Clima de tensão nos jardins do Hospital Pedro Hispano

22-06-2004
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Clima de Tensão nos Jardins do Hospital Pedro Hispano

Por FILOMENA FONTES

Quinta-feira, 10 de Junho de 2004

"Depois desta tragédia, é impressionante como as pessoas ainda têm o descaramento de se comportar desta maneira....Nem os abutres rondam assim as suas as presas." O desabafo, brutal, partiu de um dos homens mais próximos de Narciso Miranda na Câmara de Matosinhos quando seguia, de longe, as entrevistas que o líder da concelhia do PS, Manuel Seabra, ia dando às televisões nos amplos jardins do Hospital de Pedro Hispano, em Matosinhos.

Havia menos de uma hora que a ambulância do INEM, chamada de urgência à Avenida da República, em pleno centro da cidade de Matosinhos, tinha entregue António Sousa Franco aos cuidados da equipa médica que o esperava na sala de emergência, na desesperada tentativa de que um milagre acontecesse, como se percebeu mais tarde, quando o director clínico do hospital, Hermínio Loureiro, confirmou aos jornalistas que o professor dera entrada no hospital, às 9h53, "já falecido".

No túnel de acesso à urgência, dirigentes nacionais do PS como António Costa, José Sócrates, Vieira da Silva, trocavam impressões, desembrulhavam-se como podiam das sucessivas chamadas dos telemóveis. Depois do "incêndio político" da lota, a contenção parecia ser a palavra de ordem, apesar da pressão dos directos das televisões. Fora do túnel, o eurodeputado Manuel dos Santos desdramatizava: " O que aconteceu na lota de Matosinhos não foi mais do que o normal numa acção de campanha deste género. Eu próprio sofri empurrões, ia perdendo os óculos...Acho que foi um ataque cardíaco fulminante...".

Solitário, Manuel Seabra deambulava, "vigiado" de longe por vários vereadores e asssessores do presidente da Câmara de Matosinhos. Ouvia-se, então, que a direcção da campanha, bem como a direcção distrital do PS-Porto, fora informada da eventualidade de confrontos entre apoiantes de Narciso e de Manuel Seabra. "Sabia-se com antecedência que havia uma acção que visava descredibilizar Narciso Miranda", acentuava um dos colaboradores do presidente.

Aparentemente indiferente a esta condenação forçada ao isolamento, Seabra fazia declarações sempre que era abordado pelos jornalistas: "Sobre a lota, já disse tudo. Estamos em estado de choque. A Europa perdeu um brilhante deputado, o PS e todos nós perdemos uma figura de referência da democracia portuguesa", afirmava, tentando sacudir as perguntas sobre quem tinha "contratado" seguranças. Mas, perante a insistência dos jornalistas, continuava a falar: "Não agenciei qualquer tipo de segurança, de gorilas. O que se passa na lota de Matosinhos é uma figura obrigatória nas campanhas do PS, onde os candidatos reganham força a pouco dias das eleições. Hoje, admito, houve uma clivagem interna no PS de Matosinhos, com uns a gritarem Narciso e outros a gritarem Seabra. Mas eu próprio induzi que as pessoas se concentrassem no dr. Sousa Franco", afirmava.

Ao meio-dia, o líder do PS-Porto, Francisco Assis, apareceu. Não houve declarações. Antes, também o cabeça de lista do Bloco de Esquerda, Miguel Portas, tinha estado no hospital para apresentar condolências à família e não quis fazer comentários sobre a situação. Do mesmo modo, o candidato do PSD Silva Peneda (que se fez acompanhar por Marco António Costa e João Sá) se limitou a transmitir a sua "consternação". A mesma atitude tiveram Ilda Figueiredo e o secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas.

À hora do almoço, o alvoroço no Hospital de Matosinhos amainava. Manuel Seabra partira, os dirigentes nacionais do PS regressaram ao hotel e a família de Sousa Franco tratava das formalidades do funeral na maior das discrições, dentro de um gabinete do Pedro Hispano.

Clima de Tensão nos Jardins do Hospital Pedro Hispano

Por FILOMENA FONTES

Quinta-feira, 10 de Junho de 2004

"Depois desta tragédia, é impressionante como as pessoas ainda têm o descaramento de se comportar desta maneira....Nem os abutres rondam assim as suas as presas." O desabafo, brutal, partiu de um dos homens mais próximos de Narciso Miranda na Câmara de Matosinhos quando seguia, de longe, as entrevistas que o líder da concelhia do PS, Manuel Seabra, ia dando às televisões nos amplos jardins do Hospital de Pedro Hispano, em Matosinhos.

Havia menos de uma hora que a ambulância do INEM, chamada de urgência à Avenida da República, em pleno centro da cidade de Matosinhos, tinha entregue António Sousa Franco aos cuidados da equipa médica que o esperava na sala de emergência, na desesperada tentativa de que um milagre acontecesse, como se percebeu mais tarde, quando o director clínico do hospital, Hermínio Loureiro, confirmou aos jornalistas que o professor dera entrada no hospital, às 9h53, "já falecido".

No túnel de acesso à urgência, dirigentes nacionais do PS como António Costa, José Sócrates, Vieira da Silva, trocavam impressões, desembrulhavam-se como podiam das sucessivas chamadas dos telemóveis. Depois do "incêndio político" da lota, a contenção parecia ser a palavra de ordem, apesar da pressão dos directos das televisões. Fora do túnel, o eurodeputado Manuel dos Santos desdramatizava: " O que aconteceu na lota de Matosinhos não foi mais do que o normal numa acção de campanha deste género. Eu próprio sofri empurrões, ia perdendo os óculos...Acho que foi um ataque cardíaco fulminante...".

Solitário, Manuel Seabra deambulava, "vigiado" de longe por vários vereadores e asssessores do presidente da Câmara de Matosinhos. Ouvia-se, então, que a direcção da campanha, bem como a direcção distrital do PS-Porto, fora informada da eventualidade de confrontos entre apoiantes de Narciso e de Manuel Seabra. "Sabia-se com antecedência que havia uma acção que visava descredibilizar Narciso Miranda", acentuava um dos colaboradores do presidente.

Aparentemente indiferente a esta condenação forçada ao isolamento, Seabra fazia declarações sempre que era abordado pelos jornalistas: "Sobre a lota, já disse tudo. Estamos em estado de choque. A Europa perdeu um brilhante deputado, o PS e todos nós perdemos uma figura de referência da democracia portuguesa", afirmava, tentando sacudir as perguntas sobre quem tinha "contratado" seguranças. Mas, perante a insistência dos jornalistas, continuava a falar: "Não agenciei qualquer tipo de segurança, de gorilas. O que se passa na lota de Matosinhos é uma figura obrigatória nas campanhas do PS, onde os candidatos reganham força a pouco dias das eleições. Hoje, admito, houve uma clivagem interna no PS de Matosinhos, com uns a gritarem Narciso e outros a gritarem Seabra. Mas eu próprio induzi que as pessoas se concentrassem no dr. Sousa Franco", afirmava.

Ao meio-dia, o líder do PS-Porto, Francisco Assis, apareceu. Não houve declarações. Antes, também o cabeça de lista do Bloco de Esquerda, Miguel Portas, tinha estado no hospital para apresentar condolências à família e não quis fazer comentários sobre a situação. Do mesmo modo, o candidato do PSD Silva Peneda (que se fez acompanhar por Marco António Costa e João Sá) se limitou a transmitir a sua "consternação". A mesma atitude tiveram Ilda Figueiredo e o secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas.

À hora do almoço, o alvoroço no Hospital de Matosinhos amainava. Manuel Seabra partira, os dirigentes nacionais do PS regressaram ao hotel e a família de Sousa Franco tratava das formalidades do funeral na maior das discrições, dentro de um gabinete do Pedro Hispano.

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