Exposição "Jardins Suspensos" torna Museu do Douro irreversível

22-04-2004
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Exposição "Jardins Suspensos" Torna Museu do Douro Irreversível

Sábado, 13 de Dezembro de 2003 Depois de anos de hesitações e resistências políticas, o Museu do Douro dá os seus primeiros passos concretos com a exposição "Jardins Suspensos", que será inaugurada amanhã. Falta ainda assinar a escritura da compra da Casa da Companhia, na Régua, e a criação de uma fundação que juntará o Estado e privados para gerir a nova estrutura à imagem de Serralves para que o Douro tenha o seu museu virado. Por Pedro Garcias Quem, na passada quarta-feira, visse o ambiente de estaleiro que estava instalado no chamado Armazém 43, na Régua, não acreditaria ser possível inaugurar amanhã a exposição "Jardins Suspensos", que marca a consagração no terreno do Museu do Douro. Mas vai estar tudo pronto a tempo e horas. O que amanhã, pelas 15h00, vai ser mostrado ao público e a uma pequena equipa de governantes, liderada pelo ministro da Cultura, Pedro Roseta, é a representação simbólica da região vinhateira duriense, desde a geografia até à última etapa do ciclo do vinho, que culmina com a venda do produto. Mas é também uma prefiguração da exposição permanente que se pretende instalar no futuro edifício-sede do Museu do Douro, a Casa da Companhia, na Régua, propriedade da Real Companhia Velha. A venda deste edifício emblemático da história do Douro ao Ministério da Cultura já está acordada, mas a escritura ainda não foi feita, porque falta a assinatura da ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite. Só depois da escritura feita é que pode ser formalizada a constituição da Fundação Museu do Douro, que vai gerir a nova estrutura em moldes semelhantes aos do Museu de Serralves, no Porto. O grupo principal de fundadores já está definido, bem como a verba anual necessária para o funcionamento do museu: cerca de um milhão de euros, metade dos quais será assegurada pelo Ministério da Cultura. Seja como for, a instalação do Museu do Douro é irreversível. Depois das reservas que o ex-ministro da Cultura do Governo socialista Manuel Maria Carrilho colocou ao museu, os dois últimos titulares da pasta, Augusto Santos Silva, do PS, e, já no actual Governo, Pedro Roseta, assumiram o projecto como um desígnio nacional. Afinal de contas, o Douro representa para o país muito mais do que a soma dos votos dos seus habitantes. A importância que o negócio do vinho, em especial o do vinho do Porto, teve e continua a ter na economia nacional reduz o investimento estatal na criação de um museu da região no Douro a pouco mais do que um doce. Desde logo porque, tirando o solar do vinho do Porto, na Régua, inaugurado este ano, nada mais existe na região que permita aos turistas que a visitam saber um pouco da sua história e das razões que levaram a UNESCO, no dia 14 de Dezembro de 2001, a classificar o Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial, segundos critérios da "da autenticidade, integridade e excelência". A paisagem monumental do Douro impressiona por si só, mas por trás daquele "jardim suspenso" há uma longa e épica história. E é essa história que o Museu do Douro pretende dar a conhecer, na intenção de homenagear aqueles que a construíram e ajudar a aumentar a auto-estima e o bem-estar dos que lá vivem, na esperança de que as futuras gerações "venham a herdar um património ainda melhor", explica Gaspar Martins Pereira, o Encarregado de Missão do Museu do Douro. Ao contrário dos museus convencionais, o Museu do Douro não se resumirá a uma colecção de objectos instalada num edifício. Neste caso, a colecção é o próprio território (ver texto ao lado). "A peça aqui é um cesto de vindima ou um socalco", explica Teresa Soeiro, a chefe de projecto do museu. Por isso, quem visitar a exposição "Jardins Suspensos" não deve ir à espera de encontrar peças raras e valiosas, como quadros ou serviços de louça seculares. Seria fácil reunir um espólio dessa natureza, já que ele existe espalhado por inúmeras quintas. Mas, para um museu do território, como pretende ser o Museu do Douro, o que importa é expor e salvaguardar os elementos que estão associados à construção do território duriense e que a UNESCO consagrou como uma "paisagem cultural evolutiva e viva". São elementos como o ferro de desmonte, a marreta, a enxada, a pedra, as plantas, os animais, as árvores, os muros, o rio, as artes de pesca, os barcos, os arrais, a cozinha tradicional, a vinha, os marcos pombalinos, as vindimadeiras, os podadores, os enxertadores , a enxofradeira, a torpilha, o lagar, a prensa, o armazém, os tonéis, as garrafas... A ideia para esta exposição - que vai estar patente durante um ano - é mostrar o "Douro comum", explica Teresa Soeiro. O Douro que está em mudança contínua, desde os sistemas de plantações, aos equipamentos utilizados, e onde objectos tão triviais como uma torpilha de fole, utilizado para deitar enxofre nas vinhas, começam a tornar-se verdadeiras raridades. O que a exposição tenta mostrar, quer através de fotografias, vídeos, sons e cheiros, quer através de objectos e documentos, é a forma como a paisagem duriense foi e continua a ser produzida. Seguindo um roteiro que começa com a representação das condições naturais e históricas que influíram na formação da paisagem, o visitante vai sendo confrontado com a imagem tradicional e actual da região. Desde a terra às instituições reguladoras da região, passando pelo rio, o homem, a vinha e o vinho e as outras formas de "viver e saber fazer", a exposição recupera o percurso da actividade vitivinícola, traduzindo "a realidade de uma região demarcada e regulamentada que, desde cedo, se integrou no mercado mundial dos vinhos", como resume Gaspar Martins Pereira. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Exposição "Jardins Suspensos" torna Museu do Douro irreversível

Um armazém com história

Os tesouros da mostra

Exposição "Jardins Suspensos" Torna Museu do Douro Irreversível

Sábado, 13 de Dezembro de 2003 Depois de anos de hesitações e resistências políticas, o Museu do Douro dá os seus primeiros passos concretos com a exposição "Jardins Suspensos", que será inaugurada amanhã. Falta ainda assinar a escritura da compra da Casa da Companhia, na Régua, e a criação de uma fundação que juntará o Estado e privados para gerir a nova estrutura à imagem de Serralves para que o Douro tenha o seu museu virado. Por Pedro Garcias Quem, na passada quarta-feira, visse o ambiente de estaleiro que estava instalado no chamado Armazém 43, na Régua, não acreditaria ser possível inaugurar amanhã a exposição "Jardins Suspensos", que marca a consagração no terreno do Museu do Douro. Mas vai estar tudo pronto a tempo e horas. O que amanhã, pelas 15h00, vai ser mostrado ao público e a uma pequena equipa de governantes, liderada pelo ministro da Cultura, Pedro Roseta, é a representação simbólica da região vinhateira duriense, desde a geografia até à última etapa do ciclo do vinho, que culmina com a venda do produto. Mas é também uma prefiguração da exposição permanente que se pretende instalar no futuro edifício-sede do Museu do Douro, a Casa da Companhia, na Régua, propriedade da Real Companhia Velha. A venda deste edifício emblemático da história do Douro ao Ministério da Cultura já está acordada, mas a escritura ainda não foi feita, porque falta a assinatura da ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite. Só depois da escritura feita é que pode ser formalizada a constituição da Fundação Museu do Douro, que vai gerir a nova estrutura em moldes semelhantes aos do Museu de Serralves, no Porto. O grupo principal de fundadores já está definido, bem como a verba anual necessária para o funcionamento do museu: cerca de um milhão de euros, metade dos quais será assegurada pelo Ministério da Cultura. Seja como for, a instalação do Museu do Douro é irreversível. Depois das reservas que o ex-ministro da Cultura do Governo socialista Manuel Maria Carrilho colocou ao museu, os dois últimos titulares da pasta, Augusto Santos Silva, do PS, e, já no actual Governo, Pedro Roseta, assumiram o projecto como um desígnio nacional. Afinal de contas, o Douro representa para o país muito mais do que a soma dos votos dos seus habitantes. A importância que o negócio do vinho, em especial o do vinho do Porto, teve e continua a ter na economia nacional reduz o investimento estatal na criação de um museu da região no Douro a pouco mais do que um doce. Desde logo porque, tirando o solar do vinho do Porto, na Régua, inaugurado este ano, nada mais existe na região que permita aos turistas que a visitam saber um pouco da sua história e das razões que levaram a UNESCO, no dia 14 de Dezembro de 2001, a classificar o Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial, segundos critérios da "da autenticidade, integridade e excelência". A paisagem monumental do Douro impressiona por si só, mas por trás daquele "jardim suspenso" há uma longa e épica história. E é essa história que o Museu do Douro pretende dar a conhecer, na intenção de homenagear aqueles que a construíram e ajudar a aumentar a auto-estima e o bem-estar dos que lá vivem, na esperança de que as futuras gerações "venham a herdar um património ainda melhor", explica Gaspar Martins Pereira, o Encarregado de Missão do Museu do Douro. Ao contrário dos museus convencionais, o Museu do Douro não se resumirá a uma colecção de objectos instalada num edifício. Neste caso, a colecção é o próprio território (ver texto ao lado). "A peça aqui é um cesto de vindima ou um socalco", explica Teresa Soeiro, a chefe de projecto do museu. Por isso, quem visitar a exposição "Jardins Suspensos" não deve ir à espera de encontrar peças raras e valiosas, como quadros ou serviços de louça seculares. Seria fácil reunir um espólio dessa natureza, já que ele existe espalhado por inúmeras quintas. Mas, para um museu do território, como pretende ser o Museu do Douro, o que importa é expor e salvaguardar os elementos que estão associados à construção do território duriense e que a UNESCO consagrou como uma "paisagem cultural evolutiva e viva". São elementos como o ferro de desmonte, a marreta, a enxada, a pedra, as plantas, os animais, as árvores, os muros, o rio, as artes de pesca, os barcos, os arrais, a cozinha tradicional, a vinha, os marcos pombalinos, as vindimadeiras, os podadores, os enxertadores , a enxofradeira, a torpilha, o lagar, a prensa, o armazém, os tonéis, as garrafas... A ideia para esta exposição - que vai estar patente durante um ano - é mostrar o "Douro comum", explica Teresa Soeiro. O Douro que está em mudança contínua, desde os sistemas de plantações, aos equipamentos utilizados, e onde objectos tão triviais como uma torpilha de fole, utilizado para deitar enxofre nas vinhas, começam a tornar-se verdadeiras raridades. O que a exposição tenta mostrar, quer através de fotografias, vídeos, sons e cheiros, quer através de objectos e documentos, é a forma como a paisagem duriense foi e continua a ser produzida. Seguindo um roteiro que começa com a representação das condições naturais e históricas que influíram na formação da paisagem, o visitante vai sendo confrontado com a imagem tradicional e actual da região. Desde a terra às instituições reguladoras da região, passando pelo rio, o homem, a vinha e o vinho e as outras formas de "viver e saber fazer", a exposição recupera o percurso da actividade vitivinícola, traduzindo "a realidade de uma região demarcada e regulamentada que, desde cedo, se integrou no mercado mundial dos vinhos", como resume Gaspar Martins Pereira. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Exposição "Jardins Suspensos" torna Museu do Douro irreversível

Um armazém com história

Os tesouros da mostra

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