Novo rei no Banco de Inglaterra

27-07-2003
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Mervyn King substitui Eddie George

Novo Rei no Banco de Inglaterra

Segunda-feira, 07 de Julho de 2003

Eurocéptico, o governador elegeu como prioridade evitar que a excessiva valorização da libra prejudique a competitividade da economia e prometeu menos discursos na City e mais contactos com o "país real".

Artur Neves

Mervyn King é desde 1 de Julho o novo governador do Banco de Inglaterra, sucedendo a Eddie George, que terminou um mandato de dez anos à frente do quarto mais importante banco central do mundo industrializado. Um dos dois vice-governadores de Eddie George, Mervyn King foi lesto a anunciar um novo tipo de liderança, preferindo passar menos tempo em discursos na "City" de Londres e mais tempo a reunir-se com pessoas e empresas em todo o território do Reino Unido. "Porque as diferenças em matéria de taxas de juros são verdadeiramente sentidas em cidades e aldeias dispersas pelo país", explicou numa entrevista ao diário eurocéptico londrino "The Times". A sua intenção é começar uma espécie de "governações abertas", visitando cada ano todas as regiões do país, numa série de excursões mensais.

O novo líder também já enunciou quais considera serem as suas principais inquietações e desafios no actual momento. Já preveniu que os tempos de expansão do consumo privado chegaram ao fim, salientando que um dos seus principais desafios será a "realocação de recursos para o consumo público", onde Tony Blair necessita de financiamentos para o seu programa de melhoria da qualidade dos serviços públicos. "As famílias terão que aceitar que uma parte dos seus rendimentos terão que ser destinados ao financiamento da despesa pública e à redução do défice comercial", afirmou.

Preocupante para Mervyn King é também a valorização de cerca de três por cento que a libra registou nos mercados cambiais ao longo do mês de Junho, e que põe em perigo a competitividade externa da quarta maior economia mundial. Tal poderá levar a uma decisão de reduzir as taxas de juro na próxima reunião do banco, agendada para 9 e 10 de Julho. Até aqui, um dos principais argumentos do Banco de Inglaterra para a manutenção do "statu quo" em matéria de taxa de juros era exactamente a gradual perda de valor da libra face ao euro. Mas Mervyn King já avisou que esta recente valorização da libra é "talvez a mais significativa alteração ao cenário macroeconómico ocorrida no passado mês e aquela que simultaneamente mais pode alterar as perspectivas em matéria de crescimento." A principal taxa de referência da economia britânica encontra-se no nível mais baixo dos últimos 48 anos, em 3,75 por cento, mas mesmo assim ainda 1,75 e 2,75 pontos percentuais acima das suas homólogas da eurolândia e dos EUA, respectivamente.

O domador da inflação

No Banco de Inglaterra desde 1991, Mervyn King é considerado por muitos como o principal responsável pelo sucesso do regime de controlo da inflação introduzido em 1993, um ano após a saída forçada da libra esterlina do mecanismo de taxas de câmbio do Sistema Monetário Europeu. E, a partir de 1997, tornou-se um membro do Comité de Política Monetária do banco, o órgão encarregue de estabelecer o nível das taxas de juro para o Reino Unido, criado quando o ministro das Finanças, Gordon Brown, decidiu tornar o Banco de Inglaterra independente do Executivo, poucos dias depois de o "New Labour" de Tony Blair ter ascendido ao poder.

O novo timoneiro do banco central britânico é considerado um eurocéptico, tendo, num testemunho perante a Câmara dos Comuns em 1999 especulado que seriam necessárias centenas de anos antes de se poder concluir com toda a certeza que a economia britânica se encontrava a convergir com a da zona euro, uma das cinco condições colocadas por Gordon Brown para a adesão do Reino Unido ao euro.

O render da guarda à frente do Banco de Inglaterra, instituição com mais de três séculos de existência, ocorre num ano que já testemunhou em Março a substituição de Masaru Hayami por Toshihiko Fukui à frente do Banco do Japão e que deverá no último trimestre assistir à ascensão de Jean-Claude Trichet ao lugar de presidente do Banco Central Europeu (BCE), substituindo Wim Duisenberg, sem esquecer que Alan Greenspan, líder da Reserva Federal dos EUA, termina o seu mandato em 2004.

Mervyn King substitui Eddie George

Novo Rei no Banco de Inglaterra

Segunda-feira, 07 de Julho de 2003

Eurocéptico, o governador elegeu como prioridade evitar que a excessiva valorização da libra prejudique a competitividade da economia e prometeu menos discursos na City e mais contactos com o "país real".

Artur Neves

Mervyn King é desde 1 de Julho o novo governador do Banco de Inglaterra, sucedendo a Eddie George, que terminou um mandato de dez anos à frente do quarto mais importante banco central do mundo industrializado. Um dos dois vice-governadores de Eddie George, Mervyn King foi lesto a anunciar um novo tipo de liderança, preferindo passar menos tempo em discursos na "City" de Londres e mais tempo a reunir-se com pessoas e empresas em todo o território do Reino Unido. "Porque as diferenças em matéria de taxas de juros são verdadeiramente sentidas em cidades e aldeias dispersas pelo país", explicou numa entrevista ao diário eurocéptico londrino "The Times". A sua intenção é começar uma espécie de "governações abertas", visitando cada ano todas as regiões do país, numa série de excursões mensais.

O novo líder também já enunciou quais considera serem as suas principais inquietações e desafios no actual momento. Já preveniu que os tempos de expansão do consumo privado chegaram ao fim, salientando que um dos seus principais desafios será a "realocação de recursos para o consumo público", onde Tony Blair necessita de financiamentos para o seu programa de melhoria da qualidade dos serviços públicos. "As famílias terão que aceitar que uma parte dos seus rendimentos terão que ser destinados ao financiamento da despesa pública e à redução do défice comercial", afirmou.

Preocupante para Mervyn King é também a valorização de cerca de três por cento que a libra registou nos mercados cambiais ao longo do mês de Junho, e que põe em perigo a competitividade externa da quarta maior economia mundial. Tal poderá levar a uma decisão de reduzir as taxas de juro na próxima reunião do banco, agendada para 9 e 10 de Julho. Até aqui, um dos principais argumentos do Banco de Inglaterra para a manutenção do "statu quo" em matéria de taxa de juros era exactamente a gradual perda de valor da libra face ao euro. Mas Mervyn King já avisou que esta recente valorização da libra é "talvez a mais significativa alteração ao cenário macroeconómico ocorrida no passado mês e aquela que simultaneamente mais pode alterar as perspectivas em matéria de crescimento." A principal taxa de referência da economia britânica encontra-se no nível mais baixo dos últimos 48 anos, em 3,75 por cento, mas mesmo assim ainda 1,75 e 2,75 pontos percentuais acima das suas homólogas da eurolândia e dos EUA, respectivamente.

O domador da inflação

No Banco de Inglaterra desde 1991, Mervyn King é considerado por muitos como o principal responsável pelo sucesso do regime de controlo da inflação introduzido em 1993, um ano após a saída forçada da libra esterlina do mecanismo de taxas de câmbio do Sistema Monetário Europeu. E, a partir de 1997, tornou-se um membro do Comité de Política Monetária do banco, o órgão encarregue de estabelecer o nível das taxas de juro para o Reino Unido, criado quando o ministro das Finanças, Gordon Brown, decidiu tornar o Banco de Inglaterra independente do Executivo, poucos dias depois de o "New Labour" de Tony Blair ter ascendido ao poder.

O novo timoneiro do banco central britânico é considerado um eurocéptico, tendo, num testemunho perante a Câmara dos Comuns em 1999 especulado que seriam necessárias centenas de anos antes de se poder concluir com toda a certeza que a economia britânica se encontrava a convergir com a da zona euro, uma das cinco condições colocadas por Gordon Brown para a adesão do Reino Unido ao euro.

O render da guarda à frente do Banco de Inglaterra, instituição com mais de três séculos de existência, ocorre num ano que já testemunhou em Março a substituição de Masaru Hayami por Toshihiko Fukui à frente do Banco do Japão e que deverá no último trimestre assistir à ascensão de Jean-Claude Trichet ao lugar de presidente do Banco Central Europeu (BCE), substituindo Wim Duisenberg, sem esquecer que Alan Greenspan, líder da Reserva Federal dos EUA, termina o seu mandato em 2004.

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