«Avante!» Nº 1287

21-02-2005
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Elisa em suma

M aria Elisa Domingues, vulgo Maria Elisa, Elisa em suma, é uma mulher de sucessos. "Directora de Programas da RTP", a ela se deve a luminar programação do canal público. Nas horas vagas, Elisa tem ainda tempo e talento para escrever o seu "Diário" que o DN , guloso e lambão, publica e destaca e no qual ela exibe uma prosa que nos recorda aquelas crianças prendadas capazes de produzir promissoras redacções e de recitar, de cor, para enlevo da família, a saudosa "Balada da Neve". Ainda nos tempos livres, Elisa tem vindo a erguer um programa televisivo ao qual, com a modéstia que a caracteriza, deu o seu próprio nome e que, segundo se diz, é pago na razão inversa da qualidade que tem. Mas Elisa não é só isto: nos intervalos da sua directoria, ela faz muitas outras coisas. Por exemplo: o notável introito ao "Momentos/25 anos inesqueciveis/Os pontos altos da televisão", que o Expresso deu à luz no sábado passado. Elisa está na TV há 25 anos - 25 anos de êxitos pessoais que são parte grande do ÊXITO que tem sido esta televisão que é de nós todos. Dos "anos anteriores ao 25 de Abril" - a que alguns exagerados chamam fascismo - Elisa prefere não falar. Mesmo assim, não resiste à tentação de relembrar que "nesse clima peculiar da Primavera caetanista", "pude entrevistar (Vitorino Nemésio) com relativa liberdade". Depois do 25 de Abril é que as coisas se complicaram e pioraram. Por acção da "mão de ferro do PCP nas redacções", obviamente. Mas Elisa, mulher de armas, não permitiu que lhe roubassem a "relativa liberdade" da Primavera marcelista: lutou, lutou, lutou e venceu!. Assim, em 1980 , Proença de Carvalho, essa eminente figura de democrata, convidou-a para "directora de programas da RTP", dando início a um período de ouro no qual, reconquistada a "relativa liberdade", passaram a reinar connosco o pluralismo, a independência, a isenção, a seriedade informativa. Elisa conta-nos todas estas estórias estribada em sólidas, incontestaveis e incontestadas opiniões que positivamente nos esmagam. Armada de Aristóteles, Morin, Platão, Popper, debica em cada um deles as opiniões que sustentam a sua teoria comunicacional - e de citação em citação enche Elisa o paparrão, salvo seja. Senhores!, o que esta senhora sabe!, o que esta senhora leu!... Aliás, Elisa não se livra, nem quer livrar-se, da fama de ser mulher inteligente, culta e talentosa pelo que se lhe dispensa a necessidade de apresentar provas de que assim é. Uma pessoa que num curto introito como é o seu cita em abono próprio os autores acima re-citados, revela de duas uma: ou vastas, profundas e reflectidas leituras, ou a oportuna utilização de um livro de citações oportunamente adquirido. Inclino-me para a segunda hipótese dado que, sabendo-se viver Elisa uma vida de frenéticas azáfamas e imperativas urgências, é bem possível que tenha optado por seguir o sábio conselho do seu amigo Platão: "Na urgência não se pode pensar". Seja como for e viremo-nos para onde nos virarmos esbarraremos sempre, inevitavel e inexoravelmente, na sólida inteligência, na compacta cultura, no torrencial talento, no frondoso apego à "relativa liberdade", dessa genial pequena figura que dá pelo nome de Maria Elisa Domingues, vulgo Maria Elisa, Elisa em suma. — José Casanova

«Avante!» Nº 1287 - 30.Julho.1998

Elisa em suma

M aria Elisa Domingues, vulgo Maria Elisa, Elisa em suma, é uma mulher de sucessos. "Directora de Programas da RTP", a ela se deve a luminar programação do canal público. Nas horas vagas, Elisa tem ainda tempo e talento para escrever o seu "Diário" que o DN , guloso e lambão, publica e destaca e no qual ela exibe uma prosa que nos recorda aquelas crianças prendadas capazes de produzir promissoras redacções e de recitar, de cor, para enlevo da família, a saudosa "Balada da Neve". Ainda nos tempos livres, Elisa tem vindo a erguer um programa televisivo ao qual, com a modéstia que a caracteriza, deu o seu próprio nome e que, segundo se diz, é pago na razão inversa da qualidade que tem. Mas Elisa não é só isto: nos intervalos da sua directoria, ela faz muitas outras coisas. Por exemplo: o notável introito ao "Momentos/25 anos inesqueciveis/Os pontos altos da televisão", que o Expresso deu à luz no sábado passado. Elisa está na TV há 25 anos - 25 anos de êxitos pessoais que são parte grande do ÊXITO que tem sido esta televisão que é de nós todos. Dos "anos anteriores ao 25 de Abril" - a que alguns exagerados chamam fascismo - Elisa prefere não falar. Mesmo assim, não resiste à tentação de relembrar que "nesse clima peculiar da Primavera caetanista", "pude entrevistar (Vitorino Nemésio) com relativa liberdade". Depois do 25 de Abril é que as coisas se complicaram e pioraram. Por acção da "mão de ferro do PCP nas redacções", obviamente. Mas Elisa, mulher de armas, não permitiu que lhe roubassem a "relativa liberdade" da Primavera marcelista: lutou, lutou, lutou e venceu!. Assim, em 1980 , Proença de Carvalho, essa eminente figura de democrata, convidou-a para "directora de programas da RTP", dando início a um período de ouro no qual, reconquistada a "relativa liberdade", passaram a reinar connosco o pluralismo, a independência, a isenção, a seriedade informativa. Elisa conta-nos todas estas estórias estribada em sólidas, incontestaveis e incontestadas opiniões que positivamente nos esmagam. Armada de Aristóteles, Morin, Platão, Popper, debica em cada um deles as opiniões que sustentam a sua teoria comunicacional - e de citação em citação enche Elisa o paparrão, salvo seja. Senhores!, o que esta senhora sabe!, o que esta senhora leu!... Aliás, Elisa não se livra, nem quer livrar-se, da fama de ser mulher inteligente, culta e talentosa pelo que se lhe dispensa a necessidade de apresentar provas de que assim é. Uma pessoa que num curto introito como é o seu cita em abono próprio os autores acima re-citados, revela de duas uma: ou vastas, profundas e reflectidas leituras, ou a oportuna utilização de um livro de citações oportunamente adquirido. Inclino-me para a segunda hipótese dado que, sabendo-se viver Elisa uma vida de frenéticas azáfamas e imperativas urgências, é bem possível que tenha optado por seguir o sábio conselho do seu amigo Platão: "Na urgência não se pode pensar". Seja como for e viremo-nos para onde nos virarmos esbarraremos sempre, inevitavel e inexoravelmente, na sólida inteligência, na compacta cultura, no torrencial talento, no frondoso apego à "relativa liberdade", dessa genial pequena figura que dá pelo nome de Maria Elisa Domingues, vulgo Maria Elisa, Elisa em suma. — José Casanova

«Avante!» Nº 1287 - 30.Julho.1998

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