EXPRESSO: Cartaz

22-05-2002
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Ensino artístico e cidadania

Será a igualdade uma questão relevante no ensino superior? Um debate procurou respostas

Eugénia Vasques

No encontro discutiram-se vários temas ligados à condição feminina

Realizou-se, mais do que discretamente, nos dias 8 e 9 de Junho, nas novas e cosmopolitas instalações de Benfica do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL), o seminário «Será a Igualdade (de Género) ainda uma Questão Relevante no Ensino Superior Artístico?» Como se pode supor, este debate não foi promovido por qualquer das instituições que têm o ensino artístico sob a sua égide no nosso país, mas foi mais uma acção da ELIA, Liga Europeia dos Institutos de Artes, uma organização independente que congrega, como membros, 370 institutos de ensino superior e educação artística especializados nas áreas de Arquitectura, Dança, Design, Novos Média, Belas Artes, Música e Teatro em 44 países da Europa.

O evento, dirigido e organizado por Truus Ophuysen (Holanda) e Wanda Ribeiro da Silva (representante do ensino superior artístico do IPL), contou com a participação de elementos muito activos de países onde esta questão, que é hoje parte integrante da luta pela defesa dos Direitos Humanos. promovida pelas Nações Unidas ou pelo Conselho da Europa, tem expressão mais visível como é o caso da Bélgica, da Finlândia, da Alemanha, da Holanda, da Noruega, da Suécia, da Inglaterra, mas também da Polónia, da Espanha e de Portugal (se bem que este ainda em estádio terceiro-mundista, em termos de aplicação prática da legislação existente).

Para além da intervenção do ministro da Presidência, Guilherme de Oliveira Martins (após a significativa «despromoção» de Maria de Belém, é este ministro quem ocupa a pasta da Igualdade), que deixou claro o seu compromisso, e do Governo, de intervenção política no sector da Educação - que sublinhou como sendo o «locus» ideal para o despertar da liberdade e da igualdade no pluralismo e na diferença - e nos demais sectores da vida pública, onde se procura reforçar a consciência de cidadania, a participação portuguesa contou com a presença de Maria Teresa Horta - que historiou a luta das actuais feministas portuguesas e discutiu com a assembleia a questão polémica, entre nós, do conceito de «escrita feminina»; de Ana Marques Gastão, jornalista que dirigiu a mesa dedicada aos artistas portugueses; de Ana Pereira Caldas, actual directora da Companhia Nacional de Bailado (que debateu, com muita felicidade, o tema «Como Progredir em Arte e Atingir Patamares de Competição, se os Interlocutores do Ministério da Educação Não São Artistas?», de Ruth Rosengarten - que apresentou uma leitura da obra de Paula Rêgo segundo a teoria dos géneros e que lembrou que no seu instituto tinha sido recusada uma cadeira sobre «sexualidades», identidades sexuais e «cultural studies»! -; de Madalena Barbosa, da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres; de Maria do Rosário Carneiro, deputada; da jornalista Paula Moura Pinheiro, que coordenou o segundo painel; de Maria das Dores Guerreiro, do ISCTE; de Idalina Conde, do Observatório das Actividades Culturais e da autora deste texto que falou sobre «A Misoginia no Teatro e no Seu Ensino em Portugal».

Idalina Conde apresentou alguns elementos-chave do estudo «Feminisation Trends and Profiling the Future», que escreveu em parceria com João Pinheiro e é um dos únicos instrumentos de análise estatística existentes no nosso país que visa lançar dados concretos para a observação do estado da «demografia de género» nas actividades culturais e profissões artísticas em Portugal.

Patente na obra «Pyramid or Pillars: Unveilling the Status of Women in Arts and Media Professions in Europe», publicado, no ano passado, em Bona, no âmbito do programa ERICarts, e que faz uma primeira análise da situação nos países acima referidos, o estudo dos sociólogos do ISCTE demonstra o progresso das mulheres no campo da cultura ao longo dos últimos trinta anos (1970-2001) tendo em conta, porém, que a «pirâmide do sucesso» se mantém invertida: na base, as mulheres são maioria no ensino, na qualificação, no trabalho; no topo, estão sub-representadas. Não foi possível exibir casos de boa prática igualitária.

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Ensino artístico e cidadania

Será a igualdade uma questão relevante no ensino superior? Um debate procurou respostas

Eugénia Vasques

No encontro discutiram-se vários temas ligados à condição feminina

Realizou-se, mais do que discretamente, nos dias 8 e 9 de Junho, nas novas e cosmopolitas instalações de Benfica do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL), o seminário «Será a Igualdade (de Género) ainda uma Questão Relevante no Ensino Superior Artístico?» Como se pode supor, este debate não foi promovido por qualquer das instituições que têm o ensino artístico sob a sua égide no nosso país, mas foi mais uma acção da ELIA, Liga Europeia dos Institutos de Artes, uma organização independente que congrega, como membros, 370 institutos de ensino superior e educação artística especializados nas áreas de Arquitectura, Dança, Design, Novos Média, Belas Artes, Música e Teatro em 44 países da Europa.

O evento, dirigido e organizado por Truus Ophuysen (Holanda) e Wanda Ribeiro da Silva (representante do ensino superior artístico do IPL), contou com a participação de elementos muito activos de países onde esta questão, que é hoje parte integrante da luta pela defesa dos Direitos Humanos. promovida pelas Nações Unidas ou pelo Conselho da Europa, tem expressão mais visível como é o caso da Bélgica, da Finlândia, da Alemanha, da Holanda, da Noruega, da Suécia, da Inglaterra, mas também da Polónia, da Espanha e de Portugal (se bem que este ainda em estádio terceiro-mundista, em termos de aplicação prática da legislação existente).

Para além da intervenção do ministro da Presidência, Guilherme de Oliveira Martins (após a significativa «despromoção» de Maria de Belém, é este ministro quem ocupa a pasta da Igualdade), que deixou claro o seu compromisso, e do Governo, de intervenção política no sector da Educação - que sublinhou como sendo o «locus» ideal para o despertar da liberdade e da igualdade no pluralismo e na diferença - e nos demais sectores da vida pública, onde se procura reforçar a consciência de cidadania, a participação portuguesa contou com a presença de Maria Teresa Horta - que historiou a luta das actuais feministas portuguesas e discutiu com a assembleia a questão polémica, entre nós, do conceito de «escrita feminina»; de Ana Marques Gastão, jornalista que dirigiu a mesa dedicada aos artistas portugueses; de Ana Pereira Caldas, actual directora da Companhia Nacional de Bailado (que debateu, com muita felicidade, o tema «Como Progredir em Arte e Atingir Patamares de Competição, se os Interlocutores do Ministério da Educação Não São Artistas?», de Ruth Rosengarten - que apresentou uma leitura da obra de Paula Rêgo segundo a teoria dos géneros e que lembrou que no seu instituto tinha sido recusada uma cadeira sobre «sexualidades», identidades sexuais e «cultural studies»! -; de Madalena Barbosa, da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres; de Maria do Rosário Carneiro, deputada; da jornalista Paula Moura Pinheiro, que coordenou o segundo painel; de Maria das Dores Guerreiro, do ISCTE; de Idalina Conde, do Observatório das Actividades Culturais e da autora deste texto que falou sobre «A Misoginia no Teatro e no Seu Ensino em Portugal».

Idalina Conde apresentou alguns elementos-chave do estudo «Feminisation Trends and Profiling the Future», que escreveu em parceria com João Pinheiro e é um dos únicos instrumentos de análise estatística existentes no nosso país que visa lançar dados concretos para a observação do estado da «demografia de género» nas actividades culturais e profissões artísticas em Portugal.

Patente na obra «Pyramid or Pillars: Unveilling the Status of Women in Arts and Media Professions in Europe», publicado, no ano passado, em Bona, no âmbito do programa ERICarts, e que faz uma primeira análise da situação nos países acima referidos, o estudo dos sociólogos do ISCTE demonstra o progresso das mulheres no campo da cultura ao longo dos últimos trinta anos (1970-2001) tendo em conta, porém, que a «pirâmide do sucesso» se mantém invertida: na base, as mulheres são maioria no ensino, na qualificação, no trabalho; no topo, estão sub-representadas. Não foi possível exibir casos de boa prática igualitária.

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