensagens pelo telemóvel -, escreve quando vai de férias, nunca se esquece de um aniversário e compra presentes o ano inteiro para dar sempre coisas escolhidas a dedo, no Natal. «Ela faz sempre tudo com enorme profissionalismo», diz Teresa Paixão, do departamento de Programas Infantis da RTP. «Nunca tive uma directora tão séria. Lembro-me do caso de um programa juvenil do La Féria, que ela tinha herdado, «Camaleão Virtual Rock», era uma ópera rock sobre droga, racismo e gangs. Ela quis ouvir a opinião de várias pessoas de fora da TV e organizou-se uma reunião com especialistas e depois projectámos um episódio no Liceu Pedro V e na Covilhã. Toda a gente disse mal e a série não foi para o ar.» A reconhecida capacidade de ouvir os outros - que, diz-se, faz dela uma boa apresentadora - pode ser por vezes interrompida pelas tomadas de decisão bruscas. «Ela pode ser uma pessoa muito solitária nas escolhas», diz um antigo administrador da RTP. «E caprichosa nos seus gostos». Este administrador dá o exemplo do futebol, com o qual a directora de programas se dava mal. «Eu sempre achei que era impossível fazer uma programação concorrencial se se estava dependente dos horários dos jogos, e dos prolongamentos», recorda a agora deputada. Essa queixa fez parte de um memorando assinado por toda a sua equipa, entregue à administração antes da sua demissão pela tutela. Na Assembleia da República, Maria Elisa mudou de elemento. «Ainda estou em fase de adaptação, ainda não encontrei a minha área de intervenção», diz. E nota-se. Basta ver o gabinete - que toda a gente sabe ser próximo do hemiciclo devido à divulgação da sua doença, a fadiga crónica. A secretária de alumínio, as paredes nuas, tornando ainda mais desconfortável o altíssimo pé direito. Este não é um gabinete «à Maria Elisa». Único toque; na secretária, uma boneca de barro castanho vidrado, que, no calor da polémica o colega de bancada e gabinete, deputado por Barcelos, lhe trouxe. «Inveja», chama-se a boneca. Solidariedade entre principiantes. Maria Elisa encolhe os ombros, aceita o lugar da vítima. «Eu tenho o 'jackpot'. Sou mulher, comecei a ter poder muito cedo, sou sozinha e sou independente politicamente. Posso levar de todo o lado.» 22 Na Assembleia da República, Maria Elisa mudou de elemento. «Ainda estou em fase de adaptação, ainda não encontrei a minha área de intervenção», diz. E nota-se. Basta ver o gabinete - que toda a gente sabe ser próximo do hemiciclo devido à divulgação da sua doença, a fadiga crónica. A secretária de alumínio, as paredes nuas, tornando ainda mais desconfortável o altíssimo pé direito. Este não é um gabinete «à Maria Elisa». Único toque; na secretária, uma boneca de barro castanho vidrado, que, no calor da polémica o colega de bancada e gabinete, deputado por Barcelos, lhe trouxe. «Inveja», chama-se a boneca. Solidariedade entre principiantes. Maria Elisa encolhe os ombros, aceita o lugar da vítima. «Eu tenho o 'jackpot'. Sou mulher, comecei a ter poder muito cedo, sou sozinha e sou independente politicamente. Posso levar de todo o lado.» Em 1978, a primeira incursão na política com Lurdes Pintasilgo

Com Margarida Marante e Diana Andringa, em 1990, quando foram despedidas da RTP No programa que partilhou com José Eduardo Moniz, de regresso à RTP

No projecto falhado da TV1, com Proença de Carvalho

A agora deputada sentou-se na penúltima fila do hemiciclo para evitar os holofotes: «Aqui, assumi o meu papel: estou a iniciar-me»

Estrelas à chuva Há dez anos, o advento das televisões privadas veio resolver em grande parte o problema das «estrelas cadentes» e mudar as regras do jogo. Até então, uma vedeta televisiva tinha três formas de vida: ou usava e abusava da sua presença no pequeno ecrã, ou era esquecida e dispensada, ou passava à categoria de «sobrevivente» dando a cara em doses irregulares. Assim, a saga dos olvidados televisivos rumou mais depressa ao campo da nostalgia que ao da injustiça. A SIC, por exemplo, foi buscar Henrique Mendes ao lote dos dispensados e mal esquecidos, ao mesmo tempo que impunha «estrelas» emergentes na Informação e no Entretenimento. Foi ali que se «fizeram» nomes como José Alberto Carvalho, Rodrigo Guedes de Carvalho, João Baião, Júlia Pinheiro ou Fátima Lopes. A TVI «recuperou» Manuela Moura Guedes, fazendo da ex-repórter uma «pivot» de primeira linha, e deu ao padre António Rego (um «clássico» da «Eucaristia Dominical» do canal estatal) um programa de reportagem e debate. A RTP, por seu lado, viu-se a braços com outros «clássicos». Pegou num trio de cantores (Paco Bandeira, Simone de Oliveira e Carlos do Carmo) e entregou-lhes «talk shows» musicados na RTP Internacional, modestos nos meios e certeiros no propósito de serviço público. Júlio Isidro foi a aquisição emblemática do ano. Apresentou à RTP um rol de projectos novos (mesmo que com o cunho inconfundível do seu autor) e viu ser aceite uma réplica a papel químico de «O Passeio dos Alegres» (até o nome é o mesmo). Ainda hoje, mais de 20 anos depois, anima as tardes de sábado com três horas e meia em directo. Há dez anos, o advento das televisões privadas veio resolver em grande parte o problema das «estrelas cadentes» e mudar as regras do jogo. Até então, uma vedeta televisiva tinha três formas de vida: ou usava e abusava da sua presença no pequeno ecrã, ou era esquecida e dispensada, ou passava à categoria de «sobrevivente» dando a cara em doses irregulares. Assim, a saga dos olvidados televisivos rumou mais depressa ao campo da nostalgia que ao da injustiça. A SIC, por exemplo, foi buscar Henrique Mendes ao lote dos dispensados e mal esquecidos, ao mesmo tempo que impunha «estrelas» emergentes na Informação e no Entretenimento. Foi ali que se «fizeram» nomes como José Alberto Carvalho, Rodrigo Guedes de Carvalho, João Baião, Júlia Pinheiro ou Fátima Lopes. A TVI «recuperou» Manuela Moura Guedes, fazendo da ex-repórter uma «pivot» de primeira linha, e deu ao padre António Rego (um «clássico» da «Eucaristia Dominical» do canal estatal) um programa de reportagem e debate. A RTP, por seu lado, viu-se a braços com outros «clássicos». Pegou num trio de cantores (Paco Bandeira, Simone de Oliveira e Carlos do Carmo) e entregou-lhes «talk shows» musicados na RTP Internacional, modestos nos meios e certeiros no propósito de serviço público. Júlio Isidro foi a aquisição emblemática do ano. Apresentou à RTP um rol de projectos novos (mesmo que com o cunho inconfundível do seu autor) e viu ser aceite uma réplica a papel químico de «O Passeio dos Alegres» (até o nome é o mesmo). Ainda hoje, mais de 20 anos depois, anima as tardes de sábado com três horas e meia em directo. Com a pausa «forçada» na carreira televisiva de Maria Elisa, os incondicionais de um sumarento duelo de vedetas vão ter saudades da antiga e ressequida disputa entre a agora deputada e Margarida Marante. Margarida «treina» no «Notícias Magazine» para não perder a prática das entrevistas, mas é ela quem reajusta os seus interesses e gere o suposto «cansaço da imagem». É provável que volte a fazer mais do mesmo em televisão, com a SIC a liderar a corrida das suas opções. Henrique Mendes, tornado actor de algum talento, não tem programa na calha, mas é figura habitual na SIC Gold com o bem sucedido «Ponto de Encontro». Quanto aos «intocáveis», nada faz prever que se tornem cadentes estrelas como Carlos Cruz, Teresa Guilherme, Manuel Luís Goucha ou Herman José. Tudo na mesma? José Mendes

COMENTÁRIOS

6 comentários 1 a 6

2 de Agosto de 2002 às 23:48

Leone ( maria_araujo2000@yahoo.com )

Que pena ver como continuam a tratar as mulheres em Portugal!

Continue ME! Ja sabe os caes ladram,.....

A sua voz e necessaria para que realmente algo mude no nosso pequeno mundo. Insista na educacao e na transparencia.

Parabens pela sua fortaleza e pelo modelo para as novas geracoes.

2 de Agosto de 2002 às 09:52

Garcia de O. ( garcia_10@hotmail.com )

Será Maria Elisa a figura de televisão que esteve cá em Angola há coisa de 10 anos, no tempo do monopartidarismo, e perguntou ao presidente da república se o mesmo ficaria satisfeito com a morte de Savimbe, uma questão que teve muita polémica em Angola?

28 de Julho de 2002 às 23:32

Iraupena ( quatrocom@mail.telepac.pt )

Boa, surpreso

28 de Julho de 2002 às 18:36

princepereal100 ( princepereal100@hotmail.com )

Existem,infelizmente, em portugal poucas mulheres com nivel e classe.Maria Elisa, merece ser acarinhada e respeitada por tudo aquilo que já fez.

28 de Julho de 2002 às 18:33

Milucas ( mariapapoila69@hotmail.com )

Atençao à malandragem!!! Abaixo os vigaristas!!!

Os 700 empregados da TAP no estrangeiro - que produzem mais de 50% da receita desta companhia, supostamente de todos nós (?) mas sao tratados como empregados de 2a. - congratulam-se com a nova proposta do Codigo de Trabalho e esperam que esta seja aplicada com firmeza e sem mais demora.

A Bem da Naçao!

27 de Julho de 2002 às 12:11

surpreso

Ainda não percebo o que tem de especial esta "madama",a não ser que é bastante vaidosa e que teve de ser empurrada para fazer a opção decente que se impunha.E só deixa saudades na televisão,porque os padrões actuais da RTP são aquela inqualificável Julia Pinheiro.

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Começou por querer ser médica, depois actriz, tornou-se vedeta da televisão e a seguir jornalista, para finalmente se dedicar, em exclusivo, à mais nobre das missões: a política. A escolha de Maria Elisa, porém, foi só uma: o caminho da fama.

Texto de Catarina Carvalho LUIZ CARVALHO Quando chegou à Assembleia da República, eleita cabeça de lista do PSD por Castelo Branco, Maria Elisa Domingues fez questão de não se sentar nas filas da frente. «Pelo menos nas três primeiras. Na cultura do Parlamento são as mais mediáticas, que eu queria evitar. Até porque me acompanha o problema do protagonismo, por ser figura pública. Aqui assumi o meu papel: estou a iniciar-me, estou a aprender.» Quando chegou à Assembleia da República, eleita cabeça de lista do PSD por Castelo Branco, Maria Elisa Domingues fez questão de não se sentar nas filas da frente. «Pelo menos nas três primeiras. Na cultura do Parlamento são as mais mediáticas, que eu queria evitar. Até porque me acompanha o problema do protagonismo, por ser figura pública. Aqui assumi o meu papel: estou a iniciar-me, estou a aprender.» Puro engano. Os holofotes voltaram a ir buscá-la, aos 52 anos, mesmo na penúltima fila do hemiciclo. Como guardadores do templo a percorrer o pátio à procura da pecadora. Acusação: incompatibilidade. Maria Elisa queria continuar na RTP e ser deputada ao mesmo tempo. «Antes de aceitar o convite pedi ao PSD que fizesse um estudo e a conclusão foi que não havia incompatibilidade. Por isso aceitei.» Talvez não houvesse, no plano legal. Mas numa altura em que o Governo pretendia sanear o canal público, parecia imoral que alguém das suas fileiras continuasse a ganhar 1500 contos pela RTP. A polémica rolou. Em vez das questões éticas - da possibilidade ou não de fazer trabalho jornalístico isento, sendo deputada - passaram a estar em cheque apenas motivos económicos. Por outras razões, sobretudo políticas, ou seja, para não prejudicar quem a tinha elegido, Maria Elisa marca uma conferência de imprensa para anunciar a resignação. «Estou triste. Para mim era importante continuar a ser a antena da sociedade na Assembleia.» Por outras razões, sobretudo políticas, ou seja, para não prejudicar quem a tinha elegido, Maria Elisa marca uma conferência de imprensa para anunciar a resignação. «Estou triste. Para mim era importante continuar a ser a antena da sociedade na Assembleia.» Espalhar os ovos por vários cestos é hábito antigo. Ainda Maria Elisa estava no segundo ano de Medicina e já desistia do curso para entrar no Conservatório. Mal iniciara uma carreira de actriz, contando com os bons augúrios da crítica e dos colegas, e já tinha lugar como locutora na RTP, em 1973. Seria a primeira mulher a apresentar os telejornais. Mas, como continuava sem dar mostras de pretender largar os palcos, João Mota, encenador da Comuna, foi o primeiro a desempenhar o papel de fiel da balança na sua carreira. «Tens de escolher, ou és vedeta da TV, ou és actriz de teatro», disse-lhe. Ela achava que tinha energia para tudo, mas optou pelas câmaras, ainda sem noção até onde iriam levá-la. «Quando escolhi a RTP fi-lo por alguma segurança material». O pai fora toda a vida um servidor do Estado, como engenheiro geógrafo. Ficou zangado com a filha, por ter abandonado uma carreira séria, de médica, mas depressa se orgulhou do sucesso da Mili. Maria Elisa, já sem apelido, marcou um estilo, sério, para dar as notícias da noite. «Se eu fosse directora da RTP escolhê-la-ia, ainda hoje, como pivot», diz Diana Andringa, de quem, além da RTP, foi também colega em Medicina. Numa época em que as mulheres lutavam pela emancipação, a sua imagem é para todos os gostos. Moderna, eficiente, mas que não descura a elegância. Maria Alice, sua maquilhadora de sempre - a que ela escolheu e não a que a RTP lhe forneceu - diz que «ela não se julga bonita, detesta o nariz, por exemplo, mas tem a noção que a televisão não se compadece com amadorismos». Diz ela própria que aprendeu a lição em Paris, não no curso da Escola Superior de Jornalismo que foi tirar, em 1975, para se profissionalizar, mas na televisão que viu na altura. Quando chegou, teve «discussões homéricas» com o Sr. Couto, o cabeleireiro da RTP que a queria pentear com caracóis. «O visual não pode ser um empecilho.» Maria Alice, sua maquilhadora de sempre - a que ela escolheu e não a que a RTP lhe forneceu - diz que «ela não se julga bonita, detesta o nariz, por exemplo, mas tem a noção que a televisão não se compadece com amadorismos». Diz ela própria que aprendeu a lição em Paris, não no curso da Escola Superior de Jornalismo que foi tirar, em 1975, para se profissionalizar, mas na televisão que viu na altura. Quando chegou, teve «discussões homéricas» com o Sr. Couto, o cabeleireiro da RTP que a queria pentear com caracóis. «O visual não pode ser um empecilho.» Nos seus programas mantém o hábito de escolher o que vai vestir de acordo com o tema, em discussão com os estilistas da casa que a veste, a Stivali. Não é um sacrifício, é antiga a sua paixão pelas roupas. Sai à mãe - «sempre impecável, mesmo em casa» - e à avó, bordadeira profissional. Recorda: «Mesmo quando, em criança, tinha aulas com professoras privadas, os meus bibes eram escolhidos a dedo e bordados com patinhos e galinhas.» Maria Elisa guarda «toilettes» de há mais de 20 anos. A notoriedade ganha no ecrã fá-la alvo de interesse dos políticos que, passado o namoro pós-25 de Abril, começavam a precisar de reconquistar o povo. Em 1979, Maria Elisa recebe um convite para ser assessora da primeiro-ministro Maria de Lurdes Pintasilgo. «Tinha de aceitar, eram as minhas origens políticas que me chamavam». Católica da parte da mãe, com preocupações sociais de esquerda, herdadas do pai - esse, comunista à séria - participara, com o Graal, organização dirigida por Pintasilgo, na alfabetização às operárias da indústria de conservas, na Fuzeta, aos 15 anos. A carreira na RTP começa logo em Janeiro de 1973: Maria Elisa foi a primeira mulher a apresentar o telejornal e a fazer entrevistas políticas Em 1986 volta à política, mas no oposto do espectro, para apoiar Freitas do Amaral. A influência de Proença de Carvalho - de quem se tornara amiga desde o convite que ele lhe fizera para directora de programas, com 30 anos - é evidente. Mas a guinada à direita será muito criticada. Na altura dirá que não acredita que Soares resista aos lóbis nacionais e por isso escolhera o outro lado. Mais tarde arrepender-se-á, elegendo Soares o político da sua vida de entrevistas. Em 1986 volta à política, mas no oposto do espectro, para apoiar Freitas do Amaral. A influência de Proença de Carvalho - de quem se tornara amiga desde o convite que ele lhe fizera para directora de programas, com 30 anos - é evidente. Mas a guinada à direita será muito criticada. Na altura dirá que não acredita que Soares resista aos lóbis nacionais e por isso escolhera o outro lado. Mais tarde arrepender-se-á, elegendo Soares o político da sua vida de entrevistas. Em 1990, de novo a acumular funções, é obrigada a mudar de rumo. A RTP despede-a - num processo que partilhou com Margarida Marante, Diana Andringa e Maria Antónia Palla - por ser directora da revista «Marie Claire». Em 1994, já de volta à RTP depois de uma passagem pelos projectos da televisão privada TV1 - do amigo Proença de Carvalho - e da SIC, recebe um convite de Ferrer Correia para ser Directora de Comunicação da Fundação Gulbenkian. Fá-lo ao mesmo tempo que continua com entrevistas na RTP. Depois, pede licença sem vencimento da Gulbenkian quando é convidada para Directora de Programas, pela segunda vez, em 1998. Ainda nesse ano, propõe um orçamento de programação de mais cinco milhões que o previsto. Mais uma vez, os cifrões são a notícia. «Não há um único director de programas que tenha cumprido o orçamento e só eu fiz manchetes», queixa-se. «Só gastei o que me deixaram». Um ano depois, quando está quase a expirar o prazo da licença sem vencimento na Gulbenkian, começam de novo a aparecer notícias nos jornais acusando-a de deixar o caso em banho maria, por não querer largar facilmente a possibilidade de ganhar mais mil contos por mês. Tal como aconteceu nestas últimas semanas, o dinheiro de Maria Elisa é sempre tratado nos jornais com um despudor pouco usual em Portugal - sobretudo no que diz respeito a questões privadas. A imagem de gastadora colou-se-lhe desde cedo. O luxo parecia decorrente da sua boa imagem. Em 1982, Directora de Programas, com 31 anos, apareceu uma notícia na secção «Gente» do Expresso dizendo «Maria Elisa só bebe champanhe». Diziam que queria beber champanhe quando viajava em classe turística para Milão. «Pedi, sim, e queria pagá-la. Não bebo vinho. Mas a tripulação disse-me que não me podia vender champanhe. Eu perguntei porquê. Eles não sabiam responder-me e fiz uma queixa. Esta queixa deu origem à notícia do Expresso.» Tal como aconteceu nestas últimas semanas, o dinheiro de Maria Elisa é sempre tratado nos jornais com um despudor pouco usual em Portugal - sobretudo no que diz respeito a questões privadas. A imagem de gastadora colou-se-lhe desde cedo. O luxo parecia decorrente da sua boa imagem. Em 1982, Directora de Programas, com 31 anos, apareceu uma notícia na secção «Gente» do Expresso dizendo «Maria Elisa só bebe champanhe». Diziam que queria beber champanhe quando viajava em classe turística para Milão. «Pedi, sim, e queria pagá-la. Não bebo vinho. Mas a tripulação disse-me que não me podia vender champanhe. Eu perguntei porquê. Eles não sabiam responder-me e fiz uma queixa. Esta queixa deu origem à notícia do Expresso.» Quando, em 1992, estava a preparar o lançamento da SIC, para onde foi convidada como Directora de Programação, e faz uma saída de rompante, voltando de novo para a RTP, a acusação que se lhe faz é de ter vendido a alma por um contrato milionário. Ela entra no jogo. Defende-se. «Vou perder centenas de contos. E não podia ficar desempregada. Sou sozinha, tenho um filho e a minha mãe ficou viúva», diz, numa entrevista ao «Independente». Maria Elisa põe-se a jeito, ao revelar a sua intimidade. «Faço-o sempre em generalidades, nunca mostrei o meu filho, nem as minhas relações íntimas». Mas fala. Da sua solidão ou da relação com os homens, o facto de «não ter talento para ser feliz». Desde 1999 revela-se num «Diário» publicado aos domingos no «DN». «Acho que me exponho bastante, é o meu carácter. Se me controlasse, fá-lo-ia por táctica, que é uma maneira de estar na vida que não me interessa.» Só que a exposição pública paga-se. Em 1983, o jornal «Tal & Qual» descobre um velho filme «Omala Wangallengue», de António Faria, que ela tinha feito quando no Conservatório, e coloca-a na primeira página protagonizando uma cena de sexo com o angolano Jaka Jamba. Em 1997, os jornais dão como certa a sua relação com Pinto da Costa, sobre o qual anuncia uma biografia. O livro nunca saiu. «Pinto da Costa é um homem muito inteligente e como tal manipulador. Qualquer biografia sobre ele é a que ele quiser. E, no mundo do futebol, ninguém se atreve a dizer nada sobre ele», explica, dizendo porque desistiu do projecto. Só que a exposição pública paga-se. Em 1983, o jornal «Tal & Qual» descobre um velho filme «Omala Wangallengue», de António Faria, que ela tinha feito quando no Conservatório, e coloca-a na primeira página protagonizando uma cena de sexo com o angolano Jaka Jamba. Em 1997, os jornais dão como certa a sua relação com Pinto da Costa, sobre o qual anuncia uma biografia. O livro nunca saiu. «Pinto da Costa é um homem muito inteligente e como tal manipulador. Qualquer biografia sobre ele é a que ele quiser. E, no mundo do futebol, ninguém se atreve a dizer nada sobre ele», explica, dizendo porque desistiu do projecto. Com as figuras públicas as pessoas ganham uma intimidade por vezes cruel. «Na rua, dizem-lhe muitas vezes que é muito baixinha», revela Maria Alice, a maquilhadora. Comentam-se-lhe as roupas. Contam-se as viagens. As saltadas a Londres. O eleger o Raffles, em Singapura, um dos hotéis mais caros do Mundo como um dos da sua vida. Não há ninguém que não saiba onde mora - no Páteo Bagatella. E os que menos a apreciam não têm o mínimo pejo em divulgar os boatos. «Ela não devolve às lojas os vestidos usados nos programas», garantiu ao Expresso um ex-funcionário da RTP. Maria Elisa não sabe dos boatos sobre si, faz um esgar de espanto sobre estas histórias. Também não tem total conhecimento de todas as coisas que dizem os jornais. «Faço assim: vejo que é sobre mim, no quiosque, e dobro. Ou ponho na gaveta onde guardo tudo o que um dia me possa ajudar a escrever as memórias, ou dou ao meu advogado.» Habituou-se aos olhares públicos há muito tempo - a sua cara aparece nos ecrãs desde 1973, quando a palavra vedeta ainda não tinha passado de moda. Mas continua a preocupá-la o julgamento de um círculo restrito. A mãe, com 78 anos. O filho, 28, arquitecto. Os amigos mais próximos. A estes costuma mandar postais sentimentais, a pedir desculpa ou a explicar razões, como fez quando não gostou de ver-se escarrapachada numa fotografia na capa da «Revista» do Expresso que lhe mostrava o recorte do seio. Os que a conhecem dizem que Maria Elisa é o que se podia chamar «uma amiga compulsiva». Telefona - ganhou agora o hábito de mandar mensagens pelo telemóvel -, escreve quando vai de férias, nunca se esquece de um aniversário e compra presentes o ano inteiro para dar sempre coisas escolhidas a dedo, no Natal. Os que a conhecem dizem que Maria Elisa é o que se podia chamar «uma amiga compulsiva». Telefona - ganhou agora o hábito de mandar mensagens pelo telemóvel -, escreve quando vai de férias, nunca se esquece de um aniversário e compra presentes o ano inteiro para dar sempre coisas escolhidas a dedo, no Natal. «Ela faz sempre tudo com enorme profissionalismo», diz Teresa Paixão, do departamento de Programas Infantis da RTP. «Nunca tive uma directora tão séria. Lembro-me do caso de um programa juvenil do La Féria, que ela tinha herdado, «Camaleão Virtual Rock», era uma ópera rock sobre droga, racismo e gangs. Ela quis ouvir a opinião de várias pessoas de fora da TV e organizou-se uma reunião com especialistas e depois projectámos um episódio no Liceu Pedro V e na Covilhã. Toda a gente disse mal e a série não foi para o ar.» A reconhecida capacidade de ouvir os outros - que, diz-se, faz dela uma boa apresentadora - pode ser por vezes interrompida pelas tomadas de decisão bruscas. «Ela pode ser uma pessoa muito solitária nas escolhas», diz um antigo administrador da RTP. «E caprichosa nos seus gostos». Este administrador dá o exemplo do futebol, com o qual a directora de programas se dava mal. «Eu sempre achei que era impossível fazer uma programação concorrencial se se estava dependente dos horários dos jogos, e dos prolongamentos», recorda a agora deputada. Essa queixa fez parte de um memorando assinado por toda a sua equipa, entregue à administração antes da sua demissão pela tutela. Na Assembleia da República, Maria Elisa mudou de elemento. «Ainda estou em fase de adaptação, ainda não encontrei a minha área de intervenção», diz. E nota-se. Basta ver o gabinete - que toda a gente sabe ser próximo do hemiciclo devido à divulgação da sua doença, a fadiga crónica. A secretária de alumínio, as paredes nuas, tornando ainda mais desconfortável o altíssimo pé direito. Este não é um gabinete «à Maria Elisa». Único toque; na secretária, uma boneca de barro castanho vidrado, que, no calor da polémica o colega de bancada e gabinete, deputado por Barcelos, lhe trouxe. «Inveja», chama-se a boneca. Solidariedade entre principiantes. Maria Elisa encolhe os ombros, aceita o lugar da vítima. «Eu tenho o 'jackpot'. Sou mulher, comecei a ter poder muito cedo, sou sozinha e sou independente politicamente. Posso levar de todo o lado.» 22 Na Assembleia da República, Maria Elisa mudou de elemento. «Ainda estou em fase de adaptação, ainda não encontrei a minha área de intervenção», diz. E nota-se. Basta ver o gabinete - que toda a gente sabe ser próximo do hemiciclo devido à divulgação da sua doença, a fadiga crónica. A secretária de alumínio, as paredes nuas, tornando ainda mais desconfortável o altíssimo pé direito. Este não é um gabinete «à Maria Elisa». Único toque; na secretária, uma boneca de barro castanho vidrado, que, no calor da polémica o colega de bancada e gabinete, deputado por Barcelos, lhe trouxe. «Inveja», chama-se a boneca. Solidariedade entre principiantes. Maria Elisa encolhe os ombros, aceita o lugar da vítima. «Eu tenho o 'jackpot'. Sou mulher, comecei a ter poder muito cedo, sou sozinha e sou independente politicamente. Posso levar de todo o lado.» Em 1978, a primeira incursão na política com Lurdes Pintasilgo

Com Margarida Marante e Diana Andringa, em 1990, quando foram despedidas da RTP No programa que partilhou com José Eduardo Moniz, de regresso à RTP

No projecto falhado da TV1, com Proença de Carvalho

A agora deputada sentou-se na penúltima fila do hemiciclo para evitar os holofotes: «Aqui, assumi o meu papel: estou a iniciar-me»

Estrelas à chuva Há dez anos, o advento das televisões privadas veio resolver em grande parte o problema das «estrelas cadentes» e mudar as regras do jogo. Até então, uma vedeta televisiva tinha três formas de vida: ou usava e abusava da sua presença no pequeno ecrã, ou era esquecida e dispensada, ou passava à categoria de «sobrevivente» dando a cara em doses irregulares. Assim, a saga dos olvidados televisivos rumou mais depressa ao campo da nostalgia que ao da injustiça. A SIC, por exemplo, foi buscar Henrique Mendes ao lote dos dispensados e mal esquecidos, ao mesmo tempo que impunha «estrelas» emergentes na Informação e no Entretenimento. Foi ali que se «fizeram» nomes como José Alberto Carvalho, Rodrigo Guedes de Carvalho, João Baião, Júlia Pinheiro ou Fátima Lopes. A TVI «recuperou» Manuela Moura Guedes, fazendo da ex-repórter uma «pivot» de primeira linha, e deu ao padre António Rego (um «clássico» da «Eucaristia Dominical» do canal estatal) um programa de reportagem e debate. A RTP, por seu lado, viu-se a braços com outros «clássicos». Pegou num trio de cantores (Paco Bandeira, Simone de Oliveira e Carlos do Carmo) e entregou-lhes «talk shows» musicados na RTP Internacional, modestos nos meios e certeiros no propósito de serviço público. Júlio Isidro foi a aquisição emblemática do ano. Apresentou à RTP um rol de projectos novos (mesmo que com o cunho inconfundível do seu autor) e viu ser aceite uma réplica a papel químico de «O Passeio dos Alegres» (até o nome é o mesmo). Ainda hoje, mais de 20 anos depois, anima as tardes de sábado com três horas e meia em directo. Há dez anos, o advento das televisões privadas veio resolver em grande parte o problema das «estrelas cadentes» e mudar as regras do jogo. Até então, uma vedeta televisiva tinha três formas de vida: ou usava e abusava da sua presença no pequeno ecrã, ou era esquecida e dispensada, ou passava à categoria de «sobrevivente» dando a cara em doses irregulares. Assim, a saga dos olvidados televisivos rumou mais depressa ao campo da nostalgia que ao da injustiça. A SIC, por exemplo, foi buscar Henrique Mendes ao lote dos dispensados e mal esquecidos, ao mesmo tempo que impunha «estrelas» emergentes na Informação e no Entretenimento. Foi ali que se «fizeram» nomes como José Alberto Carvalho, Rodrigo Guedes de Carvalho, João Baião, Júlia Pinheiro ou Fátima Lopes. A TVI «recuperou» Manuela Moura Guedes, fazendo da ex-repórter uma «pivot» de primeira linha, e deu ao padre António Rego (um «clássico» da «Eucaristia Dominical» do canal estatal) um programa de reportagem e debate. A RTP, por seu lado, viu-se a braços com outros «clássicos». Pegou num trio de cantores (Paco Bandeira, Simone de Oliveira e Carlos do Carmo) e entregou-lhes «talk shows» musicados na RTP Internacional, modestos nos meios e certeiros no propósito de serviço público. Júlio Isidro foi a aquisição emblemática do ano. Apresentou à RTP um rol de projectos novos (mesmo que com o cunho inconfundível do seu autor) e viu ser aceite uma réplica a papel químico de «O Passeio dos Alegres» (até o nome é o mesmo). Ainda hoje, mais de 20 anos depois, anima as tardes de sábado com três horas e meia em directo. Com a pausa «forçada» na carreira televisiva de Maria Elisa, os incondicionais de um sumarento duelo de vedetas vão ter saudades da antiga e ressequida disputa entre a agora deputada e Margarida Marante. Margarida «treina» no «Notícias Magazine» para não perder a prática das entrevistas, mas é ela quem reajusta os seus interesses e gere o suposto «cansaço da imagem». É provável que volte a fazer mais do mesmo em televisão, com a SIC a liderar a corrida das suas opções. Henrique Mendes, tornado actor de algum talento, não tem programa na calha, mas é figura habitual na SIC Gold com o bem sucedido «Ponto de Encontro». Quanto aos «intocáveis», nada faz prever que se tornem cadentes estrelas como Carlos Cruz, Teresa Guilherme, Manuel Luís Goucha ou Herman José. Tudo na mesma? José Mendes

COMENTÁRIOS

6 comentários 1 a 6

2 de Agosto de 2002 às 23:48

Leone ( maria_araujo2000@yahoo.com )

Que pena ver como continuam a tratar as mulheres em Portugal!

Continue ME! Ja sabe os caes ladram,.....

A sua voz e necessaria para que realmente algo mude no nosso pequeno mundo. Insista na educacao e na transparencia.

Parabens pela sua fortaleza e pelo modelo para as novas geracoes.

2 de Agosto de 2002 às 09:52

Garcia de O. ( garcia_10@hotmail.com )

Será Maria Elisa a figura de televisão que esteve cá em Angola há coisa de 10 anos, no tempo do monopartidarismo, e perguntou ao presidente da república se o mesmo ficaria satisfeito com a morte de Savimbe, uma questão que teve muita polémica em Angola?

28 de Julho de 2002 às 23:32

Iraupena ( quatrocom@mail.telepac.pt )

Boa, surpreso

28 de Julho de 2002 às 18:36

princepereal100 ( princepereal100@hotmail.com )

Existem,infelizmente, em portugal poucas mulheres com nivel e classe.Maria Elisa, merece ser acarinhada e respeitada por tudo aquilo que já fez.

28 de Julho de 2002 às 18:33

Milucas ( mariapapoila69@hotmail.com )

Atençao à malandragem!!! Abaixo os vigaristas!!!

Os 700 empregados da TAP no estrangeiro - que produzem mais de 50% da receita desta companhia, supostamente de todos nós (?) mas sao tratados como empregados de 2a. - congratulam-se com a nova proposta do Codigo de Trabalho e esperam que esta seja aplicada com firmeza e sem mais demora.

A Bem da Naçao!

27 de Julho de 2002 às 12:11

surpreso

Ainda não percebo o que tem de especial esta "madama",a não ser que é bastante vaidosa e que teve de ser empurrada para fazer a opção decente que se impunha.E só deixa saudades na televisão,porque os padrões actuais da RTP são aquela inqualificável Julia Pinheiro.

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