Novo fôlego para Ferro Rodrigues

25-06-2004
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Novo Fôlego para Ferro Rodrigues

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Segunda-feira, 14 de Junho de 2004

Ferro Rodrigues ganhou um novo fôlego para a liderança do PS. O resultado que o partido ontem obteve, percentualmente o melhor de sempre (44,5 por cento, o que resultou na eleição de 12 eurodeputados), fê-lo anunciar que no próximo congresso será de novo candidato a secretário-geral dos socialistas.

A sala do Altis onde fez o anúncio irrompeu em aplausos. Entre as dezenas de pessoas que foram assistir ao discurso da vitória pronunciado pelo líder socialista encontrava-se Matilde Sousa Franco, a quem Ferro dedicou a vitória. No pequeno palco onde se encontrava o púlpito foi colocado ao princípio da noite um retrato de António Sousa Franco. "Esta vitória não apaga a dor", disse Ferro Rodrigues, para quem o cabeça de lista "teve um papel-chave" no resultado eleitoral.

A declaração de Ferro reafirmando a sua disponibilidade para liderar o partido - reforçada numa segunda declaração com o apelo para que não haja "unanimismos" no congresso - surgiu como aparente resposta ao jogo de sombras que ao longo da noite se foi desenvolvendo no Altis. Ferro, recorde-se, estava mais uma vez em estado de tabu, admitindo-se mesmo no seu círculo restrito que poderia bater com a porta.

Um dos protagonistas desse jogo de sombras, porventura o principal, foi José Sócrates, deputado e membro do secretariado nacional, que recusou sempre, em sucessivas declarações, dizer se Ferro Rodrigues tinha ou não condições reforçadas para liderar o partido. "Não importa o que o PS fará com esta vitória. O que interessa é o que o Governo fará com a derrota." Sócrates considerou que a vitória do PS "também é de Ferro Rodrigues", mas sublinhando sempre ser essencialmente de "todo o PS" e ainda do próprio Sousa Franco, que foi "exímio a dar a voz ao descontentamento". "O PS fica a dever-lhe grande parte desta vitória." José Sócrates parece em rota de descolagem em relação à direcção, especulando-se mesmo sobre a possibilidade de no próximo congresso protagonizar uma candidatura à liderança. O bom resultado de ontem aguça os apetites pela liderança na medida em que "diz" que é possível bater a coligação nas próximas eleições legislativas.

António Costa também foi dos que se escusaram a dizer se Ferro vira ou não reforçadas as suas condições de liderança. Quando questionado sobre o assunto, fugiu: "O que preocupa hoje os portugueses não é o PS - é Portugal." Quando chegou a sua vez de falar, Ferro Rodrigues decidiu, em relação a Costa, não responder na mesma moeda, dedicando-lhe uma "palavra especial" de elogio à "notável campanha" que protagonizou. A sala aplaudiu bastante, forçando o líder a interromper o discurso. Entre a assistência encontrava-se Manuel Maria Carrilho. O ex-ministro da Cultura - que quer ser candidato a Lisboa nas próximas autárquicas - aproveitou a noite de vitória para se "religar" a Ferro, dizendo que o secretário-geral do PS "tem condições para assegurar um novo ciclo vitorioso" para o partido.

Àparte estas movimentações, a noite foi de alegria para os socialistas. A primeira reacção oficial foi do porta-voz do partido, Vieira da Silva, ainda não se conheciam as previsões. "Esta sobrevalorização da abstenção [feita por Carlos Coelho em nome da coligação 'Força Portugal!'] é um discurso de derrota antecipada."

O discurso final coube, como é óbvio, a Ferro Rodrigues - que não esperou pelo discurso da derrota de Durão Barroso. O secretário-geral fez o discurso que se esperava. "Hoje várias coisas ficaram claras: [por exemplo] que quem tem a maioria na Assembleia da República não tem a confiança da maioria do povo português." Ferro nomeou Durão Barroso como o "principal responsável" pela derrota da coligação PS/CDS-PP, considerando ainda que o Executivo foi "fortemente deslegitimado" nas suas políticas. Para Ferro ficou também "claro que o país não quer mais discursos sobre o passado", pelo contrário, até "valoriza a herança do PS". Além do mais, acrescentou, o país "rejeita" a política de Portugal face à guerra no Iraque, bem como, no plano interno, "o peso excessivo da direita mais à direita no Governo". "Foi a primeira vez que o PS venceu a direita unida. Não será a última."

Ferro saiu do Altis completamente reforçado na sua liderança. O PS obteve o seu melhor resultado percentual de sempre. E, além do mais, foi dos partidos socialistas e sociais-democratas europeus o que mais alto "score" obteve.

CAIXA

$"Absolutamente repugnantes"

Foi assim, com esta expressão - "absolutamente repugnantes" - que Ferro Rodrigues qualificou os acontecimentos de quarta-feira na lota de Matosinhos, após os quais Sousa Franco morreu, vítima de ataque cardíaco. O líder socialista prometeu que haverá consequências, algo que poderá já começar a ocorrer na próxima terça-feira, numa reunião da comissão política nacional.

Hoje reunirá a comissão política distrital do Porto, prevendo-se que a ideia do líder da federação, Francisco Assis, seja a de recusar confiança política tanto a Narciso Miranda como a Manuel Seabra para serem candidatos do partido à câmara de Matosinhos, ambição que ambos disputam. Admitem-se também consequências disciplinares para um e outro.

Novo Fôlego para Ferro Rodrigues

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Segunda-feira, 14 de Junho de 2004

Ferro Rodrigues ganhou um novo fôlego para a liderança do PS. O resultado que o partido ontem obteve, percentualmente o melhor de sempre (44,5 por cento, o que resultou na eleição de 12 eurodeputados), fê-lo anunciar que no próximo congresso será de novo candidato a secretário-geral dos socialistas.

A sala do Altis onde fez o anúncio irrompeu em aplausos. Entre as dezenas de pessoas que foram assistir ao discurso da vitória pronunciado pelo líder socialista encontrava-se Matilde Sousa Franco, a quem Ferro dedicou a vitória. No pequeno palco onde se encontrava o púlpito foi colocado ao princípio da noite um retrato de António Sousa Franco. "Esta vitória não apaga a dor", disse Ferro Rodrigues, para quem o cabeça de lista "teve um papel-chave" no resultado eleitoral.

A declaração de Ferro reafirmando a sua disponibilidade para liderar o partido - reforçada numa segunda declaração com o apelo para que não haja "unanimismos" no congresso - surgiu como aparente resposta ao jogo de sombras que ao longo da noite se foi desenvolvendo no Altis. Ferro, recorde-se, estava mais uma vez em estado de tabu, admitindo-se mesmo no seu círculo restrito que poderia bater com a porta.

Um dos protagonistas desse jogo de sombras, porventura o principal, foi José Sócrates, deputado e membro do secretariado nacional, que recusou sempre, em sucessivas declarações, dizer se Ferro Rodrigues tinha ou não condições reforçadas para liderar o partido. "Não importa o que o PS fará com esta vitória. O que interessa é o que o Governo fará com a derrota." Sócrates considerou que a vitória do PS "também é de Ferro Rodrigues", mas sublinhando sempre ser essencialmente de "todo o PS" e ainda do próprio Sousa Franco, que foi "exímio a dar a voz ao descontentamento". "O PS fica a dever-lhe grande parte desta vitória." José Sócrates parece em rota de descolagem em relação à direcção, especulando-se mesmo sobre a possibilidade de no próximo congresso protagonizar uma candidatura à liderança. O bom resultado de ontem aguça os apetites pela liderança na medida em que "diz" que é possível bater a coligação nas próximas eleições legislativas.

António Costa também foi dos que se escusaram a dizer se Ferro vira ou não reforçadas as suas condições de liderança. Quando questionado sobre o assunto, fugiu: "O que preocupa hoje os portugueses não é o PS - é Portugal." Quando chegou a sua vez de falar, Ferro Rodrigues decidiu, em relação a Costa, não responder na mesma moeda, dedicando-lhe uma "palavra especial" de elogio à "notável campanha" que protagonizou. A sala aplaudiu bastante, forçando o líder a interromper o discurso. Entre a assistência encontrava-se Manuel Maria Carrilho. O ex-ministro da Cultura - que quer ser candidato a Lisboa nas próximas autárquicas - aproveitou a noite de vitória para se "religar" a Ferro, dizendo que o secretário-geral do PS "tem condições para assegurar um novo ciclo vitorioso" para o partido.

Àparte estas movimentações, a noite foi de alegria para os socialistas. A primeira reacção oficial foi do porta-voz do partido, Vieira da Silva, ainda não se conheciam as previsões. "Esta sobrevalorização da abstenção [feita por Carlos Coelho em nome da coligação 'Força Portugal!'] é um discurso de derrota antecipada."

O discurso final coube, como é óbvio, a Ferro Rodrigues - que não esperou pelo discurso da derrota de Durão Barroso. O secretário-geral fez o discurso que se esperava. "Hoje várias coisas ficaram claras: [por exemplo] que quem tem a maioria na Assembleia da República não tem a confiança da maioria do povo português." Ferro nomeou Durão Barroso como o "principal responsável" pela derrota da coligação PS/CDS-PP, considerando ainda que o Executivo foi "fortemente deslegitimado" nas suas políticas. Para Ferro ficou também "claro que o país não quer mais discursos sobre o passado", pelo contrário, até "valoriza a herança do PS". Além do mais, acrescentou, o país "rejeita" a política de Portugal face à guerra no Iraque, bem como, no plano interno, "o peso excessivo da direita mais à direita no Governo". "Foi a primeira vez que o PS venceu a direita unida. Não será a última."

Ferro saiu do Altis completamente reforçado na sua liderança. O PS obteve o seu melhor resultado percentual de sempre. E, além do mais, foi dos partidos socialistas e sociais-democratas europeus o que mais alto "score" obteve.

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$"Absolutamente repugnantes"

Foi assim, com esta expressão - "absolutamente repugnantes" - que Ferro Rodrigues qualificou os acontecimentos de quarta-feira na lota de Matosinhos, após os quais Sousa Franco morreu, vítima de ataque cardíaco. O líder socialista prometeu que haverá consequências, algo que poderá já começar a ocorrer na próxima terça-feira, numa reunião da comissão política nacional.

Hoje reunirá a comissão política distrital do Porto, prevendo-se que a ideia do líder da federação, Francisco Assis, seja a de recusar confiança política tanto a Narciso Miranda como a Manuel Seabra para serem candidatos do partido à câmara de Matosinhos, ambição que ambos disputam. Admitem-se também consequências disciplinares para um e outro.

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