A confiança de Manuela Ferreira Leite

08-12-2002
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A Confiança de Manuela Ferreira Leite

Quinta-feira, 05 de Dezembro de 2002 O défice é um drama para o país e uma tragédia para uma equipa económica que concentrou o essencial dos seus esforços e determinou a natureza da sua acção no seu combate Em oito meses de mandato, só por uma vez Manuela Ferreira Leite cedeu na sua inabalável confiança em travar o défice: quando, há umas semanas, reconheceu que a derrapagem das contas públicas não significava o "fim do mundo". Desde então, ficou-se a saber que as irrealistas previsões de crescimento das receitas não passavam disso mesmo, de ficções, e que a despesa em sectores problemáticos como as autarquias e o serviço nacional de saúde não paravam de crescer. Em consequência, quer o FMI, quer a OCDE ou a União Europeia reconheceram a evidência: o défice público do país deverá situar-se entre os 3,4 e os 3,6 por cento. Mas, indiferente aos oráculos, Manuela Ferreira Leite permaneceu fiel à sua fé e esta semana voltou a afirmar que ainda "não abandonou" o objectivo dos três por cento do défice. Compreende-se a posição da ministra. Pelo que se conhece da imagem pública que desenvolveu à imagem do mestre que nunca tinha dúvidas e raramente se enganava, assumir erros é para Manuela Ferreira Leite pior que engolir sapos. E deitar a toalha ao tapete, mesmo quando o "combate" parece estar resolvido, é mais grave do que receber uma crítica da Oposição. Resta-lhe, assim, a coerência de preservar as suas crenças (o momento das convicções parece estar esgotado desde o boletim das contas públicas de Outubro), manter-se até ao final no seu posto e, como o comandante do "Titanic", reconhecer o naufrágio apenas quando a água inundar a casa das máquinas. Até porque a necessidade de cultivar uma imagem de confiança não toca apenas a Manuela Ferreira Leite. Como afirmou Morais Sarmento à "Visão", o cumprimento do défice é "uma questão de honra" para o Governo, não apenas pelas miragens que promoveu, mas também pelo estilo de governação severo que consolidou. À custa do combate ao "monstro", anunciaram-se despedimentos e quadros de supranumerários na função pública, aumentaram-se impostos, geraram-se medidas imorais que mais uma vez acarinharam os relapsos dos impostos e realizaram-se cortes no investimento público tão necessários numa conjuntura de abrandamento económico. Tudo em vão, pelo menos no que aos objectivo concreto do défice (2,8 por cento do produto) diz respeito. E é por o saberem que o PS e a Oposição se remeteram a um silêncio de chumbo. Quando e se se confirmar a iminência do défice, o que será uma péssima notícia para o país, vai ser uma festa para a Oposição. É por isso normal que Manuela Ferreira Leite mostre que continua a acreditar e tente fazer com que o país acredite na sua crença. Quanto mais tarde se conhecer a realidade, mais tempo tem a ministra e o Governo para ensaiar uma saída. O défice tornou-se assim um drama para o país e uma tragédia para uma equipa económica que concentrou o essencial dos seus esforços e determinou a natureza da sua acção no seu combate. Perder esta batalha significa perder a credibilidade e é por isso que Manuela Ferreira Leite se mostra tão disposta a lutar até ao fim. Manuel Carvalho OUTROS TÍTULOS EM ESPAÇO PÚBLICO EDITORIAL

A confiança de Manuela Ferreira Leite

OPINIÃO

A caminho do Terceiro Mundo

A vez do amor

Flexibilidade

O FIO DO HORIZONTE

A vontade do poder

CARTAS AO DIRECTOR

A questão

Esposende e o crude

A Confiança de Manuela Ferreira Leite

Quinta-feira, 05 de Dezembro de 2002 O défice é um drama para o país e uma tragédia para uma equipa económica que concentrou o essencial dos seus esforços e determinou a natureza da sua acção no seu combate Em oito meses de mandato, só por uma vez Manuela Ferreira Leite cedeu na sua inabalável confiança em travar o défice: quando, há umas semanas, reconheceu que a derrapagem das contas públicas não significava o "fim do mundo". Desde então, ficou-se a saber que as irrealistas previsões de crescimento das receitas não passavam disso mesmo, de ficções, e que a despesa em sectores problemáticos como as autarquias e o serviço nacional de saúde não paravam de crescer. Em consequência, quer o FMI, quer a OCDE ou a União Europeia reconheceram a evidência: o défice público do país deverá situar-se entre os 3,4 e os 3,6 por cento. Mas, indiferente aos oráculos, Manuela Ferreira Leite permaneceu fiel à sua fé e esta semana voltou a afirmar que ainda "não abandonou" o objectivo dos três por cento do défice. Compreende-se a posição da ministra. Pelo que se conhece da imagem pública que desenvolveu à imagem do mestre que nunca tinha dúvidas e raramente se enganava, assumir erros é para Manuela Ferreira Leite pior que engolir sapos. E deitar a toalha ao tapete, mesmo quando o "combate" parece estar resolvido, é mais grave do que receber uma crítica da Oposição. Resta-lhe, assim, a coerência de preservar as suas crenças (o momento das convicções parece estar esgotado desde o boletim das contas públicas de Outubro), manter-se até ao final no seu posto e, como o comandante do "Titanic", reconhecer o naufrágio apenas quando a água inundar a casa das máquinas. Até porque a necessidade de cultivar uma imagem de confiança não toca apenas a Manuela Ferreira Leite. Como afirmou Morais Sarmento à "Visão", o cumprimento do défice é "uma questão de honra" para o Governo, não apenas pelas miragens que promoveu, mas também pelo estilo de governação severo que consolidou. À custa do combate ao "monstro", anunciaram-se despedimentos e quadros de supranumerários na função pública, aumentaram-se impostos, geraram-se medidas imorais que mais uma vez acarinharam os relapsos dos impostos e realizaram-se cortes no investimento público tão necessários numa conjuntura de abrandamento económico. Tudo em vão, pelo menos no que aos objectivo concreto do défice (2,8 por cento do produto) diz respeito. E é por o saberem que o PS e a Oposição se remeteram a um silêncio de chumbo. Quando e se se confirmar a iminência do défice, o que será uma péssima notícia para o país, vai ser uma festa para a Oposição. É por isso normal que Manuela Ferreira Leite mostre que continua a acreditar e tente fazer com que o país acredite na sua crença. Quanto mais tarde se conhecer a realidade, mais tempo tem a ministra e o Governo para ensaiar uma saída. O défice tornou-se assim um drama para o país e uma tragédia para uma equipa económica que concentrou o essencial dos seus esforços e determinou a natureza da sua acção no seu combate. Perder esta batalha significa perder a credibilidade e é por isso que Manuela Ferreira Leite se mostra tão disposta a lutar até ao fim. Manuel Carvalho OUTROS TÍTULOS EM ESPAÇO PÚBLICO EDITORIAL

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O FIO DO HORIZONTE

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