Suplemento Pública

21-06-2003
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ÁLVARO MONTEIRO

Por OS INCÊNDIOS COMBATEM-SE DE FRENTE

Segunda-feira, 02 de Junho de 2003 Páraquedista na Guerra Colonial, pescador de margem de nível mundial, bombeiro há 37 anos.Gosta do fumo, da violência do calor. De estar frente a ele. Com o seu instinto agudo do perigo, Álvaro Monteiro foi o primeiro a perceber a velocidade a que o fogo vinha pela encosta acima. - Vamos embora! Todos para o carro, já!, gritou para os cinco rapazes dos Bombeiros Voluntários da Sertã que chefiava naquele momento. Eles ouviram a ordem com alívio e deixaram num ápice o que estavam a fazer. Trinta metros ao lado, na mesma estrada de Roqueiros que estavam a utilizar para suster a chamas, um pronto-socorro dos Voluntários de Oleiros e cinco homens continuavam a preparar a chegada iminente do incêndio. - Saiam daí!, foi-lhes dizer Álvaro antes de partir. - O fogo vai passar a estrada, não o seguramos. Os de Oleiros não lhe disseram que estava errado. Mas, talvez por entre eles estar o comandante da coorporação, o sub-comandante e um bombeiro de 1ª classe, não quiseram fugir a toque de caixa e puseram-se a recolher as mangueiras e a preparar uma retirada ordenada, digna. O mar de labaredas é que progredia velozmente. Tocado pelo vento, com um pequeno vale profundo num dos extremos da encosta a fazer de chaminé, o incêndio depressa passou a estrada, tornou-se redondo, envolveu tudo. - Meu dito, meu feito, disse Álvaro já de longe, a ver o garrote das chamas apertar o jipe de Oleiros. Estamos nos primeiros dias de Julho de 1975. O animal foge sempre do fogo, mas os homens deslumbram-se com florestas a arder. Uns, poucos, ateiam-no; outros têm a paixão de o apagar. Esses desejam florestas eternas, muito verdes, pinheiros e eucaliptos a perder de vista. Mas quando se aproxima a época dos incêndios sofrem dos sintomas dos caçadores: ansiedade, excitação, nervoso miudinho. Gostam de estar junto ao fogo, de sentir a opressão do seu calor, de descobrir a melhor forma de lhe dar luta. Adoram vencê-lo e, depois, pisarem lentamente a devastação e as cinzas com as botas cardadas. "Vamos lá ver se este ano não há muitos incêndios", dizem na Primavera. E, lá dentro, moidinhos de vício. Mortos por vestirem o fato-de-macaco e irem dar luta a um fogo bem grande, pela floresta fora. - Os fogos combatem-se de frente, ensina Álvaro Monteiro aos jovens bombeiros que prestam serviço nos voluntários da Sertã, concelho encravado na zona do pinhal, em pleno centro de Portugal. É adjunto do comandante Manuel Oliveira, um bombeiro audacioso e carismático que entrava como um furacão nas matas a arder, de barba e longo cabelo ao vento, olhos a chispar e um certo ar de Sandokan dos fogos, até que um acidente de helicóptero em1985 o deixou paraplégico. Continua a comandar os Voluntários da Sertã, mas teve de ceder a liderança nas linhas de fogo. - O meu adjunto vai a todo o lado onde eu ia, garante o comandante Oliveira. - Onde ele não for, não vai ninguém. Juntos foram dos principais adversários da Escola Nacional de Bombeiros, a qual defendia que os fogos devem ser apagados pelos flancos, tentando estreitar-lhe a frente até à extinção, porque o combate pela cabeça é demasiado perigoso. - Os touros, de cernelha, só os pegam cobardes e rabejadores, ensina Álvaro Monteiro nas salas do quartel. - À cabeça! Pela cabeça é que é! Com cuidado, claro!: às vezes é preciso ter coragem para assumir que não é possível segurar um fogo numa encosta, a subir, em frente a ele. E então? O que é que se faz nessa altura? - O maior erro é fugir à frente dele, sustenta o adjunto da Sertã. - Deve-se ir de lado, depois de observar qual é o lado que avança mais lentamente. Se ele nos apanha, então é preciso pensar. Evitar o pânico. Certa vez em 1992, quando lavrava um incêndio em Proença-a-Nova, arrancou num helicóptero com um balde 500 litros e uma brigada de cinco elementos. Largados à frente do fogo, Álvaro, que levava um rádio e tinha as funções de coordenação aérea, foi descendo a encosta e dando instruções para que os helis e o avião largassem baldes de água nos sítios certos. Aproximou-se talvez de mais. De súbito, as chamas mais altas correram na sua direcção. Ainda tentou fugir na perpendicular, mas o vento mudou de direcção. Acelerou. E viu uma pequena clareira, com uma colmeia. Então não hesitou: nos minutos que lhe restavam - e que não chegariam para chegar ao cimo do monte - ateou com um isqueiro uma espécie de linha de contra-fogo a partir do limite da clareira. E meteu-se no meio dela, de pé, com o lenço no nariz. Passado pouco tempo estava cercado pelo incêndio, a levar com calor a sério e a comer fumo como gente grande. Lá em cima o piloto do helicóptero afligia-se por não o ver. - Álvaro!! Onde estás?!, perguntava pelo rádio. - No meio da clareira. - Estás a brincar!!, alarmou-se. - Escuta, vou-te mandar uma 'caldeirada' para arrefeceres. O sub-comandante morria de calor, estava meio sufocado pelo fumo, mas encontrou ânimo para não dar parte fraca e recusar os 500 litros que lhe ofereciam do ar. - Não faças isso, ordenou. - Continua a trabalhar. Eu cá estou bem. Álvaro Monteiro, casado, duas filhas, é bombeiro voluntário desde 1966, mas a sua verdadeira prova de fogo iniciou-se em Março de 1970 quando chegou à cidade da Beira, Moçambique, como páraquedista. Foram 13 meses de intervenções operacionais, muitos saltos, muitos combates. Disparou rajadas sem conta, uma bala atingiu-o numa perna. "Fisicamente, foi só isso", diz. "Psicologicamente, não vim de lá incólume. Ninguém veio". Em Fevereiro de 1973 deixa a tropa e faz o curso de assistente administrativo para as Casas do Povo, onde pouco depois começa a prestar serviço. Entre 1976 e 1985 é eleito deputado municipal pelo PCP/APU, sendo nesse período o único eleito comunista em todos os concelhos da zona do pinhal. É a essa circunstância, aliás, que atribui o processo disciplinar que lhe moveram e que culminou com o seu despedimento em 1985: "Não tenho qualquer dúvida em qualificar o que me sucedeu como um saneamento político". Concorre depois a vigilante e guarda-nocturno da Escola C+S da Sertã, hoje EB 2.3 Pr. António Lourenço Farinha, em cujos quadros se encontra até hoje. Abandona entretanto o PCP, é eleito em 1993 deputado municipal pelo PS e, anos depois, filia-se neste partido. Ao longo de todos estes anos foi sempre fazendo cursos de formação como bombeiro voluntário, incluindo o de coordenação aérea. Mas este não é o seu único "hobby": pratica também pesca de competição de margem e já fez parte da selecção nacional portuguesa em dois campeonatos do mundo, obtendo o 9º lugar nos sectores onde ficou. Participa, neste momento, na organização do próximo campeonato do mundo de pesca de achigã na Barragem do Cabril. Regresso a 1975, a Roqueiros. Álvaro Monteiro olha para o pronto-socorro de Oleiros rodeado pelas chamas. Os cinco homens meteram-se dentro dele - e lá estão, estupidamente. - Vão morrer, pragueja. E toma a decisão de lá ir. Grita a um dos seus bombeiros, um rapazote de 17 anos: - António! Vem comigo. O rapaz, chamado António Vermelho Martins, segue-o a achar que ele não vai fazer aquilo que parece querer fazer. Porém, quando o vê enfiar o capacete e meter-se pelo flanco do fogo, conclui que tem de haver ali uma qualquer facilidade, certamente óbvia, mas que lhe está a escapar - e mete-se também para dentro das chamas. Em três minutos estão junto ao jipe. Lá dentro permanecem os cinco homens fechados, a sufocarem. Batem nas portas, nos vidros, gritam. Nada adianta: estão paralisados pelo pânico. - Liga a bomba da água, grita então Álvaro ao motorista, batendo desesperadamente no vidro. - Liga a bomba, caralho! O outro lá consegue reagir, e liga-a. Álvaro entrega uma mangueira ao rapaz e vai para o outro lado do jipe. Ali ficam os dois um quarto de hora bem duro, a esvaziarem 3500 litros sobre as chamas que os atacam. Um calor infernal, a força das chamas a empurrá-los. Num momento pior molham-se a eles próprios, mas, depois, com a evaporação, sentem-se cozer. É horrível. Pouco a pouco, porém, passa o pior. O coração do fogo já não bate na estrada onde estão, sobe encosta a cima. António, o jovem, está exausto e não diz palavra. E Álvaro, batendo com a luva na chapa escaldante do jipe, parece um despertador a acordar do pesadelo. - Vá, saiam, diz para dentro do pronto-socorro. - Esta merda já acabou. Ficha Gritar para dar ânimo aos da primeira linha Nome Álvaro Monteiro Nascimento Sertã, 27 de Janeiro de 1944 Início da actividade 17 de Maio de 1966, nos Bombeiros Voluntários da Sertã O que mais gosta no combate aos fogos? Estar na linha de fogo, no combate directo. Sentir o calor do fogo, o cheiro do fumo, ver as chamas serem apagadas palmo a palmo. Refilar, gritar para dar ânimo áqueles que combatem na primeira linha, fazê-los sentir que estão acompanhados por alguém experiente para o melhor ou para o pior. Qual o maior risco que já correu? Foram dois. 1975, em Roqueiro, Oleiros: o salvamento de uma viatura com cinco homens de Oleiros cercada pelo fogo. 1992, Serra de Santa Maria Madalena/São Macário: queda pelo telhado da capela destes santos abaixo, com iminência de um "salto" de cerca de 20 metros. Que risco nunca voltaria a correr? Andar a apagar um fogo num telhado, molhar as telhas na passagem e escorregar nelas no regresso. É um erro que só se comete uma vez na vida. Um conselho para situações de alto perigo: Calma. Calma. Calma. Pensar. OUTROS TÍTULOS EM PÚBLICA

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Segunda-feira, 02 de Junho de 2003 Páraquedista na Guerra Colonial, pescador de margem de nível mundial, bombeiro há 37 anos.Gosta do fumo, da violência do calor. De estar frente a ele. Com o seu instinto agudo do perigo, Álvaro Monteiro foi o primeiro a perceber a velocidade a que o fogo vinha pela encosta acima. - Vamos embora! Todos para o carro, já!, gritou para os cinco rapazes dos Bombeiros Voluntários da Sertã que chefiava naquele momento. Eles ouviram a ordem com alívio e deixaram num ápice o que estavam a fazer. Trinta metros ao lado, na mesma estrada de Roqueiros que estavam a utilizar para suster a chamas, um pronto-socorro dos Voluntários de Oleiros e cinco homens continuavam a preparar a chegada iminente do incêndio. - Saiam daí!, foi-lhes dizer Álvaro antes de partir. - O fogo vai passar a estrada, não o seguramos. Os de Oleiros não lhe disseram que estava errado. Mas, talvez por entre eles estar o comandante da coorporação, o sub-comandante e um bombeiro de 1ª classe, não quiseram fugir a toque de caixa e puseram-se a recolher as mangueiras e a preparar uma retirada ordenada, digna. O mar de labaredas é que progredia velozmente. Tocado pelo vento, com um pequeno vale profundo num dos extremos da encosta a fazer de chaminé, o incêndio depressa passou a estrada, tornou-se redondo, envolveu tudo. - Meu dito, meu feito, disse Álvaro já de longe, a ver o garrote das chamas apertar o jipe de Oleiros. Estamos nos primeiros dias de Julho de 1975. O animal foge sempre do fogo, mas os homens deslumbram-se com florestas a arder. Uns, poucos, ateiam-no; outros têm a paixão de o apagar. Esses desejam florestas eternas, muito verdes, pinheiros e eucaliptos a perder de vista. Mas quando se aproxima a época dos incêndios sofrem dos sintomas dos caçadores: ansiedade, excitação, nervoso miudinho. Gostam de estar junto ao fogo, de sentir a opressão do seu calor, de descobrir a melhor forma de lhe dar luta. Adoram vencê-lo e, depois, pisarem lentamente a devastação e as cinzas com as botas cardadas. "Vamos lá ver se este ano não há muitos incêndios", dizem na Primavera. E, lá dentro, moidinhos de vício. Mortos por vestirem o fato-de-macaco e irem dar luta a um fogo bem grande, pela floresta fora. - Os fogos combatem-se de frente, ensina Álvaro Monteiro aos jovens bombeiros que prestam serviço nos voluntários da Sertã, concelho encravado na zona do pinhal, em pleno centro de Portugal. É adjunto do comandante Manuel Oliveira, um bombeiro audacioso e carismático que entrava como um furacão nas matas a arder, de barba e longo cabelo ao vento, olhos a chispar e um certo ar de Sandokan dos fogos, até que um acidente de helicóptero em1985 o deixou paraplégico. Continua a comandar os Voluntários da Sertã, mas teve de ceder a liderança nas linhas de fogo. - O meu adjunto vai a todo o lado onde eu ia, garante o comandante Oliveira. - Onde ele não for, não vai ninguém. Juntos foram dos principais adversários da Escola Nacional de Bombeiros, a qual defendia que os fogos devem ser apagados pelos flancos, tentando estreitar-lhe a frente até à extinção, porque o combate pela cabeça é demasiado perigoso. - Os touros, de cernelha, só os pegam cobardes e rabejadores, ensina Álvaro Monteiro nas salas do quartel. - À cabeça! Pela cabeça é que é! Com cuidado, claro!: às vezes é preciso ter coragem para assumir que não é possível segurar um fogo numa encosta, a subir, em frente a ele. E então? O que é que se faz nessa altura? - O maior erro é fugir à frente dele, sustenta o adjunto da Sertã. - Deve-se ir de lado, depois de observar qual é o lado que avança mais lentamente. Se ele nos apanha, então é preciso pensar. Evitar o pânico. Certa vez em 1992, quando lavrava um incêndio em Proença-a-Nova, arrancou num helicóptero com um balde 500 litros e uma brigada de cinco elementos. Largados à frente do fogo, Álvaro, que levava um rádio e tinha as funções de coordenação aérea, foi descendo a encosta e dando instruções para que os helis e o avião largassem baldes de água nos sítios certos. Aproximou-se talvez de mais. De súbito, as chamas mais altas correram na sua direcção. Ainda tentou fugir na perpendicular, mas o vento mudou de direcção. Acelerou. E viu uma pequena clareira, com uma colmeia. Então não hesitou: nos minutos que lhe restavam - e que não chegariam para chegar ao cimo do monte - ateou com um isqueiro uma espécie de linha de contra-fogo a partir do limite da clareira. E meteu-se no meio dela, de pé, com o lenço no nariz. Passado pouco tempo estava cercado pelo incêndio, a levar com calor a sério e a comer fumo como gente grande. Lá em cima o piloto do helicóptero afligia-se por não o ver. - Álvaro!! Onde estás?!, perguntava pelo rádio. - No meio da clareira. - Estás a brincar!!, alarmou-se. - Escuta, vou-te mandar uma 'caldeirada' para arrefeceres. O sub-comandante morria de calor, estava meio sufocado pelo fumo, mas encontrou ânimo para não dar parte fraca e recusar os 500 litros que lhe ofereciam do ar. - Não faças isso, ordenou. - Continua a trabalhar. Eu cá estou bem. Álvaro Monteiro, casado, duas filhas, é bombeiro voluntário desde 1966, mas a sua verdadeira prova de fogo iniciou-se em Março de 1970 quando chegou à cidade da Beira, Moçambique, como páraquedista. Foram 13 meses de intervenções operacionais, muitos saltos, muitos combates. Disparou rajadas sem conta, uma bala atingiu-o numa perna. "Fisicamente, foi só isso", diz. "Psicologicamente, não vim de lá incólume. Ninguém veio". Em Fevereiro de 1973 deixa a tropa e faz o curso de assistente administrativo para as Casas do Povo, onde pouco depois começa a prestar serviço. Entre 1976 e 1985 é eleito deputado municipal pelo PCP/APU, sendo nesse período o único eleito comunista em todos os concelhos da zona do pinhal. É a essa circunstância, aliás, que atribui o processo disciplinar que lhe moveram e que culminou com o seu despedimento em 1985: "Não tenho qualquer dúvida em qualificar o que me sucedeu como um saneamento político". Concorre depois a vigilante e guarda-nocturno da Escola C+S da Sertã, hoje EB 2.3 Pr. António Lourenço Farinha, em cujos quadros se encontra até hoje. Abandona entretanto o PCP, é eleito em 1993 deputado municipal pelo PS e, anos depois, filia-se neste partido. Ao longo de todos estes anos foi sempre fazendo cursos de formação como bombeiro voluntário, incluindo o de coordenação aérea. Mas este não é o seu único "hobby": pratica também pesca de competição de margem e já fez parte da selecção nacional portuguesa em dois campeonatos do mundo, obtendo o 9º lugar nos sectores onde ficou. Participa, neste momento, na organização do próximo campeonato do mundo de pesca de achigã na Barragem do Cabril. Regresso a 1975, a Roqueiros. Álvaro Monteiro olha para o pronto-socorro de Oleiros rodeado pelas chamas. Os cinco homens meteram-se dentro dele - e lá estão, estupidamente. - Vão morrer, pragueja. E toma a decisão de lá ir. Grita a um dos seus bombeiros, um rapazote de 17 anos: - António! Vem comigo. O rapaz, chamado António Vermelho Martins, segue-o a achar que ele não vai fazer aquilo que parece querer fazer. Porém, quando o vê enfiar o capacete e meter-se pelo flanco do fogo, conclui que tem de haver ali uma qualquer facilidade, certamente óbvia, mas que lhe está a escapar - e mete-se também para dentro das chamas. Em três minutos estão junto ao jipe. Lá dentro permanecem os cinco homens fechados, a sufocarem. Batem nas portas, nos vidros, gritam. Nada adianta: estão paralisados pelo pânico. - Liga a bomba da água, grita então Álvaro ao motorista, batendo desesperadamente no vidro. - Liga a bomba, caralho! O outro lá consegue reagir, e liga-a. Álvaro entrega uma mangueira ao rapaz e vai para o outro lado do jipe. Ali ficam os dois um quarto de hora bem duro, a esvaziarem 3500 litros sobre as chamas que os atacam. Um calor infernal, a força das chamas a empurrá-los. Num momento pior molham-se a eles próprios, mas, depois, com a evaporação, sentem-se cozer. É horrível. Pouco a pouco, porém, passa o pior. O coração do fogo já não bate na estrada onde estão, sobe encosta a cima. António, o jovem, está exausto e não diz palavra. E Álvaro, batendo com a luva na chapa escaldante do jipe, parece um despertador a acordar do pesadelo. - Vá, saiam, diz para dentro do pronto-socorro. - Esta merda já acabou. Ficha Gritar para dar ânimo aos da primeira linha Nome Álvaro Monteiro Nascimento Sertã, 27 de Janeiro de 1944 Início da actividade 17 de Maio de 1966, nos Bombeiros Voluntários da Sertã O que mais gosta no combate aos fogos? Estar na linha de fogo, no combate directo. Sentir o calor do fogo, o cheiro do fumo, ver as chamas serem apagadas palmo a palmo. Refilar, gritar para dar ânimo áqueles que combatem na primeira linha, fazê-los sentir que estão acompanhados por alguém experiente para o melhor ou para o pior. Qual o maior risco que já correu? Foram dois. 1975, em Roqueiro, Oleiros: o salvamento de uma viatura com cinco homens de Oleiros cercada pelo fogo. 1992, Serra de Santa Maria Madalena/São Macário: queda pelo telhado da capela destes santos abaixo, com iminência de um "salto" de cerca de 20 metros. Que risco nunca voltaria a correr? Andar a apagar um fogo num telhado, molhar as telhas na passagem e escorregar nelas no regresso. É um erro que só se comete uma vez na vida. Um conselho para situações de alto perigo: Calma. Calma. Calma. Pensar. OUTROS TÍTULOS EM PÚBLICA

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JOÃO GARCIA

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