EXPRESSO: Opinião

20-05-2002
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29/3/2002

OPINIÃO

Uma «durona» nas Finanças Francisco Ferreira da Silva

«O facto de ser respeitada pelos pares da Academia, o que nem sempre aconteceu com os últimos ministros das Finanças, é um dos seus trunfos. Miguel Cadilhe, quando era ministro das Finanças, apresentou-a mesmo como uma das pessoas com maior potencial na Administração Pública da altura. A fama de 'dura' que transporta consigo também é um trunfo num Ministério onde é preciso tratar com firmeza as tendências despesistas dos demais membros do Governo e até do primeiro-ministro.» A «DAMA de Ferro», como foi designada por Eduardo Catroga, tem pela frente uma tarefa árdua. As finanças públicas portuguesas precisam de um tratamento de choque. Manuela Ferreira Leite tem, como também disse Catroga, a competência técnica e a capacidade política para fazer um bom lugar. Ofuscada inicialmente pelo brilho de estrelas como Ernâni Lopes, António Borges ou Miguel Cadilhe, o seu nome não foi dos primeiros a andar nas bocas do mundo para ocupar a cadeira principal no Ministério do Terreiro do Paço. Mas, apesar de poder parecer uma solução de recurso, Manuela Ferreira Leite tem pelo seu lado trunfos que convém não menosprezar. O facto de ser respeitada pelos pares da Academia, o que nem sempre aconteceu com os últimos ministros das Finanças, é um dos seus trunfos. Miguel Cadilhe, quando era ministro das Finanças, apresentou-a mesmo como uma das pessoas com maior potencial na Administração Pública da altura. A fama de «dura» que transporta consigo também é um trunfo num Ministério onde é preciso tratar com firmeza as tendências despesistas dos demais membros do Governo e até do primeiro-ministro. Ser mulher também pode fazer com que os seus pares a tratem com maior deferência. Por último, o facto de ser uma pessoa quase sempre de «cara séria» é igualmente um trunfo perante uma população que se habituou a confiar em governantes com essa característica, casos de Cavaco Silva ou, indo um pouco mais longe, de Ramalho Eanes. Em termos objectivos, Manuela Ferreira Leite vai ter de meter desde já mãos à obra e começar a pensar na elaboração de um Orçamento rectificativo, que funcionará, na prática, como o verdadeiro Orçamento do Estado para 2002. De resto, o diagnóstico dos problemas da economia portuguesa está feito, falta apenas começar a tomar medidas. A tão falada intuição feminina poderá ser uma óptima aliada para ajudar a escolher os melhores momentos em que deverá tomar as medidas que considerar indispensáveis para endireitar o país. Mas também o facto de ser, realmente, a actual número dois do PSD e de dispor de apoio do aparelho partidário pode ser determinante para o sucesso da sua governação. Mas, não poderá deixar de contar com a solidariedade e a compreensão dos seus colegas de Governo e, sobretudo, com o apoio incondicional do primeiro-ministro. Durão Barroso deverá reconhecer-lhe competência absoluta em matéria económica e não pôr entraves a eventuais medidas antipopulares. Também Paulo Portas e o PP terão de lhe dar o suporte necessário à prossecução de uma política económica credível, que retire Portugal do pântano para o qual resvalou. Só com uma liderança forte a este nível será possível fazer com que o país volte a ser respeitado a nível internacional, os investidores voltem a ter confiança e interesse no nosso país e os portugueses em geral voltem a acreditar no futuro e nos seus governantes. E-mail: francis@mail.expresso.pt

COMENTÁRIOS

6 comentários 1 a 6

1 de Abril de 2002 às 22:44

paulao ( paucar@sapo.pt )

Se esta Ferreira Leite tiver nas Finanças uma perfomance tão boa como teve na Educação no tempo do Cavaco bem podemos temer o pior.

1 de Abril de 2002 às 18:08

ramos18 ( jrcontreiras@netcabo.pt )

ZÉ LUÍS - Creio que Portas irá criar grandes problemas a Ferreira Leite porque parece ser a única pessoa que lhe poderá fazer frente.

Durão irá conciliar até ao impossível. Também concordo que o que fôr bom Portas vai tentar associá-lo ao PP e tudo o que for impopular Portas irá atirar o odioso para o PSD.

Deste "casamento forçado" parece-me que o PSD sairá muito fragilizado e o PP ainda me parece uma incógnita porque o PP é Paulo Portas e o resto "é paisagem".

Depois de passar pelo Governo não estou a ver o "Paulinho das Feiras" a beijar as vendedeiras e a prometer-lhes mundos e fundos,porque o que poderia acontecer era levar com um rabanete na cara.

30 de Março de 2002 às 20:35

Diogo Quental ( dquental@hotmail.com )

Excelente artigo.

29 de Março de 2002 às 23:13

fire_blade ( manuelfireblade@hotmail.com )

A tarefa da futura ministra até é fácil.Basta ser igual a ela própria.O País agradece.

29 de Março de 2002 às 17:54

bigorna

AS ESTRELAS SEM BRILHO

«nem tudo o que brilha é ouro».

É uma feliz escolha ...As tais estrelas das entrevistas ,dos Manifestos estão tão acomodadas nos seus previlégios que era mais que óbvio que trocavam o seu «estadão» por um lugarzinho de Ministro

29 de Março de 2002 às 11:41

Zé Luiz

É claro que Paulo Portas vai dar todo o apoio a Ferreira Leite, especialmente nas decisões impopulares: tudo o que contribua para lançar o odioso para o PPD é vantajoso para o PP.

Pelas mesmas razões é que Durão Barroso não lhe vai poder dar esse apoio: a menos que queira transformar o PPD no terceiro partido mais votado nas próximas legislativas...

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29/3/2002

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Uma «durona» nas Finanças Francisco Ferreira da Silva

«O facto de ser respeitada pelos pares da Academia, o que nem sempre aconteceu com os últimos ministros das Finanças, é um dos seus trunfos. Miguel Cadilhe, quando era ministro das Finanças, apresentou-a mesmo como uma das pessoas com maior potencial na Administração Pública da altura. A fama de 'dura' que transporta consigo também é um trunfo num Ministério onde é preciso tratar com firmeza as tendências despesistas dos demais membros do Governo e até do primeiro-ministro.» A «DAMA de Ferro», como foi designada por Eduardo Catroga, tem pela frente uma tarefa árdua. As finanças públicas portuguesas precisam de um tratamento de choque. Manuela Ferreira Leite tem, como também disse Catroga, a competência técnica e a capacidade política para fazer um bom lugar. Ofuscada inicialmente pelo brilho de estrelas como Ernâni Lopes, António Borges ou Miguel Cadilhe, o seu nome não foi dos primeiros a andar nas bocas do mundo para ocupar a cadeira principal no Ministério do Terreiro do Paço. Mas, apesar de poder parecer uma solução de recurso, Manuela Ferreira Leite tem pelo seu lado trunfos que convém não menosprezar. O facto de ser respeitada pelos pares da Academia, o que nem sempre aconteceu com os últimos ministros das Finanças, é um dos seus trunfos. Miguel Cadilhe, quando era ministro das Finanças, apresentou-a mesmo como uma das pessoas com maior potencial na Administração Pública da altura. A fama de «dura» que transporta consigo também é um trunfo num Ministério onde é preciso tratar com firmeza as tendências despesistas dos demais membros do Governo e até do primeiro-ministro. Ser mulher também pode fazer com que os seus pares a tratem com maior deferência. Por último, o facto de ser uma pessoa quase sempre de «cara séria» é igualmente um trunfo perante uma população que se habituou a confiar em governantes com essa característica, casos de Cavaco Silva ou, indo um pouco mais longe, de Ramalho Eanes. Em termos objectivos, Manuela Ferreira Leite vai ter de meter desde já mãos à obra e começar a pensar na elaboração de um Orçamento rectificativo, que funcionará, na prática, como o verdadeiro Orçamento do Estado para 2002. De resto, o diagnóstico dos problemas da economia portuguesa está feito, falta apenas começar a tomar medidas. A tão falada intuição feminina poderá ser uma óptima aliada para ajudar a escolher os melhores momentos em que deverá tomar as medidas que considerar indispensáveis para endireitar o país. Mas também o facto de ser, realmente, a actual número dois do PSD e de dispor de apoio do aparelho partidário pode ser determinante para o sucesso da sua governação. Mas, não poderá deixar de contar com a solidariedade e a compreensão dos seus colegas de Governo e, sobretudo, com o apoio incondicional do primeiro-ministro. Durão Barroso deverá reconhecer-lhe competência absoluta em matéria económica e não pôr entraves a eventuais medidas antipopulares. Também Paulo Portas e o PP terão de lhe dar o suporte necessário à prossecução de uma política económica credível, que retire Portugal do pântano para o qual resvalou. Só com uma liderança forte a este nível será possível fazer com que o país volte a ser respeitado a nível internacional, os investidores voltem a ter confiança e interesse no nosso país e os portugueses em geral voltem a acreditar no futuro e nos seus governantes. E-mail: francis@mail.expresso.pt

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6 comentários 1 a 6

1 de Abril de 2002 às 22:44

paulao ( paucar@sapo.pt )

Se esta Ferreira Leite tiver nas Finanças uma perfomance tão boa como teve na Educação no tempo do Cavaco bem podemos temer o pior.

1 de Abril de 2002 às 18:08

ramos18 ( jrcontreiras@netcabo.pt )

ZÉ LUÍS - Creio que Portas irá criar grandes problemas a Ferreira Leite porque parece ser a única pessoa que lhe poderá fazer frente.

Durão irá conciliar até ao impossível. Também concordo que o que fôr bom Portas vai tentar associá-lo ao PP e tudo o que for impopular Portas irá atirar o odioso para o PSD.

Deste "casamento forçado" parece-me que o PSD sairá muito fragilizado e o PP ainda me parece uma incógnita porque o PP é Paulo Portas e o resto "é paisagem".

Depois de passar pelo Governo não estou a ver o "Paulinho das Feiras" a beijar as vendedeiras e a prometer-lhes mundos e fundos,porque o que poderia acontecer era levar com um rabanete na cara.

30 de Março de 2002 às 20:35

Diogo Quental ( dquental@hotmail.com )

Excelente artigo.

29 de Março de 2002 às 23:13

fire_blade ( manuelfireblade@hotmail.com )

A tarefa da futura ministra até é fácil.Basta ser igual a ela própria.O País agradece.

29 de Março de 2002 às 17:54

bigorna

AS ESTRELAS SEM BRILHO

«nem tudo o que brilha é ouro».

É uma feliz escolha ...As tais estrelas das entrevistas ,dos Manifestos estão tão acomodadas nos seus previlégios que era mais que óbvio que trocavam o seu «estadão» por um lugarzinho de Ministro

29 de Março de 2002 às 11:41

Zé Luiz

É claro que Paulo Portas vai dar todo o apoio a Ferreira Leite, especialmente nas decisões impopulares: tudo o que contribua para lançar o odioso para o PPD é vantajoso para o PP.

Pelas mesmas razões é que Durão Barroso não lhe vai poder dar esse apoio: a menos que queira transformar o PPD no terceiro partido mais votado nas próximas legislativas...

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