Moderna: Discursos contraditórios

23-12-2002
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Moderna: Discursos Contraditórios

Quinta-feira, 19 de Dezembro de 2002 Adelino Salvado Adelino Salvado negou ter exercido qualquer tipo de pressão sobre Maria José Morgado em relação ao processo da Moderna, mas confirmou ter falado com a ex-directora sobre a alegada presença de agentes da PJ no julgamento de Monsanto. Tudo começou com um incidente que envolveu um carro que fez uma "manobra brusca" junto do colectivo de juízes à saída do tribunal e que teria sido perseguido por uma viatura da PJ, do departamento liderado por Maria José Morgado, indiciando a presença de homens da PJ no julgamento. "Fiquei surpreendido como é que estava lá alguém da Judiciária a assistir ao julgamento e averiguei. Mais tarde, confirmei, porque o indivíduo foi detido na esquadra, ou posto, da PSP de Benfica, e era um indivíduo da DCICCEF. Averiguei melhor e apurei que, de facto, durante o julgamento tinham estado sempre presentes, ou assiduamente presentes, pessoas da DCICCEF", disse. Acrescentou: "Na sequência disso, passados uns dias, não faço ideia quantos, para aí uma semana, falei com a dra. Maria José Morgado sobre esta matéria, até na presença de dois directores nacionais adjuntos que trabalham mais perto de mim, para deslindar a que título é que seria essa intervenção, nomeadamente porque essa pessoa que interveio nesse incidente fazia parte do elenco das testemunhas de acusação do julgamento que está em curso do processo Moderna." E justifica-se: "De facto, intervim nessa matéria porque achei que era pedagógico e preventivo, porque, para mim, enquanto estiver na PJ, o pior que pode acontecer num julgamento é levantar-se a ideia de que a PJ está a intervir no julgamento de qualquer forma." Para acrescentar: "Algumas pessoas que estão aqui são muito novas mas eu assisti a julgamentos em que elementos da PIDE estavam na assistência e toda a gente se rebelou. Não sei se se lembram disso, mas esse depoimento servia para fundamentar investigações contra pessoas." E assumindo a responsabilidade de mandar retirar agentes: "Assumo que tomei essa posição perante a dra. M.J.M. e ela satisfez a pretensão que eu formulei: esta conversa foi presenciada no meu gabinete, mas esta determinação, este pedido ou esta solicitação, como lhe queiram chamar, foi provavelmente mal entendida pela sra. dra M.J.M., para ter sido referida posteriormente como desautorização ou seja o que for. Não tem nada a ver com desautorização, tem a ver com profilaxia, não deixando que um julgamento seja subvertido ou, mais tarde, anulado ou postergado por um erro claríssimo de intervenção." Maria José Morgado Já Maria José Morgado afirma sobre este caso: "O sr. director nacional deu-me a entender - já não me lembro das palavras exactas - que teria acabado de receber telefonema da sra. ministra da Justiça e era essa a razão de ele me chamar. Esse telefonema da sra. ministra da Justiça também estaria ligado a um pedido de esclarecimento do dr. Paulo Portas e era também essa a razão pela qual ele me estava a chamar, sendo que esses esclarecimentos tinham que ver com uma coisa que eu não percebi, até porque estava cansada, era tarde e não tinha almoçado, mas que levaram o sr. director nacional a perguntar-me quem era o homem que andava em Monsanto." Morgado diz que não percebeu e que Salvado esclareceu que "haveria alguém da DCICCEF que andava em Monsanto e acompanhava o Ministério Público". E prossegue: "Isso não podia ser, dava problemas... E foram-me dadas instruções verbais não escritas, verbais! - e o dr. José Branco e o dr. João Vieira estavam presentes - para ninguém da DCICCEF ir a Monsanto. Ninguém! Eram instruções verbais que tinham a ver porventura com o apoio logístico que se estava a dar ao Ministério Público, que tinham a ver com a ida do Pedro Albuquerque, que era segurança do secretariado da direcção e também meu segurança e o homem que me acompanhava sempre - aliás, até o mudaram de serviço a seguir à minha saída da Polícia Judiciária. É um homem de uma dedicação notável e de uma intuição policial fora de série que apoiou a investigação do caso Moderna." E explica de seguida: "É uma tradição na Polícia Judiciária dar apoio logístico ao Ministério Público, além de que também tem a ver com o 'feed-back' do julgamento, com a recolha da informação, com a análise dos resultados, e não tem a ver - não foi essa a dimensão da recomendação, chamemos-lhe assim, ou da instrução verbal do sr. director nacional - com: 'Não quero a presença de testemunhas do processo Moderna em julgamento.' Sou magistrada com muitos anos de experiência, não sou principiante, não era um erro desses que eu estava a cometer. Não havia nenhuma testemunha do caso Moderna presente em Monsanto e, muito menos, na sala de audiências de julgamento." Segundo acrescentou mais à frente: "O que sucedeu no dia 16 de Julho foi que, a seguir à reunião do Conselho de Coordenação Operacional, o sr. director nacional chamou-me e disse que tinha acabado de receber um telefonema da sra. ministra da Justiça, por uma questão que lhe tinha sido colocada pelo dr. Paulo Portas, por causa de alguém da DCICCEF que andaria em Monsanto, e não devia andar. E a instrução verbal que me foi dada era para não andar, ou seja, ninguém podia ir a Monsanto! Ora, num quadro de normalidade, isto é algo que não é inteiramente compreensível: por que raio não podíamos ir a Monsanto?!" Maria Celeste Cardona Quanto a este caso, a ministra Cardona afirma apenas: "Eu não conheço Monsanto! Não conhecia esta situação. Não fazia a menor ideia desta situação! Devo aliás dizer-lhe que não conheço nenhum interveniente, nenhuma pessoa e nenhuma situação relacionada com este processo e com esta situação, e portanto não tinha qualquer tipo de conhecimento desta matéria. Mais: não devo ter! São questões de organização, questões que têm a ver directamente com a forma como é organizada internamente a Polícia Judiciária. Portanto, vamos lá deixar de falar noutros termos que não sejam estes. Eu não tinha qualquer conhecimento dessa situação!" OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Actas do inquérito às demissões na Judiciária não são conclusivas

Ministra nega telefonema ao procurador

Demissões: Director da PJ defende Celeste Cardona

Pressões: O "medo" da ministra

Investigações: As razões de Morgado

Moderna: Discursos contraditórios

Substituições: Os critérios das nomeações de Salvado

EDITORIAL

O mistério das actas

Moderna: Discursos Contraditórios

Quinta-feira, 19 de Dezembro de 2002 Adelino Salvado Adelino Salvado negou ter exercido qualquer tipo de pressão sobre Maria José Morgado em relação ao processo da Moderna, mas confirmou ter falado com a ex-directora sobre a alegada presença de agentes da PJ no julgamento de Monsanto. Tudo começou com um incidente que envolveu um carro que fez uma "manobra brusca" junto do colectivo de juízes à saída do tribunal e que teria sido perseguido por uma viatura da PJ, do departamento liderado por Maria José Morgado, indiciando a presença de homens da PJ no julgamento. "Fiquei surpreendido como é que estava lá alguém da Judiciária a assistir ao julgamento e averiguei. Mais tarde, confirmei, porque o indivíduo foi detido na esquadra, ou posto, da PSP de Benfica, e era um indivíduo da DCICCEF. Averiguei melhor e apurei que, de facto, durante o julgamento tinham estado sempre presentes, ou assiduamente presentes, pessoas da DCICCEF", disse. Acrescentou: "Na sequência disso, passados uns dias, não faço ideia quantos, para aí uma semana, falei com a dra. Maria José Morgado sobre esta matéria, até na presença de dois directores nacionais adjuntos que trabalham mais perto de mim, para deslindar a que título é que seria essa intervenção, nomeadamente porque essa pessoa que interveio nesse incidente fazia parte do elenco das testemunhas de acusação do julgamento que está em curso do processo Moderna." E justifica-se: "De facto, intervim nessa matéria porque achei que era pedagógico e preventivo, porque, para mim, enquanto estiver na PJ, o pior que pode acontecer num julgamento é levantar-se a ideia de que a PJ está a intervir no julgamento de qualquer forma." Para acrescentar: "Algumas pessoas que estão aqui são muito novas mas eu assisti a julgamentos em que elementos da PIDE estavam na assistência e toda a gente se rebelou. Não sei se se lembram disso, mas esse depoimento servia para fundamentar investigações contra pessoas." E assumindo a responsabilidade de mandar retirar agentes: "Assumo que tomei essa posição perante a dra. M.J.M. e ela satisfez a pretensão que eu formulei: esta conversa foi presenciada no meu gabinete, mas esta determinação, este pedido ou esta solicitação, como lhe queiram chamar, foi provavelmente mal entendida pela sra. dra M.J.M., para ter sido referida posteriormente como desautorização ou seja o que for. Não tem nada a ver com desautorização, tem a ver com profilaxia, não deixando que um julgamento seja subvertido ou, mais tarde, anulado ou postergado por um erro claríssimo de intervenção." Maria José Morgado Já Maria José Morgado afirma sobre este caso: "O sr. director nacional deu-me a entender - já não me lembro das palavras exactas - que teria acabado de receber telefonema da sra. ministra da Justiça e era essa a razão de ele me chamar. Esse telefonema da sra. ministra da Justiça também estaria ligado a um pedido de esclarecimento do dr. Paulo Portas e era também essa a razão pela qual ele me estava a chamar, sendo que esses esclarecimentos tinham que ver com uma coisa que eu não percebi, até porque estava cansada, era tarde e não tinha almoçado, mas que levaram o sr. director nacional a perguntar-me quem era o homem que andava em Monsanto." Morgado diz que não percebeu e que Salvado esclareceu que "haveria alguém da DCICCEF que andava em Monsanto e acompanhava o Ministério Público". E prossegue: "Isso não podia ser, dava problemas... E foram-me dadas instruções verbais não escritas, verbais! - e o dr. José Branco e o dr. João Vieira estavam presentes - para ninguém da DCICCEF ir a Monsanto. Ninguém! Eram instruções verbais que tinham a ver porventura com o apoio logístico que se estava a dar ao Ministério Público, que tinham a ver com a ida do Pedro Albuquerque, que era segurança do secretariado da direcção e também meu segurança e o homem que me acompanhava sempre - aliás, até o mudaram de serviço a seguir à minha saída da Polícia Judiciária. É um homem de uma dedicação notável e de uma intuição policial fora de série que apoiou a investigação do caso Moderna." E explica de seguida: "É uma tradição na Polícia Judiciária dar apoio logístico ao Ministério Público, além de que também tem a ver com o 'feed-back' do julgamento, com a recolha da informação, com a análise dos resultados, e não tem a ver - não foi essa a dimensão da recomendação, chamemos-lhe assim, ou da instrução verbal do sr. director nacional - com: 'Não quero a presença de testemunhas do processo Moderna em julgamento.' Sou magistrada com muitos anos de experiência, não sou principiante, não era um erro desses que eu estava a cometer. Não havia nenhuma testemunha do caso Moderna presente em Monsanto e, muito menos, na sala de audiências de julgamento." Segundo acrescentou mais à frente: "O que sucedeu no dia 16 de Julho foi que, a seguir à reunião do Conselho de Coordenação Operacional, o sr. director nacional chamou-me e disse que tinha acabado de receber um telefonema da sra. ministra da Justiça, por uma questão que lhe tinha sido colocada pelo dr. Paulo Portas, por causa de alguém da DCICCEF que andaria em Monsanto, e não devia andar. E a instrução verbal que me foi dada era para não andar, ou seja, ninguém podia ir a Monsanto! Ora, num quadro de normalidade, isto é algo que não é inteiramente compreensível: por que raio não podíamos ir a Monsanto?!" Maria Celeste Cardona Quanto a este caso, a ministra Cardona afirma apenas: "Eu não conheço Monsanto! Não conhecia esta situação. Não fazia a menor ideia desta situação! Devo aliás dizer-lhe que não conheço nenhum interveniente, nenhuma pessoa e nenhuma situação relacionada com este processo e com esta situação, e portanto não tinha qualquer tipo de conhecimento desta matéria. Mais: não devo ter! São questões de organização, questões que têm a ver directamente com a forma como é organizada internamente a Polícia Judiciária. Portanto, vamos lá deixar de falar noutros termos que não sejam estes. Eu não tinha qualquer conhecimento dessa situação!" OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Actas do inquérito às demissões na Judiciária não são conclusivas

Ministra nega telefonema ao procurador

Demissões: Director da PJ defende Celeste Cardona

Pressões: O "medo" da ministra

Investigações: As razões de Morgado

Moderna: Discursos contraditórios

Substituições: Os critérios das nomeações de Salvado

EDITORIAL

O mistério das actas

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