O serviço e o público (II)

19-06-2002
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Crónicas mediáticas

O Serviço e o Público (II)

Por AUGUSTO M. SEABRA

Terça-feira, 4 de Junho de 2002 A Comissão ora nomeada não é "independente" mas política, baseada numa federação de "barões" do jornalismo mais ressentimentos avulsos; uma comissão à qual não se pode reconhecer isenção ética 5) Se todos os países da União têm pelo menos dois canais de serviço público de televisão porque razão esse "consenso" deve ser rejeitado? E, contudo, foi neste ponto que tive a maior das surpresas, no PÚBLICO de 17/5. Em editorial, José Manuel Fernandes não hesitava em retomar uma retórica anti-europeísta que poderíamos esperar antes de um Manuel Monteiro: "o palavreado em eurocrês que as instâncias europeias têm produzido [sobre o serviço público] em abundância é absolutamente vazio e redondo e só serve para dar trabalho aos eurocratas que o traduzem para as diferentes línguas nacionais", enquanto Teresa de Sousa argumentava que "não vale a pena recorrer a comparações abstractas com as televisões públicas em França, na Inglaterra ou em qualquer dos países europeus que são ricos", postulando pois que somos europeus de 2ª e de resto para si retomando quase "ipsis verbis" uma definição de Direita reclamada por Manuela Ferreira Leite há uns meses num programa da RTP2: primeiro a economia, depois então sim a cultura, o ambiente, o desenvolvimento social! Para além da surpresa de ver tais linhas escritas pelo director e pela comentadora de assuntos europeus de um jornal que tem consignado no seu Estatuto Editorial que "O PÚBLICO participa no debate das grandes questões que se colocam à sociedade portuguesa na perspectiva da construção do espaço europeu", não posso deixar de notar que, tratando-se de dois jornalistas que todos nós leitores sabemos empenhados no processo europeu, este é o exemplo acabado de como o monstro-RTP gerou tão irracionais anti-corpos que assistimos mesmo às mais inusitadas mudanças de quadros de referência! 6) Ao contrário do que supõe JMF, as instâncias europeias estão longe de ter produzido "em abundância" matéria sobre o serviço público de televisão, questão que tem vindo a ser abordada num processo de crescente implicação, mas com várias decisões recorrentemente adiadas. Não há nenhuma definição europeia do estilo "o serviço público é.." (imagine-se o clamor se houvesse!), nem ele é passível de ser definido nos termos de uma norma sobre viveiros de bivalves ou das quantificações da Política Agrícola Comum. Há programas e directivas adoptadas, mas a questão em si mesma é equacionada com notória prudência, enquanto susceptível de consensos mas também de soberania inalienável por parte dos Estados membros, como por exemplo a Educação, se posso estabelecer o paralelo entre duas áreas cada vez mais imbricadas. Mas um consenso existe e as realidades europeias estão a ser distorcidas neste debate. A Dinamarca, não acaba ela de abdicar do 2º canal? É esclarecedor que se tome como exemplo o país cronicamente mais refractário ao aprofundamento do processo europeu, mas ainda assim o que agora sucedeu é que algumas horas de emissão serão, em termos de prestação de serviço, abertos a privados sem o Estado renunciar ao princípio da existência de dois canais. A Áustria, como ouvi dizer? Bem, os dois canais televisivos mantêm-se e além disso seria muito interessante ver discutido em Portugal o modelo da ORF, que como a BBC congrega rádio e televisão, quando por exemplo um Pacheco Pereira, que até é notoriamente um dos maiores defensores europeus do actual governo austríaco, descobriu que a "música clássica" é coisa que se pode agora ouvir em estações privadas na Grande Lisboa (para além do eixo Lisboa/Marmeleira os outros que se lixem?) e portanto o Estado deve "reequacionar" um específico canal radiofónico (PÚBLICO de 9/5). Ou Vasco Graça Moura ("Diário de Notícias" de 29/5): "os países europeus que têm dois canais de serviço público, mesmo os que são territorialmente mais pequenos que Portugal, têm populações muito maiores que as nossas" o que é o caso da Irlanda, com os seus 3,6 milhões de habitantes, muito mais que os 10 milhões de Portugal! 7) A Comissão ora nomeada não é "independente" mas política, baseada numa federação de "barões" do jornalismo mais ressentimentos avulsos; uma comissão à qual não se pode reconhecer isenção ética, quando um dos seus anunciados membros, Fonseca e Costa, vai dar o seu apoio à Convenção do PSD, que enunciou como objectivo a cessação de um canal da RTP, e uns dias depois ("DN" de 18/2) aparece a subscrever um Manifesto do Serviço Público que era óbvia resposta ao mesmíssimo intuito do PSD; quando um dos seus membros, Eduardo Cintra Torres, pela manhã é crítico de televisão do PÚBLICO e à noite membro da equipa de produção de um programa da RTP sumamente rangeliano, "O Jogo da Espera", de Júlia Pinheiro e dos adereços fálicos; quando um dos seus membros, João David Nunes, tem como qualificação conhecida ser "a voz do dono"; quando um dos seus membros, Miguel Sousa Tavares, tem como linha de conduta nesta matéria ir fazendo a ronda de todos os operadores existentes, aqueles que ficaram para trás sendo sempre os responsáveis pela degradação, aquele em que no momento ele tiver tempo de antena sendo absolvido, mesmo quando na TVI aos seus próprios comentários ocorre logo suceder um "Big Brother"... De facto, são devastadoras as consequências deste debate no espaço público! OUTROS TÍTULOS EM MEDIA Tribunal suspende publicidade por uso de vozes de jornalistas

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Em editorial, José Manuel Fernandes não hesitava em retomar uma retórica anti-europeísta que poderíamos esperar antes de um Manuel Monteiro: "o palavreado em eurocrês que as instâncias europeias têm produzido [sobre o serviço público] em abundância é absolutamente vazio e redondo e só serve para dar trabalho aos eurocratas que o traduzem para as diferentes línguas nacionais", enquanto Teresa de Sousa argumentava que "não vale a pena recorrer a comparações abstractas com as televisões públicas em França, na Inglaterra ou em qualquer dos países europeus que são ricos", postulando pois que somos europeus de 2ª e de resto para si retomando quase "ipsis verbis" uma definição de Direita reclamada por Manuela Ferreira Leite há uns meses num programa da RTP2: primeiro a economia, depois então sim a cultura, o ambiente, o desenvolvimento social! Para além da surpresa de ver tais linhas escritas pelo director e pela comentadora de assuntos europeus de um jornal que tem consignado no seu Estatuto Editorial que "O PÚBLICO participa no debate das grandes questões que se colocam à sociedade portuguesa na perspectiva da construção do espaço europeu", não posso deixar de notar que, tratando-se de dois jornalistas que todos nós leitores sabemos empenhados no processo europeu, este é o exemplo acabado de como o monstro-RTP gerou tão irracionais anti-corpos que assistimos mesmo às mais inusitadas mudanças de quadros de referência! 6) Ao contrário do que supõe JMF, as instâncias europeias estão longe de ter produzido "em abundância" matéria sobre o serviço público de televisão, questão que tem vindo a ser abordada num processo de crescente implicação, mas com várias decisões recorrentemente adiadas. Não há nenhuma definição europeia do estilo "o serviço público é.." (imagine-se o clamor se houvesse!), nem ele é passível de ser definido nos termos de uma norma sobre viveiros de bivalves ou das quantificações da Política Agrícola Comum. Há programas e directivas adoptadas, mas a questão em si mesma é equacionada com notória prudência, enquanto susceptível de consensos mas também de soberania inalienável por parte dos Estados membros, como por exemplo a Educação, se posso estabelecer o paralelo entre duas áreas cada vez mais imbricadas. Mas um consenso existe e as realidades europeias estão a ser distorcidas neste debate. A Dinamarca, não acaba ela de abdicar do 2º canal? É esclarecedor que se tome como exemplo o país cronicamente mais refractário ao aprofundamento do processo europeu, mas ainda assim o que agora sucedeu é que algumas horas de emissão serão, em termos de prestação de serviço, abertos a privados sem o Estado renunciar ao princípio da existência de dois canais. A Áustria, como ouvi dizer? Bem, os dois canais televisivos mantêm-se e além disso seria muito interessante ver discutido em Portugal o modelo da ORF, que como a BBC congrega rádio e televisão, quando por exemplo um Pacheco Pereira, que até é notoriamente um dos maiores defensores europeus do actual governo austríaco, descobriu que a "música clássica" é coisa que se pode agora ouvir em estações privadas na Grande Lisboa (para além do eixo Lisboa/Marmeleira os outros que se lixem?) e portanto o Estado deve "reequacionar" um específico canal radiofónico (PÚBLICO de 9/5). Ou Vasco Graça Moura ("Diário de Notícias" de 29/5): "os países europeus que têm dois canais de serviço público, mesmo os que são territorialmente mais pequenos que Portugal, têm populações muito maiores que as nossas" o que é o caso da Irlanda, com os seus 3,6 milhões de habitantes, muito mais que os 10 milhões de Portugal! 7) A Comissão ora nomeada não é "independente" mas política, baseada numa federação de "barões" do jornalismo mais ressentimentos avulsos; uma comissão à qual não se pode reconhecer isenção ética, quando um dos seus anunciados membros, Fonseca e Costa, vai dar o seu apoio à Convenção do PSD, que enunciou como objectivo a cessação de um canal da RTP, e uns dias depois ("DN" de 18/2) aparece a subscrever um Manifesto do Serviço Público que era óbvia resposta ao mesmíssimo intuito do PSD; quando um dos seus membros, Eduardo Cintra Torres, pela manhã é crítico de televisão do PÚBLICO e à noite membro da equipa de produção de um programa da RTP sumamente rangeliano, "O Jogo da Espera", de Júlia Pinheiro e dos adereços fálicos; quando um dos seus membros, João David Nunes, tem como qualificação conhecida ser "a voz do dono"; quando um dos seus membros, Miguel Sousa Tavares, tem como linha de conduta nesta matéria ir fazendo a ronda de todos os operadores existentes, aqueles que ficaram para trás sendo sempre os responsáveis pela degradação, aquele em que no momento ele tiver tempo de antena sendo absolvido, mesmo quando na TVI aos seus próprios comentários ocorre logo suceder um "Big Brother"... De facto, são devastadoras as consequências deste debate no espaço público! OUTROS TÍTULOS EM MEDIA Tribunal suspende publicidade por uso de vozes de jornalistas

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