Lisboa: "Somos pelo povo iraquiano"

23-02-2003
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Lisboa: "Somos pelo Povo Iraquiano"

Por NUNO SÁ LOURENÇO

Domingo, 16 de Fevereiro de 2003

Lisboa fez ontem o seu papel na guerra à guerra no Iraque. À chegada ao Rossio, a organização contava oitenta mil manifestantes nas ruas. Maria de Lourdes Pintasilgo e Mário Soares viram nas manifestações espalhadas pelo mundo o sinal de "um dia novo" em que os cidadãos já "não se deixam enganar como no passado". Mas tal como no passado, em Lisboa o sucesso que se conseguiu foi muito graças às mobilizações dos partidos e sindicatos.

Por isso se via um ícone de Jesus Cristo ao lado de uma bandeira comunista ou um punho por detrás de uma bandeira iraquiana. De qualquer das formas, a manifestação "Juntos podemos impedir esta guerra" atravessou a Baixa lisboeta plena de siglas e símbolos partidários.

Na marcha pacífica até as pombas brancas vinham com foice e martelo. Joaquim Sousa, de 76 anos, trouxe do Seixal uma pomba de cartão para "tentar dar o contributo para evitar a guerra". Um Rancho Folclórico que vinha da Cruz de Pau, ostentava nos tambores autocolantes de partidos de esquerda. Os mesmos partidos que inundaram o Largo de Camões e a Rua do Alecrim com as suas bandeiras vermelhas de foices e estrelas, à chegada do ex-Presidente Mário Soares e da ex-primeira-ministra Maria de Lourdes Pintassilgo.

Nos slogans debitados, essa impressão era mais disfarçada. "Paz sim, guerra não" era mais vezes gritado do que outras palavras de ordem, teimando insistir no "não ao imperialismo". Mas também se encontravam outros dizeres mais animados, como um que lembrava ao "Cherne" que "99 por cento do cardume português está contra a guerra."

Os manifestantes livres de bandeiras ou autocolantes eram mais difíceis de encontrar. Ainda assim, lá estavam, tal como Cristina Ribeiro. Juntamente com outros casais, a jovem fazia uma frente de carrinhos de bébé. Cinco crianças rolavam lado a lado, sem foices e martelos. "Estou aqui pelo direito do meu filho, pelos direitos das crianças nesta guerra de interesses económicos".

Mário Soares falou nisso mesmo, ao discursar no palco do Rossio. "Uma guerra com um cheiro ineludível a petróleo", acusou o ex-Presidente que durante o percurso não se cansou de acenar para os muitos que o aplaudiam. O secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva também foi aplaudido, depois de lembrar a diferença de ser pela paz e contra a ditadura: "Nunca fomos pró-Saddam [Hussein] mas somos pelo povo iraquiano."

Só que o cenário ficou estragado quando alguns momentos depois surgiu uma bandeira iraquiana em palco. A atrapalhação da organização para fazer sair a bandeira foi visível, assim como a pronta reacção de Soares, que se desviava do pano ao mesmo tempo que dizia para Domingos Lopes, do Conselho Português para Paz e Cooperação: "Isto não estava previsto".

O episódio passou ao lado dos manifestantes que se entretinham a vaiar governantes de cada vez que estes eram nomeados. O primeiro-ministro português, Durão Barroso, saiu vencedor, com o norte-americano a ser ultrapassado nos decibéis pelo israelita Ariel Sharon.

Ao lado do ex-ministro Manuel Maria Carrilho, a apresentadora Bárbara Guimarães distribuía autógrafos ao mesmo tempo que aplaudia Soares.

Lisboa: "Somos pelo Povo Iraquiano"

Por NUNO SÁ LOURENÇO

Domingo, 16 de Fevereiro de 2003

Lisboa fez ontem o seu papel na guerra à guerra no Iraque. À chegada ao Rossio, a organização contava oitenta mil manifestantes nas ruas. Maria de Lourdes Pintasilgo e Mário Soares viram nas manifestações espalhadas pelo mundo o sinal de "um dia novo" em que os cidadãos já "não se deixam enganar como no passado". Mas tal como no passado, em Lisboa o sucesso que se conseguiu foi muito graças às mobilizações dos partidos e sindicatos.

Por isso se via um ícone de Jesus Cristo ao lado de uma bandeira comunista ou um punho por detrás de uma bandeira iraquiana. De qualquer das formas, a manifestação "Juntos podemos impedir esta guerra" atravessou a Baixa lisboeta plena de siglas e símbolos partidários.

Na marcha pacífica até as pombas brancas vinham com foice e martelo. Joaquim Sousa, de 76 anos, trouxe do Seixal uma pomba de cartão para "tentar dar o contributo para evitar a guerra". Um Rancho Folclórico que vinha da Cruz de Pau, ostentava nos tambores autocolantes de partidos de esquerda. Os mesmos partidos que inundaram o Largo de Camões e a Rua do Alecrim com as suas bandeiras vermelhas de foices e estrelas, à chegada do ex-Presidente Mário Soares e da ex-primeira-ministra Maria de Lourdes Pintassilgo.

Nos slogans debitados, essa impressão era mais disfarçada. "Paz sim, guerra não" era mais vezes gritado do que outras palavras de ordem, teimando insistir no "não ao imperialismo". Mas também se encontravam outros dizeres mais animados, como um que lembrava ao "Cherne" que "99 por cento do cardume português está contra a guerra."

Os manifestantes livres de bandeiras ou autocolantes eram mais difíceis de encontrar. Ainda assim, lá estavam, tal como Cristina Ribeiro. Juntamente com outros casais, a jovem fazia uma frente de carrinhos de bébé. Cinco crianças rolavam lado a lado, sem foices e martelos. "Estou aqui pelo direito do meu filho, pelos direitos das crianças nesta guerra de interesses económicos".

Mário Soares falou nisso mesmo, ao discursar no palco do Rossio. "Uma guerra com um cheiro ineludível a petróleo", acusou o ex-Presidente que durante o percurso não se cansou de acenar para os muitos que o aplaudiam. O secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva também foi aplaudido, depois de lembrar a diferença de ser pela paz e contra a ditadura: "Nunca fomos pró-Saddam [Hussein] mas somos pelo povo iraquiano."

Só que o cenário ficou estragado quando alguns momentos depois surgiu uma bandeira iraquiana em palco. A atrapalhação da organização para fazer sair a bandeira foi visível, assim como a pronta reacção de Soares, que se desviava do pano ao mesmo tempo que dizia para Domingos Lopes, do Conselho Português para Paz e Cooperação: "Isto não estava previsto".

O episódio passou ao lado dos manifestantes que se entretinham a vaiar governantes de cada vez que estes eram nomeados. O primeiro-ministro português, Durão Barroso, saiu vencedor, com o norte-americano a ser ultrapassado nos decibéis pelo israelita Ariel Sharon.

Ao lado do ex-ministro Manuel Maria Carrilho, a apresentadora Bárbara Guimarães distribuía autógrafos ao mesmo tempo que aplaudia Soares.

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