Os protagonistas do Congresso do Coliseu

09-08-2002
marcar artigo

Os Protagonistas do Congresso do Coliseu

Segunda-feira, 15 de Julho de 2002

José Manuel Durão Barroso

Durão Barroso era ontem um homem visivelmente feliz. Aquele que teimosamente e a pulso construiu a conquista do poder governativo - conquista em que só ele e mais uns fiéis ao princípio acreditavam possível -teve o Coliseu e nele o partido rendido a seus pés. Há quem diga que é tudo obra do cimento do poder. E Guterres atirou o poder pela janela, logo qualquer um que fosse a passar por de baixo dela seguraria esse mesmo poder. Mas o que é facto é que foi Durão. Este foi o congresso da sagração. Resta agora esperar para ver qual é a miraculosa estratégia para uma década que Durão disse ter para o país.

Manuela Ferreira Leite

O PSD sempre teve uma relação peculiar com as mulheres. Rejeita o paritarismo. Não lhes dá grande espaço interno. Estão quase ausente dos órgãos nacionais de direcção. Mas, talvez numa qualquer lógica de compensação, há sempre uma figura feminina a quem o PSD tem necessidade de idolatrar. Depois de Leonor Beleza, é a vez de Manuela Ferreira Leite se ver ovacionada em sucessivas eclosões de entusiasmo de levar abaixo o Coliseu. Manuela Ferreira Leite sai consagrada do Congresso como a imagem de rigor da governação do PSD. Uma arma que poderá usar a seu favor, mas que também poderá ser por si rapidamente delapidada. Segue-se o próximo Orçamento de Estado.

Pedro Santana Lopes

A face reflectida no espelho. O negativo do positivo ou o positivo do negativo. O outro gémeo de Durão. No Coliseu, viveu-se uma nova fase de uma relação de amor-rivalidade entre duas figuras que ombreiam há décadas, no PSD e antes dele. Desta vez, Santana esteve calmo, carinhoso com o líder, atento e reverendo à estratégia de Durão. Inovou pela cumplicidade com o primeiro-ministro. Espantou pela sobriedade face à comunicação social. Mas, apesar de aparentar uma nova maturidade, Santana foi igual a si mesmo. Isto é, não resistiu a ser notícia. Lançou o tema presidenciais e tratou de se colocar oficialmente na corrida.

Nuno Morais Sarmento

Nuno Morais Sarmento é uma estrela em ascensão no céu social-democrata. O estilo de governação homem-trovão, barulhento e imediatista, assumido por Nuno Morais Sarmento, agrada decididamente ao PSD. O próprio ministro da Presidência confessou que foi dentro do partido que fez escola e aprendeu tudo o que precisa de saber para ser agora a figura voluntarista que é no Governo. Os delegados adoraram a confissão. Cada vez que o seu nome era pronunciado as sucessivas ondas de palmas inundaram o Coliseu. Curiosamente, no Congresso, a RTP e o futuro do serviço público de televisão foi assunto proibido ou, então, esquecido.

Eurico de Melo

O arguto Santana Lopes avançou com a ideia, Durão poderá levá-la à prática. Em breve o antigo vice-rei do Norte pode ascender a presidente honorário do PSD. Eurico de Melo recebeu do Congresso uma das maiores ovações do fim-de-semana. E ouviu Durão agradecer-lhe, em público, em nome do partido e consequentemente da história da democracia portuguesa. Influente desde Sá Carneiro, Eurico foi até vice-primeiro-ministro de Cavaco Silva, posto que não foi ocupado por muitos. Foi uma das consagrações do Congresso, como imagem da história de poder do PSD, que agora se renova no Governo.

Alberto João Jardim

Que dizer de Alberto João Jardim? Igual a si mesmo. Usou e abusou do estatuto de privilégio a que se fez erguer no PSD. Do alto do limbo em que se instalou e que lhe confere uma espécie de imunidade à crítica e até ao respeito pelo programa do partido e do líder, Alberto João é, a cada congresso e só por si, um "happenning". No sábado, falou durante 45 minutos quando, em teoria, o tempo para cada delegado anunciado por Manuel Dias Loureiro era o de dois minutos e meio. E recebeu palmas só por existir, mesmo quando quem as batia diverge publicamente daquilo que aplaude, como são exemplo máximo as palmas de Durão a Jardim no Congresso. No fundo, Jardim atingiu um estatuto interno de quem já influencia pouco, mas tem direito a encenar ruidosamente a sua presença.

António Pinto Leite

António Pinto Leite é outro dos militantes do PSD que se acha com direito a estatuto especial. Fundador, intelectual, publicista e advogado, Pinto Leite tem o lastro de ter integrado a "Nova Esperança", há décadas. Com esse currículo, de vez em quando, reaparece a dar o seu nome e o contributo de ter um passado desalinhado no partido a cada novo líder. Depois, rápida ou lentamente, afasta-se consoante o desgaste de cada liderança. Desta vez, até aceitou ser vice-presidente, mas já fez saber que não tempo para ter pelouros.

Marcelo Rebelo de Sousa

É o óbvio ausente-presente no Congresso. A figura em quem o núcleo de apoio de Durão, que desfilou no Congresso, diabolizou todos os males da alma social-democrata. O ex-líder que outrora nunca foi directamente desafiado nas urnas por Durão - este ameaçou várias vezes mas só se candidatou quando o lugar de Marcelo vagou - acabou por tornar-se, mais uma vez, o adversário do agora líder. Não passou pela Rua das Portas de Santo Antão, mas esteve todo o fim-de-semana no Coliseu. Até porque se não fosse a Marcelo, quem é que o actual poder no PSD podia eleger como adversário?

São José Almeida

Os Protagonistas do Congresso do Coliseu

Segunda-feira, 15 de Julho de 2002

José Manuel Durão Barroso

Durão Barroso era ontem um homem visivelmente feliz. Aquele que teimosamente e a pulso construiu a conquista do poder governativo - conquista em que só ele e mais uns fiéis ao princípio acreditavam possível -teve o Coliseu e nele o partido rendido a seus pés. Há quem diga que é tudo obra do cimento do poder. E Guterres atirou o poder pela janela, logo qualquer um que fosse a passar por de baixo dela seguraria esse mesmo poder. Mas o que é facto é que foi Durão. Este foi o congresso da sagração. Resta agora esperar para ver qual é a miraculosa estratégia para uma década que Durão disse ter para o país.

Manuela Ferreira Leite

O PSD sempre teve uma relação peculiar com as mulheres. Rejeita o paritarismo. Não lhes dá grande espaço interno. Estão quase ausente dos órgãos nacionais de direcção. Mas, talvez numa qualquer lógica de compensação, há sempre uma figura feminina a quem o PSD tem necessidade de idolatrar. Depois de Leonor Beleza, é a vez de Manuela Ferreira Leite se ver ovacionada em sucessivas eclosões de entusiasmo de levar abaixo o Coliseu. Manuela Ferreira Leite sai consagrada do Congresso como a imagem de rigor da governação do PSD. Uma arma que poderá usar a seu favor, mas que também poderá ser por si rapidamente delapidada. Segue-se o próximo Orçamento de Estado.

Pedro Santana Lopes

A face reflectida no espelho. O negativo do positivo ou o positivo do negativo. O outro gémeo de Durão. No Coliseu, viveu-se uma nova fase de uma relação de amor-rivalidade entre duas figuras que ombreiam há décadas, no PSD e antes dele. Desta vez, Santana esteve calmo, carinhoso com o líder, atento e reverendo à estratégia de Durão. Inovou pela cumplicidade com o primeiro-ministro. Espantou pela sobriedade face à comunicação social. Mas, apesar de aparentar uma nova maturidade, Santana foi igual a si mesmo. Isto é, não resistiu a ser notícia. Lançou o tema presidenciais e tratou de se colocar oficialmente na corrida.

Nuno Morais Sarmento

Nuno Morais Sarmento é uma estrela em ascensão no céu social-democrata. O estilo de governação homem-trovão, barulhento e imediatista, assumido por Nuno Morais Sarmento, agrada decididamente ao PSD. O próprio ministro da Presidência confessou que foi dentro do partido que fez escola e aprendeu tudo o que precisa de saber para ser agora a figura voluntarista que é no Governo. Os delegados adoraram a confissão. Cada vez que o seu nome era pronunciado as sucessivas ondas de palmas inundaram o Coliseu. Curiosamente, no Congresso, a RTP e o futuro do serviço público de televisão foi assunto proibido ou, então, esquecido.

Eurico de Melo

O arguto Santana Lopes avançou com a ideia, Durão poderá levá-la à prática. Em breve o antigo vice-rei do Norte pode ascender a presidente honorário do PSD. Eurico de Melo recebeu do Congresso uma das maiores ovações do fim-de-semana. E ouviu Durão agradecer-lhe, em público, em nome do partido e consequentemente da história da democracia portuguesa. Influente desde Sá Carneiro, Eurico foi até vice-primeiro-ministro de Cavaco Silva, posto que não foi ocupado por muitos. Foi uma das consagrações do Congresso, como imagem da história de poder do PSD, que agora se renova no Governo.

Alberto João Jardim

Que dizer de Alberto João Jardim? Igual a si mesmo. Usou e abusou do estatuto de privilégio a que se fez erguer no PSD. Do alto do limbo em que se instalou e que lhe confere uma espécie de imunidade à crítica e até ao respeito pelo programa do partido e do líder, Alberto João é, a cada congresso e só por si, um "happenning". No sábado, falou durante 45 minutos quando, em teoria, o tempo para cada delegado anunciado por Manuel Dias Loureiro era o de dois minutos e meio. E recebeu palmas só por existir, mesmo quando quem as batia diverge publicamente daquilo que aplaude, como são exemplo máximo as palmas de Durão a Jardim no Congresso. No fundo, Jardim atingiu um estatuto interno de quem já influencia pouco, mas tem direito a encenar ruidosamente a sua presença.

António Pinto Leite

António Pinto Leite é outro dos militantes do PSD que se acha com direito a estatuto especial. Fundador, intelectual, publicista e advogado, Pinto Leite tem o lastro de ter integrado a "Nova Esperança", há décadas. Com esse currículo, de vez em quando, reaparece a dar o seu nome e o contributo de ter um passado desalinhado no partido a cada novo líder. Depois, rápida ou lentamente, afasta-se consoante o desgaste de cada liderança. Desta vez, até aceitou ser vice-presidente, mas já fez saber que não tempo para ter pelouros.

Marcelo Rebelo de Sousa

É o óbvio ausente-presente no Congresso. A figura em quem o núcleo de apoio de Durão, que desfilou no Congresso, diabolizou todos os males da alma social-democrata. O ex-líder que outrora nunca foi directamente desafiado nas urnas por Durão - este ameaçou várias vezes mas só se candidatou quando o lugar de Marcelo vagou - acabou por tornar-se, mais uma vez, o adversário do agora líder. Não passou pela Rua das Portas de Santo Antão, mas esteve todo o fim-de-semana no Coliseu. Até porque se não fosse a Marcelo, quem é que o actual poder no PSD podia eleger como adversário?

São José Almeida

marcar artigo