Onde é que a retoma passa férias?

02-08-2003
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Onde É Que a Retoma Passa Férias?

Segunda-feira, 07 de Julho de 2003

Maria Amélia Valverde

Economista Sénior do BES

Terminado o primeiro semestre e nas vésperas das férias estivais, confirmou-se a hipótese de que, afinal, as batalhas mais importantes seriam travadas depois da guerra do Golfo, uma vez que a vitória militar não foi suficiente para arrancar a economia mundial ao seu torpor.

De facto, ao longo destes primeiros seis meses de 2003 a economia do euro arrastou-se penosamente e, apesar de as taxas de juro estarem no nível mínimo desde 1948, o crescimento económico é muito fraco, pelo que, apesar dos esforços da política monetária, não se adivinha um grande fôlego para a rentrée. Famílias e empresas estão mesmo assim um pouco mais confiantes, mas, com o desemprego a subir continuamente, permanecem contraídas. O consumo privado não anima, as empresas não investem e a economia continua a aguardar o estímulo externo de que necessita. Por isso, o PMI (indicador que sensibiliza a evolução da actividade) continuava emperrado em Junho, a um nível ainda ligeiramente inferior ao de Maio, apesar de entretanto o BCE ter cortado a taxa de referência em 50 pontos base (para 2%), um facto estimulante, pois reduz os encargos com a dívida volumosa de particulares e empresas, libertando uma parcela de rendimento para outras despesas.

O euro continua ainda acima do seu nível de lançamento, apesar de nos últimos tempos ter beneficiado de uma bem vinda correcção face ao dólar. Contudo, algo mais é preciso para injectar optimismo na economia europeia. Um aspecto fundamental para que esta inversão de expectativas se realize será uma maior animação no mercado accionista, algo que só terá sustentação quando os investidores acreditarem nas perspectivas de crescimento das empresas, sobretudo nos EUA, porque é aí que se continua a originar toda a dinâmica bolsista. A subida sensível que os principais índices registaram neste segundo trimestre - a maior dos últimos quatro anos e meio - (a exemplo, o Euro Stoxx 50 recuperou 19% e o DAX ganhou cerca de 33%) é assim um indício animador, embora não traduza a saudosa euforia de que ainda nos lembramos e que reporta há mais de três anos.

De momento, os investidores permanecem cautelosos, convictos de que a correcção técnica do valor dos títulos em muitos casos já se deu e que, portanto, qualquer perspectiva de valorização agora terá de ser suportada pelos fundamentais económicos, pelo que continuam a esperar por sinais mais claros de solidez de uma possível retoma para continuar a comprar acções. E, por isso, o clima de Verão continuará a ser marcado pela incerteza e pela expectativa da divulgação dos resultados das empresas no segundo trimestre, temperada pelo ocasional escândalo contabilístico.

Tudo ponderado, de facto parece ainda cedo para que o sentimento económico melhore sensivelmente, antecipando-se portanto que a retoma continue lenta e que o PIB da zona euro não consiga sequer atingir 1% de crescimento este ano, aliás em linha com a última revisão do crescimento do PIB apresentada pelo BCE em Junho. Os responsáveis do BCE, que deverão estar ansiosos por poder começar a enviar mensagens de maior optimismo para o mercado, infelizmente neste Verão não poderão fazer mais do que desejar-nos boas férias.

Onde É Que a Retoma Passa Férias?

Segunda-feira, 07 de Julho de 2003

Maria Amélia Valverde

Economista Sénior do BES

Terminado o primeiro semestre e nas vésperas das férias estivais, confirmou-se a hipótese de que, afinal, as batalhas mais importantes seriam travadas depois da guerra do Golfo, uma vez que a vitória militar não foi suficiente para arrancar a economia mundial ao seu torpor.

De facto, ao longo destes primeiros seis meses de 2003 a economia do euro arrastou-se penosamente e, apesar de as taxas de juro estarem no nível mínimo desde 1948, o crescimento económico é muito fraco, pelo que, apesar dos esforços da política monetária, não se adivinha um grande fôlego para a rentrée. Famílias e empresas estão mesmo assim um pouco mais confiantes, mas, com o desemprego a subir continuamente, permanecem contraídas. O consumo privado não anima, as empresas não investem e a economia continua a aguardar o estímulo externo de que necessita. Por isso, o PMI (indicador que sensibiliza a evolução da actividade) continuava emperrado em Junho, a um nível ainda ligeiramente inferior ao de Maio, apesar de entretanto o BCE ter cortado a taxa de referência em 50 pontos base (para 2%), um facto estimulante, pois reduz os encargos com a dívida volumosa de particulares e empresas, libertando uma parcela de rendimento para outras despesas.

O euro continua ainda acima do seu nível de lançamento, apesar de nos últimos tempos ter beneficiado de uma bem vinda correcção face ao dólar. Contudo, algo mais é preciso para injectar optimismo na economia europeia. Um aspecto fundamental para que esta inversão de expectativas se realize será uma maior animação no mercado accionista, algo que só terá sustentação quando os investidores acreditarem nas perspectivas de crescimento das empresas, sobretudo nos EUA, porque é aí que se continua a originar toda a dinâmica bolsista. A subida sensível que os principais índices registaram neste segundo trimestre - a maior dos últimos quatro anos e meio - (a exemplo, o Euro Stoxx 50 recuperou 19% e o DAX ganhou cerca de 33%) é assim um indício animador, embora não traduza a saudosa euforia de que ainda nos lembramos e que reporta há mais de três anos.

De momento, os investidores permanecem cautelosos, convictos de que a correcção técnica do valor dos títulos em muitos casos já se deu e que, portanto, qualquer perspectiva de valorização agora terá de ser suportada pelos fundamentais económicos, pelo que continuam a esperar por sinais mais claros de solidez de uma possível retoma para continuar a comprar acções. E, por isso, o clima de Verão continuará a ser marcado pela incerteza e pela expectativa da divulgação dos resultados das empresas no segundo trimestre, temperada pelo ocasional escândalo contabilístico.

Tudo ponderado, de facto parece ainda cedo para que o sentimento económico melhore sensivelmente, antecipando-se portanto que a retoma continue lenta e que o PIB da zona euro não consiga sequer atingir 1% de crescimento este ano, aliás em linha com a última revisão do crescimento do PIB apresentada pelo BCE em Junho. Os responsáveis do BCE, que deverão estar ansiosos por poder começar a enviar mensagens de maior optimismo para o mercado, infelizmente neste Verão não poderão fazer mais do que desejar-nos boas férias.

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