EXPRESSO online

29-08-2002
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Economia vudu 1. A bolsa portuguesa está em estado letárgico quase há um ano, mas há quem pense que ainda é possível contribuir para que ela se afunde mais. Em 2001, a reforma fiscal de Ricardo Sá Fernandes impôs a tributação das mais-valias, o que provocou forte contestação. Já com o actual Governo, a medida começou por ser suspensa e, depois, definitivamente eliminada. Apesar disso, e com o panorama internacional a não ajudar nada, a bolsa nacional só conhece dois estados: mal ou muito mal. Pois na sexta-feira, o País deu mais um exemplo que vai ficar para a história. Pela primeira vez no mundo, uma bolsa não funcionou devido a uma greve dos trabalhadores, no caso, os trabalhadores da Interbolsa, a empresa responsável pelo registo e liquidação das operações. Mas uma tal situação não estava prevista? Claro que estava. Alves Monteiro, presidente da Euronext Lisboa e da Interbolsa, mandou dizer que o sistema alternativo garantiria o funcionamento normal do mercado de capitais. Pois não garantiu. Falhou rotundamente. Agora, está tudo de nervos em franja para saber se a greve é desconvocada ou, no caso de isso não acontecer, se os responsáveis da Euronext Lisboa conseguem pôr o sistema alternativo a funcionar na segunda-feira, porque, se isso não acontecer, a bolsa portuguesa estará de novo encerrada. Pois na sexta-feira, o País deu mais um exemplo que vai ficar para a história. Pela primeira vez no mundo, uma bolsa não funcionou devido a uma greve dos trabalhadores, no caso, os trabalhadores da Interbolsa, a empresa responsável pelo registo e liquidação das operações. Mas uma tal situação não estava prevista? Claro que estava. Alves Monteiro, presidente da Euronext Lisboa e da Interbolsa, mandou dizer que o sistema alternativo garantiria o funcionamento normal do mercado de capitais. Pois não garantiu. Falhou rotundamente. Agora, está tudo de nervos em franja para saber se a greve é desconvocada ou, no caso de isso não acontecer, se os responsáveis da Euronext Lisboa conseguem pôr o sistema alternativo a funcionar na segunda-feira, porque, se isso não acontecer, a bolsa portuguesa estará de novo encerrada. Digamos, para ser benévolos, que é lamentável que a administração da Euronext Lisboa e os 30 trabalhadores da Interbolsa que aprovaram a greve, por mais que cada uma das partes tenha as suas razões, não pensaram um mínimo que fosse na pobre e triste imagem que tal situação projecta de Portugal para o exterior. Digamos, para ser benévolos, que Alves Monteiro não pode deixar de se sentir responsável pelas duas situações: a greve, que custa um milhão de euros por dia, e o não funcionamento do sistema alternativo, pelo que talvez devesse retirar daí alguma consequência. Digamos, para ser benévolos, que é lamentável que a administração da Euronext Lisboa e os 30 trabalhadores da Interbolsa que aprovaram a greve, por mais que cada uma das partes tenha as suas razões, não pensaram um mínimo que fosse na pobre e triste imagem que tal situação projecta de Portugal para o exterior. Digamos, para ser benévolos, que Alves Monteiro não pode deixar de se sentir responsável pelas duas situações: a greve, que custa um milhão de euros por dia, e o não funcionamento do sistema alternativo, pelo que talvez devesse retirar daí alguma consequência. Digamos finalmente, para ser benévolos, que a bolsa portuguesa já não tinha prestígio no exterior. Mas agora passou a ter uma imagem patética Digamos finalmente, para ser benévolos, que a bolsa portuguesa já não tinha prestígio no exterior. Mas agora passou a ter uma imagem patética 2. Anda a ministra das Finanças numa azáfama a subir impostos e a conter despesas para reduzir o défice orçamental para 2,8% este ano, tentando ao mesmo tempo convencer Bruxelas a não aplicar ao País uma forte sanção, quando aproveitaria certamente melhor o seu tempo e resolveria de forma mais expedita o problema consultando o gestor de futebol do Benfica. Na verdade, muito teria a aprender Manuela Ferreira Leite com Luís Filipe Vieira. A partir do Verão, o sr. Vieira deu uma forte guinada no seu discurso e afirmou, alto e bom som, que a partir de agora a estratégia do Benfica seria pagar impostos e pôr em ordem as contas da SAD. Em ajuda desta tese veio o sempre sagaz presidente do Benfica, Manuel Vilarinho, adiantar que se o Benfica tivesse de estar sem ganhar alguns campeonatos por causa desta nova orientação, assim seria. 2. Anda a ministra das Finanças numa azáfama a subir impostos e a conter despesas para reduzir o défice orçamental para 2,8% este ano, tentando ao mesmo tempo convencer Bruxelas a não aplicar ao País uma forte sanção, quando aproveitaria certamente melhor o seu tempo e resolveria de forma mais expedita o problema consultando o gestor de futebol do Benfica. Na verdade, muito teria a aprender Manuela Ferreira Leite com Luís Filipe Vieira. A partir do Verão, o sr. Vieira deu uma forte guinada no seu discurso e afirmou, alto e bom som, que a partir de agora a estratégia do Benfica seria pagar impostos e pôr em ordem as contas da SAD. Em ajuda desta tese veio o sempre sagaz presidente do Benfica, Manuel Vilarinho, adiantar que se o Benfica tivesse de estar sem ganhar alguns campeonatos por causa desta nova orientação, assim seria. Pois eis que neste fim-de-semana, o sr. Vieira, que certamente já meteu as contas da SAD na ordem, reúne-se com o presidente do Boavista, João Loureiro, e, ao que relatam os jornais desportivos, prepara-se para adquirir os jogadores Petit e Ricardo ao clube de xadrez pela módica quantia de oito mais cinco milhões de euros (segundo o «Record»), ou seja, 13 milhões no total, embora possa existir um abatimento. Quer dizer, enquanto a ministra das Finanças nos garante que vamos apertar o cinto até 2004 mas depois passaremos a viver melhor, Luís Filipe Vieira disse o mesmo no princípio do Verão e, passado um mês, já o Benfica regressa aos seus tempos de glória, em que o dinheiro dava para tudo e mais alguma coisa. É realmente notável e deixa-nos pelo menos a pensar se não seria melhor termos o sr. Vieira no lugar da dra. Manuela. Porque a ministra há-de saber muito de finanças públicas mas o sr. Vieira domina as técnicas da economia vudu. E o que o País está mesmo a precisar é de alguém que, após matar uma galinha preta e deixar o sangue escorrer pela cabeça abaixo, consiga colocar a economia nacional a crescer acima da média europeia já no próximo ano. Ora, a dra. Manuela, já se viu que isso não consegue fazer. Mas o sr. Vieira, quem sabe? Pelo exemplo do Benfica, ele consegue. Pois eis que neste fim-de-semana, o sr. Vieira, que certamente já meteu as contas da SAD na ordem, reúne-se com o presidente do Boavista, João Loureiro, e, ao que relatam os jornais desportivos, prepara-se para adquirir os jogadores Petit e Ricardo ao clube de xadrez pela módica quantia de oito mais cinco milhões de euros (segundo o «Record»), ou seja, 13 milhões no total, embora possa existir um abatimento. Quer dizer, enquanto a ministra das Finanças nos garante que vamos apertar o cinto até 2004 mas depois passaremos a viver melhor, Luís Filipe Vieira disse o mesmo no princípio do Verão e, passado um mês, já o Benfica regressa aos seus tempos de glória, em que o dinheiro dava para tudo e mais alguma coisa. É realmente notável e deixa-nos pelo menos a pensar se não seria melhor termos o sr. Vieira no lugar da dra. Manuela. Porque a ministra há-de saber muito de finanças públicas mas o sr. Vieira domina as técnicas da economia vudu. E o que o País está mesmo a precisar é de alguém que, após matar uma galinha preta e deixar o sangue escorrer pela cabeça abaixo, consiga colocar a economia nacional a crescer acima da média europeia já no próximo ano. Ora, a dra. Manuela, já se viu que isso não consegue fazer. Mas o sr. Vieira, quem sabe? Pelo exemplo do Benfica, ele consegue. 15 Julho 2002

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Economia vudu 1. A bolsa portuguesa está em estado letárgico quase há um ano, mas há quem pense que ainda é possível contribuir para que ela se afunde mais. Em 2001, a reforma fiscal de Ricardo Sá Fernandes impôs a tributação das mais-valias, o que provocou forte contestação. Já com o actual Governo, a medida começou por ser suspensa e, depois, definitivamente eliminada. Apesar disso, e com o panorama internacional a não ajudar nada, a bolsa nacional só conhece dois estados: mal ou muito mal. Pois na sexta-feira, o País deu mais um exemplo que vai ficar para a história. Pela primeira vez no mundo, uma bolsa não funcionou devido a uma greve dos trabalhadores, no caso, os trabalhadores da Interbolsa, a empresa responsável pelo registo e liquidação das operações. Mas uma tal situação não estava prevista? Claro que estava. Alves Monteiro, presidente da Euronext Lisboa e da Interbolsa, mandou dizer que o sistema alternativo garantiria o funcionamento normal do mercado de capitais. Pois não garantiu. Falhou rotundamente. Agora, está tudo de nervos em franja para saber se a greve é desconvocada ou, no caso de isso não acontecer, se os responsáveis da Euronext Lisboa conseguem pôr o sistema alternativo a funcionar na segunda-feira, porque, se isso não acontecer, a bolsa portuguesa estará de novo encerrada. Pois na sexta-feira, o País deu mais um exemplo que vai ficar para a história. Pela primeira vez no mundo, uma bolsa não funcionou devido a uma greve dos trabalhadores, no caso, os trabalhadores da Interbolsa, a empresa responsável pelo registo e liquidação das operações. Mas uma tal situação não estava prevista? Claro que estava. Alves Monteiro, presidente da Euronext Lisboa e da Interbolsa, mandou dizer que o sistema alternativo garantiria o funcionamento normal do mercado de capitais. Pois não garantiu. Falhou rotundamente. Agora, está tudo de nervos em franja para saber se a greve é desconvocada ou, no caso de isso não acontecer, se os responsáveis da Euronext Lisboa conseguem pôr o sistema alternativo a funcionar na segunda-feira, porque, se isso não acontecer, a bolsa portuguesa estará de novo encerrada. Digamos, para ser benévolos, que é lamentável que a administração da Euronext Lisboa e os 30 trabalhadores da Interbolsa que aprovaram a greve, por mais que cada uma das partes tenha as suas razões, não pensaram um mínimo que fosse na pobre e triste imagem que tal situação projecta de Portugal para o exterior. Digamos, para ser benévolos, que Alves Monteiro não pode deixar de se sentir responsável pelas duas situações: a greve, que custa um milhão de euros por dia, e o não funcionamento do sistema alternativo, pelo que talvez devesse retirar daí alguma consequência. Digamos, para ser benévolos, que é lamentável que a administração da Euronext Lisboa e os 30 trabalhadores da Interbolsa que aprovaram a greve, por mais que cada uma das partes tenha as suas razões, não pensaram um mínimo que fosse na pobre e triste imagem que tal situação projecta de Portugal para o exterior. Digamos, para ser benévolos, que Alves Monteiro não pode deixar de se sentir responsável pelas duas situações: a greve, que custa um milhão de euros por dia, e o não funcionamento do sistema alternativo, pelo que talvez devesse retirar daí alguma consequência. Digamos finalmente, para ser benévolos, que a bolsa portuguesa já não tinha prestígio no exterior. Mas agora passou a ter uma imagem patética Digamos finalmente, para ser benévolos, que a bolsa portuguesa já não tinha prestígio no exterior. Mas agora passou a ter uma imagem patética 2. Anda a ministra das Finanças numa azáfama a subir impostos e a conter despesas para reduzir o défice orçamental para 2,8% este ano, tentando ao mesmo tempo convencer Bruxelas a não aplicar ao País uma forte sanção, quando aproveitaria certamente melhor o seu tempo e resolveria de forma mais expedita o problema consultando o gestor de futebol do Benfica. Na verdade, muito teria a aprender Manuela Ferreira Leite com Luís Filipe Vieira. A partir do Verão, o sr. Vieira deu uma forte guinada no seu discurso e afirmou, alto e bom som, que a partir de agora a estratégia do Benfica seria pagar impostos e pôr em ordem as contas da SAD. Em ajuda desta tese veio o sempre sagaz presidente do Benfica, Manuel Vilarinho, adiantar que se o Benfica tivesse de estar sem ganhar alguns campeonatos por causa desta nova orientação, assim seria. 2. Anda a ministra das Finanças numa azáfama a subir impostos e a conter despesas para reduzir o défice orçamental para 2,8% este ano, tentando ao mesmo tempo convencer Bruxelas a não aplicar ao País uma forte sanção, quando aproveitaria certamente melhor o seu tempo e resolveria de forma mais expedita o problema consultando o gestor de futebol do Benfica. Na verdade, muito teria a aprender Manuela Ferreira Leite com Luís Filipe Vieira. A partir do Verão, o sr. Vieira deu uma forte guinada no seu discurso e afirmou, alto e bom som, que a partir de agora a estratégia do Benfica seria pagar impostos e pôr em ordem as contas da SAD. Em ajuda desta tese veio o sempre sagaz presidente do Benfica, Manuel Vilarinho, adiantar que se o Benfica tivesse de estar sem ganhar alguns campeonatos por causa desta nova orientação, assim seria. Pois eis que neste fim-de-semana, o sr. Vieira, que certamente já meteu as contas da SAD na ordem, reúne-se com o presidente do Boavista, João Loureiro, e, ao que relatam os jornais desportivos, prepara-se para adquirir os jogadores Petit e Ricardo ao clube de xadrez pela módica quantia de oito mais cinco milhões de euros (segundo o «Record»), ou seja, 13 milhões no total, embora possa existir um abatimento. Quer dizer, enquanto a ministra das Finanças nos garante que vamos apertar o cinto até 2004 mas depois passaremos a viver melhor, Luís Filipe Vieira disse o mesmo no princípio do Verão e, passado um mês, já o Benfica regressa aos seus tempos de glória, em que o dinheiro dava para tudo e mais alguma coisa. É realmente notável e deixa-nos pelo menos a pensar se não seria melhor termos o sr. Vieira no lugar da dra. Manuela. Porque a ministra há-de saber muito de finanças públicas mas o sr. Vieira domina as técnicas da economia vudu. E o que o País está mesmo a precisar é de alguém que, após matar uma galinha preta e deixar o sangue escorrer pela cabeça abaixo, consiga colocar a economia nacional a crescer acima da média europeia já no próximo ano. Ora, a dra. Manuela, já se viu que isso não consegue fazer. Mas o sr. Vieira, quem sabe? Pelo exemplo do Benfica, ele consegue. Pois eis que neste fim-de-semana, o sr. Vieira, que certamente já meteu as contas da SAD na ordem, reúne-se com o presidente do Boavista, João Loureiro, e, ao que relatam os jornais desportivos, prepara-se para adquirir os jogadores Petit e Ricardo ao clube de xadrez pela módica quantia de oito mais cinco milhões de euros (segundo o «Record»), ou seja, 13 milhões no total, embora possa existir um abatimento. Quer dizer, enquanto a ministra das Finanças nos garante que vamos apertar o cinto até 2004 mas depois passaremos a viver melhor, Luís Filipe Vieira disse o mesmo no princípio do Verão e, passado um mês, já o Benfica regressa aos seus tempos de glória, em que o dinheiro dava para tudo e mais alguma coisa. É realmente notável e deixa-nos pelo menos a pensar se não seria melhor termos o sr. Vieira no lugar da dra. Manuela. Porque a ministra há-de saber muito de finanças públicas mas o sr. Vieira domina as técnicas da economia vudu. E o que o País está mesmo a precisar é de alguém que, após matar uma galinha preta e deixar o sangue escorrer pela cabeça abaixo, consiga colocar a economia nacional a crescer acima da média europeia já no próximo ano. Ora, a dra. Manuela, já se viu que isso não consegue fazer. Mas o sr. Vieira, quem sabe? Pelo exemplo do Benfica, ele consegue. 15 Julho 2002

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