Suplemento Economia

02-04-2003
marcar artigo

A Vida Custa

Segunda-feira, 24 de Março de 2003

As notícias sobre a evolução dos preços são sempre a confirmação daquilo que se presente numa ida ao supermercado. Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística são como o algodão: não enganam. A inflação homóloga em Portugal acelerou em Fevereiro para 4,2 por cento, face aos quatro por cento de Janeiro, embora em média anual se tivesse mantido inalterada, em 3,7 por cento. O problema foram os aumentos de três por cento nos preços das bebidas alcoólicas e tabaco, de um por cento nos transportes e de 0,6 por cento nos restaurantes e hotéis e nos bens e serviços diversos. Como os aumentos salariais em ritmo de abrandamento - 2,9 por cento nos contratos deste ano contra 3,8 por cento no ano passado - a bolsa dos portugueses só pode definhar

Gás natural mais barat

Mas nem tudo são más notícias neste cenário de crise endémica. Já a partir de Abril, a Galpenergia vai reduzir o preço do gás natural para as pequenas e médias unidades industriais "em 10 a 14 por cento", anunciou o ministro da Economia. Em causa estão os clientes industriais com consumos de até dois milhões de metros cúbicos por ano. Carlos Tavares admitiu, no entanto, que a esperada subida dos preços no mercado internacional pode rapidamente anular uma parte substancial dessa poupança que as empresas irão ter no próximo trimestre.

A derrapagem orçamental

Não se pense, porém, que são só facilidades. Os números da execução orçamental nos dois primeiros meses do ano não são as mais agradáveis para Manuel Ferreira Leite: as receitas fiscais estão a descer - embora ligeiramente - quando deveriam estar a subir, e a despesa do Estado sobre alegremente. Com o compromisso de fechar o ano com um défice não superior a 2,4 por cento do PIB a ministra terá que actuar. E na área dos impostos, o combate à fuga tornou-se mais complicado com a notícia de que a Comissão de Protecção de Dados não quer a Polícia Judiciária a ter acesso à base de dados fiscais.

A guerra começou

As forças militares norte-americanas e britânicas iniciaram na madrugada de quinta-feira de Lisboa, a ofensiva militar contra o Iraque pondo fim a meses de incerteza geopolítica. Apesar de os mercados terem reagido bem (as bolsas subiram, o euro, o ouro e o petróleo baixaram) a guerra vai ter consequências graves para a economia mundial. Para além da incógnita sobre até onde poderá subir o preço do petróleo, com uma maré de aumentos a alastrar por diversos sectores, há já dados incontornáveis de crise na actividade aérea. As companhias, que perderam 30 mil milhões de dólares nos últimos dois anos, prevêem uma quebra que pode ir até 20 por cento na procura de bilhetes. Voos cancelados, aumentos de preços nas tarifas mais altas, despedimentos de milhares de trabalhadores são as receitas: a Continental Airlines, que é a quinta maior companhia dos Estados Unidos, indicou na quarta-feira que tenciona suprimir 1200 empregos. A australiana Qantas anunciou que irá suprimir 1000 postos de trabalho, o equivalente a três por cento do seu quadro, um mês após "cortar" cerca de 1500 empregos.

Buraco nos EUA

O défice federal norte-americano agravou-se em Fevereiro para o máximo dos últimos 35 anos, nos 96,3 mil milhões de dólares, dada a queda das receitas e a subida dos custos. No segundo mês do ano, o agravamento do saldo federal foi de 26,5 por cento, uma vez que a economia insiste em não recuperar, limitando as receitas, e dado que os gastos do estado dispararam. No conjunto dos primeiros cinco meses do presente ano fiscal, o Tesouro tem já um défice de 193,9 mil milhões de dólares (o Produto Interno Bruto português equivale a 130 mil milhões de dólares), a que corresponde um agravamento de 186 por cento face ao período homólogo. Um défice federal excessivo pode acarretar implicações negativas para a economia, já que um país não pode viver sistematicamente acima das suas possibilidades, sob o risco de aumento do risco de crédito e consequente comprometimento da actividade económica.

A Vida Custa

Segunda-feira, 24 de Março de 2003

As notícias sobre a evolução dos preços são sempre a confirmação daquilo que se presente numa ida ao supermercado. Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística são como o algodão: não enganam. A inflação homóloga em Portugal acelerou em Fevereiro para 4,2 por cento, face aos quatro por cento de Janeiro, embora em média anual se tivesse mantido inalterada, em 3,7 por cento. O problema foram os aumentos de três por cento nos preços das bebidas alcoólicas e tabaco, de um por cento nos transportes e de 0,6 por cento nos restaurantes e hotéis e nos bens e serviços diversos. Como os aumentos salariais em ritmo de abrandamento - 2,9 por cento nos contratos deste ano contra 3,8 por cento no ano passado - a bolsa dos portugueses só pode definhar

Gás natural mais barat

Mas nem tudo são más notícias neste cenário de crise endémica. Já a partir de Abril, a Galpenergia vai reduzir o preço do gás natural para as pequenas e médias unidades industriais "em 10 a 14 por cento", anunciou o ministro da Economia. Em causa estão os clientes industriais com consumos de até dois milhões de metros cúbicos por ano. Carlos Tavares admitiu, no entanto, que a esperada subida dos preços no mercado internacional pode rapidamente anular uma parte substancial dessa poupança que as empresas irão ter no próximo trimestre.

A derrapagem orçamental

Não se pense, porém, que são só facilidades. Os números da execução orçamental nos dois primeiros meses do ano não são as mais agradáveis para Manuel Ferreira Leite: as receitas fiscais estão a descer - embora ligeiramente - quando deveriam estar a subir, e a despesa do Estado sobre alegremente. Com o compromisso de fechar o ano com um défice não superior a 2,4 por cento do PIB a ministra terá que actuar. E na área dos impostos, o combate à fuga tornou-se mais complicado com a notícia de que a Comissão de Protecção de Dados não quer a Polícia Judiciária a ter acesso à base de dados fiscais.

A guerra começou

As forças militares norte-americanas e britânicas iniciaram na madrugada de quinta-feira de Lisboa, a ofensiva militar contra o Iraque pondo fim a meses de incerteza geopolítica. Apesar de os mercados terem reagido bem (as bolsas subiram, o euro, o ouro e o petróleo baixaram) a guerra vai ter consequências graves para a economia mundial. Para além da incógnita sobre até onde poderá subir o preço do petróleo, com uma maré de aumentos a alastrar por diversos sectores, há já dados incontornáveis de crise na actividade aérea. As companhias, que perderam 30 mil milhões de dólares nos últimos dois anos, prevêem uma quebra que pode ir até 20 por cento na procura de bilhetes. Voos cancelados, aumentos de preços nas tarifas mais altas, despedimentos de milhares de trabalhadores são as receitas: a Continental Airlines, que é a quinta maior companhia dos Estados Unidos, indicou na quarta-feira que tenciona suprimir 1200 empregos. A australiana Qantas anunciou que irá suprimir 1000 postos de trabalho, o equivalente a três por cento do seu quadro, um mês após "cortar" cerca de 1500 empregos.

Buraco nos EUA

O défice federal norte-americano agravou-se em Fevereiro para o máximo dos últimos 35 anos, nos 96,3 mil milhões de dólares, dada a queda das receitas e a subida dos custos. No segundo mês do ano, o agravamento do saldo federal foi de 26,5 por cento, uma vez que a economia insiste em não recuperar, limitando as receitas, e dado que os gastos do estado dispararam. No conjunto dos primeiros cinco meses do presente ano fiscal, o Tesouro tem já um défice de 193,9 mil milhões de dólares (o Produto Interno Bruto português equivale a 130 mil milhões de dólares), a que corresponde um agravamento de 186 por cento face ao período homólogo. Um défice federal excessivo pode acarretar implicações negativas para a economia, já que um país não pode viver sistematicamente acima das suas possibilidades, sob o risco de aumento do risco de crédito e consequente comprometimento da actividade económica.

marcar artigo