Comércio de emissões vai aumentar o preço da electricidade

20-07-2003
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Comércio de Emissões Vai Aumentar o Preço da Electricidade

Segunda-feira, 07 de Julho de 2003

Estudos sugerem subidas de até 15 por cento na factura doméstica, mas empresas do sector podem acabar por beneficiar com o sistema de licenças transaccionáveis de poluição

Ricardo Garcia

O sistema de comércio de emissões previsto numa directiva aprovada na semana passada pelo Parlamento Europeu deverá provocar aumentos no preço da electricidade a médio e longo prazo. Pelo menos dois estudos realizados este ano apontam neste sentido, mostrando que a fixação de limites de quotas de emissão de dióxido de carbono para as indústrias terá um efeito directo sobre o mercado da electricidade - não só a nível dos preços, mas também na cotação das empresas do sector.

O Parlamento Europeu deu a luz verde final à directiva sobre o comércio de emissões na quarta-feira passada. Com isso, já em 2005 cerca de cinco mil empresas europeias (300 delas em Portugal) começarão a receber licenças anuais para poderem lançar, pelas suas chaminés, quantidades limitadas de dióxido de carbono - o principal gás responsável pelo acelerado aquecimento da Terra. As licenças serão gradativamente reduzidas até 2012 e, com isso, as empresas também serão obrigadas a diminuir as suas emissões. As indústrias que tiverem mais dificuldade em fazê-lo poderão comprar licenças àquelas que tiverem créditos em excesso.

O objectivo final do sistema é fazer com que a redução das emissões de dióxido de carbono seja feita da forma mais barata possível. Mas o efeito final será um inevitável peso a mais no bolso do consumidor - uma vez que a poluição passará a ter um custo, que será internalizado nos preços. Um estudo realizado por consultores da empresa McKinsey - e divulgado na sua publicação "The McKinsey Quarterly" - estima que as empresas produtoras poderão vender a electricidade à rede, a partir de 2008, a preços até 40 por cento superiores aos de agora. Na factura paga pelo consumidor final, isto poderá representar 15 por cento de aumento.

A subida nos preços tem a ver, sobretudo, com a forma como um mercado livre de electricidade funciona. Para garantir quotas do mercado, as empresas produtoras começam por vender à rede a electricidade produzida com menores custos - como a das hidroeléctricas. Mas quem dita o preço final de toda a electricidade é a última fonte a cobrir as necessidades de consumo - que normalmente são as centrais térmicas a carvão, fuel-óleo e gás natural. E são estas que terão os seus custos de produção agravados com a necessidade de reduzirem emissões ou comprarem licenças de poluição.

Este cenário é corroborado por outro estudo, elaborado em Março passado pelo banco de investimentos Dresdner Kleinwort Wasserstein. O aumento no preço da electricidade, segundo esta avaliação, será maior em países com mercado aberto, como o Reino Unido e a Alemanha, mas menor naqueles em que há uma maior regulação, como Espanha e Portugal. No caso ibérico, a subida estimada é de 8 a 20 por cento, conforme o preço da tonelada de dióxido de carbono no mercado de emissões.

Ambos os estudos sugerem, paradoxalmente, que o mercado de emissões vai acabar por beneficiar as empresas do sector eléctrico - que respondem por mais da metade de todo o dióxido de carbono lançado pelos sectores industriais abrangidos na directiva agora aprovada. Para isso conta não só o aumento no preço da electricidade, mas também o facto de as licenças de emissão - atribuídas gratuitamente quase na totalidade pelos governos - valerem, na prática, milhões de euros. Uma empresa pode preferir não produzir electricidade com uma central térmica a carvão e utilizar o dinheiro da venda dos direitos de emissão para investir em tecnologias menos poluentes.

Realizado com os dados disponíveis há três meses, a análise da Dresdner coloca a EDP como uma das empresas que menos lucrariam com o comércio de emissões. Ainda assim, o estudo sugere que, com a atribuição total de direitos de emissões, o valor da empresa pode subir entre três a sete por cento, embora possa vir a cair, segundo outros cenários. "No sector da electricidade, o que eu prevejo é que [o mercado de emissões] seja positivo para todos", disse ao PÚBLICO o coordenador do estudo, Chris Rowland.

Comércio de Emissões Vai Aumentar o Preço da Electricidade

Segunda-feira, 07 de Julho de 2003

Estudos sugerem subidas de até 15 por cento na factura doméstica, mas empresas do sector podem acabar por beneficiar com o sistema de licenças transaccionáveis de poluição

Ricardo Garcia

O sistema de comércio de emissões previsto numa directiva aprovada na semana passada pelo Parlamento Europeu deverá provocar aumentos no preço da electricidade a médio e longo prazo. Pelo menos dois estudos realizados este ano apontam neste sentido, mostrando que a fixação de limites de quotas de emissão de dióxido de carbono para as indústrias terá um efeito directo sobre o mercado da electricidade - não só a nível dos preços, mas também na cotação das empresas do sector.

O Parlamento Europeu deu a luz verde final à directiva sobre o comércio de emissões na quarta-feira passada. Com isso, já em 2005 cerca de cinco mil empresas europeias (300 delas em Portugal) começarão a receber licenças anuais para poderem lançar, pelas suas chaminés, quantidades limitadas de dióxido de carbono - o principal gás responsável pelo acelerado aquecimento da Terra. As licenças serão gradativamente reduzidas até 2012 e, com isso, as empresas também serão obrigadas a diminuir as suas emissões. As indústrias que tiverem mais dificuldade em fazê-lo poderão comprar licenças àquelas que tiverem créditos em excesso.

O objectivo final do sistema é fazer com que a redução das emissões de dióxido de carbono seja feita da forma mais barata possível. Mas o efeito final será um inevitável peso a mais no bolso do consumidor - uma vez que a poluição passará a ter um custo, que será internalizado nos preços. Um estudo realizado por consultores da empresa McKinsey - e divulgado na sua publicação "The McKinsey Quarterly" - estima que as empresas produtoras poderão vender a electricidade à rede, a partir de 2008, a preços até 40 por cento superiores aos de agora. Na factura paga pelo consumidor final, isto poderá representar 15 por cento de aumento.

A subida nos preços tem a ver, sobretudo, com a forma como um mercado livre de electricidade funciona. Para garantir quotas do mercado, as empresas produtoras começam por vender à rede a electricidade produzida com menores custos - como a das hidroeléctricas. Mas quem dita o preço final de toda a electricidade é a última fonte a cobrir as necessidades de consumo - que normalmente são as centrais térmicas a carvão, fuel-óleo e gás natural. E são estas que terão os seus custos de produção agravados com a necessidade de reduzirem emissões ou comprarem licenças de poluição.

Este cenário é corroborado por outro estudo, elaborado em Março passado pelo banco de investimentos Dresdner Kleinwort Wasserstein. O aumento no preço da electricidade, segundo esta avaliação, será maior em países com mercado aberto, como o Reino Unido e a Alemanha, mas menor naqueles em que há uma maior regulação, como Espanha e Portugal. No caso ibérico, a subida estimada é de 8 a 20 por cento, conforme o preço da tonelada de dióxido de carbono no mercado de emissões.

Ambos os estudos sugerem, paradoxalmente, que o mercado de emissões vai acabar por beneficiar as empresas do sector eléctrico - que respondem por mais da metade de todo o dióxido de carbono lançado pelos sectores industriais abrangidos na directiva agora aprovada. Para isso conta não só o aumento no preço da electricidade, mas também o facto de as licenças de emissão - atribuídas gratuitamente quase na totalidade pelos governos - valerem, na prática, milhões de euros. Uma empresa pode preferir não produzir electricidade com uma central térmica a carvão e utilizar o dinheiro da venda dos direitos de emissão para investir em tecnologias menos poluentes.

Realizado com os dados disponíveis há três meses, a análise da Dresdner coloca a EDP como uma das empresas que menos lucrariam com o comércio de emissões. Ainda assim, o estudo sugere que, com a atribuição total de direitos de emissões, o valor da empresa pode subir entre três a sete por cento, embora possa vir a cair, segundo outros cenários. "No sector da electricidade, o que eu prevejo é que [o mercado de emissões] seja positivo para todos", disse ao PÚBLICO o coordenador do estudo, Chris Rowland.

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